Interpretação de Atos 18

Atos 18

18:1 O apóstolo deixando Atenas partiu para Corinto, onde aguardou a chegada de Timóteo e Silas vindos da Macedônia. Corinto era a capital da província romana da Acaia. Estava localizada sobre um istmo dominando as rotas marítimas para leste e oeste, como também as rotas terrestres para o norte e sul. Era um próspero centro comercial; famoso por seu caráter cosmopolita, e notório por sua imoralidade. De acordo com Strabo, o templo de Afrodite tinha mil religiosas prostitutas. A reputação de Corinto está exemplificada pelo fato de que o verbo “agir como um coríntio” era usado em relação à prática da fornicação, e a expressão “moças de Corinto” indicava prostitutas. Não causa admiração, portanto, que a igreja de Corinto fosse mais tarde abalada com problemas de imoralidade.

18:2 Suetônio (Life of Claudius 25:4) nos conta que os judeus estavam sempre comprazendo-se em constantes tumultos sob a instigação “de Cresto”, e por isso Cláudio os baniu de Roma em 49 A.D. É possível que Chrestus (que significa “o útil”) fosse uma má interpretação romana de Christus, um termo sem significado para eles. Nesse caso, isto significa que o evangelho de Cristo estava sendo pregado nas sinagogas de Roma e estava encontrando resistência tão pesada que Cláudio ordenou a todos os judeus que deixassem a cidade. Não está claro se Áquila e Priscila (chamada Prisca nas epístolas de Paulo) eram crentes antes de saírem de Roma. Uma vez que nada se conta de Paulo lhes pregando o Evangelho, provavelmente tornaram-se cristãos em Roma. Nada sabemos sobre a origem da igreja romana. Esses dois judeus vieram a Corinto e estabeleceram um negócio.

18:3 Fazer tendas. Ou tecelões de grosso tecido feito de pelos de cabras, dos quais se faziam tendas e outros artigos; ou “fabricantes de artefatos de couro” (Lake e Cadbury). Era costume judeu os rabinos não receberem pagamento pelos seus ensinamentos e por isso Paulo, que fora educado como rabino, aprendera o ofício de fazer tendas. O apóstolo não se lançou logo na evangelização de Corinto, mas juntou-se a Áquila e Priscila trabalhando com eles durante a semana.

18:4 Os sábados eram dedicados à pregação na sinagoga. Uma inscrição foi encontrada em Corinto datada do primeiro século, que dizia, “Sinagoga dos Hebreus”.

18:5 Ao que parece Paulo planejava retornar de Corinto à Macedônia e continuar o seu ministério em Tessalônica e Bereia depois da chegada de Silas e Timóteo. As epístolas nos contam mais sobre os movimentos desses dois do que o livro de Atos. Paulo os deixou em Bereia com instruções de se lhe juntarem em Atenas tão logo fosse possível (17:15). Eles realmente juntaram-se a Paulo em Atenas (I Ts. 3:1), trazendo um recado ao que parece de que não era seguro retornar à Macedônia. Por causa disso enviou Timóteo de volta à Tessalônica e Silas a uma outra cidade da Macedônia, possivelmente Filipos. Agora Silas e Timóteo se encontraram com ele novamente em Corinto; quando lhe disseram que não poderia mais retornar à Macedônia, devotou-se com renovado vigor à evangelização de Corinto. Se entregou totalmente à palavra, de acordo com os melhores textos, deveria ter sido traduzido para constrangido pela palavra, ou estava ocupado na pregação. A mensagem de Paulo era que Jesus era o Messias.

18:7 Ao lado da sinagoga judia estava uma casa que pertencia a um certo Tício Justo, um gentio “temente a Deus” (cons. observação sobre 10:2) que frequentava a sinagoga. Ele abriu as portas de sua casa a Paulo para pregar o Evangelho quando o apóstolo deixou a sinagoga.

18:8 A conversão de Crispo, principal da sinagoga (veja 13:15), com a sua família deve ter sido um golpe para os judeus e deu um grande ímpeto à missão de Paulo. O batismo de Crispo foi mencionado em I Co. 1:14.

18:9-11 Ao que parece Paulo não tinha certeza de que fosse a vontade do Senhor para ele, que se devotasse à evangelização de Corinto. Mas Deus confirmou-o em uma visão, insistindo que não se calasse e assegurando-lhe que a sua missão seria assistida com sucesso e bênçãos divinas. Por isso Paulo passou em Corinto mais tempo do que era seu costume, pregando a palavra de Deus por ano e meio.

18:12 No fim desse período de tempo, um novo procônsul veio à província de Acaia, da qual Corinto era a capital. Essas províncias ficavam sob a supervisão do Senado e eram governadas por procônsules, que tinham um mandato de dois anos. Gálio. O irmão do filósofo Sêneca. Isto fornece uma data relativamente exata sobre a carreira de Paulo, pois Gálio chegou a Corinto em Julho de 51 ou 52, provavelmente 51. Paulo já estava em Corinto por ano e meio.

