Estudo sobre Ezequiel 4

Ezequiel 4

O cerco de Jerusalém simbolizado (4:1–5:17). É apropriado que Ezequiel represente sua mensagem, como faz nos capítulos 4 e 5. Pois no último parágrafo do capítulo 3 somos informados de que Ezequiel não conseguia falar (3:26). A conversa dá lugar à pantomima.

4:1–3. No primeiro ato, o profeta é instruído a pegar um tijolo de barro, desenhar nele a cidade de Jerusalém e representar um cerco contra ele (4:1-2). Depois ele colocará uma placa de ferro entre ele e a cidade sitiada (4:3). Esta placa funciona como um muro de separação entre o profeta e o tijolo e simboliza a barreira impenetrável entre Deus e Jerusalém. O tijolo é um símbolo do que está para acontecer com Jerusalém. Quando Jeremias levantou esse assunto, ele ficou em apuros (ver Jr 7:1–15; 26:1–24). Ezequiel não provoca tal sentimento, talvez porque esteja a centenas de quilômetros de distância. [Obras de cerco]

4:4–8. O segundo ato de Ezequiel é deitar-se sobre o lado esquerdo durante 390 dias, durante os quais ele carrega o pecado da casa de Israel (4:4-5). Um dia corresponde a um ano de pecado de Israel. A que se referem os 390 dias? Se adicionarmos este número à data da chamada de Ezequiel, o número remonta a aproximadamente 1000 AC (598 + 390), que é aproximadamente a época de David e Salomão. Mas este é o período desde os dias do reino unido até Ezequiel. Parece que Ezequiel (ou Deus) indicia não apenas o reino do norte depois de Salomão, mas todo o período monárquico de Israel.

Além disso, Ezequiel deveria deitar-se sobre o seu lado direito durante quarenta dias, durante os quais ele carregaria o pecado da casa de Judá (o reino do sul, 4:6–8). O número quarenta é frequentemente usado no Antigo Testamento e também na tradição cristã; em muitos casos, ocorre em situações que envolvem a remoção do pecado, como o dilúvio de Noé, a punição do Egito por quarenta anos, quarenta dias até a derrubada de Nínive, quarenta dias da Quaresma. Os quarenta dias representam o exílio de Judá, que durou cerca de quarenta anos (587–539 aC). Por ambas as ações, diz-se que Ezequiel “leva a iniqüidade” de seu povo (4:4, 6). É improvável que isso signifique que o profeta faça expiação pelos seus pecados. Aqui o profeta está sobrecarregado pelo peso do pecado do povo sobre ele. A glória do Senhor o faz cair. O peso do pecado o achata.

4:9–17. O terceiro ato de Ezequiel é preparar vários alimentos e transformá-los em pão para si mesmo (4:9). É algo que Ezequiel faz enquanto o cerco está sendo decretado. Sua ingestão diária de alimentos é de 240 gramas (4:10). Sua única bebida é água, e dela ele deve beber apenas um sexto de galão (4:11). Esta dieta frugal simboliza a quantidade mínima de alimentos a que o povo terá acesso quando Jerusalém estiver sitiada.

O pão de cevada (4:12) era um alimento básico para as pessoas de baixa renda, enquanto as classes mais altas consumiam produtos de trigo. Neste cerco, apenas estarão disponíveis alimentos normalmente consumidos pelos pobres. Os alimentos, já escassos, também terão de ser racionados (4:16). O fato de ser cozido em excrementos humanos significa que a comida não é apenas escassa, mas também repulsiva e impura (4.13), levando Ezequiel a protestar (4.14; cf. At 10.10-14).


É fundamental que as pessoas diante das quais Ezequiel faz pantomima, e que já estão no exílio, conheçam o desastre que está prestes a visitar a cidade santa e, mais importante, por que está visitando a cidade. É impossível pecar e ir contra a ordem divina sem consequências graves (4:17). Jerusalém é a cidade escolhida por Deus, mas se ele a abandonar, torna-se tão vulnerável como qualquer outra cidade

Notas Adicionais

II. OS EXILADOS SÃO ADVERTIDOS DA CONDENAÇÃO DE JERUSALÉM (4.1—7.27)
1) Quatro atos simbólicos (4.1—5.4)

Os atos simbólicos de 4.1-5 anunciam o cerco e a queda iminentes de Jerusalém. Esses atos, representados pelos profetas de Israel (cf. Is 20.2-4; Jr 13.1-11; Os 1.2ss), eram um elemento essencial da palavra auto-realizadora de Deus que eles recebiam para ser transmitida e que também ajudava a garantir o cumprimento do que eles simbolizavam.

v. 1 Imitando o cerco (4.1-3). Ezequiel desenha um plano de Jerusalém num tijolo e o cerca com imitações de rampas, trincheiras, aríetes e outros equipamentos de cerco. Ele age como se fosse o sitiador.

