Marcos 7 — Interpretação Bíblica

Marcos 7

7:1-5 À medida que as pessoas comuns cresciam em seu entusiasmo por Jesus, os fariseus e escribas cresciam em seu ódio por ele. Eles queriam que ele fosse destruído (ver 3:6). Eles estavam dispostos a viajar de Jerusalém para a Galileia para encontrar mais falhas nele (7:1). Eles notaram que os discípulos comiam com as mãos impuras, isto é, não lavadas (7:2), o que não significa que eles estavam deixando de praticar uma boa higiene. Em vez disso, eles estavam deixando de praticar a lavagem cerimonial, algo que os fariseus e... judeus praticavam. Esta não era uma exigência de Deus no Antigo Testamento, mas uma tradição dos anciãos (7:3, 5). Marcos nos diz que havia muitos outros costumes que eles praticavam e esperavam que outros praticassem (7:4).

7:6-9 Jesus não fez rodeios. Ele os chamou de hipócritas. Eles eram o tipo de líderes sobre os quais Isaías falou: aqueles que dizem as coisas certas, mas cujo coração não está em sintonia com Deus (7:6-7). Eles exaltaram a tradição humana enquanto ignoravam o mandamento de Deus (7:8). Eles eram profissionais em superar a Palavra de Deus com suas próprias preferências (7:9).

7:10-13 Como exemplo, ele apontou para dois textos do Antigo Testamento: o mandamento de honrar os pais e a ameaça de morte para aqueles que amaldiçoam seus pais (7:10; veja Êxodo 20:12; 21:17; Levítico 20:9; Dt 5:16). Claramente, Deus espera que os filhos, jovens e velhos, respeitem seus pais. Mas, para evitar dar ajuda financeira aos pais necessitados, esses hipócritas declaravam que seu dinheiro era corbã, que era uma oferta dedicada a Deus, para que eles pudessem dar ao templo (7:11-12). ). Dessa forma, eles pareceriam apoiadores generosos da obra de Deus, quando na verdade eram mesquinhos que evitavam suas obrigações para com os pais e anulavam a palavra de Deus (7:13). Paulo deixa claro que “se alguém não prover para a sua própria família... ele negou a fé e é pior do que um incrédulo” (1 Tm 5:8).

7:14-23 Voltando-se dos fariseus e escribas para a multidão, Jesus disse-lhes a verdade. As pessoas não são contaminadas pelo que entra nelas, mas pelo que sai delas (7:14-15). No entanto, quando ele estava sozinho com seus discípulos, eles ainda não entendiam, então ele teve que dar-lhes instruções corretivas (7:17-18). Comida ruim pode deixá-lo doente, mas não pode torná-lo espiritualmente impuro. Deus havia dado a Israel ordens sobre animais impuros que eles não podiam comer para ensiná-los sobre santidade e impiedade (ver Lv 11). Mas, em última análise, não somos contaminados pelos alimentos; somos contaminados pelo que sai de nossos corações (7:19-23). Os fariseus estavam preocupados em parecer bons por fora, mas a maldade vinha de dentro deles.

Seguir costumes e tradições não pode consertar seu coração pecaminoso. Somente Jesus Cristo, por meio de sua obra expiatória na cruz, pode conceder a você o perdão dos pecados e um coração transformado (ver Hb 10:16-18) que está em sintonia com Deus, permitindo que você ame a ele e aos outros.

7:24-26 Dali, Jesus foi para a região de Tiro, uma área a noroeste da Galiléia, na costa do Mar Mediterrâneo (7:24). Anteriormente, as pessoas dessa região vinham porque ouviram falar de suas obras milagrosas (ver 3:7-8). Assim, mesmo nesta região distante, ele não poderia deixar de ser notado (7:24). Enquanto ele estava lá, uma mulher gentia implorou a ele que expulsasse o demônio de sua filha (7:25-26).

7:27-28 Jesus respondeu dizendo a ela que não é certo pegar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos (7:27). Ele estava comparando os judeus a “crianças” e os gentios a “cachorros” — a palavra grega se refere a cachorros domésticos ou de colo. Mateus relata que Jesus disse a ela que ele foi enviado para “as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mateus 15:24). Embora sua mensagem de salvação fosse para todas as pessoas (Mt 28:19), seu ministério terreno foi dirigido principalmente aos judeus. No entanto, esta mulher gentia era humilde e desesperada. Pegando na ilustração de Jesus, ela lhe disse que até os cachorrinhos comem das migalhas dos filhos debaixo da mesa (Marcos 7:28). Ela não queria prejudicar sua missão ou impedi-lo de ministrar ao povo de Israel. Tudo o que ela queria eram algumas sobras milagrosas para curar sua filha.

7:29-30 Por esta resposta – uma resposta de fé em Jesus (Mateus 15:28) – ele curou a filha dela. Os líderes religiosos judeus estavam tentando matar Jesus, mas essa pobre mulher gentia tinha mais fé do que todos juntos. E Jesus recompensou. A fé é a qualificação para experimentar o reino de Deus.

7:31-33 Jesus voltou para o mar da Galileia, passando pela região da Decápolis (7:31). Foi aqui que o homem que estava possuído pela “legião” de demônios foi proclamar o quanto Jesus havia feito por ele (ver 5:1-20). As pessoas da região trouxeram a Jesus um homem que era surdo e tinha dificuldade para falar (7:32). Jesus o levou de lado. Frequentemente, seus milagres eram realizados em público, mas este deveria ser privado (7:33).