Os judeus aproveitaram-se da oportunidade de experimentar a índole do novo procônsul, esperando que ele se submetesse à pressão deles. Um veredicto desfavorável de um governador romano contra Paulo seria útil não apenas em Corinto mas em toda a província. Por isso instigaram um tumulto e trouxeram Paulo perante o tribunal de Gálio, acusando o evangelista de propagar uma religião que era contra a lei romana. A lei romana reconhecia o judaísmo como religião legalizada. Os judeus acusavam Paulo de ensinar uma nova religião contrária ao Judaísmo e portanto contrária à lei romana.

18:14-16 Gálio reconheceu que Paulo não era culpado de injustiça ou crime da maior gravidade. E a mensagem de apóstolo, até onde ele entendia, era apenas uma variante do Judaísmo e se referia à interpretação da lei judia. Portanto ele se recusou a julgar contra Paulo e dispensou seus acusadores.

18:17 O incidente que se segue revela que existia fortes sentimentos contra os judeus entre o povo. Sóstenes sucedera a Crispo como principal da sinagoga, e o povo agarrou-o e feriu-o na presença de Gálio. Que Gálio, todavia, não se incomodava com estas coisas não significa que fosse indiferente aos valores espirituais mas que ele deliberadamente não prestava atenção ao movimento da população, que tecnicamente interrompia a paz.

18:18 Agora Paulo permaneceu em Corinto por um período de tempo indefinido (muitos dias), além do ano e meio. Antes de partir de Corinto, fez um voto de nazireu (veja Nm. 6:1-21) que era uma ação de graças ou dedicação a Deus segundo o V.T. Durante o período do voto, o devoto deixava seu cabelo crescer e no final do período cortava o cabelo. É significativo observar que enquanto Paulo firmemente se recusava a permitir que a Lei fosse imposta a gentios, ele mesmo, na qualidade de judeu, continuava a praticar muitas de suas exigências. Ao chegar à Cencreia, o porto oriental de Corinto, no seu caminho para a Síria e Palestina, o período do seu voto foi concluído, e por isso ele rapou a cabeça.

18:19-21 Áquila e Priscila separaram-se de Paulo em Éfeso e fixaram residência ali. Paulo ocupou-se em um curto ministério na sinagoga mas recusou-se demorar-se mais. As palavras, É-me de todo preciso celebrar a solenidade que vem em Jerusalém, não se encontram na maior parte dos textos; mas fora dessa explicação, os motivos da pressa de Paulo em retornar à Palestina não foram explicados.

18:22, 23 Esses dois pequenos versículos resumem uma longa viagem de Éfeso a Palestina, ida e volta. A igreja que Paulo saudou era mais do que certo a igreja em Jerusalém, embora esta cidade não fosse mencionada. Entretanto, Antioquia patrocinara a missão e ele passou algum tempo naquela cidade.

18:23-21:17 Paulo retornou à Ásia na viagem que chamamos de sua terceira viagem missionária, primeiro viajando através da Frígia e Galácia, as quais visitara na sua segunda viagem missionária (16:6).

18:24, 25 Agora Lucas interrompe seu registro sobre as viagens de Paulo para contar um incidente em Éfeso. Peregrinos judeus que vieram a Jerusalém durante os dias do ministério de nosso Senhor ouviram João Batista pregar que o Messias viria logo. Reconheceram na pessoa e obras de Jesus o cumprimento das profecias messiânicas do V.T. Esses peregrinos teriam levado para casa informações sobre a pregação de João e sobre a vida e ministério de Jesus, embora não soubessem de sua morte e ressurreição e a vinda do Espírito Santo no Pentecostes. O eloquente Apolo aceitara essas boas novas sobre Jesus; e uma vez que era poderoso nas Escrituras, era capaz de apresentar o messiado de Jesus com eficácia aos judeus.

18:26 Quando Priscila e Áquila encontraram-no em Éfeso, esclareceram-lhe com mais exatidão o evangelho cristão, o qual incluía a morte de Cristo, a sua ressurreição e a vinda do Espírito Santo. Muito provavelmente, Apolo foi então batizado por Áquila no nome de Cristo.

18:27, 28 Quando ele quis ir à Acaia, Áquila e Priscila enviaram cartas de recomendação, e ele pôde reforçar o trabalho de Paulo em Corinto, refutando os judeus e provando que Jesus era o Messias. O fato de alguns crentes de Corinto terem formado um partido, tendo Apolo como líder (I Co. 1:12; 3:4), não indica que ele tivesse tido uma atitude imprópria.

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