Estudo sobre Ezequiel 14

Ezequiel 14

14:1–11. Não nos é dito por que os anciãos vieram e se sentaram diante de Ezequiel (14:1). Se eles estão esperando uma conversa aconchegante ao lado da lareira, estão prestes a ficar desapontados.

Três vezes Deus diz que esses anciãos criaram ídolos em seus corações e colocaram tropeços pecaminosos diante de si mesmos (14:3-4, 7). Isto, porém, refere-se a mais do que a prática da idolatria. Talvez os anciãos tenham acabado de ouvir a narração de Ezequiel sobre as idolatrias do templo que ele viu numa visão. “Que horrível, que blasfêmia”, eles poderiam ter dito entre si. Contudo, ao verem o corte no olho do Jerusalémita, não perceberam a trave no olho do deportado.

Se os anciãos exilados estivessem praticando idolatria, o texto diria isso. Ao usar a descrição que faz, o texto sugere que o pecado deles é uma idolatria interior, uma idolatria mental, e não uma idolatria externa. É um estado de espírito que está em conflito com a vontade e o ser de Deus. Deus tem um caminho a percorrer com essas pessoas se um dia quiser dar-lhes “integridade de coração” (11:19).

Deus chegará ao ponto de enganar um profeta ao dar conselhos (14:9). O convite para nos afastarmos dos “ídolos” está aqui (14:6), assim como a promessa de resultados positivos do arrependimento (14:11). Por trás do castigo de Deus estão sempre os esforços de Deus para produzir redenção e restauração.

14:12–23. Em 14:12–20, Deus apresenta quatro casos hipotéticos diante dos exilados (14:12–14, 15–16, 17–18, 19–20). Em cada um deles, Deus envia algum tipo de flagelo a um país por causa dos pecados dos cidadãos. Mesmo que Noé, Daniel e Jó vivessem naquele país, eles salvariam apenas a si mesmos e nem mesmo os seus filhos.

Um núcleo justo poderia ser o meio de salvação para a maioria injusta (Gn 18-19). Deus pouparia Sodoma se pudesse encontrar dez pessoas justas nela, mas não aqui. A salvação vicária não é mais viável. Essas pessoas são tão corruptas que o que era verdade para Sodoma (o bastião da depravação) não seria verdade aqui.

Notas Adicionais

A idolatria entre os exilados (14.1-11)

Havia falsos profetas não somente em Judá e Jerusalém; entre os exilados, também havia os que tentavam seduzir os compatriotas a adotarem as práticas religiosas dos seus vizinhos babilônios. Quando os líderes da comunidade do exílio vieram consultar Ezequiel acerca da vontade de Deus, ele não pôde fazer o que eles pediram porque nutriam tendências idólatras nos seu coração; a única resposta que eles poderiam receber seria uma de juízo direto do próprio Deus.

A condição deplorável de Jerusalém é irremediável (14.12-23)
Que a presença de homens justos em uma comunidade, especialmente se forem grandes intercessores, pode protegê-la contra o desastre é um tema recorrente no ATOS: o exemplo clássico é a garantia divina dada a Abraão com relação a Sodoma (Gn 18.23-32). Mas a condição de Jerusalém agora é tão desesperadora que o homem mais justo que já tivesse vivido não poderia salvá-la da fome, dos animais selvagens, da espada e da peste. O mesmo tema é formulado em Jr 15.1-4, em que Moisés e Samuel (intercessores realmente grandes) têm o papel que Noé, Daniel e Jó têm no texto estudado aqui.

v. 14. Noé, Daniel e Jó: três homens que se sobressaíram por sua justiça; acerca de Noé, cf. Gn 6.9; 7.1 (contudo as únicas pessoas resgatadas em virtude da justiça dele foram pessoas da sua própria família), e acerca de Jó, cf. Jó 1.1,8 (e 42.8,10, em que ele ora com eficácia por seus três amigos). Daniel (heb. daríeí, NEB: “Danei”) é soletrado de forma diferente do herói do livro de Daniel, contemporâneo de Ezequiel, e possivelmente deve ser identificado com uma personagem comparável em antiguidade com Noé e Jó — o Danei que é celebrado na literatura ugarítica do século XIV a.C. como um governante justo e sábio, que julgou a causa da viúva e do órfão (cf. 28.3). (Pode ser coincidência que um “Danei” seja mencionado em Jubileus 4.20 como o tio e sogro de Enoque.) Se essa identificação puder ser sustentada, então todos os três homem justos desse texto eram não-israelitas (ao contrário dos israelitas Moisés e Samuel em Jr 15.1), mas, se eles vivessem em Jerusalém, a sua justiça serviria apenas para salvar a sua própria vida — nem mesmo (em contraste com a narrativa do Dilúvio) a vida das suas famílias. Isso pode ser uma antecipação do individualismo ético destacado em 18.1ss; 33.10-16.

14.22. haverá alguns sobreviventes: cf. 12.16. Aqui a sobrevivência de algumas pessoas do cerco e saque de Jerusalém não é tanto um ato de misericórdia para os próprios sobreviventes quanto uma fonte de consolo para os exilados: quando eles virem os sobreviventes e ouvirem de suas experiências angustiantes, ficarão felizes por terem sido levados para o exílio já antes e vão entender que Deus teve um propósito nisso tudo.

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