Interpretação de Atos 26

Atos 26

26:1 Quando Agripa concedeu a Paulo permissão de falar por si mesmo, o apóstolo, estendendo a mão, num gesto de saudação, passou a defender-se.

26:2, 3 Ele expressou sua satisfação em poder defender-se diante do Rei Agripa, porque o rei era versado nos costumes e problemas dos judeus. Embora Agripa recebesse o seu trono de Roma e era pró-Roma nas suas simpatias, também compreendia os judeus e tinha reputação na promoção dos interesses judeus até onde era possível. Por isso Paulo achou que poderia convencer Agripa que a sua mensagem não era mais que o cumprimento de sua fé hereditária judia. O apóstolo fez um esboço de sua educação, primeiro entre o meu povo, em Tarso, na Cilícia, e mais tarde em Jerusalém. Todos os judeus sabiam que Paulo fora educado conforme a seita mais severo da nossa religião, isto é, que ele era fariseu.

26:6-8 Uma das doutrinas centrais da fé dos fariseus era a da ressurreição. A promessa que Deus fizera aos pais estava ligada à esperança da ressurreição; e agora era exatamente por causa dessa esperança que os próprios fariseus alimentavam que Paulo estava sendo acusado pelos judeus. Qualquer um que conhecesse a promessa dada aos pais, disse Paulo, não lhe pareceria incrível que Deus ressuscita os mortos. A posição do pelos judeus (v. 7) é muito enfática, sugerindo que era uma coisa inteiramente inusitada que os judeus tendo a esperança da ressurreição, pudessem acusar Paulo por alimentar essa mesma esperança.

26:9-11 Paulo explicou como fora levado a associar sua fé em Jesus com a ressurreição. Ele nem sempre fora dessa convicção, pois antes estivera convencido que devia se opor ao nome de Jesus de Nazaré. Esta narrativa descreve mais detalhadamente que a anterior, a perseguição dePaulo contra a igreja primitiva. O fato de alguns cristãos serem condenados à morte não é mencionado em nenhum outro lugar no livro de Atos. O método de Paulo era obrigá-los a blasfemar contra o nome de Cristo e assim renunciar a sua fé. O tempo do verbo em grego indica que Paulo fracassou no seu intento.
Obrigando-os a blasfemar diz mais do que a verdade. Chamar Jesus de anátema significava renunciar a fé cristã.

26:12-14 Esta é a única das três narrativas da conversão de Paulo que contém as palavras: *Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões. Dura coisa significa “é doloroso” mais do que “é difícil”. Aguilhões. Instrumentos usados para cutucar bestas de carga. Era um provérbio usado no grego e no latim mas não no hebraico ou aramaico daquele tempo. Provavelmente indica que Paulo não se sentira de todo à vontade com sua consciência no tocante à perseguição aos cristãos. Não devemos pensar que Paulo estivesse sob uma grande convicção de pecado, pois em outro lugar ele nos diz que perseguia a igreja por ignorância (I Tm. 1:13). Entretanto, lá no fundo de sua mente havia a importuna convicção de que Estêvão e os outros cristãos possivelmente estivessem com a razão; e agora o Senhor lhe mostrava que essa pressão era divina.

26:16-18 Diante de Herodes não havia necessidade de se referir a Ananias como antes (22:14), quando Paulo apelava a judeus ortodoxos. Por isso Paulo atribuiu sua chamada diretamente ao Senhor sem mencionar agentes humanos. Sua experiência o convencera de que Jesus, a quem perseguira, estava vivo, e que o enviara tanto a este povo, isto é, aos judeus como aos gentios. Paulo colocou diante de Agripa a questão crucial: sua mensagem não era apenas para Israel mas também para os gentios; ambos tinham de ser iluminados, para que voltassem das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus. Assim receberiam a remissão de pecados e uma herança entre os que são santificados pela fé em Cristo. Este versículo, que é o resumo da mensagem de Paulo, é muito parecido com Cl. 1:12-14.

26:19, 20 Estes versículos não têm a intenção de fornecer um esboço cronológico, mas simplesmente um resumo rudimentar de toda a carreira missionária de Paulo. Paulo pregou o arrependimento e a conversão primeiramente em Damasco, depois em Jerusalém, e então por toda a Judeia e também aos gentios, como fora comissionado a fazer. Há um problema de harmonização desta declaração com Gl. 1:22, que diz que Paulo não era pessoalmente conhecido pelas igrejas de Cristo na Judeia. Possivelmente o texto certo seria, “em todas as terras, tanto a judeus como a gentios” (veja Bruce, Commentary, segundo Blass).

