Jeremias 7 — Interpretação Bíblica

Jeremias 7 — Interpretação Bíblica

Jeremias 7 — Interpretação Bíblica

7:1-4 O título desta seção vem do fato de Deus ter perfurado o balão da vã confiança do povo no templo para poupá-los do julgamento. Não que as pessoas não estivessem adorando no templo de Jerusalém; antes, eles estavam envolvidos em adoração hipócrita ali (7:2). Eles presumiram que a mera presença do templo em sua nação os manteria seguros. Eles até cantaram sobre o templo do Senhor (7:4), mostrando que era pouco mais que um amuleto de boa sorte para eles. Portanto, Deus disse a Jeremias para ficar na porta de sua casa para anunciar seu julgamento (7:2).
7:5-10 Deus estava em verdadeiro arrependimento, não em cânticos mágicos. Ele assim ordenou ao povo através de Jeremias: Corrija os seus caminhos e as suas ações (7:5). Mas ele não deixou isso aberto à interpretação; ele deu exemplos do que esperava. Eles não deveriam oprimir os fracos nem derramar sangue inocente. . . ou seguir outros deuses (7:6). Mas as exortações de Jeremias caíram em ouvidos surdos. O povo continuou a quebrar arrogantemente cada um dos mandamentos de Deus e depois a marchar para o templo com cara séria, dizendo: Fomos resgatados, para que possamos continuar a praticar todos estes atos detestáveis (7:10). Eles eram como crianças brincando de pega-pega, tratando o templo como uma base onde estariam protegidos de qualquer perigo.
7:11 Em essência, a resposta de Deus foi: “Você está falando sério? Você acha que pode agir assim e depois vir até mim para receber bênçãos, como se eu não soubesse o que você está fazendo? O povo de Deus se corrompeu tanto que transformou seu templo sagrado em um covil de ladrões (7:11). Mais tarde, Jesus retomou as palavras de Jeremias contra o povo de Israel nos seus próprios dias; eles também eram culpados de profanar a “casa de oração” de Deus (ver Mateus 21:13).
7:12-15 O Senhor então deu a Judá uma lição de história. O tabernáculo foi estabelecido pela primeira vez em Siló (7:12; ver Js 18:1) e permaneceu lá por anos (ver Jz 21:19; 1 Sm 4:3). A Bíblia não descreve o que aconteceu com Siló (embora veja Sl 78:60), mas evidências arqueológicas sugerem que os filisteus a destruíram por volta de 1050 AC. A presença do tabernáculo, então, não salvou Siló do julgamento de Deus (7:12). O que aconteceu lá aconteceria nos dias de Jeremias: O que fiz a Siló, farei à casa que leva o meu nome (7:14). E como ele havia banido. . . os descendentes de Efraim (isto é, Israel) através dos assírios, então Deus baniria Judá através dos babilônios.
7:16-26 A ira de Deus era tão certa que ele até disse a Jeremias para não desperdiçar seu fôlego orando por Judá (7:16). Todas as pessoas, desde os filhos até os pais, adoravam ansiosamente a rainha do céu (7:18), provavelmente a deusa assírio-babilônica Ishtar, que representava o amor e a fertilidade. A idolatria deles provocou uma ira feroz em Deus, mas isso não era novidade. Desde o êxodo do Egito e do seu nascimento como nação, Israel tinha sido rebelde e teimoso. Deus lhes deu um mandamento básico: Obedeçam-me, e então eu serei o seu Deus, e vocês serão o meu povo (7:23). No entanto, eles seguiram o seu próprio conselho (7:24).
7:27-34 Não restou nada senão lamentar por Judá. Jeremias recebeu ordem de cortar o cabelo e cantar uma canção fúnebre pela terrível destruição que estava por vir (7:29). O povo construiu altos para adorar deuses falsos e queimar seus filhos e filhas no fogo como sacrifício. Deus não apenas não ordenou isso, mas também nunca cogitou esse pensamento (7:31). Tais crimes horríveis contra crianças não ficariam impunes.