Embora Jesus pudesse operar o milagre com meras palavras (por exemplo, 2:10-12; 3:5; 4:39; 7:29-30), freqüentemente seus milagres envolviam toque físico, demonstrando sua compaixão e confirmando que ele era o autor da ação (por exemplo, 1:31, 41-42; 5:27-29, 41-42; 6:56). Nesta ocasião, Jesus pôs os dedos nos ouvidos do homem e tocou-lhe na língua, visto que o problema era a sua capacidade de ouvir e falar. Os intérpretes debatem o propósito da cusparada (7:33), mas esta não é a única vez que a saliva esteve envolvida nos milagres de cura de Jesus (ver 8:23; João 9:6). Até a saliva de Jesus foi usada para a glória de Deus.

7:34-37 Jesus demonstrou sua genuína humanidade e envolvimento emocional na vida daqueles a quem ministrou. Ele olhou para o céu em dependência do Pai e suspirou profundamente em tristeza pela condição quebrada do homem (7:34). Da mesma forma, Jesus chorou antes de ressuscitar Lázaro dentre os mortos (João 11:35). Uma vez que o homem foi curado, Jesus ordenou que não contassem a ninguém (7:35-36), mas o povo ficou extremamente surpreso e o proclamou (7:36-37).

Notas de Estudo:

7.1-13
Nessa discussão com os líderes religiosos, Jesus trata da pureza ritual ou religiosa, que era um assunto muito importante para os judeus de seu tempo. Afinal, os fariseus pensavam que a vinda do Reino de Deus dependia do cumprimento total dessas leis de pureza. O assunto também interessava aos primeiros leitores do Evangelho, que, na grande maioria, eram de origem judaica. A pergunta que esses cristãos faziam era se a Lei de Moisés, que estava escrita, e as tradições dos antigos mestres, que eram conhecidas apenas de memória, ainda tinham valor para eles.

7.3 com bastante cuidado: Esta expressão traduz uma palavra grega cujo sentido não é claro. Também poderia ser traduzido por “com o punho” ou “até os punhos”. Lavar as mãos não era simples questão de higiene, mas de seguir certas regras para tirar toda impureza ritual.

7.4 tudo o que vem do mercado: Contato com não-judeus ou com comidas impuras tornaria impura qualquer vasilha ou alimento.

7.5 ensinamentos dos antigos: Leis e orientações a respeito da pureza religiosa que tinham sido elaboradas pelos mestres da Lei de tempos passados e transmitidos para as novas gerações numa forma oral ou não-escrita.

7.6 Isaías: As palavras de Is 29.13, encontradas nos vs. 6-7, seguem a Septuaginta com pequenas diferenças.

7.8 obedecem a ensinamentos humanos: Jesus acusa os líderes religiosos de terem feito com que leis humanas virassem mandamentos de Deus. Como esses ensinamentos não faziam parte do AT (ver v. 5, n.), Jesus declara que são leis humanas.

7.14-23 Jesus, novamente, faz diferença entre o seu ensinamento e o dos mestres judeus: o que torna a pessoa impura não é comida considerada impura, como eles ensinavam, mas pensamentos, desejos e conduta que fazem mal aos outros.

7.14 Escutem todos o que eu vou dizer: Jesus repete esse ensinamento três vezes (vs. 15,18-19,20-23), o que mostra sua importância.

7.16 Este versículo não faz parte do texto original grego (Mc 4.9).

7.17 essa comparação: Também se poderia traduzir por “esse provérbio” ou “essa palavra enigmática”. Trata-se do que Jesus disse no v. 15.

7.18 não entendem nada! Os discípulos continuam sem entender (v. 17; 4.13; 6.52). Logo Jesus vai começar a falar com seus discípulos mais vezes e com maior ênfase (Mc 8.31, 34; 9.31; 10.23, 32, 42).

7.19 Jesus quis dizer: Este comentário, feito pelo evangelista, deixa bem claro que os cristãos não precisam obedecer às leis do AT sobre comidas impuras (Lv 11.1-47; At 10.9-16).

7.24—8.10 De agora em diante, até chegar à região de Dalmanuta (8.10), Jesus fica fora da terra de Israel, em áreas onde moravam não-judeus. Ele expulsa um demônio (7.24-30), cura um surdo-mudo (7.31-37) e alimenta uma multidão (8.1-10). Tudo isso mostra que a sua missão e a sua mensagem não são apenas para os judeus, mas também para todas as pessoas. A mulher estrangeira defende, firmemente, o seu direito de ser atendida por Jesus (7.28).

7.27 os cachorros: A resposta de Jesus reflete o que os judeus daquele tempo pensavam dos não-judeus.

7.28 até mesmo os cachorrinhos: Em sua resposta, a mulher diz que até os não-judeus têm os seus direitos. A fé passa por cima da diferença entre judeus e não-judeus.

7.32 um homem que era surdo e quase não podia falar: O relato da cura desse homem (Mc 7.31-37) aparece somente em Marcos e tem mais detalhes do que qualquer outra cura feita por Jesus.

7.34 Efatá! A palavra está em aramaico, a língua que Jesus falava (ver Mc 5.41, n.).

7.36 que não contassem para ninguém: Outra vez Jesus proíbe as pessoas de falarem sobre a cura (Mc 1.43-45; 5.43). Desta vez o resultado foi exatamente o contrário.

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