Interpretação de Oseias 4

Oseias 4 continua a transmitir a mensagem de Deus ao povo de Israel, enfatizando a sua infidelidade e as consequências das suas ações.

Oseias 4 começa com uma forte repreensão de Deus, destacando a decadência espiritual e moral que tomou conta da terra. O capítulo acusa os sacerdotes, o povo e até a própria terra de vários pecados e transgressões, incluindo idolatria, falsidade e imoralidade. Oseias pinta um quadro sombrio de uma sociedade que se afastou dos mandamentos de Deus e se desviou.

Um dos temas centrais de Oseias 4 é a ideia de que a falta de conhecimento e compreensão dos caminhos de Deus levou a esse declínio moral. As pessoas são descritas como destruídas devido à rejeição do conhecimento. Os sacerdotes são criticados por não ensinarem as leis de Deus, e as consequências da sua negligência são terríveis.

Em Oseias 4, há advertências sobre as consequências do pecado de Israel, incluindo a desolação da terra, a perda das bênçãos de Deus e um sentimento de abandono espiritual. No entanto, há também um convite para retornar a Deus, buscar Sua orientação e arrepender-se de seus caminhos pecaminosos.

Oseias 4 continua a transmitir a mensagem de julgamento de Deus e apela ao arrependimento. Destaca a decadência moral e espiritual do povo de Israel, enfatizando a importância do conhecimento e da compreensão dos caminhos de Deus e oferecendo um caminho para a reconciliação através do arrependimento.

Interpretação

A INFIDELIDADE DE ISRAEL E SUA CAUSA, 4.1-6.3
No esforço de equilibrar a profecia, Oseias abandona a interpretação de sua tragé­dia pessoal Em Os 3, a fim de tratar das implicações para Israel. Seus insights revelaram um Deus que amava Israel intensa e fortemente, embora visse a natureza fatal da corrupção de seu país. Por isso, empregou os mais prementes argumentos con­vincentes para Israel voltar, a fim de ser salvo, ao mesmo tempo em que lhe anunciava sua destruição inevitável.

1. A Controvérsia do Senhor (Os 4.1-19)
Como em Os 2.2, os israelitas são conclamados a participar de uma contenda com o Senhor (cf. Is 3.13; Jr 2.9; 25.31). Ouvi a palavra do SENHOR, vós, filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra, porque não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus na terra (1).

Três palavras-chave analisam a natureza da condenação de Israel. Não há verda­de (emeth). Visto que não é suficiente saber o que é certo, mas entregar-se ao que é autêntico, o termo “fidelidade” é melhor (BV; NIV). Esta virtude está frequentemente associada à benignidade (chesed), a qual, em vários contextos, tem o sentido de amor (cf. ARA; ECA; BV), bondade (cf. NTLH) ou amor de concerto. Ambos os termos estão relacionados com o conhecimento, já que são o fruto do conhecimento de Deus (cf. Is 9.9; Jr 22.16). Novamente, o conhecimento de Deus acha-se na comunhão e não na cognição intelectual. É pela verdade e pela benignidade (misericórdia) que é possibili­tado o conhecimento de Deus. A ausência de tal conhecimento na terra também indicava ignorância e negligência com a lei. Estas três palavras importantes vão direto ao cerne da mensagem de Oseias. Fidelidade, amor e conhecimento estão no centro da aná­lise da situação difícil de Israel e do ideal de comunhão desejado por Deus (cf. Os 2.19,20; 4.6; 5.4-7; 6.3,6; 10.12; 11.3,4,12b; 12.6).

As acusações de Deus contra o perjurar e o mentir (2) mostram a decadência do ambiente religioso e social de Israel. (O verbo hebraico alah, “jurar”, quando em combi­nação com o termo kichesh, fala de falso juramento; cf. BV.) Além destas acusações, ha­via o matar, o furtar e o adulterar. “Há arrombamentos” (ARA), ou seja, os israelitas traspassam todos os limites do pecado (cf. NVI). Homicídios (damin) indicam sangue derramado com violência, um crime capital.' Homicídios sobre homicídios — para significar que um assassinato ocasionava a represália (cf. NVI) até que se transformava em uma doença contagiosa entre o povo de Israel. Pecado gera pecado. Cinco dos Dez Mandamentos foram quebrados na depravação de Israel, isto é (pela ordem de citação), o terceiro, o nono, o sexto, o oitavo e o sétimo.