Notas Adicionais

Jeremias no Templo 7.1-15
Jeremias prega junto ao portão do Templo, denunciando a crença de que o Templo, por ser a casa onde Deus morava entre os homens (Sl 78.60), jamais seria destruído. Na verdade, alguns dos Salmos (Sl 46; 48; 76), bem como palavras do profeta Isaías (Is 31.4-5; 37.33-35), ditas num contexto diferente, podiam ser interpretados nesse sentido. Jeremias condena a injustiça social e a idolatria, que se escondem por trás de uma falsa segurança (vs. 6-10). Mostra que não basta morar na cidade santa; é preciso viver uma vida santa.
7.1-3 portão do Templo. Aquele era o lugar onde costumava ficar um sacerdote que, antes de abrir o portão e deixar o povo entrar, anunciava o que se exigia de alguém que queria entrar no Templo (Sl 15; Sl 24).
7.3 Mudem de vida. Ao pé da letra: “endireitem os seus caminhos”. Jr 18.11; 25.5; 26.13.
7.4 palavras mentirosas As palavras “este é o Templo do Senhor”, em si, eram verdadeiras. O problema era que elas levavam a uma falsa segurança, pois as pessoas pensavam que o Templo funcionaria como um tipo de amuleto, ou seja, Deus nunca permitiria que seu Templo fosse destruído. este é o Templo do Senhor! Esta frase é repetida três vezes, o que ajuda a mostrar que a mesma era usada como uma fórmula mágica.
7.6 os estrangeiros, os órfãos e as viúvas. Eram os grupos mais desprotegidos da sociedade. A Lei de Moisés ordena que sejam protegidos (Êx 23.21-24; Lv 19.33-34; Dt 10.18-19; 24.17).
7.9 roubam... adoram outros deuses. Cinco dos dez mandamentos são citados neste versículo.
7.11 esconderijo de ladrões. Jesus cita essas palavras em Mt 21.13; Mc 11.17; Lc 19.46.
7.12 Siló. Uma cidade que ficava uns 30 km ao norte de Jerusalém. A arca da aliança havia estado naquele local no tempo do sacerdote Eli (1Sm 1.3; Js 18.1). Ao que parece, a cidade foi destruída pelos filisteus (Jr 26.6; Sl 78.60) durante a batalha contada em 1Sm 4.1-11, por volta de 1050 a.C.
7.15 como fiz com os seus parentes O Reino do Norte havia sido conquistado pelos assírios mais de um século antes do tempo de Jeremias, em 722 a.C. (2Rs 17.18,20,23). A destruição de Siló (v. 12) e o fim do Reino do Norte deveriam servir de lição para o povo de Judá (ver Jr 5.3, n.), mas nada disso estava acontecendo.
A desobediência do povo 7.16-28
Deus está tão irado com o seu povo (v. 20), que chega a pedir a Jeremias que não ore em favor deles (v. 16; 11.14; 14.11). São um povo que não aceita ser corrigido (v. 28).
7.16 não ore por este povo. Jr 11.14; 14.11; 15.1; 37.3; 42.2.
7.18 “Rainha do Céu”. Parece tratar-se de Ishtar, uma deusa da fertilidade adorada em toda aquela região e muito popular entre as mulheres. Ela volta a ser mencionada em Jr 44.17-19,25.
7.20 Descarregarei o meu furor sobre... os animais e até sobre as árvores. Rm 8.19-22.
7.21 não me importo que vocês comam a carne toda. Já que o povo não queria ser fiel a Deus (v. 23), de nada adiantava fazer diferença entre sacrifícios completamente queimados e sacrifícios em que o povo tinha o direito de comer parte da carne. Deus queria antes obediência do que sacrifícios; como não havia obediência, que o povo ficasse com toda a carne dos sacrifícios!
7.22 não dei ordens a respeito do oferecimento de animais. É claro que Deus havia dado essas ordens. Trata-se, nesse caso, de uma maneira de enfatizar o que vem no v. 23: “o que ordenei foi que me obedecessem”. Deus está dizendo que não queria sacrifícios sem obediência. Sem obediência, era como se ele nunca tivesse dado ordens a respeito de sacrifícios!
7.23 eu seria o Deus deles, e eles seriam o meu povo. Jr 11.4; 24.7; 30.21-22; 31.1,33; 32.38; Lv 26.12; Dt 26.16-19; Ez 14.11.
7.24 em vez de melhorarem, eles pioraram. Ao pé da letra: “andaram para trás em vez de andar para a frente”.
O castigo por causa da idolatria 7.29—8.3
Senhor pede que o povo de Jerusalém cante um cântico fúnebre, porque ele os abandonou (v. 29). Eles mancharam o Templo do Senhor e fizeram coisas horríveis no vale de Ben-Hinom (vs. 30-31). Portanto, serão castigados.
7.29 Corte os seus cabelos. Em sinal de luto (Jr 16.6; Mq 1.16). Ao pé da letra, o texto hebraico diz: “corte os seus cabelos dedicados (ao Senhor)”. Por isso, pode-se entender isso como um ato simbólico em que o povo é visto como um nazireu que quebrou seu voto (Nm 6.5). Enquanto estivesse dedicado a Deus, um nazireu não podia cortar o cabelo. Como o povo não mais se dedica ao Senhor, deve cortar os cabelos.
7.31 Tofete. Jr 19.6,11-14. O significado de “Tofete” é fogueira. vale de Ben-Hinom. O vale situado ao sul de Jerusalém (ver Jr 2.23, n.; Jr 32.35; 2Rs 23.10).