Interpretação de Atos 13

Atos 13

13:1–21:17 O capítulo 13 leva-nos à segunda metade do livro de Atos. Na primeira metade, Jerusalém é o centro da narrativa, e o tema principal é a expansão da igreja de Jerusalém por toda a Palestina. Agora Jerusalém passa para segundo plano, e Antioquia se torna o centro da narrativa porque patrocinou a expansão da igreja na Ásia e Europa. Esta expansão realizou-se por meio de três missões de Paulo, cada uma começando e terminando em Antioquia.

13:1–14:28 A primeira missão levou o Evangelho de Antioquia a Chipre e às cidades da parte sul da província romana da Galácia.

13:1 A igreja em Antioquia caracterizava-se por muitos cristãos notáveis. Níger. Uma palavra latina que quer dizer negro, usada aqui como apelido. Ao que parece descreve a aparência de Simeão e sugere que era de origem africana. Talvez seja o Simão Cireneu mencionado em Mc. 15:21, que carregou a cruz de Jesus. O adjetivo que descreve Manaém significa irmão de criação e aplicava-se a meninos da mesma idade, assim como as crianças dos nobres que eram criados na mesma corte. O título permanecia depois que os meninos atingiam a idade adulta. Herodes, cujo companheiro de brinquedos foi Manaém, foi Herodes Antipas, que reinou sobre a Galileia e Pereia entre os anos 4 e 39 A.D. Profetas tinham a capacidade de dar novas revelações da vontade de Deus através de direta inspiração do Espírito Santo. Mestres tinham o dom de interpretar as Escrituras (V.T.).

13:2 O pronunciamento do Espírito Santo veio provavelmente através de um profeta.

13:3 O chamado para esta missão veio do Espírito Santo, a igreja reconheceu e confirmou o chamado divino. A imposição de mãos não constitui ordenação mas separação para uma tarefa especial e aprovação para missões.

13:4. Selêucia. Porto da Antioquia. Foi ali que Barnabé e Saulo tomaram o navio para Chipre, uma ilha grande e importante. Possivelmente a missão evangelística começou em Chipre porque a ilha era o lar de Barnabé.

13:5. Salamina. O porto oriental de Chipre e sua cidade mais importante. Os judeus eram tantos que havia diversas sinagogas. Era costume de Paulo pregar o Evangelho “aos judeus primeiro” (Rm. 1:16); mas geralmente era entre os gentios que frequentavam as sinagogas judias que o Evangelho se enraizava. João (Marcos) acompanhava os apóstolos. Auxiliar. Os mestres acham que designa a pessoa cuja função era de instruir os convertidos nas verdades do Evangelho e na vida cristã.

13:6. Pafos. A capital oficial da província. Barjesus significa filho da salvação. Era um falso profeta, não porque fornecesse falsas predições, mas porque falsamente se proclamava ser profeta. Era prática costumeira dos governantes terem mágicos e astrólogos no seu séquito.

13:7 Sérgio Paulo era o procônsul da província. Roma tinha dois tipos de província – sob a liderança do imperador e sob a liderança do senado. As primeiras, como a Judeia, eram governadas por procuradores designados pelos imperadores, enquanto que as últimas eram governadas por procônsules. Em 22 a.C. o “status” de Chipre foi mudado de província imperial para província senatorial, conforme Lucas corretamente indica.

13:8. Elimas. Outro nome para Barjesus, provavelmente palavra semítica com significado semelhante ao do grego magos, que significa “feiticeiro” ou “mágico”. Elimas sentiu que se o procônsul aceitasse a mensagem de Barnabé e Saulo, sua própria posição seria prejudicada, e por isso tentou afastar o procônsul de sua fé.

13:9 Saulo é a forma semítica; Paulo, a grega. Das muitas razões sugeridas para a introdução do nome grego, a mais aceitável é que Paulo, agora assumindo a posição de líder da missão gentia, a forma grega de seu nome era mais apropriada, e Lucas passa a designá-lo assim.

13:10 Em vez de “filho da salvação”, Elimas foi filho do diabo.

13:11 A palavra traduzida névoa, é usada pelos médicos para descrever uma inflamação do olho, que o deixa embaçado.

13:13 Os missionários foram de Chipre, a terra natal de Barnabé, para um país limítrofe à terra natal de Paulo. Panfília. Um distrito na costa da Ásia Menor. Perge. Uma cidade situada cerca de 9 quilômetros terra adentro. Por alguma razão inexplicável, João Marcos abandonou Paulo e Barnabé e voltou a Jerusalém. Paulo considerou essa deserção inescusável, pois mais tarde quando Barnabé quis que Marcos os acompanhasse a outra viagem, Paulo recusou-se aceitá-lo (15:37, 38), e separou-se de Barnabé por causa disso. A deserção de Marcos pôde ter sido por causa de alguma mudança em seus planos missionários, os quais talvez não aprovasse. Outros sugerem que ele estava enciumado porque Paulo superava seu primo Barnabé. Não há razão para pensarmos que a base da discórdia fosse doutrinária.

