Significado de Juízes 8

Juízes 8

8:1-3 Os homens de Efraim reclamaram com Gideão por terem sido convocados tardiamente (Jz 8:1). A resposta lisonjeira de Gideão gerou um efeito apaziguador naqueles indivíduos.

8:4-28 Após a vitória de Gideão houve uma segunda campanha militar, a qual contrastou drasticamente com a primeira. Ele perseguiu os dois reis midianitas até os pegar e matar. Gideão também puniu as cidades de Sucote e Peniel. Nesta passagem, não há indicação do envolvimento de Deus, como aconteceu anteriormente. Em vez disso, Gideão mostrou satisfazer uma necessidade pessoal (Jz 8:18, 19).

8:5-10 Sucote localizava-se a leste do Jordão, perto do rio Jaboque. Zeba e Salmuna são nomes pouco lisonjeiros que significam, respectivamente, Vítima e Proteção Recusada. Tais designações, talvez, fossem trocadilhos com os nomes verdadeiros dos reis, o que, possivelmente, foi feito com Cusã-Risataim (Jz 3.8). Entretanto, o autor de Juízes pode ter tido mais comiseração por estes dois reis, visto que Gideão não é evidenciado neste capítulo.

8:11, 12 A agressividade de Gideão contrasta nitidamente com a precaução e o medo evidentes no capítulo 6.

8:13, 14 Descreveu os príncipes de Sucote. A literatura nas civilizações primitivas estava, a princípio, limitada à elite instruída, como acontecia na Mesopotâmia e no Egito. Seus sistemas de escrita eram complexos e apenas uma ínfima parte da população sabia ler e escrever. Entretanto, a disseminação dos sistemas alfabéticos simplificou bastante as tarefas de leitura e escrita. Centenas de fragmentos de louça encontrados ao longo da Palestina possuem inscrições simples, indicando que certo grau de alfabetização fez-se acessível nos dias de Gideão. Assim, o jovem que Gideão encontrou no caminho escreveu para ele os nomes dos 77 líderes.

8:15-17 As ações de Gideão neste trecho cumprem as ameaças dos versos 7 e 9.

8:18 Os assassinatos aos quais Gideão se refere não aparecem em nenhum outro lugar do texto. A resposta dos dois reis foi lisonjeira: Qual tu, tais eram eles. Eles compararam Gideão ao filho de um rei. Apesar de sua recusa do remado, Gideão não estava imune à vaidade encorajada pela realeza. Ao dar o nome de Abimeleque a um de seus filhos, o qual significa meu pai é rei (Jz 8:31), ele pode ter sucumbido à tentação de exaltar a si próprio como um rei para Israel.

8:19-21 Qual o homem, tal a sua valentia. Isso era um desafio à coragem de Gideão, e ele respondeu à provocação matando, com as próprias mãos, os dois reis. Luetas [ornamentos, na ara] foram encontradas em muitos lugares na Palestina, mas são mencionadas novamente apenas mais uma vez na Bíblia (Is 3.18).

8:22 Imediatamente após a execução dos dois reis, os homens de Gideão pediram que este dominasse, reinasse, sobre eles. Tal pedido, mesmo que compreensível sob uma perspectiva humana (Jz 8:18), não repercutia o reconhecimento de que foi Deus, e não Gideão, quem havia libertado o povo.

8:23 A resposta de Gideão foi teologicamente correta: O Senhor sobre vós dominará. A ordem das palavras no texto em hebraico [Yehovah mashal] deixa claro que o reinado de Deus era exclusivo. Pode-se fazer a paráfrase da seguinte forma: “E o Senhor, e ninguém mais, quem deverá reinar sobre vocês”. Essa frase ostenta, de forma ampla, a sugestão de que o Senhor não pretendia que Israel tivesse um rei, pois Ele seria seu único Rei. Entretanto, Deus prometera a Abraão e seus descendentes que haveria reis em sua descendência (Gn 17.6, 16; 35.11; 49.10). Quando as pessoas de Israel pediram que Gideão reinasse por causa de seu sucesso militar, ele só poderia recusar a solicitação, visto que a motivação popular tinha falhas e limitações. A verdadeira função de um rei era a de levar as pessoas a Deus. O rei também deixaria as questões de guerra para o Senhor. Esse foi o erro crítico do povo quando pediu por um governante no tempo de Samuel: E o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras (1 Sm 8:20). Eles queriam um rei para fazer o que os juízes tinham realizado: liderá-los nas batalhas. Contudo, no período dos juízes, houve muitos erros.

8:24-28 Apesar da resposta teologicamente correta de Gideão no versículo 23, este trecho mostra que ele não foi cuidadoso ao liderar Israel na verdadeira adoração ao Senhor, pois, ao fazer um éfode, ele encorajou a idolatria. O peso total das ofertas trazidas para a confecção do manto sacerdotal, mil e setecentos siclos de ouro, era impressionante. Assumindo que a unidade de medida era o siclo (esta unidade não foi especificada no texto em hebraico), o peso total equivalia a 20kg e meio (um siclo correspondia a aproximadamente ll/5g). O éfode original era uma veste cerimonial ornamentada, usada pelo sumo sacerdote (Ex 28; 39). Alguns estudiosos acreditam que o éfode feito por Gideão assemelhava-se a um ídolo, mas não há informações claras indicando tal fato. Ao colocar o éfode em sua própria cidade, Gideão talvez estivesse “brincando” de juiz, pois, em ponto nenhum do texto, lemos que Gideão “julgou” Israel, enquanto encontramos tais referências com relação a outros juízes. Depois de Gideão, outro homem também fez um éfode, gerando resultados igualmente obscuros (Jz 17. 5). E foi por tropeço. Essa frase lembra o comentário introdutório do narrador em Juízes 2.3.

8:29-32 Esta seção de transição nos fala não somente da morte de Gideão, mas também introduz seu legado fatal: o filho, Abimeleque, cuja história violenta é contada no capítulo 9.

8:31, 32 Embora Gideão tivesse 70 filhos (Jz 8:30), apenas Abimeleque, que significa meu Pai é rei, é mencionado pelo nome neste trecho. Alguns estudiosos defendem que Gideão tornou-se rei de fato, não por título, mas na prática, pois ele deu um nome real ao seu filho e agiu como o líder do povo (Jz 8:24-27).

8:33-35 Baal-Berite quer dizer o Baal possuidor de um pacto, um contraste irônico à aliança do Deus de Israel, Aquele a quem os israelitas deveriam adorar. Este deus também foi chamado de Berite (Jz 9.46) [ou El-Berite, na versão ara].

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