Significado de 2 Samuel 3

Significado de 2 Samuel 3
Significado de 2 Samuel 3


2 Samuel 3

3.1-39 — Este capítulo registra a deserção de Abner e seu subsequente assassinato por Joabe, fatos que tornaram precária a liderança de Isbosete.

3.1 — Uma longa guerra. O conflito entre os seguidores de Saul e os de Davi não se limitou à batalha registrada no capítulo 2. As hostilidades continuaram, com Davi prevalecendo gradualmente.

3.2 — Davi iniciou o seu reinado em Judá com duas esposas, Ainoã e Abigail. Em Hebrom, ele se casou com mais quatro mulheres, e cada uma lhe deu um filho. Isso aconteceu apesar do aviso contra a poligamia em Deuteronômio 17.17. Amom, conhecido por ter violentado Tamar, sua irmã, foi morto posteriormente por Absalão (cap. 13). A mãe de Amom, Ainoã, não era a mesma que foi esposa de Saul (1 Sm 14-50).

3.3 — O segundo filho de Davi em Hebrom, Quileabe, é chamado Daniel em 1 Crônicas 3.1. A história de sua mãe, Abigail, é encontrada em 1 Samuel 25. Ela não é a Abigail mãe de Amasa (2 Sm 17.25). O terceiro filho de Davi, Absalão, morreu pelas mãos de Joabe (2 Sm 18.14). A mãe de Absalão, Maaca, é identificada como a filha de Talmai, rei de Gesur — reino arameu situado no lado leste do Jordão, a nordeste do mar da Galiléia.

Pela caracterização desta esposa de Davi, observa-se que ele usou o matrimônio entre israelitas e membros da realeza de outros reinos para estabelecer acordos e consolidar relações entre Israel e as nações estrangeiras. Porém, tais alianças eram proibidas segundo a Lei de Deus (Dt 7.3).

3.4 — Adonias tentou tomar o trono de seu pai pouco antes de Davi proclamar Salomão rei (1 Rs 1). Sefatias e sua mãe, Abital, são mencionados apenas neste versículo e em 1 Crónicas 3.3.

3.5 — Itreão e sua mãe, Eglá, são citados apenas neste versículo e em 1 Crônicas 3.3. Esses seis filhos, cada um de uma mãe diferente, constituíam a família real durante o reinado de Davi sobre a casa de Judá, em Hebrom. As listas dinásticas no livro de Crônicas incluem os quatro filhos de Davi com Bate-Seba (1 Cr 3.5) e nove outros filhos, cujos nomes das respectivas mães não são mencionados (1 Cr 3.6-8).

3.6,7 — A expressão se esforçava na casa de Saul indica que Abner estava apoiando Isbosete devido a interesses pessoais. Isto pode ser verificado na grave acusação deste àquele: Por que entraste à concubina de meu pai? O harém real era propriedade do sucessor do rei. Tomar a concubina de Saul, ou seja, ter relações sexuais com ela, era equivalente a reclamar o trono (2 Sm 16.20- 22). Essa mulher, cujo nome era Rispa, teve outra participação trágica em 2 Samuel (cap. 21).

3.8 — Sou eu cabeça de cão...? No antigo Oriente Médio, os cães eram necrófagos, ou seja, alimentavam-se de animais mortos e de lixo, e eram vistos com desprezo (2 Sm 9.8; Dt 23.18; 1 Sm 17-43; 1 Rs 22.38; 2 Rs 9.36). Além de ter usado um termo pejorativo, Abner completou a caracterização com a frase que pertença a Judá. Uma vez que Judá era inimiga de Israel, essa expressão intensifica a metáfora.

3.9,10 — A expressão assim faça Deus a Abner é uma oração requerendo o julgamento divino, se Abner falhasse em cumprir o seu juramento. As palavras como o SENHOR jurou indicam que Abner sabia que Davi havia sido escolhido por Deus para suceder a Saul (v. 17,18). A expressão desde Dã até Berseba é usada para se referir a todo o território de Israel, desde o seu nordeste até a fronteira do sul, uma distância de cerca de 150 milhas (Jz 20.1; 1 Sm3.20).

3.11,12 — De quem é a terra? Este questionamento insinua que a terra poderia ser de Davi se ele estabelecesse uma aliança com Abner, porque era este quem, na verdade, detinha o poder.

3.13 — A primeira esposa de Davi, Mical (1 Sm 18.17-27), foi deixada em Gibeá quando Davi fugiu da corte de Saul (1 Sm 19.11-17). Tempos depois, ela foi dada por Saul, talvez por causa do seu rancor, a um homem chamado Palti (1 Sm 25.44). Essa atitude pode ter sido uma enérgica manifestação do ódio de Saul. A solicitação de Davi de que Mical fosse trazida de volta pode ser uma indicação do seu amor por ela. Certamente nos lembramos do amor dela por Davi (1 Sm 18.20,28; 2 Sm 3.5). Uma leitura mais cínica do texto pode sugerir que Davi precisava ter a filha de Saul no seu acampamento para ajudar a alinhar o coração das tribos do norte com a sua causa.

3.14,15 — A solicitação de Davi por Mical foi formalmente endereçada a Isbosete. Essa deve ter sido uma exigência difícil para Isbosete, uma vez que Mical era sua irmã. Porém, ele estava impotente para impedir o plano de Abner. Ao requerer o retorno de sua esposa, Davi mencionou o número que Saul havia originalmente estipulado como dote, cem prepúcios de filisteus. Na verdade, Davi o pagou em dobro.

