Significado de Juízes 11

Juízes 11

11:1-3 Jefté, assim como Jair (Jz 10.3), era de Gileade. Foi um homem valente e valoroso, mas era filho ilegítimo, o que fez com que seus meio-irmãos o expulsassem da casa de seu pai. Da mesma forma que fizera Abimeleque (Jz 9.4), ele também se aproximou de homens levianos (Jz 11:3), que não trouxeram um bom augúrio para seu futuro. O território de Gileade ficava na parte norte da Transjordânia (Js 17.1, 3, 5). Os gileadítas descendiam de um homem chamado Gileade (Nm 26.29, 30; 27.1; 36.1), como era o caso do próprio Jefté. Nesta passagem e em Josué 17.1, 3, o termo alude tanto a uma pessoa como ao lugar. Sobre a expressão valente e valoroso, leia o comentário em Josué 1.14. Terra de Tobe. Provavelmente, é uma área a leste de Gileade. Ironicamente, o termo significa bom, uma qualidade que, frequentemente, faltava a Jefté.

11:1, 2 O território de Gileade ficava na parte norte da Transjordânia (Js 17.1, 3; Jz 5.17). As pessoas dessa região descendiam de um homem chamado Gileade (Nm 2 6.29, 30; 27.1; 36.1). O próprio Jefté era filho de um indivíduo chamado Gileade. Nesta passagem e em Josué 17.1, 3, o termo alude tanto a uma região quanto a uma pessoa.

11:3 Tobe, talvez, ficasse a leste de Gileade. O vocábulo quer dizer bom, e a bondade era uma virtude que, indiscutivelmente, faltava a Jefté.

11:4-7 Após as negociações e a orientação de Deus, Jefté foi encarregado para ser o líder e o comandante de Israel. Depois de alguns dias. Neste ponto, retornasse à narrativa interrompida em Juizes 10.17, 18 (Jz 11:1-3). Vem e sê-nos por cabeça. Neste contexto, vemos um líder ser comissionado pelo povo para liderar Israel. Deus participa pouco desse processo, a não ser para confirmar a escolha (Jz 11:10). Isso é outro sinal de deterioração espiritual. O cabeça [ou comandante] era aquele que exercia a função de um juiz, mas é importante notar que a palavra juiz não é usada aqui, considerando que Deus era o único que alçava os juízes.

11:8, 9 Venhas conosco, e combatas. Esta expressão é quase a mesma usada pelos israelitas quando pediram a Samuel um rei em 1 Samuel 8.20: E o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras. Em ambos os casos, mesmo Deus dando a permissão para isso, o pedido foi inadequado.

11:10 O Senhor será testemunha [hb. shama']. Literalmente quer dizer o Senhor estará ouvindo. Esta não é a palavra hebraica comum para testemunha [‘uwd] usada nas cerimônias de formação de aliança (Dt 30.19; Js 24.22), mas o sentido é o mesmo. Deus é chamado para ser a testemunha da concordância do ajuste (1 Sm 20.12).

11:11 O povo pôs Jefté por cabeça e príncipe, porque ele exigiu, de forma oportuna, ser o cabeça como preço pela ajuda que daria aos israelitas como comandante. E, no final, tornou-se ambos. As palavras de Jefté perante o Senhor são uma estranha mistura de fé e tolice. Mesmo que Jefté tivesse reconhecido Deus neste contexto e mais adiante (Jz 11:21, 23, 27, 30, 31; 12.3), seus interesses pessoais e sua leviandade atropelaram sua fé. O livro de Hebreus traz uma visão mais positiva de Jefté do que o de Juizes: Gideão, Baraque, Sansão, Jefté e outros são listados como exemplos daqueles que pela fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões (cf. Hb 11:32, 33). Indiscutivelmente, eles demonstraram a fé a qual permitiu que Deus subjugasse reinos por intermédio destes homens. Contudo, o livro de Juízes revela, de forma bastante clara, algumas de suas pouco admiráveis características.