13:14 Paulo e Barnabé dirigiram-se para o interior passando pelas montanhas de Tauro e entrando na parte sul da província romana da Galácia. Antioquia. A cidade mais importante dessa parte da Galácia. Não ficava na Pisídia, mas ficava perto da região da Pisídia e passou a chamar-se Antioquia da Pisídia.
Muitos mestres, seguindo as pesquisas de William M. Ramsay, concluíram que essas cidades do sul da Galácia foram aqueles às quais Paulo escreveu a carta aos gálatas. Outros mestres acham que a Galácia designa a parte norte da província da Galácia, onde moravam os gálatas de origem gálica. Essa teoria da “Galácia do Norte”, entretanto, envolve mais problemas do que a teoria da “Galácia do Sul”. É provável que a epístola aos gálatas fosse endereçada às igrejas de Antioquia, Icônio, Listra e Derbe. Sir William Ramsay considerou a possibilidade de Paulo ter adoecido com malária na costa baixa de Perge e estar doente ao chegar a Antioquia. Embora isso não possa ser comprovado, é uma possibilidade interessante. Como era seu costume, Paulo foi primeiro à sinagoga da colônia judia de Antioquia no dia de sábado.

13:15 Um culto judeu na sinagoga consistia principalmente de orações, leitura da lei e dos profetas, e a exposição da leitura, que podia ser feito por qualquer um da congregação. Os chefes da sinagoga não eram clérigos mas pessoas encarregadas de superintender a sinagoga e os cultos. Seu cargo lhes concedia a autoridade de convidar alguma pessoa para fazer o sermão. De acordo com esse procedimento, os dois visitantes foram convidados a dar uma palavra de exortação. As verdades principais do sermão de Paulo foram: 1. Jesus é o cumprimento da história do procedimento divino para com Israel. 2. Os judeus de Jerusalém rejeitaram-no, mas crucificando-o cumpriram o propósito de Deus. 3. Deus cumpriu suas promessas feitas aos pais, ressuscitando Jesus dos mortos. 4. As bênçãos do perdão e da justificação, que a Lei não podia fornecer, são agora fornecidas em nome de Jesus aos judeus da dispersão.

13:16 A congregação da sinagoga era composta de dois grupos: Varões israelitas isto é, judeus; e os que temeis a Deus – gentios que adoravam a Deus e assistiam os cultos na sinagoga sem aceitar todas as exigências da lei judia (cons. 10:2).

13:17 Primeiro Paulo citou alguns dos pontos altos da história de Israel para mostrar que Deus, conduzindo Israel através dos séculos, enviara agora Jesus para ser o Filho de Davi na profecia. O âmago da fé bíblica é que Deus agiu na história, redentoramente, primeiro em Israel e depois em Jesus Cristo. O nascimento de Israel como nação começou com o livramento no Egito. Com braço poderoso significa com demonstração de poder.

13:18 Suportou-lhes os maus costumes talvez signifique que Ele tolerou a conduta deles ou que cuidou deles como um pai.

13:19 Sete nações foram mencionadas em Dt. 8:1. Os 450 anos dificilmente indicariam o período dos Juízes, mas provavelmente inclui o período da viagem, as peregrinações e a distribuição da terra durante o período dos Juízes.

13:21, 22 O V.T. não menciona esses quarenta anos, mas Josefo se refere a eles. Davi foi o homem segundo o coração de Deus e foi obediente à vontade de Deus, mas Deus prometeu através dos profetas que levantaria um descendente maior do que Davi (Ez. 34:23; 37:24; Jr. 23:5, 39). A expectativa de um rei davídico foi uma esperança viva entre os judeus do primeiro século (veja os Salmos pseudoepigráficos de Salomão, 17:23 e segs.).

13:23 Entretanto, o prometido Filho de Davi aparecera como Salvador e não como rei; o nome Jesus significa Salvador (Mt. 1:21). Trouxe não se refere à ressurreição mas ao aparecimento histórico de Jesus, o Salvador.

13:26, 27 A salvação prometida cumpriu-se na morte de Jesus. Os judeus em Jerusalém sem o saber cumpriram as Escrituras porque não compreenderam o verdadeiro significado da condenação de Jesus à morte. Quando o Sinédrio quis que o corpo de Jesus fosse removido da cruz antes do começo do sábado (Jo. 19:31), Ele foi sepultado por José de Arimateia e Nicodemos (Lc. 23:50 e segs.; Jo. 19:38 e segs.).

13:30, 31 A ressurreição de Jesus, o tema central da proclamação e estabelecimento da Igreja primitiva, foi evidenciada por muitos cujo testemunho ainda podia ser ouvido.

