Significado de Josué 6

Josué 6

Josué 6 narra a história dramática e icônica da queda de Jericó, uma cidade fortificada na Terra Prometida. O capítulo começa com o plano estratégico dado por Deus a Josué. Os israelitas são instruídos a marchar ao redor da cidade uma vez por dia durante seis dias, enquanto sete sacerdotes tocam chifres de carneiro. No sétimo dia, eles devem marchar ao redor da cidade sete vezes, e ao som de um toque longo, o povo deve gritar. As muralhas de Jericó cairão, permitindo que os israelitas conquistem a cidade.

Josué segue meticulosamente as instruções de Deus e, no sétimo dia, após o clamor do povo, as muralhas da cidade desmoronam milagrosamente. Os israelitas entram em Jericó, destruindo tudo, exceto a casa de Raabe e sua família, conforme prometido pelos espias. O capítulo termina com a maldição solene lançada sobre a cidade, advertindo contra a reconstrução.

Josué 6 mostra a intervenção sobrenatural de Deus na conquista de Jericó. O plano estratégico empregado não é convencional, enfatizando o poder da obediência à orientação de Deus. A queda de Jericó se torna um símbolo da fidelidade de Deus às Suas promessas e Sua capacidade de conceder a vitória aos israelitas. O capítulo destaca a importância da fé, obediência e assistência divina na realização de tarefas aparentemente impossíveis, estabelecendo o tom para as batalhas e conquistas subsequentes à medida que os israelitas estabelecem sua presença na Terra Prometida.

Comentário de Josué 6

Josué 6:1-8.29 A conquista das primeiras duas cidades é descrita em ricos detalhes, contrastando com o restante das vitórias, que são contadas brevemente e de maneira sistemática nos capítulos 10 e 11. Jericó era o portão para Canaã a partir do leste, sendo uma forte e poderosa cidade próxima à travessia do Jordão. O colapso de Jericó, por uma miraculosa intervenção de Deus, consistiu no dramático primeiro passo na tomada da terra (cap. 6). Uma parte crucial da conquista de Jericó deu-se quando os israelitas foram instruídos a destruir tudo o que havia na cidade, exceto Raabe e sua família. Entretanto, um homem, Acã, foi desobediente e, por causa disso, toda a nação sofreu a derrota no próximo encontro em Ai. Os líderes de Israel foram forçados a descobrir e lidar com este pecado (cap. 7). Depois disso, os israelitas tomaram Ai com sucesso (cap. 8).

Josué 6:1, 2 A expressão tenho dado comunica que algo já havia acontecido, enfatizando o papel de Deus nas vitórias de Israel (Js 2.24).

Josué 6:3 Jericó media menos de 800 m de circunferência, cerca de 3 hectares [1 hectare equivale a aproximadamente um campo de futebol], portanto a marcha cercando a cidade foi completada rapidamente. A expressão homens de guerra (também encontrada em Js 5.4, 6 e 10.24) é, essencialmente, um sinônimo de valentes e valorosos (v. 2). Ela é usada por várias vezes no Pentateuco para aludir aos homens adultos que saíram do Egito, mas não foram autorizados a entrar na Terra Prometida (Nm 31.28, 49; Dt 2.14, 16). Agora, uma nova geração de guerreiros, pronta para lutar as batalhas do Senhor, foi designada por tal termo.

Josué 6:4 O número sete figura, de forma proeminente, nesta passagem: sete sacerdotes, sete buzinas, sete dias e sete cercos ao longo da cidade. Sete é um numeral importante nas Escrituras, começando com os sete dias da criação. E um número que indica a completude. Sua utilização neste trecho ajuda a demonstrar que a conquista de Jericó fez parte de um maior exercício espiritual que santificou o povo e a terra para Deus. Outro lembrete do significado espiritual do acontecimento é a presença da arca com o povo. (Veja o capítulo 3, para a importância da arca na travessia do rio Jordão.) Jericó foi uma das cidades mais antigas da Palestina, localizada na margem oeste do rio Jordão, a quase 16 km ao norte do mar Morto. Lugar de uma primavera perene, Jericó atraiu muitos povos desde os tempos pré-históricos e foi a primeira cidade cananeia tomada pelos israelitas depois que estes cruzaram o Jordão (Js 6:1-21). Esteve praticamente abandonada até a época do rei Acabe, quando Hiel, o betelita, reconstruiu a cidade à custa de seus dois filhos, cumprindo a maldição de Josué (Js 6:26; 1 Rs 16:34).

Josué 6:5 Os termos chifre de carneiro e buzina fazem referência ao mesmo tipo de instrumento. Tais expressões aludem a um chifre que é capaz de produzir apenas algumas notas. O objeto era usado principalmente como um sinal. Aqui, ele sinalizou a presença de Deus e anunciou o iminente destino de Jericó. O chifre é o instrumento mais comum mencionado no Antigo Testamento.

Josué 6:6, 7 As instruções de Josué, neste trecho, reproduzem os comandos de Deus transmitidos a ele nos versículos 2 a 5. A repetição enfatiza a importância da cerimónia solene da marcha rodeando a cidade.

Josué 6:8, 9 Os armados é outra expressão militar e significa homens equipados para a guerra, enfatizando a força à medida que se preparavam para a batalha. A palavra retaguarda é rara, encontrada apenas nos versículos 9 e 13 deste capítulo, em Números 10.25 e, figurativamente falando de Deus, em Isaías 52.12. O contingente de guerreiros atribuídos à arca é, de fato, impressionante: primeiro, homens armados (v. 7, 9), depois, sacerdotes tocando trombetas, em seguida, a arca em si carregada por sacerdotes (v. 8), e, por fim, a retaguarda (v. 9).

