Interpretação de Atos 9

Atos 9

9:1-31 A narrativa da conversão de Saulo foi inserida na história da expansão do Evangelho na Palestina. O registro do ministério de Pedro, que atravessou a Samaria pregando o Evangelho (8:25), resume-se em 9:32. Conforme o Evangelho avançava na direção do mundo gentio, Deus preparava um vaso escolhido para ser o principal instrumento nessa missão. Por isso Lucas interrompe a sua narrativa para contar a conversão de Saulo, e também para explicar o fim da perseguição à igreja.

9:1 A conversão de Saulo também está relatada em 22:4-16 e 26:12-18. Embora Saulo nascesse e fosse criado na cidade gentia de Tarso, na Cilícia (22:3), estudou em Jerusalém aos pés de Gamaliel, um dos notáveis rabinos judeus daquele tempo (5:34 e segs.). Era considerado um aluno brilhante (Gl. 1:14) e um zeloso fariseu (Fl. 3:5). Agora Saulo executou o papel do mais zeloso representante dos judeus na perseguição à igreja. A violência de sua perseguição está descrita em Atos 26:10, 11. Seu alvo era compelir os cristãos a negar a sua fé sob pena de prisão e até mesmo morte. Não sabemos até onde era comum o martírio nessa perseguição.

9:2 O sumo sacerdote, presidente do Sinédrio, tinha os judeus de toda a Palestina sob a sua jurisdição. Saulo obteve do sacerdote cartas de extradição para as sinagogas de Damasco a fim de trazer de volta a Jerusalém, em cadeias, qualquer cristão que para lá tivesse fugido. Havia uma comunidade judia em Damasco de cerca de dez a dezoito mil pessoas. Caminho. Uma palavra usada para descrever a fé cristã (19:9, 23; 22:4; 24:14, 22).

9:3, 4 O jato de luz apareceu a Saulo perto do meio-dia (22:6; 26:13), mas a luz era mais forte do que a luz do sol. A voz que vinha do meio da luz falou a Saulo em hebraico, ou aramaico (26:14). Embora a maioria dos judeus da Dispersão falasse o grego, os pais de Saulo falavam o aramaico e ensinaram-lhe essa língua (Fl. 3:5). Essa era a língua usada nas escolas rabínicas de Jerusalém. A voz informou Saulo que ao perseguir os cristãos ele perseguia a Cristo.

9:5 A princípio Saulo não entendeu o significado dessa experiência. Pediu que a voz se identificasse. Senhor no grego significa, muitas vezes, pessoa de respeito (16:30; 25:26); mas aqui indica uma resposta reverente e respeitosa. A voz identificou-se como a do Jesus glorificado. As palavras Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões, conforme está na ERC, não se encontram nesta passagem nos textos gregos mais antigos, mas foram aqui introduzidas de 26:14.

9:7 Saulo estava na companhia de uma caravana. A declaração deste versículo dizendo que os homens ouviram uma voz mas não viram ninguém parece contradizer 22:9 e 26:14, onde se diz que eles ouviram a voz. Há duas possíveis soluções para este problema. A construção do grego em 9:7 é diferente da construção de 22:9. A primeira declaração pode significar que eles ouviram um som e o outro versículo que eles não entenderam o que dizia. Uma segunda possibilidade é que 9:7 se refere à voz de Saulo falando à luz; os homens ouviram a voz de Saulo, mas não ouviram a voz que da luz falava a Saulo (22:9).

9:9 A experiência foi tão fora do comum que durante três dias Saulo não conseguia nem comer nem beber.

9:10, 11 Nada sabemos sobre Ananias exceto o que nos conta esta passagem. O versículo 13 indica que talvez ele residisse em Damasco e não sendo refugiado de Jerusalém. Não sabemos como o Evangelho chegou a Damasco nem como Ananias se converteu. O livro de Atos não nos dá uma história completa da igreja primitiva, mas relaciona apenas os acontecimentos mais importantes do seu crescimento. À rua que se chama Direita passava pelo centro de Damasco e ainda existe hoje em dia.

9:13 Chegou a Damasco notícia da destruição feita por Saulo contra os cristãos em Jerusalém. Santos. Palavra comumente usada no N.T. em relação aos crentes.

9:15, 16 O sofrimento no serviço de Cristo não deve ser encarado como exceção mas como coisa normal.

9:17 A obediência de Ananias foi imediata e completa. A recepção do Espírito Santo por meio da imposição das mãos de Ananias foi uma experiência excepcional e não coisa normal (cons. 8:17). Com a palavra irmão, Ananias deu as boas-vindas a Saulo recebendo-o na comunidade cristã.

9:18 Uma substância escamosa caiu dos olhos de Saulo, ele recobrou a vista imediatamente e foi batizado.

9:19, 20 Os alguns dias que Saulo passou em Damasco é um período de tempo muito indefinido. Imediatamente após a visão de Cristo, Saulo foi para à Arábia onde ficou por dois ou três anos (Gl. 1:15 e segs.). O curto ministério em Damasco pode ter acontecido antes ou depois da temporada de Saulo na Arábia. Havia numerosas sinagogas em Damasco, e neles Saulo proclamou a Jesus como o Filho de Deus. Esta é a primeira vez que esta frase ocorre no livro de Atos. Pode designar o rei messiânico como objeto do favor de Deus (II Sm. 7:14; SI. 2:7). Este uso messiânico da frase Filho de Deus foi ilustrada pela pergunta do sumo sacerdote a Jesus (Mc. 14:61). Provavelmente, aqui, o termo tem o significado messiânico, pois Atos 9:22 diz que a pregação de Saulo provava que Jesus era o Messias (que aquele era o Cristo).

