Interpretação de Atos 19

Atos 19

19:1 Paulo viajou da Galácia para Éfeso, seguindo a estrada superior, que era mais direta do que a rota comercial que seguia através dos vales de Colossos e Laodiceia. Em Éfeso encontrou discípulos que tinham o mesmo conhecimento parcial de Jesus que tivera Apolo. Não há nenhuma razão para se rejeitar o significado costumeiro de discípulos: crentes em Jesus.

19:2 O apóstolo reconheceu que o conhecimento que os discípulos tinham de Jesus era incompleto. Por isso perguntou, Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes? O particípio grego é tendo crido e pode ser traduzido para desde que crestes ou quando crestes. Considerando que o Espírito Santo se recebia geralmente quando se cria em Cristo, a última é preferível. Sua resposta deve ter sido que eles não sabiam nada sobre a verdade cristã do Espírito Santo, pois qualquer um que conhecesse o V.T, já teria ouvido a respeito do Espírito Santo.

19:3, 4 Esses discípulos nada ouviram sobre o Pentecostes. Só conheciam a mensagem de João Batista - que os homens deviam receber um batismo de arrependimento em antecipação à vinda dEle, Jesus. A palavra Cristo não se encontra nos melhores textos.

19:6, 7 Isto não descreve um novo Pentecostes mas uma extensão da experiência do Pentecostes para incluir todos os crentes. Nenhum significado especial deve ser buscado na imposição das mãos de Paulo para o recebimento do Espírito. Esta experiência, como aquela de Pedro e João na Samaria (8:16, 17) tem a intenção de demonstrar a unidade da Igreja. Uma vez que os crentes são batizados por um Espírito em um corpo (I Co. 12:13), não podia haver tais “grupinhos” como os discípulos de João, fora da igreja. Não vem a caso discutir se esses discípulos eram ou não cristãos antes de Paulo se encontrar com eles, como também é fútil questionar se os apóstolos eram salvos antes do Pentecostes. Eram discípulos de Jesus mas com um conhecimento incompleto do Evangelho.

19:8, 9 Éfeso era a capital da província romana da Ásia, onde o procônsul romano residia. Era a principal cidade da Ásia na promoção da adoração ao imperador. Era também um importante centro comercial e cambial, com um porto movimentado, e desfrutava de grande prosperidade. A mensagem de Paulo na sinagoga sobre o reino de Deus dificilmente se referia ao estabelecimento do reino na segunda vinda de Cristo. O evangelho cristão anuncia que as bênçãos do reino de Deus vieram aos homens antecipadamente na pessoa de Jesus, o Messias (veja Cl. 1:13). Grande parte dos judeus aceitava a mensagem de Paulo em Éfeso; apenas alguns se endureceram e não creram. Entretanto, esse punhado tinha tal influência sobre a multidão que Paulo afastou-se da sinagoga e passou a usar uma escola ou sala de conferência pertencente a um certo Tirano. Um texto diz que Paulo ensinava das 11 da manhã até às 16 horas, quando os negócios costumavam ser interrompidos. Ele cuidava dos seus negócios de manhã e pregava o Evangelho durante o calor do dia. O Caminho. Uma frase técnica para indicar o Cristianismo na igreja primitiva.

19:10 Durante esses dois anos Éfeso foi o centro da evangelização de toda aquela área, e a partir dali foram organizadas igrejas em Colossos, Laodiceia e Hierápolis (Cl. 2:1; 4:13). Provavelmente as outras igrejas mencionadas em Ap. 2:3 surgiram nessa ocasião.

19:12 Os lenços e aventais eram artigos de roupa que Paulo usava na sua indústria.

19:13 Lucas cita uma ilustração para mostrar a eficiência do ministério de Paulo em Éfeso. Judeus, exorcistas ambulantes eram comuns no mundo antigo. Na antiguidade, o nome de uma pessoa ou divindade era considerado possuidor de poder especial que podia controlar a pessoa em questão se o nome fosse usado da maneira certa. Esses exorcistas judeus testemunhando os milagres realizados por Paulo em nome de Jesus, tentaram usar o nome na prática de suas mágicas.

19:14-16 Não se sabe nada de nenhum sumo sacerdote chamado Ceva. Pode ser que esses sete judeus reivindicassem falsamente pertencer ao sacerdócio e Lucas talvez apenas registre essa reivindicação. Tal reivindicação poderia ser verdadeira, pois os sacerdotes certamente saberiam como usar o nome divino de maneira mais eficiente. O nome de Jesus não pôde ser usado magicamente e o demônio denunciou que esses judeus não tinham o direito de usá-lo.

19:18, 19 O destino dos sete judeus provocou a conversão de muitos outros mágicos. Confessando publicamente as suas próprias obras significa que eles abandonaram a magia, pois cria-se que os segredos da magia perdiam seu potencial quando eram publicamente divulgados. Outros feiticeiros trouxeram seus rolos contendo frases e fórmulas cabalísticas e os queimaram publicamente. Uma porção de tais papiros mágicos foram descobertos. Os volumes queimados em Éfeso valiam dez mil dólares pelo menos.