13:32, 33 Jesus, declarou Paulo, foi o cumprimento da promessa do V.T.; a esperança messiânica dada aos pais cumpriu-se nEle. Ressuscitando a Jesus (levantando) provavelmente indica o aparecimento de Cristo na história e não a sua ressurreição dos mortos. Entretanto, o aparecimento histórico de Jesus incluía sua ressurreição dos mortos, conforme indicam os versículos seguintes.

 Tu és meu Filho (Sl. 2:7) não se refere tanto à divindade de Jesus quanto ao Seu messiado. Parte desta citação foi ouvida no batismo de Jesus (Mc. 1:11) e indicou a entrada de Jesus em sua missão messiânica. “Filiação” no conceito bíblico é um pensamento múltiplo e pode designar o messiado sem diminuir sob qualquer aspecto a realidade -da divindade de Cristo.

13:34, 35 A predição da ressurreição de cristo encontra-se em Is. 55:3 e em Sl. 16:10. Considerando que Davi morreu, a promessa de Sl. 16:10 não poderia se referir a ele mas ao descendente que lhe foi prometido.

13:36, 37 Tendo Davi servido à sua própria geração conforme o desígnio de Deus também poderia ser traduzido para Davi serviu a vontade de Deus na sua geração. A carreira de Davi limitou-se à sua geração, pois ele morreu e viu a corrupção; a carreira de Jesus não pode ser limitada a uma única geração pois pertence a todas as dispensações.

13:38, 39 Da morte e ressurreição de Jesus duas bênçãos resultaram – remissão e justificação. Duas interpretações de 13:39 são possíveis; enquanto a Lei justifica de algumas coisas, Cristo justifica de todas; ou, embora a Lei de nada justifique, Cristo justifica de tudo. A última interpretação é a mais natural, ainda que muitos mestres prefiram a primeira, encontrando aqui um ensinamento diferente da doutrina da justificação de Paulo.

13:40, 41 Paulo concluiu com uma advertência extraída de Hc. 1:5. Se o povo de Deus não se arrepender, uma grande tragédia lhe sobrevirá.

13:42 Esta nova e excitante mensagem criou grande agitação. Depois do culto na sinagoga muitos dos ouvintes de Paulo mostraram-se desejosos de aceitarem sua mensagem. O texto exato não faz referência a judeus e gentios (ERC) mas só ao povo.

13:43. Prosélitos piedosos. Uma expressão fora do comum que deve indicar os realmente convertidos ao judaísmo. Entretanto, parece no contexto que se refere a “homens tementes a Deus” ou gentios semiconvertidos ao judaísmo que aceitaram o Evangelho.

13:44, 45 Durante a semana, a notícia do sermão de Paulo espantou-se por toda a cidade, e no sábado seguinte a sinagoga estava cheia de gentios que queriam ouvir a palavra de Paulo. Tal multidão de gentios na sinagoga provocou a inveja dos judeus, e eles refutaram a sua mensagem e injuriaram sua pessoa. Blasfemando não se refere a blasfêmias contra Deus mas a injúrias contra os homens.

13:46 Paulo replicou que era ordem divina que o Evangelho fosse oferecido primeiramente aos judeus para que o aceitassem e por sua vez evangelizassem os gentios. Alas, tendo eles rejeitado a palavra de Deus e consequentemente tendo se julgado indignos da vida da dispensação vindoura, Paulo tinha de se voltar para os gentios. Aqui a palavra de Deus inclui mais do que as Escrituras; designa a proclamação do evangelho da morte e ressurreição de Jesus. Vida eterna é aqui a possessão futura mais do que a experiência presente. Uma, entretanto, inclui a outra.

13:47 Uma profecia de Is. 49:6, que originalmente se aplicava ao servo do Senhor, foi aplicada aqui aos apóstolos, que estavam levando luz aos gentios.

13:48. Destinados para a vida eterna. O significado elementar desta referência à predestinação não é teológica mas histórica. Conforme o Evangelho saía de seu ambiente judeu na direção do mundo gentio, muitos destinados para a vida eterna recebiam-na e criam nela. Isto, entretanto, não envolve o desprezo pela doutrina da predestinação à vida. Eis aí um dos temas muitas vezes repetido do livro de Atos: A cada novo e estratégico passo o Evangelho foi rejeitado pelos judeus mas aceito pelos gentios.

13:50 Os judeus, além de rejeitarem o Evangelho, trabalharam ativamente para frustrar o ministério de Paulo. Entre os que temiam a Deus (cons. coment. sobre 10:2) e frequentavam a sinagoga havia mulheres piedosas. Os judeus as influenciaram a fazer pressão junto aos seus maridos para expulsarem Paulo e Barnabé daquela localidade. Eis aí um autêntico toque de colorido local; as mulheres não exerciam influência nas cidades gregas como o faziam na Ásia.

13:51, 52 Jesus ordenara a seus discípulos a sacudirem o pó dos seus pés quando fossem rejeitados (Lc. 9:5; 10:11), indicando assim uma interrupção de qualquer relacionamento. Entre os judeus tal atitude equivalia a chamar uma pessoa de pagã.

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