Por isso, a terra se lamentará (3); uma vez mais o sofrimento da natureza está relacionado com o pecado do homem. Até a criação inanimada sofreu com a depravação moral dos israelitas. O lamento da terra, a fraqueza dos animais, aves e peixes eram o resultado natural da seca no reinado do rei Acabe (1 Rs 17.1-7). A sequidão pode ter continuado por muito mais tempo durante a idolatria ininterrupta do povo (Am 1.2; 8.8). A Natureza sofreu porque Israel pecou.

A responsabilidade dos sacerdotes (Os 4.4-11). Todavia, ninguém contenda, nem qualquer repreenda; porque o teu povo é como os que contendem com o sacer­dote (4). Este versículo, uma cláusula interposta, indica que argumento e reprovação são inúteis por causa da obstinação e pertinácia irremediável das pessoas. Pode ser que um teria gostado de culpar o outro; contudo, o direito de repreensão pertencia ao sacer­dote e até a liderança religiosa era má em suas ações. Outra interpretação dá um sen­tido diferente: Não cabe aos seres humanos contender, visto que se trata da controvérsia de Deus. O Senhor proibiu o homem de falar em seu nome. Ele sozinho pleiteará sua causa. “Não desperdices teu tempo em recriminações mútuas, pois minha contenção é contigo, ó sacerdote” (ATA).

Os que contendem com o sacerdote (4) — para denotar, talvez, que o povo perde­ra a confiança na liderança religiosa a ponto de discutir com os sacerdotes.

O quadro nos versículos 4 a 10 é uma descrição vívida de um sacerdócio degenerado, que desencadeará julgamento da mão de Deus. Dia e noite (5) não indica julgamentos separados ou especiais, mas que, a qualquer momento, o sacerdote e o profeta cairiam sob as garras do julgamento. A frase final: E destruirei a tua mãe, anuncia a destrui­ção da nação inteira (cf. 2.2). O sacerdote e o profeta estão sob condenação especial por não terem compartilhado o conhecimento de Deus com o povo. Na realidade, longe de compartilharem, eles tinham rejeitado tal conhecimento e Deus lhes rejeitaria o ofício. “Eu vos rejeito de me serem sacerdotes” (6, Phillips; cf. NVI).

A acusação terrível contra o sacerdócio continua. Os sacerdotes não são dignos do ofício, e sua honra (“glória”, BV; NTLH) será mudada em vergonha (7). O pecado do meu povo (8) se refere à oferta pela transgressão: a carne do animal sacrificado, ofere­cido para tirar o pecado. Embora fosse legítimo comer a oferta sacrifical, a transgressão dos sacerdotes foi desejar o aumento dos pecados do povo para que tivessem abundância na provisão de carne. “Eles se alimentam dos pecados do meu povo e lambem os lábios com a culpa vindoura” (Phillips).

Há pouco a escolher entre o sacerdote e o povo. Como é o povo, assim será o sacerdote (9). O sacerdócio sofrerá como o povo (cf. 3, 5). Deus castigará os sacerdotes da mesma forma que o povo comum é castigado, e lhes dará a recompensa das suas obras. O castigo está simbolizado no versículo 10. Os sacerdotes continuarão nos seus deleites e prostituições com o culto de Baal, mas não ficarão satisfeitos nem desfrutarão a bênção de ter filhos, pois cometem práticas imorais com as prostitutas cultuais. Será assim porque deixaram de olhar para o SENHOR (10). Eles se esqueceram de Deus. É como se o Senhor não entendesse a infidelidade deles, ou talvez compreendesse tudo muito bem: “[A prostituição], o vinho velho e o vinho novo acabam com o coração e a mente e o entendimento espiritual” (11, ATA; cf. ARA; NVI). Libertinagem e álcool lhes enfraqueceram a sensibilidade.

A responsabilidade do povo (Os 4.12-14).
Agora o profeta passa a tratar do povo: O meu povo consulta a sua madeira (12). O povo escolhido de Deus pedia conselho a um pedaço de madeira (prática chamada rabdomancia) e buscava predizer o futuro com uma vara. Esta era consequência da falsa adoração que faziam — a idolatria. Também tinham voltado a sacrificar nos cumes dos montes e a queimar incenso debaixo de árvores. Nesta forma de idolatria, suas filhas se prostituíam e até as noras eram culpa­das de adultério.