19:21 A seguir Lucas fala do propósito de Paulo no seu futuro ministério. Resolveu no espírito pode se referir ao espírito de Paulo ou à liderança do Espírito Santo. O apóstolo planejava tornar a visitar as igrejas da Macedônia e Acaia para angariar dinheiro para os santos necessitados de Jerusalém (II Co. 8:9; Rm. 15:25 e segs.). Depois de levar essa coleta a Jerusalém, teve a intenção de visitar Roma. Não planejava ocupar-se em um ministério mais extenso ali, mas queria visitar os cristãos romanos no seu caminho para a Espanha (Rm. 15:24, 28). Era de sua política pregar o Evangelho onde ainda não fora ouvido, e não edificar sobre fundamento alheio (Rm. 15:20).

19:22 Paulo enviou Timóteo e Erasto, dois dos seus companheiros, a Macedônia, para que fossem a sua frente, pretendendo segui-los dentro de pouco tempo. Lucas não menciona Timóteo no período de tempo que decorreu entre o encontro com Paulo em Corinto (18:5) e este acontecimento; mas ele esteve com o apóstolo em Éfeso. Lucas também não registra os acontecimentos relacionados com Paulo e a igreja de Corinto enquanto o missionário esteve em Éfeso. Paulo enviara antes Timóteo a Corinto para resolver certos problemas na igreja (I Co. 4:17; 16:10, 11). Além disso, o missionário mais velho também fizera uma visita apressada conforme registrado em II Co. 12:14; 13:1.

19:23 A decisão de Paulo de deixar Éfeso foi apressada pelo tumulto criado por causa do Caminho. Éfeso era a sede da adoração da grande deusa Diana (Ártemis, o equivalente grego). Diana não era a deusa grega tradicional que leva esse nome, mas a antiga deusa-mãe da Ásia Menor, comumente conhecida por Cibele. O templo de Diana, cujos alicerces foram descobertos, era uma das sete maravilhas do mundo antigo.

19:24-27 Um negócio lucrativo era dirigido por uma sociedade de ourives que faziam e vendiam miniaturas de nichos de prata contendo imagens da deusa. O ministério de Paulo foi tão eficaz que a venda dos nichos começou a diminuir. Por isso Demétrio convocou uma reunião dos sócios e fez-lhes ver que o comércio dos ourives estava em perigo de cair em descrédito e que se os evangelistas não fossem impedidos, a própria deusa Diana teria destruída a sua majestade. Ela seria deposta da sua magnificência. Diana era adorada, ao que se sabe, em pelo menos trinta e três lugares do mundo antigo.

19:28-30 O espírito chicaneiro dos ourives propagou-se como uma epidemia espalhando-se por toda a cidade dando lugar a uma demonstração pública no teatro ao ar livre. As ruínas deste teatro já foram descobertas; podia conter mais de vinte mil pessoas. Uma vez que Paulo não estava por ali no momento, a multidão agarrou dois companheiros seus; e quando o apóstolo se propunha a sair para enfrentar a multidão, outros discípulos não deixaram que fosse.

19:31 Asiarcas. Autoridades provincianas que supervisionavam e promoviam o culto da adoração de Roma e do imperador. Só uma pessoa ocupava o cargo de cada vez, mas o título era mantido em qualidade honorária pelos antigos oficiais. Paulo tinha alguns amigos entre esses asiarcas, (principais da Ásia não é uma boa tradução) que lhe pediam que não se arriscasse indo ao teatro.

19:32 Enquanto isso, lá dentro do teatro reinava completa confusão, de modo que a maioria das pessoas nem sabia o motivo da reunião.

19:33, 34 Alguns dos judeus da multidão sentiram que estavam em perigo de serem acusados pelo tumulto. Por isso impeliram um homem chamado Alexandre a falar e esclarecer que não tinham culpa de nada. Mas o seu porta-voz foi silenciado e o caos prevaleceu.

19:35 Finalmente a ordem foi restaurada pelo escrivão da cidade, a autoridade executiva da assembleia da cidade. Na qualidade de oficial de ligação entre Éfeso e o governador romano, era responsável por esse ajuntamento tumultuoso. Tendo apaziguado o povo, fê-lo lembrar-se de que Éfeso não estava em perigo de ser aviltada, pois era famosa em todo o mundo como a guardiã do templo de Diana. A imagem que caiu de Júpiter é a tradução de uma só palavra grega significando literalmente do céu, e provavelmente se refere a um meteorito no qual os adoradores de Diana achavam ter encontrado uma semelhança com a deusa e o qual adoravam no templo.

19:37, 38 Esses homens, disse ele, não são de sacrílegos (a palavra literalmente é roubadores de templos) nem blasfemam. Além disso, havia dias regularmente estipulados para se fazer justiça e havia procônsules que eram designados para resolverem esses assuntos, Os ourives deviam fazer acusações uns contra os outros através desses canais regulares.

19:39 Outros assuntos deviam ser resolvidos em assembleia regular, não em ajuntamentos irregulares. Assembleia é a palavra usada para o grego ekklésia, que indica o regular ajuntamento dos cidadãos gregos.

19:40, 41 Os ourives temiam o fracasso do seu negócio. O escrivão da cidade fez ver que o verdadeiro perigo estava na possibilidade de serem acusados de sedição, pelos romanos, uma vez que não havia justificativa para aquele ajuntamento confuso. As palavras aquietaram a população e dispersaram a assembleia.

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