Significado de 2 Samuel 14

Significado de 2 Samuel 14

Significado de 2 Samuel 14


2 Samuel 14
14.1-33 — Este capítulo descreve o meio sutil pelo qual Joabe, delicadamente, persuadiu Davi a chamar Absalão de volta para Jerusalém.

14.1 — Percebendo, pois, Joabe [...] que o coração do rei. A longa convivência de Joabe com o rei permitiu àquele conhecer os pensamentos deste. Joabe sabia que Davi ansiava por reconciliar-se com seu filho, Absalão. Contudo, apesar de algumas pressões externas, o rei não estava disposto a dar o primeiro passo.

14.2 — Tecoa, a cidade natal do profeta Amós, ficava na fronteira com a região montanhosa, a cerca de seis milhas ao sul de Belém. Desse local, Joabe mandou trazer a Jerusalém uma mulher sábia. Os leitores da Bíblia estão familiarizados com várias vocações existentes na antiga Israel, tais como reis e sacerdotes, profetas e senhores de terras. No entanto, sabem pouco sobre o movimento de sabedoria.

Ao lado de outros segmentos, os sábios eram aqueles que tinham habilidades e talentos particulares para entender o comportamento humano, e possuíam discernimento sobre a forma como o mundo de Deus funciona (veja o significado dessa palavra no comentário de 2 Sm 13.3). A mulher que Joabe mandou buscar em Tecoa deve ter sido uma pessoa sábia e bem conhecida na sua região, mas ela não estava entre os sábios conselheiros do rei, pessoas que seriam facilmente reconhecidas. O termo sábio (hb. hakamâ, o feminino de hakam) sugere a ideia de habilidades técnicas, aptidão, experiência. Essa mulher era experiente em lidar com relacionamentos interpessoais e habilidosa em dirimir as diferenças e reconciliar as partes (2 Sm 20.16).

A ordem de Joabe à mulher, não te unjas com óleo, deveu-se ao fato de que o azeite era usado nos tempos antigos como uma loção hidratante que fazia a pele e o cabelo brilharem. Seu uso era associado com a comemoração e a alegria (SI 104.15,-133.2).

14.3-5 — Joabe transmitiu à mulher a história que deveria ser contada ao rei. Por ser uma mulher sábia (v. 2), ela saberia como argumentar diante das respostas e perguntas de Davi. A sentença inclinando-se, prostrou-se com o rosto em terra aponta que a mulher se curvou perante o rei, a princípio, como um sinal de seu pedido de ajuda. A expressão prostrar-se com o rosto em terra também é usada para se referir ao ato de curvar-se perante Deus para adorá-lo. Apesar de a mulher haver se apresentado como viúva, a frase morreu meu marido pode ter sido acrescentada para imprimir um tom emocional ao discurso.

14-6 — A menção de dois filhos deve ter chamado a atenção de Davi; não teria como ele ficar insensível quando a mulher descreveu um filho matando o outro.

14.7 — Para que o matemos. A punição para quem cometia assassinato era a morte. A questão estava clara, mas as consequências para a mulher eram intoleráveis. Neste sentido, ela usou a imagem da extinção de sua família: assim, apagarão a última brasa que me ficou. O desaparecimento do nome de uma família e a destruição de um sobrevivente ou de uma linhagem eram pontos cruciais para o povo hebreu.

14.8 — Davi, aparentemente, queria despachar a mulher com a promessa de uma ação futura. Talvez ele estivesse tentando evitar defender o filho culpado, que era digno da morte. E provável que o rei quisesse ouvir seus conselheiros ou orar ao Senhor por uma direção.

14.9,10 — A culpa, ó rei, meu senhor, caia sobre mim e sobre a casa de meu pai. A mulher, persistente, expressou sua vontade de assumir qualquer culpa se Davi permitisse que o sangue do filho dela ficasse impune. Davi lhe deu garantias de que a protegeria, mas ele não seria capaz, nesse momento, de oferecer proteção ao filho dela.

14.11,12 — No hebraico, a expressão os vingadores do sangue une o termo às vezes traduzido como resgatador à palavra sangue. O resgatador era o defensor dos direitos da família. Na presente situação, esperava-se que o protetor da família executasse a vingança contra aquele que havia tirado a vida de um membro da família. Cidades de refúgio haviam sido estabelecidas nos tempos de Moisés para amparar os vingadores do sangue quando a morte tivesse sido acidental (Nm 35.9-34). Neste caso, a mulher pressionou Davi com respeito ao filho dela. Então, o rei prometeu que não há de cair no chão nem um só dos cabelos de teu filho.