Josué 6:10, 11 Fez a arca do Senhor rodear a cidade. Vemos neste trecho que a narrativa continua colocando a arca em um lugar de destaque. As pessoas também circundaram a cidade, entretanto o foco era na arca.

Josué 6:12 A expressão levantou de madrugada é encontrada em Josué 3.1; 6:15; 7.16; 8.10, 14, bem como em vários versículos em Juízes. Levantar de madrugada (hb. shakam) está relacionado à palavra ombro (hb. shekem). O pensamento aqui alude ao fato de que um indivíduo deveria levantar-se cedo, colocar no ombro sua carga e, então, sair. Isso indica um bom início de dia. Neste caso, a tarefa em mãos não consumiria muito tempo, mas possuía tal importância espiritual que Josué, em seu afã, quis garantir um pronto começo.

Josué 6:13-16 Ao sétimo dia, os israelitas marcharam circundando a cidade sete vezes, o que simbolizava a completude da tarefa.

Josué 6:17, 18 A importante palavra hebraica traduzida como anátema ocorre nestes dois versículos três vezes. Este vocábulo indica que a cidade de Jericó, junto com seus habitantes e tudo mais que estivesse lá, deveria ser destruída como uma oferta ao Senhor. Esta ideia aparece em especial no livro de Josué. Tal conceito está relacionado com a guerra; as coisas eram oferecidas ao Senhor sendo totalmente destruídas. Entretanto, isso não se limitava a Jericó; poderia acontecer a qualquer lugar, em relação a objetos opulentos (Js 7.1, 11), a pessoas (Js 10.28, 35, 39, 40; 11.11, 20), e a cidades inteiras (Js 8.26; 10.1, 37; 11.12, 21). Esta prática, mesmo que citada grandemente no Antigo Testamento, não era comum nas demais culturas. Deus desejava que Israel se mantivesse imaculado, a fim de que refletisse Sua santidade. Nesta circunstância em particular, era de vital importância que os israelitas não fossem tentados pelas práticas de adoração pagã dos cananeus. A ordem de Deus para que os israelitas dedicassem a cidade de Jericó a Ele era similar ao Seu comando de ofertar as primícias da colheita. Caso Israel desobedecesse a este comando, os efeitos seriam desastrosos (cap. 7).

A palavra turveis prefigura os problemas que Acã ocasionaria à comunidade (Js 7.16-24).

Josué 6:19 A palavra traduzida como consagrados quer dizer santos. Para que assim fossem, os valiosos materiais não deveriam ser destruídos, mas sim separados para o Senhor. A palavra tesouro também é usada para as riquezas no templo de Salomão (1 Rs 7.51). Entretanto, não foi mencionado nenhum templo na época de Josué. Assim, a natureza exata e a localização deste tesouro são desconhecidas. O tesouro da casa do Senhor só é citado no versículo 24. E possível que esteja associado à casa de Deus em Gilgal citada em Josué 9.23.

Josué 6:20 Com a grande explosão das trombetas e o forte grito do povo, Deus miraculosamente entregou Jericó nas mãos dos israelitas: o muro caiu abaixo (desmoronou). A passagem da tomada de Jericó nos versículos 8 a 20 está relacionada a um estilo que constrói vagarosamente o clímax. Este primeiro grande obstáculo à posse da terra por Israel caiu apenas com o grito das pessoas. O fato de que foi completamente destruído em apenas um momento ilustra a total superioridade, sem necessidade de esforço, de Deus sobre os oponentes de Seu povo.

Josué 6:21-23 Os dois espias que visitaram Raabe foram até sua casa e resgataram a prostituta e toda a família dela. Estes dois homens fizeram tal trabalho para que não houvesse erros acerca de quem deveriam remir. Notoriamente, Raabe, que foi salva da destruição total, tornou-se um membro da linhagem familiar de Jesus (Rt 4.18-22; Mt 1.5).

Josué 6:24, 25 Habitou no meio de Israel até ao dia de hoje. Estas palavras podem indicar que esta parte do livro de Josué, senão todo o livro, foi escrita durante o tempo de vida de Raabe. A razão pela qual o autor incluiu tal expressão foi autenticar sua narrativa. As pessoas poderiam ir e ver Raabe lá morando, caso não acreditassem na história. Isso também representa uma verdade no caso do altar de pedra em Josué 4-9, e na passagem das pedras que cobriam a caverna onde os reis cananeus foram enterrados (Js 10.27). Estas eram evidências tangíveis de que as pessoas poderiam confirmar o que acontecera. Tais acontecimentos não consistiam de histórias inventadas pela imaginação, a fim de dar a Israel um passado glorioso (mas fictício). Todos eram fatos reais, e as testemunhas dos eventos ainda estavam vivas.

Josué 6:26 A expressão Josué os esconjurou literalmente significa fez com que eles jurassem. Já a palavra maldito é uma das expressões comuns correspondentes a praguejar. O oposto é abençoar. Josué amaldiçoou qualquer tentativa de reconstrução de Jericó. A cidade foi esporadicamente ocupada depois disso (Js 18.21; Jz 3.13; 2 Sm 10.5), mas nunca mais como anteriormente. A maldição de Josué cumpriu-se drasticamente muitos séculos depois quando Hiel, de Betel, lançou seus alicerces e instalou suas portas a um grande custo pessoal (1 Rs 16:34). A linguagem usada na passagem de 1 Reis ecoa consistentemente esta passagem.

Josué 6:27 Como resultado da primeira drástica conquista de Canaã, ficou evidente que o Senhor estava ao lado de Josué, e as notícias acerca deste fato espalharam-se por lugares remotos e de forma ampla.

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