3.16 — O segundo marido de Mical pareceu muito triste pelo fato de ela ter sido forçada a sair de sua casa. Nada foi dito a respeito dos sentimentos de Mical; porém, ela passou a odiar Davi (2 Sm 6.16). O local até onde Paltiel acompanhou sua esposa, Baurim, ficava perto de Jerusalém, a leste das Oliveiras (2 Sm 16.5).

3.17,18 — Porque o SENHOR falou a Davi. A Bíblia não registra em lugar algum a promessa divina citada por Abner e referida nos versículos 9 e 10. E possível que essa tenha sido uma revelação que Deus deu somente a ele.

3.19 — A maior oposição que Davi enfrentou proveio da tribo de Saul, Benjamim. Abner pessoalmente fez campanha para a liderança de Davi nessa tribo. Após ganhar o apoio do monarca em Israel, Abner prosseguiu em Hebrom (2 Sm 2.1) para anunciar a decisão do povo em reconhecer Davi como rei.

3.20,21 — As negociações entre Abner e Davi foram produtivas. Os planos foram estabelecidos para que o governo de Davi se estendesse até as tribos do norte. O uso de um banquete como o cenário para a afirmação da nova aliança entre eles tem muitos paralelos, tanto nos tempos antigos quanto nos modernos. Normalmente, a comunhão à mesa é uma ocasião propícia para formar e aprofundar amizades e promover intimidade. A conclusão amigável desse encontro é percebida nas palavras e foi-se ele em paz.

3.22,23 — As palavras se tinha ido em paz são repetidas (v. 21) para enfatizar que as hostilidades entre Davi e Abner haviam sido resolvidas.

3.24,25 — Que fizeste? Sabendo da visita de Abner, Joabe desafiou o rei por permitir ao comandante de um exército hostil, também primo de Saul, ir e vir a Hebrom sem ser preso e morto. Ele insistiu que Abner estava tentando enganar Davi com uma amostra de boa-fé e sinceridade para conseguir informações sobre os planos do rei.

3.26 — A atitude de Joabe até então foi de sua inteira responsabilidade. A localização do foço de Sira é incerta, mas pode ser identificada com uma fonte e um reservatório cerca de uma milha ao norte de Hebrom, chamada Ain Sarah.

3.27 — E feriu-o. Este foi um ato de traição, especialmente em Hebrom, uma cidade de refugiados (Js 20.7). Num local como esse, um vingador não poderia executar um assassino sem um julgamento (Nm 35.22-25). Joabe queria vingar a morte de Asael, seu irmão, que foi morto no curso de uma batalha (2 Sm 2.18-23).

3.28,29 — Inocentes somos eu e o meu reino. Davi emitiu uma declaração pública negando qualquer envolvimento no assassinato de Abner. A morte deste não foi apenas um ato de traição, mas também um grande golpe nas esperanças de Davi de uma unificação pacífica da nação sob o seu controle. Por conta dessa vingança, Davi proclamou: fique-se sobre a cabeça de Joabe. Este verso anuncia uma vigorosa maldição sobre a casa de Joabe. O fluxo de sangue (Lv 15.2-33) e a lepra (Lv 13) tornavam a pessoa afetada impura para as cerimônias de adoração a Deus, banida da comunidade. A expressão se atenha a bordão descreve aquele que era aleijado, coxo ou cego.

3.30 — A bisai era o outro irmão de Joabe (2 Sm 2.18). Seu envolvimento no assassinato de Abner é mencionado apenas neste versículo.

3.31,32Rasgai as vossas vestes. Nos tempos antigos, essa atitude era associada com o luto pelos mortos (2 Sm 1.11; Gn 37.34). Cingir-se de panos de saco (hb. saqqím) também caracterizava os enlutados, pois esse era um material áspero, em contraste com vestimentas mais confortáveis. Além de exigir que o povo pranteasse a morte de Abner, Davi liderou o cortejo fúnebre, seguindo o féretro.

3.33,34 — Como morre o vilão. Certamente um guerreiro como Abner merecia uma morte mais nobre. Melhor teria sido para ele morrer lutando do que ter sido esfaqueado enquanto fazia uma viagem teoricamente segura. Abner não tinha sido culpado de qualquer crime que requeresse dele ser preso com correntes e grilhões; por isso a declaração as tuas mãos não estavam atadas.

3.35 — O assassinato de Abner teve o poder para quebrar a frágil união das 12 tribos. Davi se recusou a participar da refeição que era comumente servida aos enlutados após o enterro como uma evidência do seu remorso genuíno. Em seu juramento, assim Deus me faça e outro tanto, Davi orou para que Deus fizesse a pior coisa imaginável, se ele ingerisse comida antes do pôr do sol (compare com um juramento de Abner semelhante em 2 Sm 3.9).

3.36,37 — A expressão e todo o Israel se refere aos membros das tribos do norte e aos benjamitas, que ficariam inclinados a suspeitar de Davi como o mentor do assassinato do general de Isbosete. Após o luto do rei, todos se tomaram confiantes na inocência de Davi.

3.38 — A expressão aos seus servos se refere aos servos de confiança de Davi ou conselheiros. As palavras um príncipe e um grande refletem o quão importante Davi considerava Abner.

3.39 — Fraco (hb. rak) significa frágil ou sensível, em contraste com o termo duros (hb. qashim) , usado para descrever Joabe e Abisai. O vocábulo pode referir-se ao estado emocional de Davi devido ao assassinato de Abner. Talvez ele também aluda ao seu senso de inadequação ao lidar com um crime cometido por Joabe. Incapaz de enfrentar o problema, Davi confiou a retribuição a Deus (mas veja 1 Rs 2.5,6,28-35).