11:12-28 Esta longa passagem trata das negociações diplomáticas entre Jefté e os amonitas: uma ampla e impressionante conversa de Jefté com o rei de Amom, estabelecida por intermédio de mensageiros. Neste diálogo, Jefté responde às acusações feitas contra Israel. Os dons verbais do cabeça de Israel são facilmente perceptíveis neste trecho. Além disso, é interessante notar que o nome Jefté [Yiphtach] significa ele abre. Tomou a minha terra. Os amonitas alegavam que Israel tomara seu território, e, em relação a isso, Jefté respondeu com uma cuidadosa réplica. Ele declarou que o SENHOR, o próprio Deus de Israel, havia desapossado os povos (Jz 11:21, 23, 24), e Israel não era um agressor, mas um mero receptor da generosidade do Senhor. Os amonitas tinham gerado infortúnios sobre si mesmos quando obstruíram o avanço de Israel em direção à Terra Prometida. Israel não tomaria a terra amonita, visto que Deus ordenou expressamente que eles não o fizessem (Dt 2.19). Posteriormente, Seom, o rei dos amorreus, conquistou o território dos amonitas (Nm 21.26) e, em seguida, Israel tomou a terra de Seom (Nm 21.25). Assim, os amonitas foram afetados indiretamente com a expansão de Israel. Além disso, os amonitas nunca reivindicaram de fato a área, que estava verdadeiramente na posse dos amorreus (Jz 11:19-22). O perímetro da terra dos amorreus, no versículo 22, é precisamente o que os amonitas reclamavam como deles no versículo 13 (o texto de Nm 21.24 também refuta a exigência amonita). Ademais, Israel ocupava a área em questão por, pelo menos, 300 anos, tempo suficiente para que eles já tivessem tentado reconquistá-la (Jz 11:26) .Jefté terminou seu discurso com um apelo para que Deus julgasse as exigências adversárias (Jz 11:27).

11:13-17 A revisão do passado neste e nos versículos seguintes relembra os acontecimentos no deserto descritos em Números 20.14-21.

11:18-24 Que Quemos [Camos, na NVI], teu deus, desapossasse de diante de ti. Este era um irônico golpe na divindade dos amonitas. Jefté queria dizer que o Deus de Israel dera a Seu povo um amplo território, enquanto Quemos, o deus dos amoneus, não fizera nada por eles. A referência a Quemos, como um deus amonita, é inesperada, visto que, em outras partes, o deus amonita é nomeado de Moloque (1 Rs 11:7) ou Milcom (1 Rs 11:5, 33; 2 Rs 23.13). Quemos é normalmente associado aos moabitas (1 Rs 11:7, 33). Entretanto, Amom e Moabe estavam lado a lado e compartilhavam uma herança comum: ambas as nações descendiam de Ló (Gn 19.37, 38). Os dois povos são, geralmente, mencionados juntos (Jz 3.12, 13; 11:15; Dt 2.18, 19; 23.3-5). É possível que tais nações dividissem conceitos culturais e religiosos, incluindo a adoração a Quemos.

11:25, 26 Trezentos anos. Este pode ser um período aproximado, mas, ainda assim, mostra uma importante pista para determinar a data do Êxodo e o conhecimento do tempo que durou o período dos juízes.

11:27, 28 O Senhor, que é juiz. Este é o único lugar em Juízes no qual um indivíduo sozinho é chamado de juiz. De forma significativa, ele é Deus, que fundamentalmente foi e é a Fonte de toda justiça. Ele possui o direito de julgar cada homem e cada mulher. E a divina autoridade e sempre julga com justiça, enquanto também é amoroso, piedoso e perfeito.

11:29-40 O conflito com os amonitas terminou com a vitória de Jefté, auxiliado pelo Espírito do Senhor (v. 29, 32, 33). Contudo, a narrativa centra-se no seu imprudente voto (v. 30, 31, 34-40). Pensando que podia induzir Deus a ajudá-lo, Jefté prometeu sacrificar ao Senhor a primeira pessoa que fosse ao encontro dele quando estivesse retornando vitorioso para casa (v. 30, 31). Seu voto impensado demonstrou claramente a falta de fé de Jefté, uma vez que ele acreditava que Deus só interviria em favor dele e de seu interesse (v. 9, 27) por causa do sacrifício que lhe ofereceria. Mas note que o Espírito do Senhor veio sobre Jefté bem antes de ele fazer tal promessa (v. 29), sendo esta desnecessária. O trágico resultado do voto de Jefté foi o sacrifício de sua única filha.

