Interpretação de Oseias 9
(Interpretação da Bíblia)
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A angústia e cativeiro de Israel (Os 9.1-17). Ao dar continuidade à acusação apresentada no capítulo 8, Oséias faz uma descrição no capítulo 9 da pena do exílio, o definhamento da nação. Israel rejeitou Jeová e tem de enfrentar a perda de rei, crianças, lugares de adoração e país.
Nos versículos 1 a 9, o profeta faz uma advertência de julgamento apesar da prosperidade temporária. Não te alegres, ó Israel, até saltar, como os povos; porque te foste do teu Deus como uma meretriz (1). Os israelitas não devem se exultar, pois a infidelidade (prostituição) foi a causa de haverem se separado de Deus. As festividades de Israel deviam ser ocasiões felizes, mas as festas de Baal se desdobraram em festança licenciosa. Isto ocorria, sobretudo, na festa da colheita, que começava como ocasião de agradecimento e alegria, mas acabava em libertinagem. “Oséias destaca fortemente que junto com a lealdade a Yahweh (Jeová) está a adoração feliz de um povo grato, ao passo que junto com a virada infiel a uma adoração das forças da Natureza está um colapso da vida moral”.”
Amaste a paga sobre todas as eiras de trigo (1). Israel deixou de considerar que as bênçãos da colheita vinham de Deus e passou a atribuí-las à adoração de Baal, no qual se alegravam. Por causa dessa “prostituição espiritual”, a eira e o lagar não os manterão (2). Trigo, óleo e vinho não os nutrirão nem os satisfarão, porque estarão distantes, no exílio. O versículo 3 explica o versículo 2. Egito (3) é, obviamente, um símbolo para o exílio (8.13) como nos dias de Moisés. A expressão: na Assíria comerão comida imunda mostra que as leis dietéticas do Pentateuco eram conhecidas nos dias de Oséias. Comer comida imunda estava associado aos gentios. Mesmo nesta época, Deus deu a Israel sua proteção contra a degradação, mas no exílio não haveria tal proteção. O “emblema de distinção” não vale mais, os limites e distinções sociais acabaram — tais fatos eram julgamentos que Israel sentia ardentemente.”
Os quadros nos versículos 3 e 4 descrevem nitidamente o exílio vindouro. Os verbos hebraicos estão no futuro simples. Na Assíria, não derramarão vinho (libação) perante o SENHOR (4), mas os seus sacrifícios para eles serão como pão de pranteadores.41 Seus sacrifícios não serão agradáveis a Jeová. A expressão: o seu pão será para o seu apetite; não entrará na casa do SENHOR significa que não haverá templo ao qual eles possam levar uma oferta antes de comer o alimento.
Que fareis vós no dia da solenidade e no dia da festa do SENHOR? (5). Israel não poderá observar as festas do Senhor enquanto estiver no exílio. Ou talvez o significado seja que os israelitas fariam sacrifícios, mas que não haveria a alegria da ocasião festiva porque estavam desacompanhados de justiça.
Porque eis que eles se foram por causa da destruição (6) quer dizer que os israelitas estarão sujeitos ao exílio. O Egito é mencionado simbolicamente como o lugar deste exílio. Mênfis era a antiga capital do Baixo Egito, hoje em ruínas ao sul da antiga Cairo. O tesouro de Israel será destruído e suas habitações ficarão abandonadas: “As urtigas herdarão os seus tesouros de prata e os espinhos ocuparão as suas tendas” (Phillips; cf. NVI).
Mais uma vez o texto fala dos dias da visitação (7; “castigo”, BV; ARA; ECA; NVI; cf. (Os 2.13), desta feita junto com os dias da retribuição (“punição”, NVI). O radical da palavra hebraica indica que retribuição é a execução necessária da prostituição de Israel. Então a nação saberá que o profeta profissional é um insensato. Estes mensageiros predisseram somente prosperidade para o povo (Ez 13.10). O homem de espírito (“homem inspirado”, NVI) é idêntico ao profeta insensato. “O termo 'ish ruach (homem de espírito) é sinônimo de 'ish holekh ruach (homem que anda no espírito), mencionado em Miquéias 2.11, onde diz que profetiza mentiras. [...] Até os falsos profetas ficam sob um poder demoníaco superior, e eram inspirados por um ruach sheqer (espírito de mentira, 1 Reis 22.22)”.” Isto, em si, com certeza mostrava a profundidade da iniqüidade de Israel e o grande ódio.
Deus queria que Efraim fosse o seu vigia e profeta para as nações circunvizinhas, mas não há confiança nesses mensageiros profissionais e não inspirados pelo Senhor.” Assim, o profeta é como um laço de caçador de aves em todos os seus caminhos (8), e há “inimizade, hostilidade, e perseguição na casa do Senhor” (ATA; cf. NVI).