Eu não castigarei vossas filhas (14) não sugere que elas ficarão impunes mesmo após se prostituírem e adulterarem. Significa que, em vez da ação direta de Deus, o pecado será punido com mais pecado. “O adultério espiritual de pais e maridos seria punido pelo adultério carnal de filhas e esposas”. 'Keil tem opinião diferente, ao sugerir que Deus não puniria as filhas e as noras, porque seus pais “fizeram ainda pior. 'Era tão grande o número de prostituições que toda a punição cessou na desesperança de qual­quer correção' (Jerônimo)”. Pois o povo que não tem entendimento será transtor­nado. A nação afundara tanto no pecado que não havia esperança e tinha de perecer. Será transtornado quer dizer será lançado impetuosamente na destruição; “cairá em ruínas” (cf. NVI; ARA; Pv 10.8,10).

Aviso para Judá (4.15-19). Estes versículos são uma advertência para Judá não seguir Israel. Se tu, ó Israel, queres corromper-te, não se faça culpado Judá (15). Gilgal e Bete-Áven (Betel) eram os dois principais santuários que ficavam no sul de Efraim; portanto, de fácil alcance para os filhos de Judá. Oseias ironicamente substituiu Betel (casa de Deus) por Bete-Áven (casa de iniquidade). Judá ficaria escandalizado em fazer peregrinações aos centros de adoração idólatra. Não era compatível ir ao local de idolatria, Gilgal, e jurar: Vive o SENHOR. Embora o juramento deste tipo fosse orde­nado em Deuteronômio 6.13 e 10.20, contudo esta contrição tinha sua base no “temor do Senhor” e não na prática de idolatria. Oseias adverte contra a hipocrisia e a pseudodevoção.

A razão para avisar Judá é apresentada em outra descrição de Israel (16-19). O povo é tão intratável quanto uma vaca rebelde (16; “vaca brava”, NTLH). Algumas versões bíblicas colocam corretamente a última metade do versículo 16 na forma de pergunta: “Será que o SENHOR o apascenta como a um cordeiro em vasta campina?” (ARA; cf. NVI). Não! Efraim está entregue aos ídolos; deixa-o (17). Israel está tão ligado aos ídolos que não há esperança. O longo apego ao pecado tornou a reconciliação impossível. Porém, interpretar esta passagem como se Deus fosse abandonar totalmente Israel não é consistente com o último ensino do profeta. Em outras partes de seu livro, Oseias fala sobre “o vale de Acor, por porta de esperança” (Os 2.15), e o grande brado de Deus: “Como te deixaria, ó Efraim?” (Os 11.8; cf. NTLH; NVI; ver tb. Os 14.4, 8). G. Campbell Morgan acredita que o versículo 17 era “a palavra do profeta para os leais não terem cumplicidade com os desleais. Era a palavra de advertência àqueles que em maior proporção ainda manti­nham uma certa comunhão com Deus, a fim de não porem em perigo a própria seguran­ça, ao entrarrem em contato com Efraim” ídolos — “idolatria é a adoração de falsas representações de Deus”.

A sua bebida se foi (18) significa que eles ficaram desamparados por terem bebido. A intoxicação os levou a corrompem-se (cf. “eles se entregam à prostituição”, ARA; ECA) cada vez mais. Os príncipes (os protetores do povo) chegaram a ponto de amar a vergonha. “Amam a vergonha mais que a glória” (VBB; cf. BV).

A conclusão no versículo 19 é inexorável. Um vento os envolveu nas suas asas (19). O vento é a invasão assíria que Oseias vê no horizonte. A destruição de Israel é certa. Sua vergonha se arrojará repentinamente sobre o reino como uma tempestade (cf. Os 5.1-18.11ss.). Nem mesmo seus sacrifícios livrarão os israelitas.

G. Campbell Morgan sugere que três verdades chamam nossa atenção no capítulo 4: 1) A coisa proibida: a idolatria, 12; 2) A condição descrita: Efraim está entregue aos ídolos, 17; 3) O aviso proferido a Judá: Deixa-o, 17.

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