11:31-34 Alguns estudiosos interpretam o voto de Jefté, aquilo (ou aquele) que, saindo da porta de minha casa, como uma clara intenção de oferecer um sacrifício humano. Sua surpresa, então, não foi o fato de ter de oferecer alguém, mas, sim, ter de oferecer, infelizmente, a própria filha. A expressão me sair ao encontro parece fazer alusão mais apropriadamente a um ser humano do que a um animal, e é difícil enxergar, neste contexto, que Jefté tentaria persuadir Deus com a oferta do sacrifício comum de um animal. Sem sombra de dúvida, Jefté sabia que o sacrifício humano fora estritamente proibido em Israel (Lv 18.21; 20.2; Dt 12.31; 18.10; Jr 19.5; Ez 20.30, 31; 23.37, 39), mas sua tolice e falta de fé o impulsionaram a fazer um voto levianos a fim de tentar manipular o Senhor (Jz 11:39).

11:35 A expressão abri a minha boca literalmente quer dizer eu dei a minha palavra. A luz de seu eloquente discurso para o rei dos amonitas (Jz 11:15-27), é irônico constatar que Jefté abriu a boca, mais uma vez, para fazer tal voto. Mas, ele realmente precisava cumprir esta promessa? De forma geral, a resposta seria sim. Os votos eram feitos apenas para Deus e tinham a conotação de promessas solenes, as quais precisavam ser cumpridas. As pessoas não eram forçadas a se comprometerem com um voto, porém, uma vez feito o juramento, o compromisso deveria ser honrado (Dt 23.21-23; Sl 15.4; Ec 5.4, 5). Entretanto, Jefté prometeu algo pecaminoso na própria origem, se a intenção tivesse sido mesmo a de oferecer um sacrifício humano, no sentido literal.

11:36-40 Aqueles que acreditam que Jefté pretendia sacrificar um ser humano devem também refletir se ele executou seu voto. O texto não fala explicitamente se Jefté matou sua filha, apenas que ele cumpriu nela o seu voto que tinha feito. O versículo continua e diz que a filha não conheceu varão. Algumas pessoas acreditam que a menina foi “sacrificada”, tendo a vida dedicada à virgindade perpétua. Vários argumentos podem ter origem nesta interpretação.

Primeiro, o sacrifício humano era contrário à Lei de Moisés (Lv 18.21; 20.2-5; Dt 12.31; 18.10). Até os perversos reinados de Acaz e Manassés, séculos mais tarde (2 Rs 16.3; 21.6), não houve registro na Bíblia de sacrifício humano em Israel. Segundo, o grande respeito que Jefté tinha por Deus, certamente, iria impedi-lo de fazer uma oferta desse nível de perversidade. Terceiro, o fato de Jefté ter permitido que sua filha chorasse pela virgindade (Jz 11:37, 38) por dois meses se encaixa à explicação da virgindade eterna mais do que a do sacrifício humano. Quarto, a indicação de que a filha não conheceu varão também parece ser um detalhe que sustenta a ideia do celibato. Quinto, a Bíblia apresenta evidências de que esse serviço devocional para as mulheres, de fato, existia no santuário central (Ex 38.8; 1 Sm 2.22; Lc 2.36, 37). Na antiga sociedade israelita, o pai tinha o poder de proibir as filhas de se casarem. Sexto, a conjunção e na declaração principal de Jefté, no versículo 31, de que aquilo que, saindo da porta da minha casa, isso será do SENHOR, e o oferecerei pode ser traduzida como ou. Assim, se fosse uma pessoa que saísse da casa, ele iria dedicá-la ao Senhor, ou, se fosse um animal, Jefté iria oferecê-lo em holocausto.

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