Oséias lembra os leitores do comportamento depravado de Israel em Gibeá (9; cf. Jz 19), quando “não havia rei em Israel” (Jz 19.1) e “cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Jz 21.25).
Uma vez mais ouvimos o clamor aflito de Jeová: Achei Israel como uvas no deserto, vi a vossos pais como a fruta temporã da figueira no seu princípio (10). O Senhor representa-se como viajante no deserto que sente grande prazer e alegria ao achar uvas para matar a sede e figos temporãos, iguaria muito apreciada para a maioria dos orientais (Is 28.4; Jr 24.2; Mq 7.1). Assim, Deus se deliciava em ajudar Israel como seu povo escolhido no Egito. Mas os filhos de Israel foram para Baal-Peor44 e “se tornaram abomináveis como o objeto que amavam” (Vulgata; cf. BV; RC; ARA; ECA; NTLH; NVI).45 Eles se tornaram de caráter semelhante àquilo que amavam.
No versículo 11, encontramos uma figura diferente, mas paralela. A glória de Efraim como ave, voará; não haverá nascimento, não haverá filho, nem concepção. “A glória de Efraim voou como pássaro; não há mais nascimento, não há mais maternidade, não há mais concepção!” (VBB; cf. ECA; NVI). Os povos de terras orientais consideravam a esterilidade uma desgraça. Efraim quer dizer “fertilidade”. A ironia da escritura está na observação de que o frutífero ficará estéril, e o qualificativo “frutífero” deixará de caracterizar Israel.
A glória de Israel era sua relação exclusiva com Jeová; agora os israelitas rejeitavam essa glória do mesmo modo que abandonaram sua eleição. Não admira que Deus diga: Ai deles, quando deles me apartar! (12). A glória terá ido porque as últimas gerações de Israel se foram: Para que não fique nenhum homem. A última frase do versículo 12 dá a razão para o castigo ameaçador: a partida do Senhor. O luxo será punido pela “diminuição de números”, que é conseqüência da esterilidade. Ainda que nasçam filhos, eu os privarei deles — os homens se perderão na batalha.
O tema da glória desvanecedora de Efraim continua nas descrições dos versículos 13 e 14. Efraim, assim como vi Tiro, está plantado em um lugar deleitoso (13), contudo a nação levará seus filhos ao matador. A palavra Tiro quer dizer “rocha”. Israel pretendia ser uma rocha, símbolo de poder e glória. Mas agora que sua apostasia ficou notória, o Senhor entregaria seus filhos à morte pela espada.
Oséias parece inquieto com a situação. “Dá-lhes o que merecem” (14, ATA), diz o profeta Jamieson interpreta que as palavras uma madre que aborte e seios secos indicam: “A calamidade será tão grande, que a esterilidade será uma bênção, ainda que essa condição fosse considerada uma grande desgraça” (cf. Jó 3.3; Jr 20.14; Lc 23.29)”.”
No versículo 15, Oséias volta à situação anterior e fala por Deus. Gilgal era um dos santuários degradados pela adoração a Baal (cf. Os 4.15; 12.11). Paradoxalmente, foi o primeiro lugar onde os israelitas fizeram um culto a Jeová depois da travessia do rio Jordão (Js 4.20; Mq 6.5). Foi ali que Jeová os odiou. Como marido traído, ele os lançaria fora de sua casa; não os amaria mais, pois os rebeldes (15) o rejeitaram. Knight faz um comentário sobre o versículo 15: “O Antigo Testamento nunca usa o palavreado tolo de certos evangelistas de hoje que declaram que Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. O pecado não existe independentemente de homens que pecam. É por isso que Deus, em sua pureza e amor santo, tem de odiar o próprio pecador”.”
Efraim, o frutífero, agora é atingido duramente por uma ferrugem: Secou-se a sua raiz; não darão fruto (16; cf. Sl 102.4). Talvez isto seja um trocadilho amargamente irônico feito por Oséias. “Efraim, o frutífero, não dá mais frutos” (Phillips). O hebraico indica o cumprimento certo da profecia.
As ameaças nos versículos 11 e 12 são reforçadas no versículo 16 e encerradas no versículo 17 com uma razão para essa rejeição: O meu Deus os rejeitará, porque não o ouvem; e desocupados andarão entre as nações (17). A frase final transmite um tremendo tom patético. A palavra traduzida por desocupados (“errantes”, ARA) é usada em referência a Caim em Gênesis 4.14 (cf. Dt 28.65). Ao considerar que Israel preferiu andar desocupado; agora é Deus que diz: Desocupados andarão entre as nações. “A luz que Deus dá aos homens, e particularmente a luz do amor, [...] ou ilumina-lhes os olhos ou cega-lhes os olhos. Esta é a convicção de todos os profetas”.'