Significado de Juízes 6

Juízes 6

6:1-8, 32 O quinto juiz foi Gideão, que lutou duas vezes com os midianitas, primeiro sob as instruções divinas e, depois, por iniciativa própria. A história de Gideão é a segunda principal passagem no livro dos Juízes. Nesta narrativa, juntamente com a subsequente tragédia de Abimeleque que se segue no capítulo 9, podemos observar, de forma não previamente evidente, a contínua deterioração do estado espiritual de Israel. Primeiro, Deus censurou Israel quando o povo clamou por Ele (Jz 6:7-10). Depois, o próprio juiz contribuiu para o declínio espiritual (Jz 8.24-27). Então, as tribos de Israel lutaram entre si pela primeira vez (Jz 8.16, 17; 9.23-54), antes de uma discórdia ainda pior mais tarde (Jz 12.1-6; 20.1-48). Apesar da continua intervenção divina e dos lampejos de retidão de Gideão, Israel corroeu-se espiritualmente e politicamente.

6:1-10 O padrão da contínua apostasia é resumido: Israel pecou, foi oprimido pelos estrangeiros e, então, clamou pela libertação divina. Entretanto, em vez de mandar automaticamente um juiz-redentor, como aconteceu das vezes anteriores, Deus enviou, desta vez, um profeta que condenou Israel. Deus iria, de fato, libertar Israel por intermédio de Gideão, mas ficou claro que o Senhor não responderia mecanicamente a todo e qualquer apelo de Israel, apesar das circunstâncias.

6:1 Midiã estava localizada na península arábica, a sudeste de Israel e a leste da península do Sinai. Os midianitas eram descendentes de Abraão por intermédio de sua esposa, Quetura (Gn 25.1, 2). Assim, eles tinham uma relação distante com os israelitas. Os midianitas levaram José de seus irmãos (Gn 37.25-36), acolheram Moisés no deserto (Êx 2.15-21) e contrataram Balaão para amaldiçoar Israel (Nm 22.7). De modo geral, Israel colocava Midiã entre seus inimigos. Nesta passagem, os midianitas ameaçavam Israel, causavam incêndios, saqueavam e deixavam muitos com fome (Jz 6:4, 5).

6:2 As covas [...] as cavernas. As cavernas não eram usadas como habitações permanentes no tempo do AT. O fato de que os israelitas foram forçados a abandonar suas casas e a viver em cavernas indica o grande desespero em que se encontravam.

6:3, 4 Os amalequitas eram um povo nômade que vivia no deserto do Sinai e no Neguebe, o deserto ao sul de Israel. Eles descendiam de Esaú (Gn 36:12) e, no contexto destes versículos, juntaram-se aos midianitas contra Israel. Os do Oriente. Eram nômades não especificados, que também pilharam Israel. Estes ocidentais são mencionados em muitos contextos proféticos (Is 11.14; Jr 49.28; Ez 25.4).

6:5-7 Vinham como gafanhotos. As pragas de gafanhotos eram, e ainda são, uma ocorrência bastante comum no Oriente Médio. Na época do profeta Joel, tal ataque foi profetizado como uma punição sobre a terra (J11.4, 15-17; 2.1-11).

6:8-10 Enviou o Senhor um profeta. Este servo do Altíssimo lembrou aos israelitas a fidelidade de Deus e de como as pessoas, apesar disso, tinham-no rejeitado.

6:11-40 O chamado de Gideão é a peça central do capítulo 6: A passagem começa com o aparecimento do Anjo do Senhor a Gideão (Jz 6:11-24), seguida pela narrativa da destruição de um altar de Baal (v. 25-35). Após este episódio, observamos a fé titubeante de Gideão (v. 36-40). Em meio a tudo isso, ele mostrou ambivalência com relação a ter sido chamado para libertar Israel, tanto quanto Moisés o fora.