14.13 — Por que pensas tu doutro modo contra o povo de Deus? Ao questionar isso, a mulher acusou Davi de fazer ao povo aquilo que o inimigo dela estava tentando fazer-lhe (v. 7): degredar o herdeiro do trono. Embora não tivesse sido formalmente banido, Absalão estava em seu extenso exílio de Israel, por isso o uso da expressão o seu desterrado.

14.14 — Porque temos de morrer. A mulher poderia estar referindo-se a Amnom (2 Sm 13.28-33). Amnom estava morto; logo, nenhum tipo de punição contra Absalão o traria de volta à vida. A declaração Deus não tira a vida indica que a vontade de Deus é perdoar os pecadores. Neste sentido, o exemplo do Senhor é colocado num contraste significativo com a atitude de Davi, que havia se recusado a perdoar seu filho Absalão.

14.15 — Após discorrer sobre o tratamento de Davi para com Absalão, a mulher voltou a falar sobre a família dela. Ao afirmar o povo me atemorizou, a mulher disse que estava com medo de perder seu filho para os vingadores do sangue (v. 7).

14.16 — Homem que intenta destruir tanto a mim como a meu filho. Apesar de a vida da mulher não estar em risco, a morte de seu filho significaria a extinção da família dela, o que a privaria de compartilhar no futuro uma porção das obras de Deus no meio do Seu povo.

14.17,18 — Como um anjo de Deus. A mulher sugeriu que o rei tivesse uma habilidade sobrenatural no exercício do julgamento. Ela usou elogios e um apelo por misericórdia para conseguir que Davi agisse.

14.19,20 — Davi reconheceu a mão de Joabe no enigma da mulher. Ela explicou que Joabe estava apenas tentando ser um agente para uma mudança no relacionamento entre Davi e Absalão. Ao declarar porém sábio é meu senhor, a sábia mulher mostrou que tinha ciência de que não estava lidando com um tolo. Nessa sentença, sábio é o termo masculino que corresponde a ela como mulher sábia (v. 2). Ela usou elogios para persuadir Davi, dizendo que a sabedoria dele era quase divina: segundo a sabedoria de um anjo de Deus.

14.21,22 — O rei fez segundo a palavra do seu servo. Aparentemente, Joabe havia feito outras tentativas para promover a reconciliação entre Davi e Absalão.

14.23 — A indisposição de Davi para ir pessoalmente a Gesur talvez reflita certa relutância em perdoar ao seu filho. Gesur ficava ao norte do mar da Galiléia. Talmai, avô de Absalão e pai de Maaca, uma das esposas de Davi, governava a região (2 Sm 3.3; 13.37).

14.24-26 — E não veja a minha face. Davi se recusou a encontrar imediatamente com seu filho porque não havia esquecido o crime hediondo que Absalão praticara. Absalão devia estar com a aparência da realeza, pois não havia, porém, em todo o Israel homem tão celebrado por sua beleza como Absalão. Muitos podem tê-lo visto como o próximo rei de Israel. Por seu charme e apelo pessoal, ele posteriormente conseguiu liderar a nação em uma rebelião contra o seu pai, Davi (2 Sm 15.1-12). A referência ao cabelo longo de Absalão provê o contexto para o relato de sua morte (2 Sm 18.9). Duzentos siclos eram um peso considerável, cerca de dois quilos e meio.

14.27,28 — Além de três filhos, Absalão teve uma filha, à qual chamou Tamar, talvez em homenagem à irmã dele (2 Sm 13.1). Aparentemente, os filhos de Absalão morreram durante a infância. Quando ele estabeleceu um pilar em Jerusalém em memória de seu nome, Absalão mencionou que não tinha filhos (2 Sm 18.18).

14.29-31 — A falha de Joabe em atender às convocações de Absalão parece incompatível com seus esforços anteriores para trazer o filho do rei de volta a Jerusalém (v. 22). A recusa de Joabe em ir até Absalão, sem dúvida, contribuiu para o crescente ressentimento de Absalão em relação à casa real.

14.32 — Vem cá, para que te envie ao rei. Talvez Joabe tenha se ressentido por ser tratado como um servo de Absalão. Ao declarar se há ainda em mim alguma culpa, que me mate, Absalão pediu que sua ofensa fosse punida ou totalmente perdoada.

14.33 — O rei beijou a Absalão. O beijo foi o símbolo da reconciliação entre eles. Embora Davi e Absalão estivessem reconciliados, as sementes de amargura que haviam sido plantadas logo frutificariam, gerando conspiração e rebelião. Davi protelou para chegar a um acordo com seu filho, e isso acabou culminando num desastre. Neste momento, porém, havia paz.