Interpretação de Atos 11

Atos 11

11:1-3 A notícia de que os gentios receberam o Evangelho alcançou os apóstolos e os cristãos judeus na Judeia. Ao que parece Pedro foi chamado a Jerusalém e alguns dos cristãos judeus de lá discutiram com ele sobre a conveniência de se entrar em tal comunhão com os gentios, comendo com eles. Provavelmente a expressão, os que eram da circuncisão, tem uma conotação um tanto diferente da mesma frase em 10:45. Enquanto os cristãos judeus em Jerusalém discutiam o significado da salvação dos gentios, surgiu um partido que achava que os gentios deviam guardar a lei judaica para serem salvos (15:1). Este partido conservador criticou Pedro, pois reconhecia que um judeu que comia com gentios estava na realidade deixando de lado as práticas judias e consequentemente deixava de ser judeu. Não estavam preparados para aprovar tal tipo de ação; criam que os crentes judeus não deviam abandonar suas práticas judias.

11:4-15 Em vez de discutir, Pedro contou à igreja de Jerusalém a história da visão do lençol que descia do céu, sua visita a Cesareia, e a vinda do Espírito Santo sobre os gentios tal como veio sobre os judeus no dia de Pentecostes (v. 15).

11:16 Essa foi a terceira dádiva do Espírito Santo. A primeira foi à igreja judia em Jerusalém no dia de Pentecostes (cap. 2); a segunda foi aos crentes samaritanos (8:17); e agora a terceira foi aos gentios. Sem dúvida a experiência de Pedro em Samaria já o preparara para este ministério aos gentios.

11:17 O dom de línguas tornou claro que Deus dera aos crentes gentios o mesmo dom que dera aos crentes judeus quando creram no Senhor Jesus Cristo, Recusar o batismo aos gentios seria recusar-se a aceitar a obra de Deus e seria realmente opor-se a Deus.

11:18 A exposição de Pedro satisfez o partido da circuncisão por algum tempo. Mas a questão do “status” dos cristãos gentios na igreja tinha o destino de logo mais levantar-se novamente e criar um sério problema.

11:19-30 Esta seção delineia um novo estágio na expansão da igreja desde a comunidade judia em Jerusalém até à comunidade universal. Anteriormente, Lucas contou a inclusão dos samaritanos na igreja e a conversão de uma só família de gentios, a de Cornélio. Agora ele descreve o começo da primeira congregação independente de gentios em Antioquia, que viria a ser a “igreja mãe” da missão gentia na Ásia e Europa. A narrativa retoma os acontecimentos de 8:4 e a perseguição de Saulo.

11:19 Fenícia é a estreita faixa de terra limitando o Mediterrâneo. Estende-se ao norte de Cesareia por uns 190 quilômetros e inclui Tiro e Sidom. A pregação do Evangelho ainda se limitava aos judeus, pois a igreja primitiva foi muito lenta em perceber o caráter universal da missão do Evangelho.

11:20 Alguns dos crentes que vieram da ilha de Chipre e Cirene no Norte da África (cons. 13:1) foram a Antioquia e lançaram o Evangelho em uma nova direção. Antioquia era a terceira cidade do Império Romano e a residência do governador romano na província da Síria. Embora houvesse uma colônia judia em Antioquia a cidade era principalmente gentia e grega. O culto às deidades pagãs, Apolo e Ártemis, cuja adoração incluía a prostituição ritual, tinha o seu quartel-general nas proximidades. Antioquia era notória por sua degradação moral. Gregos neste contexto refere-se aos gregos puros e não aos judeus que falavam o grego. O Evangelho pregado aos gentios proclamou não primeiramente o messiado de Jesus mas o seu Senhorio. O messiado era um conceito judeu que não teria significado para os gentios que não tivessem antecedentes judeus.

11:22 Esta nova aventura teve sucesso imediato, e a igreja-mãe em Jerusalém enviou Barnabé para supervisionar e confirmar a nova igreja tal como Pedro e João supervisionaram a nova igreja em Samaria (8:14-17). Barnabé, conforme seu nome sugere, tinha o dom de fornecer encorajamento aos novos cristãos, e ele exortou os novos convertidos a permanecerem fiéis e a perseverarem com firmeza de coração.

11:25, 26 Logo Barnabé percebeu que a igreja crescente precisava de orientação adicional, e sua mente se voltou para Saulo de Tarso, que sem dúvida estava ocupado em trabalho missionário nas vizinhanças de sua cidade natal (9:30; Gl. 1:21). Depois de alguma dificuldade, ele encontrou Saulo e o trouxe a Antioquia, onde passaram todo um ano trabalhando na igreja. O nome cristãos aparece no N.T. apenas aqui, em 26:28, e em I Pe. 4:16. A palavra é formada com o sufixo latino que designa “seguidor ou partidário de” (cons. “herodianos” em Mc. 3:6). Não há nenhum motivo adequado para pensarmos que o termo fosse usado por gracejo. Simplesmente significa pessoas que seguem a Cristo.

11:27 A crescente importância da igreja em Antioquia exemplifica-se pelo socorro prestado à igreja-mãe em Jerusalém por ocasião de uma fome. Profetas são mencionados em 13:1; 15:32; 21:9, 10. Não eram líderes oficialmente ordenados mais leigos que declaravam a vontade de Deus ou acontecimentos futuros, sob a orientação do Espírito Santo. Veja I Co. 14:29-39. Os profetas na igreja primitiva eram quase tão importantes quanto os apóstolos (I Co. 12:28; Ef. 2:20; 3:5; 4:11; Ap. 22:9).

11:28 Ágabo aparece novamente em 21:10. Nos dias de Cláudio. Os historiadores romanos se referem a diversas fomes durante o reinado de Cláudio (41-54 A.D.), enquanto Josefo, o historiador judeu, menciona uma severa fome na Judeia em 46 A.D.

11:30 Presbíteros. Eis aqui a primeira menção em Atos desses oficiais cristãos. Lucas não dá nenhuma indicação como o cargo de presbítero surgiu ou como os presbíteros eram escolhidos. Um grupo de presbíteros governava cada sinagoga judia, e é provável que a igreja cristã adorasse o padrão judeu. Provavelmente os crentes formavam um número de congregações espalhadas por diversas casas, e os presbíteros, talvez, fossem os líderes dessas diversas congregações (veja Atos 15:6, 23). Muitos mestres acham que esta visita durante a fome seja a viagem mencionada em Gl. 2:1-10. A “revelação” de Gl. 2:2 pode se referir à profecia de Ágabo. Se for assim, quatorze anos (Gl. 2:1) interpuseram-se desde a primeira visita de Paulo a Jerusalém e agora ele já era um cristão amadurecido e um líder experiente. O problema se a visita mencionada em Gl. 2:1-10 é a visita por ocasião da fome de Atos 11 ou a visita do concílio de Atos 15, constitui um dos mais difíceis problemas da história do N.T.

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