6:11, 12 O terebinto palestino [carvalho, na ARC e NVI] é uma grande árvore com tronco espesso e ramos pesados, algumas vezes, confundida com o carvalho. Ele pode crescer até uma altura de 8m. Figura nas histórias de Abraão, que armou sua tenda perto dos carvalhais de Mame (Gn 13.18; 18.1), e de Jacó, que escondeu um tesouro embaixo de uma dessas árvores (Gn 35.4). A localização exata de Ofra não é conhecida, mas era uma cidade em algum ponto do território de Manassés. Não é a cidade de Benjamim, que possui o mesmo nome Os 18.23; 1 Sm 13.17). Sobre o termo abiezrita, leia o comentário sobre Juízes 6:24. X

Lagar era uma espécie de tanque em formato circular ou quadrado, escavado em uma rocha, no qual as uvas eram amassadas (Is 16:10; Jr 48.33). O trigo era separado nas eiras, para que o vento pudesse levar o joio no processo de joeiramento (2 Sm 24.18). O fato de Gideão ter sido forçado a malhar o trigo escondido em um lagar apesar de ter acesso à eira (Jz 6:37) mostra novamente a situação desesperadora em que os israelitas se encontravam.

6:13, 14 Senhor meu. Esta era uma forma educada de tratamento, mas o SENHOR é o nome pessoal de Deus (Yehovah), cujo significado completo foi revelado a Moisés no monte Sinai (Êx 3.13-16). A palavra hebraica para maravilhas [pala] faz referência a milagres (Ex 3.20; Js 3.5).

6:15 Eu, o menor na casa de meu pai. A objeção de Gideão assemelha-se às palavras ditas por Moisés (Ex 3.11) e Jeremias (Jr 1.6).

6:16 Eu hei de ser contigo. Esta era a grande promessa da presença divina, que Ele dera anteriormente a Moisés e a Josué (Ex 3.12; Js 1.5, 9). Tais palavras deveriam ter encorajado Gideão vigorosamente, mas ele, ainda assim, demonstrava dúvidas (Jz 6:17, 36-40). Frequentemente, julgamos de pronto aqueles que duvidam de Deus, mesmo quando tiveram uma prova, em primeira mão, de Suas ações poderosas. Contudo, também falhamos muitas vezes em demonstrar confiança total. Deus realizou sua vontade apesar da fraqueza de Gideão, e Ele pode fazer a mesma coisa conosco.

6:17, 18 A fé que Gideão possuía precisava de um apoio, por isso, ele pediu um sinal para Deus. Aqui, como em outros trechos, Gideão não respondeu prontamente a Deus (Jz 6:39, 40).

6:19-21 Um efa de farinha. Efa é uma medida de capacidade para secos que vai de 20 a 40 litros.

6:22, 23 Então, viu Gideão. Quando o Anjo do Senhor desapareceu, Gideão percebeu (literalmente, viu) quem ele era e temeu por sua vida. Esta reação de medo, aparentemente, tem origem no conhecimento de que morre qualquer um que olhe para Deus. Em Êxodo 33.20, ao falar com Moisés, Deus diz: Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá. O contexto de Êxodo 33.18-23 indica que era a completude da glória de Deus que Moisés não poderia ver, visto que o profeta falou com Ele, conheceu-o “face a face” (Êx 33.11; Nm 12.8; Dt 34.10) e, até mesmo, viu a forma do próprio Deus (Nm 12.8). Contudo, o medo de Gideão era uma resposta adequada para aqueles que se viram na presença do Anjo de Deus. Esta também foi a reação de Manoá quando o Anjo o visitou (Jz 13.21, 22).

6:24 Até ao dia de hoje. Esta expressão, bastante comum nos livros de Josué e Juízes (Jz 1.21, 26; 15.19; Js 4-9; 5.9; 6:25; 7.26), confere autenticidade à passagem. È a maneira de o autor de declarar às gerações posteriores que elas poderiam comprovar a história indo até o local e vendo o altar por si próprias.

Os abiezritas eram os descendentes de José por intermédio do seu filho Manassés. Eles faziam parte da tribo de Manassés que estava assentada a oeste do rio Jordão (Nm 26:30 [Jezer]; Js 17.1, 2).

6:25-35 O primeiro teste de Gideão foi despedaçar os santuários locais de Baal e Aserá, e substituí-los por um altar para Deus. Gideão obedeceu, mas seu temor fez com que ele realizasse a tarefa durante a noite (Jz 6:27). Seus testes militares vindouros são prefigurados neste texto (Jz 6:33-35). A batalha liderada por ele aconteceria nas terras altas centrais, na parte norte de Israel (Ofra, a cidade-natal de Gideão, ficava no vale Jezreel, a sudoeste do mar da Galileia).