v. 2. construa uma rampa...: v. a realidade disso em 17.17 e 21.22 (o cerco de Jerusalém por parte de Nabucodonosor); 26.8,9 (o seu cerco de Tiro), v. 3. uma panela de ferro: ”forma de bolo feita de ferro” (NEB) para representar uma “cortina de ferro” isolando a cidade, um sinal para a nação [casa\ de Israel: para advertir os exilados para que não depositassem a sua esperança na sobrevivência de Jerusalém (cf. Jr 29.1ss).

b) A vigília do profeta (4.4-8). Ezequiel não deve somente fazer o papel do sitiador; ele deve “sofrer o castigo” (carregar a iniquidade) dos reinos do Norte e do Sul sucessivamente ao se deitar ao lado da Jerusalém em miniatura durante muitos dias sobre o seu lado esquerdo e depois durante um período menor sobre o seu lado direito (no uso hebraico, esquerdo e direito correspondem respectivamente a norte e sul).

v. 4. carregar a iniquidade dela (“culpa”): cf. o papel do Servo em Is 53.11,12. v. 4. trezentos e noventa dias: algumas versões (NEB) adotam o texto da LXX, “cento e noventa dias”. E difícil decidir entre as duas versões por causa da incerteza do cálculo dos 390 ou 190 anos do castigo de Israel. Os 390 anos podem ser contados a partir do início da apostasia sob o reinado de Salomão (IRs 11.4ss) até a queda iminente de Jerusalém; é mais difícil determinar um ponto de início dos 190 anos com o mesmo término. Um ponto de início para os quarenta anos do castigo de Judá (v. 7) seria igualmente incerto; é uma provável coincidência que 40 anos decorreram do chamado de Jeremias (Jr 1.2,3) até a queda de Jerusalém. Se os 40 anos são acrescentados aos 390, os 430 anos resultantes poderiam alcançar aproximadamente o tempo em que pela primeira vez Jerusalém se tomou a capital de Israel. Tentativas de fazer do chamado de Ezequiel ou do cerco de Jerusalém o ponto de início dos períodos indicados são ainda mais insatisfatórios. Mas os dias da vigília de Ezequiel podem ter correspondido à duração real do cerco. Ele começou em 15 de janeiro de 588 a.C. (24.1,2; cf. Jr 52.4) e terminou em 29 de julho de 587 a.C. (Jr 39.2; 52.6), mas não durou continuamente durante 560 dias; foi levantado temporariamente em virtude da aproximação do exército egípcio (Jr 37.5ss), de forma que a duração efetiva pode ter se aproximado dos 430 dias da encenação do cerco por Ezequiel. v. 7. um dia para cada ano: cf. o princípio em Nm 14.34.

c) Rações do cerco contaminadas (4.9-17). A severidade do cerco e as condições do exílio tornam impraticável a observância das leis que proibiam a comida cerimonialmente impura. A parábola encenada de Ezequiel é reforçada pela ordem divina para se restringir às rações do cerco e prepará-las de tal maneira que incluísse contaminação cerimonial, especialmente para o sacerdote. v. 9. trigo e cevada, feijão e lentilha, painço e espelta: quaisquer grãos que estivessem à disposição, de qualidade inferior ou superior, deveriam ser raspados e juntados para assar uma porção diária de 240 gramas de pão medíocre. Assar pão com uma mistura de cereais talvez fosse cerimonialmente proibido, assim como semear com uma mistura de sementes (Lv 19.19).

v. 11. meio litro (“1/6 de um him”, nota de rodapé da NVI): a provisão de água de Jerusalém era limitada; assim, em condições de cerco seria racionada a menos de 1 litro por dia.

v. 13. Desse modo os israelitas comerão sua comida imunda, esterco animal (v. 15), misturado com palha, era usado como combustível para assar pão sobre pedras, mas os excrementos humanos (v. 12) eram cerimonialmente impuros e, por isso, deveriam ser enterrados fora da vista das pessoas (Dt 23.12-14).

v. 14. Eu jamais me contaminei, o protesto de Ezequiel encontra eco no de Pedro em Atos 10.14. jamais comi qualquer coisa achada morta, isso foi proibido em Dt 14.2. ou que tivesse sido despedaçada por animais selvagens: isso foi proibido em Ex 22.31. carne impura..., como a carne das ofertas pacíficas a partir do terceiro dia (Lv 19.5-8).

v. 16. cortarei o suprimento de comida, acerca da escassez de pão durante o cerco, cf. Jr 37.21; 52.6; Lm 2.12; 4.4,9; 5.10. com ansiedade [...] com desespero, a crescente falta de comida seria acompanhada do terror quanto a que aconteceria quando os sitiadores entrassem na cidade (cf. 12.18,19).

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