Jeremias 46 — Interpretação Bíblica

46:1-9 É interessante que o Egito foi o primeiro na lista de profecias de Jeremias contra as nações. O Egito foi o mesmo lugar de onde Deus resgatou seu povo da escravidão e deu origem à nação de Israel na noite da Páscoa. Tragicamente, o povo de Judá escolheu voluntariamente colocar-se novamente sob a escravidão dos seus inimigos, desobedecendo a Deus. Mas porque Deus ainda tinha um futuro para o seu povo escolhido, ele julgaria as nações que os oprimiram e maltrataram. E assim o Egito foi levado à corte divina para ter sua sentença pronunciada.

A execução da ira de Deus contra o Egito foi cumprida quando o exército do Faraó Neco... foi derrotado em Carquemis, no rio Eufrates, pelo rei Nabucodonosor da Babilônia, no quarto ano do rei Jeoaquim de Judá (46:2). Isso aconteceu em 605 AC. O Egito estava cheio de orgulho. O Faraó tinha confiança ilimitada em seu exército e tinha grandes planos para o Egito conquistar o mundo e espalhar sua influência como o rio Nilo transbordando (46:7-8). Mas Deus tinha outros planos. Aqui ele insta sarcasticamente o exército egípcio a convocar suas forças e se preparar para a batalha contra Nabucodonosor (46:3-4, 9). O exército do Egito fez tudo isso, mas a batalha se transformou em tal derrota que os guerreiros do Egito, em pânico, tropeçaram uns nos outros tentando fugir da matança (46:5-6).

46:10-12 Os babilônios podem ter pensado que haviam conquistado por suas próprias forças, mas a vitória pertencia ao Senhor, o DEUS dos exércitos (46:10). Não haveria cura para o outrora grande Egito, nem remédio para a sua desonra (46:11-12).

46:13-19 Há uma lacuna significativa no tempo entre a profecia da derrota do Egito em Carquemis em 605 AC (46:2) e os eventos profetizados começando em 46:13. Esta última foi uma profecia da invasão do Egito por Nabucodonosor, que ocorreu por volta de 568 AC. Entre esses eventos, o pai de Nabucodonosor morreu, então ele retornou à Babilônia para assegurar seu trono. Quando retomou o ataque ao Egito, o Faraó Hofra era rei. Agora, em vez de lutarem contra os babilônios junto ao rio Eufrates, os egípcios os veriam avançando contra sua própria terra, devastando à medida que avançavam. Faraó, rei do Egito, era todo barulho; ele deixou passar o momento oportuno (46:17). E como o Faraó era só conversa e nenhuma ação, as cidades do Egito estavam destinadas à ruína (46:19).

46:20-28 A palavra de Deus contra o Egito é uma descrição poderosa e poética da antiga glória e da derrota total da nação. O Egito é chamado de uma bela vaca jovem (possivelmente uma referência ao deus egípcio Ápis), e os mercenários em suas fileiras são comparados a bezerros alimentados em estábulos e engordados para o abate (46.20-21). O Egito pode sibilar como uma cobra rastejante (46.22), mas isso é tudo o que poderia fazer diante da horda babilônica (46.22-23). A destruição da nação nas mãos de Nabucodonosor foi selada (46:26). O julgamento de Deus recairia sobre Faraó, o Egito, seus deuses e seus reis (46:25).

Esta profecia contra o Egito termina com uma declaração intrigante: Mas depois disso, o Egito será habitado novamente como nos tempos antigos (46:26). Foi prometido ao Egito um lugar no futuro. Em Isaías 19, também aprendemos que um dia o Egito será redimido e adorará o Deus verdadeiro. Entretanto, Deus assegura a Israel que o seu plano final é a sua restauração e redenção, mesmo que ela tenha sido disciplinada pelos seus pecados (46:27-28).

Notas Adicionais:

A derrota do Egito em Carquemis 46.1-12

A primeira mensagem a respeito das nações (ver v. 1, n.) fala sobre a derrota do Egito em Carquemis (605 a.C.). As cenas, aqui, se alternam em rápida seqüência. Nos vs. 3-4, os soldados egípcios recebem ordens para a batalha. Nos vs. 5-6, Deus vê os egípcios fugindo de medo. Nos vs. 7-9, a cena volta para os preparativos iniciais para a batalha, quando o exército egípcio é convocado e marcha rumo ao norte. Finalmente, nos vs. 10-12, aparece a mensagem divina sobre esse episódio.

46.1 me falou a respeito das nações. O v. 1 é um título geral para tudo o que segue, até o final do cap. 51. São nove nações ao todo, começando com o Egito, situado no Ocidente, e terminando com a Babilônia, no Oriente. Outras mensagens a respeito das nações se encontram em Is 13—23; Ez 25—32; Am 1.3—2.3; Ob 15-21; Sf 2.4-15.

46.2 Neco, rei do Egito. Neco foi derrotado em Carquemis no ano de 605 a.C., quando foi tentar ajudar os assírios a conterem o avanço dos babilônios (2Rs 23.29). Carquemis. 2Cr 35.20. quarto ano do reinado de Jeoaquim 605 a.C. A respeito do Egito. Outras mensagens a respeito do Egito aparecem em Jr 42.18-22; Is 19.1-25; Ez 29.1—32.32.

46.11 vá a Gileade... procurar remédios. Ver Jr 8.22, n. Esse convite é irônico, pois o Egito era famoso por sua ciência médica bastante desenvolvida.

A vinda de Nabucodonosor 46.13-26
É difícil dizer com certeza a que vinda de Nabucodonosor isso se refere. Ele lutou contra o Egito durante três anos, de 601 a 598 a.C., mas só conseguiu invadir o Egito tempos depois, em 568 a.C. O foco do texto, porém, não está na descrição histórica e, sim, na advertência profética.

46.15 o seu deus poderoso caiu... o Senhor Deus o jogou no chão. Aqui e nos vs. 25-26, fica claro que, por trás de tudo isso, há uma “luta de deuses”. O povo de Judá havia se refugiado no Egito sob a proteção dos deuses de lá, que, agora, mais uma vez, seriam expostos como impotentes diante do Deus de Israel.

46.18 o Tabor é mais alto... Carmelo fica acima do mar. O monte Tabor fica uns 530 m acima do nível do mar; o monte Carmelo, uns 500 m.

46.20 O Egito é como uma bela vaca. Jeremias usa imagens que apontam para o Egito (ver v. 22, n.). A vaca lembra o sonho do rei do Egito (Gn 41.1-4) e o culto ao deus Ápis.

46.21 seus soldados pagos para lutarem. Trata-se de mercenários, soldados de outras nações contratados para reforçar o exército egípcio.

46.22 assobiando como uma cobra. Ver Jr 46.20, n. Muitos reis do Egito tinham na sua coroa real a figura de uma cobra, como símbolo de poder.

46.26 Porém mais tarde. Apesar de tudo, a mensagem termina com uma nota de esperança para os povos (Jr 12.14-17; 48.47; 49.6,39; Is 19.21-22; Ez 29.13-16).

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