9:21, 22 A transformação de Saulo deixou seus ouvintes muito admirados. Demonstrando. Literalmente, juntando; isto é, juntando as profecias do V.T. com seu cumprimento para mostrar que Jesus era o Messias (o Cristo). Tendo Saulo recebido a instrução de um rabi e consequentemente conhecendo bem o V.T., isto era-lhe agora muito útil.

9:23, 24 Os muitos dias incluíam de dois a três anos depois da conversão de Saulo (Gl. 1:18). “Três anos” na computação judia podia se referir a um período de mais de dois anos completos. Comparando este versículo com II Co. 11:32 vemos que os judeus fizeram uma conspiração com o representante do Rei Aretas da Arábia. Talvez o reino nabaetano de Aretas se estendesse até Damasco, incluindo esta; mas é mais aceitável que Aretas tivesse um representante na pessoa de um etnarca governando sobre os muitos nabaetanos que moravam em Damasco. Quando o ministério de Saulo em Damasco provocou a animosidade das autoridades tanto nabateanas quanto judias, estas juntaram suas forças para vigiar os portões num esforço de prendê-lo quando deixasse a cidade.

9:25 Um dos cristãos possuía uma casa construída sobre a muralha de Damasco. Saulo foi baixado num grande cesto trançado que foi passado através de uma janela, e assim ele escapou à conspiração.

9:26 Quando Saulo retornou a Jerusalém, não pôde reunir-se novamente aos seus antigos companheiros judeus; e os poucos cristãos que permaneceram na cidade (8:1) suspeitavam que a sua profissão de fé não passasse de mera fachada para melhor perseguir a igreja.

9:27 Barnabé já conhecia Saulo ou então era homem de grande discernimento, pois reconheceu a sinceridade de Saulo e o apresentou aos apóstolos. Os únicos apóstolos em Jerusalém nessa ocasião eram Pedro e Tiago, o irmão do Senhor (Gl. 1:18, 19). Tiago fora incluído no círculo apostólico.

9:28, 29 Santo passou a se ocupar agora do ministério do Evangelho em Jerusalém. Seu ministério anda não se estendia além da capital da Judeia (Gl. 1:22-24). Em primeiro lugar ele se dirigiu aos judeus que falavam o grego ou helenistas – o mesmo grupo a quem Estêvão testemunhara antes (Atos 6:9). Os helenistas tentaram matar Saulo como antes o fizeram com Estêvão.

9:30 Saulo escapou com vida apenas por causa da ajuda de seus irmãos cristãos, que o levaram ao porto da Cesareia, de onde ele navegou para Tarso, sua cidade natal, na Cilícia. Agora perdemos Saulo de vista até 11:25; mas sem dúvida esteve ocupado em Tarso pregando o Evangelho, embora não haja registro desse ministério.

9:31 A seguir Lucas descreve o crescimento, tanto numérico quanto espiritual, da igreja.., em toda a Judeia, Galileia e Samaria. O plural (ERC), igrejas, não é correto. A Igreja é uma só, embora haja muitas igrejas locais. Essa é a primeira referência às igrejas da Galileia. Não sabemos quando ou como foram organizadas.

9:32-11:18 A narrativa de Lucas neste ponto retorna à história da expansão do Evangelho através da Judeia pelo ministério de Pedro. Pedro foi mencionado pela última vez em 8:25, quando, na companhia de João, voltou de Samaria a Jerusalém. Agora somos informados que Pedro envolveu-se em um ministério itinerante através da Judeia, pregando aos cristãos que foram espalhados pelas diversas cidades. Seria muito interessante termos um registro completo do ministério de Pedro. Em Lida, encontrou um grupo de cristãos que provavelmente fugiram para lá na dispersão causada pela perseguição em Jerusalém. Filipe já tinha evangelizado essa região (8:40). Aqui Pedro curou o paralítico Eneias.

9:35 A história da cura de Eneias espalhou-se por toda a cidade de Lida e através da planície de Sarona, que ficava junto ao mar, resultando na conversão de muita gente. Esta área era parcialmente habitada pelos gentios; Lucas está acompanhando o desenvolvimento da igreja desde a comunidade judia em Jerusalém até os convertidos gentios.

9:36. Jope. Uma cidade costeira, cerca de dez milhas a noroeste de Lida. Tabita. Uma palavra aramaica que quer dizer gazela. Dorcas. A mesma palavra no grego. Era muito amada pelos cristãos por causa de suas boas obras e atos de caridade.

9:37 As leis cerimoniais judias da purificação exigiam lavarem o morto. Era colocado em um cenáculo antes do sepultamento.

9:39 Viúvas, que se encontravam entre as pessoas mais necessitadas do mundo antigo, foram objeto particular da caridade de Tabita. Provavelmente estavam usando as roupas feitas por Dorcas para elas.

9:43 Os judeus consideravam imundo o negócio de curtir peles, uma vez que envolvia o manejamento de corpos mortos. É significativo que Pedro, bom judeu que era, ficasse hospedado com um homem ocupado em tal ofício.

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