26:21 Festo não fora capaz de entender as razões básicas da animosidade dos judeus contra Paulo. Paulo explicou que ele estivera proclamando o cumprimento da promessa feita aos pais da inclusão dos gentios além dos judeus. Por esse motivo os judeus o agarraram no Templo e tentaram matá-lo. “Conhecendo os judeus como conhecia, talvez Agripa entendesse por que acalentavam tal animosidade contra um ex-rabino que oferecia aos crentes gentios os privilégios espirituais em pé de igualdade com o povo escolhido” (F. F. Bruce).

26:22, 23 Paulo concluiu insistindo que a sua mensagem não continha nada além daquilo que Moisés e os profetas já previram, isto é, que o Cristo devia padecer e que devia ser o primeiro da ressurreição dentre os mortos e que proclamaria a luz tanto a judeus como a gentios. Isto explica porque Paulo anteriormente colocara tal ênfase sobre a Ressurreição. A tradicional esperança judia da ressurreição tomara agora um novo rumo por causa da ressurreição de Cristo. A ressurreição do Messias não foi um acontecimento isolado, mas o começo da própria ressurreição. Cristo era “as primícias dos que dormem” (I Co. 15:20), “o primogênito dentre os mortos” (Col. 1:18).

26:24 Para o romano Festo, esta linha de pensamento não podia ser acompanhada por um homem de mente sã. Paulo era obviamente um homem de estudos extensos, mas devia estar louco para acolher tais ideias sobre a ressurreição dos mortos.

26:25-27 Paulo replicou que ele estava inteiramente lúcido e falava palavras de verdade. Depois apelou para o Rei Agripa para dar testemunho da sobriedade e sanidade do que acabara de dizer. Fez Agripa lembrar que a morte e ressurreição de Jesus não lhe eram ocultas, pois não aconteceram em algum recanto onde ninguém as pudesse ver.

Quando alguém confere esses acontecimentos com os profetas, deve-se convencer da lógica da posição de Paulo; e Paulo por isso apelou diretamente ao rei.

Acreditar... nos profetas?... Bem sei que acreditas. Este apelo colocou Agripa em um dilema desconfortável. Como representante de Roma e colega de Festo na administração do governo, não queria que Festo o achasse capaz de partilhar da insanidade de Paulo, e por isso teria sido desagradável concordar com Paulo admitindo que cria nos profetas. Por outro lado, negar que cria nos profetas prejudicaria seriamente sua influência com os judeus.

Agripa portanto desviou-se do apelo de Paulo, respondendo, Por pouco me persuades a me fazer cristão! A frase grega é muito difícil e foi literalmente traduzida.

Por pouco pode significar em pouco tempo ou resumindo. A me fazer cristão pode significar tornar-se cristão ou fazer-se passar por cristão. Agripa não estava a ponto de se tornar um cristão. Sua observação pode ser uma sarcástica defesa diante do apelo de Paulo: “Você acha que com tão pouco tempo poderá fazer de mim um cristão!” Entretanto, a tradução acima sugerida (de F.F. Bruce) faz Agripa repetir o apelo de Paulo, replicando que Paulo não o fará passar por cristão a fim de persuadir Festo sobre a correção da posição do prisioneiro.

26:29 Paulo tomou a sério o leviano comentário de Agripa e replicou solenemente, por pouco ou por muito (literalmente) ele desejaria que todos os homens que o ouvissem se tomassem cristãos como ele era - com a exceção das cadeias que estava usando por ser um cristão.

26:30-32 Quando Paulo terminou sua defesa, Festo, Agripa e Berenice, com seus conselheiros, retiraram-se para discutir o assunto. Era óbvio que Paulo não transgredira nenhuma lei e não merecia nem a morte nem a cadeia. Devia ser simplesmente libertado; mas já que apelara para César, o procedimento legal tinha de ser executado e o apelo tinha de ser cumprido até o fim. Supomos que Festo, com a ajuda de Agripa, escreveu a carta ao imperador explicando as acusações dos judeus e recomendando a libertação de Paulo.

Índice: Atos 1 Atos 2 Atos 3 Atos 4 Atos 5 Atos 6 Atos 7 Atos 8 Atos 9 Atos 10 Atos 11 Atos 12 Atos 13 Atos 14 Atos 15 Atos 16 Atos 17 Atos 18 Atos 19 Atos 20 Atos 21 Atos 22 Atos 23 Atos 24 Atos 25 Atos 26 Atos 27 Atos 28