6:25 A palavra bosque, utilizada na versão ARC, corresponde a poste sagrado (NVI) e poste-ídolo (ARA) e refere-se a Aserá, a deusa cananeia. Postes sagrados de madeira eram erigidos nos lugares onde se adorava essa divindade. O amplo culto a ela é comprovado em Juízes 3.7 e em outros contextos (1 Rs 15.13; 18.19).

O segundo boi não é um segundo animal, mas uma expressão que Deus usa para especificar claramente a Gideão qual boi deveria ser sacrificado. A necessidade de especificação destaca a contínua relutância de Gideão (Jz 6:17).

6:26, 27 Com a lenha que cortares. Esta expressão significa literalmente com o poste de madeira de Aserá (cf. Jz 6:28, 30). Gideão, apropriadamente, deveria ofertar o sacrifício utilizando no holocausto a madeira do ídolo destruído.

6:28 A expressão de madrugada ocorre em Juízes 6:28, 38; 7.1; 9.33; 19.5, 8, 9; 21.4.

6:29-31 Contendereis vós por Baal. A pergunta de Joás era retórica. Ele se recusou a entregar seu filho para a morte, argumentando que Baal deveria ter sido capaz de defender-se caso fosse mesmo um deus. Outros exemplos de questões retóricas em Juízes são encontrados nos seguintes capítulos e versículos: 9.2, 28; 11.25; 18.3; 20.28.

6:32-34 Gideão passou a ser chamado de jerubaal [provavelmente, dado por seu pai, Joás, veja ntlh], para zombar daqueles que confiavam no deus pagão, tendo em vista que este nome significa Baal contenda contra ele e reflete o que foi dito no versículo 31. Assim, Gideão tornou-se um memorial vivo da impotência de Baal. O trecho de 2 Samuel 11.21 faz referência a Gideão como Jerubesete [a terminação da palavra foi substituída por besete, que significa vergonha]. Mudanças como esta também ocorrem com outros termos que incorporam o nome Baal, como Esbaal, que quer dizer homem de Baal (1 Cr 8.33; 9.39), pelo nome Isbosete, o qual significa homem de vergonha (2 Sm 2.8), e Meribe-Baal, que indica Baal contende (1 Cr 8.34; 9.40) pelo termo Mefibosete, que significa expressão de vergonha (2 Sm 9.6). Portanto, qualquer alusão negativa a Baal no texto bíblico é uma tentativa de condenar a adoração ao ídolo.

6:35 Gideão enviou mensageiros para os territórios de quatro tribos do norte, adjacentes umas às outras: Manassés, Aser, Zebulom e Naftali.

6:36-40 Antes da batalha, Gideão pediu sinais para “testar” a orientação divina mais uma vez.

6:39 Rogo-te que só esta vez faça a prova. A palavra traduzida como prova é a mesma usada quando Deus testou Israel (Jz 2.22; 3.1). O desejo de Gideão de testar os sinais divinos poderia ter sido uma violação da lei que proibia as pessoas de colocarem o Altíssimo à prova (Dt 6:16 a palavra tentar é o mesmo termo hebraico traduzido como prova [nacah] neste contexto). O próprio Gideão estava ciente de que fazia uma coisa pouco sábia, senão ofensiva, visto que pediu que Deus não acendesse Sua ira contra ele.

6:40 Apesar da falta de fé de Gideão, Deus assim o fez naquela noite, isto é, atendeu aos pedidos de Gideão. Muitas pessoas fiam-se no exemplo de Gideão como uma maneira de buscar orientação do Senhor, pedindo uma confirmação de Deus. Em algumas ocasiões, Deus escolhe responder a tais pedidos, como no caso de Gideão. Não obstante, este já sabia da vontade de Deus para sua vida (Jz 6:14-16, 36). Seus pedidos apenas tornaram evidente a sua fé fraca. Isaías deu o exemplo de uma resposta adequada à nítida revelação divina: Eis-me aqui, envia-me a mim (Is 6:8). Assim também fizeram os discípulos, que deixaram imediatamente suas redes e seguiram a Jesus (Mc 1.18-20).

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