Interpretação de Atos 24

Atos 24

24:1 Tértulo era um nome comum no mundo romano. Este Tértulo era um advogado (orador: porta-voz é demasiado sem graça) familiarizado com os procedimentos legais romanos, que forneceu conselho profissional a Ananias e os anciãos. Como representante dos seus clientes, passou a acusá-lo diante do governador.

24:2 O uso que Tértulo faz da primeira pessoa do plural em seu discurso pode indicar que talvez ele mesmo fosse um judeu ou simplesmente que estivesse se associando aos seus clientes. A expressão nossa lei se genuína, pode indicar que ele era de fato judeu. Tértulo começou o seu discurso com as costumeiras expressões de elogios ao governador. De acordo com os melhores textos, ele citou as reformas que Félix fizera em benefício dos judeus.

24:3 A palavra traduzida para excelentíssimo Félix é a mesma palavra usada em 23:26 e Lc. 1:3.

24:4 Clemência. Antes, bondade, moderação, ou nobreza. Na verdade, Félix era conhecido por sua ferocidade mais do que pela nobreza.

24:5, 6 Tértulo alegou uma acusação tripla contra Paulo: 1. Ele era uma peste, que criara dissensão entre os judeus através do mundo. 2. Ele era o cabeça da seita dos nazarenos. 3. Ele tentara profanar o templo. A palavra traduzida para promove sedições pode se referir simplesmente a dissensões entre os judeus, mas pode também encerrar uma acusação velada de que Paulo era um líder de movimentos judeus que eram sediciosos contra Roma. Neste caso, esta acusação era inteiramente sem fundamento, pois em todos os casos em que Paulo comparecera diante de governadores gentios, fora exonerado de qualquer tendência sediciosa.

Esta é a única passagem do N.T. onde os discípulos de Jesus são chamados de nazarenos. O termo continuou sendo uma designação dos cristãos na linguagem semita, e hoje em dia ele é usado no hebraico e árabe. Seita é palavra usada por Josefo para designar os diversos partidos dentro do Judaísmo, tais como os fariseus e saduceus. Os cristãos ainda não eram reconhecidos como um grupo separado, mas eram considerados como um partido dentro do Judaísmo. Tértulo moderou a primeira acusação (21:28) de que Paulo tivesse realmente profanado o Templo e alegou que ele simplesmente tentara fazê-lo. Real convicção de profanação do Templo teria fornecido a base necessária para a execução legal.

24:6b-8a Estas palavras não se encontram nos textos mais antigos, mas podem ser autênticas. Tértulo alegou que o Sinédrio judeu estava manejando o caso de Paulo de maneira perfeitamente legal, quando o tribuno romano, Lísias, sem justificação, interveio e tomou Paulo pela força em suas mãos. Esta é, certamente, uma séria distorção de fatos; mas Lísias não estava presente para apresentar o seu lado da história.

24:10 Paulo apresentou sua defesa com um muito modesto elogio a Félix, dando a entender que a experiência do governador em lidar com os judeus por tanto tempo daria ao acusado um julgamento honesto.

24:11-13 O apóstolo negou categoricamente a acusação de provocar dissensões.

24:14, 15 Ele admitiu que era um seguidor do Caminho, mas declarou que este era um genuíno cumprimento da fé do V.T. e se fundamentava na esperança da ressurreição. Seita traduzido para heresia, não designa nenhuma tendência “herética”, mas um partido legítimo dentro do Judaísmo. Em nenhum lugar de suas epístolas Paulo afirma a ressurreição tanto de justos como de injustos, embora sua doutrina do juízo dos injustos pode indicá-la. Nas epístolas, Paulo, primeiramente, se preocupa com a ressurreição daqueles que estão em Cristo. Não há nenhuma necessidade de concluir que Paulo aqui estivesse sugerindo que a ressurreição de todos os homens acontecerá ao mesmo tempo. I Co. 15:23, 24 dá a entender que a ressurreição daqueles que estão em Cristo ocorrerá antes do “fim”, quando acontecerá a ressurreição final.

24:17, 18 Esta é a única referência clara no livro de Atos ao propósito de Paulo de visitar Jerusalém, propósito este que ocupa tanto lugar em suas epístolas. O evangelista trouxera uma coleta das igrejas gentias para os cristãos pobres em Jerusalém.

24:19-21 Paulo declarou que não havia nenhuma prova de qualquer coisa errada que ele tivesse praticado e que a única verdadeira acusação contra ele era a doutrina relativa à ressurreição dos mortos. Este era um assunto no qual uma corte romana não se interessaria nem poderia julgar.

24:22, 23 Félix já tinha um certo conhecimento desta nova seita do Judaísmo chamada o Caminho. Talvez obtivesse essas informações de sua esposa Drusila (veja v. 24). Entretanto, as declarações de Tértulo e Paulo corporificavam testemunhos conflitantes, e por isso ele adiou a audiência até que Lísias, o tribuno romano, viesse a Cesareia, quando prometeu tomar inteiro conhecimento do caso. Paulo foi posto sob custódia com considerável liberdade, tendo permissão de receber ajuda de seus amigos. Lucas não nos informa se Lísias foi ou não à Cesareia e se a prometida audiência se realizou.

24:24 Drusila era a filha mais jovem de Herodes Agripa I (veja 12:1). Ela fora casada com o Rei de Emesa, um pequeno estado da Síria, mas Félix a persuadira a deixar seu primeiro marido para casar-se com ele. O governador queria saber mais sobre o Caminho, e por isso disse a Paulo que lhe falasse mais a respeito da fé em Cristo.

24:25 Paulo adaptou a sua mensagem à situação, enfatizando as implicações éticas do Caminho. Sua mensagem de justiça, do domínio próprio e do juízo vindouro, muito compreensivelmente, alarmou Félix, que dissolveu a audiência adiando-a para outra ocasião.

24:26 O governador compreendeu perfeitamente que não havia nenhum caso contra Paulo e que ele devia ser solto. Embora aceitar um suborno para soltar um prisioneiro fosse proibido pela lei romana, era prática comum e bastante consistente com o caráter de Félix. O procurador, portanto, reteve Paulo prisioneiro e conversava com ele frequentemente esperando receber um suborno.

24:27 No fim de dois anos, o governador foi chamado de volta à Roma pelo imperador Nero sob a acusação feita pelos judeus de má administração. Pórcio Festo sucedeu-lhe como procurador da Judeia. Embora Félix soubesse que a justiça requeria a soltura de Paulo, deixou-o na prisão porque viu que assim agradaria aos judeus. Ainda que este encarceramento de dois anos deve ter sido muito penoso para Paulo, houve um fato atenuante, a permanência de Lucas na Palestina com o apóstolo todo esse tempo. É quase certo que Lucas aproveitou esse tempo para colher informações sobre a vida e o ministério de Jesus e para comparar anotações sobre a vida da igreja primitiva, Esse material mais tarde apareceu no Evangelho de Lucas e no livro de Atos.

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