Estudo sobre Oseias 9

Estudo sobre Oseias 9

Estudo sobre Oseias 9


A GLÓRIA SE VAI: ORÁCULOS ACERCA DA QUEDA DE ISRAEL (9.1—12.1)
Aqui temos cinco subseções afirmando e lamentando a queda da graça de Israel. E mais difícil determinar as conexões entre esses oráculos.

1) Festas sem alegria (9.1-9)
As alusões repetidas a eventos cultuais (v. 1,4,5,8) sugerem que Oseias anunciou esse oráculo na festa das cabanas, no outono. Ele censura a alegria que acompanha a ocasião, porque Israel está sob ameaça de ser deportado. A GNB parafraseia de forma apropriada o v. 10b: “Parem de celebrar as suas festas como os pagãos” (cf. 7.8 e Ef 4.17 na NEB). Ellison ressalta que a ênfase mosaica no livramento histórico da escravidão no Egito (Lv 23.42,43) tinha passado para o pano de fundo no culto da colheita “canaanizado”. Assim, a observação acerca da prostituição na eira de trigo tem um significado duplo: não há somente prostituição cultual, mas também adoração de falsos deuses. A referência dual ao Egito e à Assíria (v. 3), como em 7.11; 11.5,11; 12.1, leva à dedução de que os lugares de castigo têm sentido figurado, de forma que o Egito significa a lembrança da eleição divina aqui e em 7.16; 8.13. A Assíria finalmente tornou-se o lugar do exílio de Israel (2Rs 17.6).
Os v. 4ss destacam a miséria do exílio vindouro: não haverá ofertas nem celebrações festivas — cf. em SL 137.1-6 um exemplo do tipo de reação quando isso aconteceu.
v. 4. templo do Senhor, como em 8.1, apresenta um problema. Não pode ser uma referência ao templo de Jerusalém e deve significar outro lugar de adoração dedicado ao Senhor, embora isso provavelmente não seja permitido no exílio. O v. 6 indica que, enquanto os israelitas estão morrendo no Egito, as suas próprias terras são tomadas pelas ervas daninhas, um retrato de desastre total (v. tb. 10.8). Os seus tesouros de prata as urtigas vão herdar é corrigido de forma precária na NEB: “as areias de Sirte vão destruí-los”; McKeating propõe: “Tafnes os lamentará”, o que se encaixa bem nas linhas precedentes.
Os v. 7ss poderiam ser um oráculo distinto, e podem ser interpretados como um diálogo entre o profeta e o povo, o que teria acontecido na festa postulada como pano de fundo dos v. 1-6. A última parte do v. 7 é, então, uma reação hostil à primeira parte, como em Am 7.12-17 e Jr 20.1-6. Um ouvinte responde à predição de castigo, o profeta é considerado um tolo etc., ao que o profeta responde que, como sentinela que vigia Efraim, ele tem a responsabilidade de se opor à iniquidade do povo. O v. 8 então é um comentário acerca do fato de que o ódio pelos servos de Deus vem da sua própria casa. V. outra proposta na NEB, em que, como parte do castigo, o profeta será feito louco para que não apresente a genuína palavra do Senhor. O v. 8a na NEB é incompreensível, e McKeating prefere: “O profeta é a sentinela de Efraim com o meu Deus”. Nessa versão, o restante do versículo mostra como os profetas se tornam agentes do desastre iminente porque enganam o povo, e o v. 9 amplia a descrição da atividade dos profetas, ao passo que na NVI o v. 9 continua a denúncia contra o povo. V. tb. em Ellison (p. 134) outra proposta de tradução desse texto tão difícil. A ideia do profeta como sentinela é desenvolvida em Ez 33.1-9. v. 9. Os dias de Gibeá podem ser uma referência à designação de Saul (1Sm 10) ou ao crime horrendo de Jz 19.22-30; v. comentário de 10.9,10.

2) Fruto apodrecido (9.10—10.2)
Essa seção contém uma série de ditos retrospectivos da história de Israel. Ellison enxerga aqui a prefiguração da doutrina do pecado original, v. 10. uvas crescendo no deserto seriam uma bênção fantástica para quem as encontrasse, enquanto os primeiros frutos de uma figueira expressam as esperanças de colheita. Essa foi a alegria do Senhor em Israel no êxodo (cf. Jr 2.2,3). Mas a sua promessa desmoronou em Baal-Peor, como é narrado em Nm 25.1-5, uma história de aberração sexual bastante próxima da acusação central de Oseias. Uma importante lei espiritual é enunciada na última linha do v. 10: tornamo-nos bons ou maus de acordo com aquilo que admiramos. O aspecto positivo disso está em Fp 4.8. A fuga da glória lembra 1Sm 4.21; pode simplesmente significar a queda da honra em virtude da ausência de filhos, mas quando eu me afastar (v. 12) sugere que o sentido pretendido é a glória do Senhor. Ai ocorre somente aqui e em 7.13, dois trechos que se encaixam bem: porque Israel se afastou do Senhor, eles sofrem a miséria dessa retirada dele.
O v. 13a é obscuro. A NEB traz “Como filhotes de leão surgem somente para ser caçados”, talvez uma alusão à prática assíria da caça a leões. Mas o sentido geral do trecho está claro. Quando o Senhor se retira, a fertilidade e a fecundidade vão junto. Mesmo que nasçam filhos, serão mortos. O v. 14 poderia ser uma maldição em um contexto ou uma bênção em outro. Em vista do fim inevitável dos descendentes, seria um ato de misericórdia não tê-los, embora em geral os filhos sejam uma “herança do Senhor” (SL 127.3). Assim, as expectativas dos adoradores no festival (v. comentário de 9.1) não são satisfeitas: não há visão da glória do Senhor, nem bênção alguma de fertilidade.
A referência a Gilgal (v. 15) obviamente significava mais para Oseias do que poderia significar para nós — cf. lugares de nomes enigmáticos semelhantes em 6.7ss e 9.9. Talvez possamos associar esse local com 4.15 e 12.11 como um lugar de culto a falsos deuses. A NEB prefere o tempo passado, que aponta para a proclamação de Saul como rei e que oferece sacrifícios ilegais ali (1Sm 11.15; 13.8-14); cf. também comentário de 10.10. Mas as palavras do Senhor odiei e Não os amarei mais reforçam os terríveis perigos do pecado. Knight comenta acerca disso que Deus odeia tanto o pecado quanto o pecador, visto que em última análise são inseparáveis (mas v. 14.4). Acerca de minha terra, v. comentário de 8.1, embora aqui provavelmente seja figurado em relação à terra. Talvez aqui também sejam sugeridos os problemas matrimoniais de Oseias — cf. 2.3. Assim, o povo rejeitado (v. 17) vagueia pobre entre as nações, uma profecia cumprida após a queda de Samaria em 722 a.C., e desde lá Israel perdeu a sua identidade.

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