Interpretação de Oseias 14
(Interpretação da Bíblia)
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Oséias 14.1-9
A.
A SÚPLICA FINAL AO ARREPENDIMENTO, 14.1-3
Depois de 13 capítulos que tratam de pecado,
julgamento e punição, nos versículos 1 a 3 deste capítulo, Deus faz uma última
súplica. Se o Senhor não fosse Deus, o leitor ficaria admirado com a constante
inutilidade de tudo. Mas “eu sou Deus e não homem” (Os 11.9), e isso faz a
diferença.'
Converte-te, ó Israel, ao SENHOR, teu Deus (1). O profeta identifica que a razão para o
chamamento é a iniqüidade do povo. Israel é exortado a não responder
com conversa fiada, mas com oração: Expulsa toda a iniqüidade (2) “e
aceita-nos graciosamente” (ECA; cf. NVI). “O texto descreve que kashalta (iniqüidade
ou pecado) é uma 'escorregadela' que ainda deixa aberta a possibilidade da
volta.” 2 A conversão tem de começar com uma oração por perdão de toda
a iniqüidade e pela confiança simples na misericórdia de Deus. Os sacrifícios
dos nossos lábios (“o fruto dos nossos lábios”, NVI) seriam as palavras
sinceras ditas de corações penitentes.
No versículo 3, a confissão continua. A Assíria não
pode salvar, nem o Egito com seus cavalos de guerra, nem os deuses
feitos pela obra das nossas mãos trazem salvação. A exclamação: Tu és
o nosso Deus, já não será proferida por esses penitentes. As figuras do
casamento e do filho de Oséias estão envolvidas na declaração: Por ti, o
órfão alcançará misericórdia. Israel era órfão antes de ser adotado como
nação do concerto do Senhor, e dois dos filhos de Gômer seriam órfãos, caso
Oséias não os tivesse adotado.
B. A PROMESSA DE BÊNÇÃO ULTIMA, 14.4-8
A resposta à oração penitencial (1-3) encontra-se nos
versículos 4 a 8, que descrevem a resposta do Senhor. Eu sararei a sua
perversão, eu voluntariamente os amarei; porque a minha ira se apartou deles (4).
Deus responde com uma promessa de salvação. A promessa é curar os danos
causados pela apostasia de Israel. Abrange as lesões físicas e os fracassos
morais. A promessa do Senhor é amá-los voluntariamente, sem esperar nada
em troca.3 Sua ira, inflamada pela idolatria, agora se
apartou de Israel.
Eu serei, para Israel, como orvalho (5). Esta é a terceira vez que Oséias usa a figura do
orvalho. Nos outros exemplos, ele falou da duração do orvalho matinal (6.4;
13.3). Agora, “ele emprega a palavra como um retrato do beijo gentil do perdão
de Yahweh, que dá nova esperança e vida aos amados”. 4Israel
crescerá exuberantemente como o lírio, com raízes semelhantes aos
cedros do Líbano.' A expressão estender-se-ão as suas vergônteas (6;
“brotos”, NVI; “ramos”, ARA) sugere que a prosperidade de Israel brotará.
Como os cedros do Líbano têm um aroma doce, assim
será Israel para o Senhor — um cheiro perfumado. Com respeito aos
versículos 5 a 7, Rosenmuller sugere: “O enraizamento indica
estabilidade; a propagação dos ramos, multiplicação e multidão de
habitantes; o esplendor da oliveira, beleza e glória, aquilo que é
constante e duradouro; a fragrância, alegria e encanto”.6
As figuras de linguagem continuam no versículo 7: Voltarão
os que se assentarem à sua sombra. Aqueles que se sentam sob a sombra de
Israel serão vivificados como o trigo e florescerão como a vide. O “perfume”
(BV; memória), que será como o vinho do Líbano, desde tempos
imemoriais é célebre na Palestina.
A passagem se encerra com o versículo 8: Efraim
dirá: Que mais tenho eu com os ídolos? Algumas traduções põem as palavras
na boca de Deus: “Ó Efraim, que tenho eu [a ver] com os ídolos?” (ARA). “Eu te
ouvirei e cuidarei de ti” (ECA; cf. NVI). O versículo é, em parte, promessa, e,
em parte, súplica. Dá a entender que o dia da idolatria terminou e Deus nada
terá a ver com os ídolos, porque Efraim se livrou deles.' Jeová continua: Eu
sou como a faia verde, a fonte em que a nação encontrará seu fruto (força
e sustento). A promessa do capítulo se cumpre na era messiânica.
C. EPÍLOGO, 14.9
O termo de abertura diz respeito a tudo que Oséias
colocou diante do povo em sua profecia de advertência: Quem é sábio, para
que entenda estas coisas? Prudente, para que as saiba? O capítulo se
encerra com uma sinopse da profecia do livro: Porque os caminhos do SENHOR
são retos, e os justos andarão neles, mas os transgressores neles cairão.
O capítulo 14 é um clímax apropriado ao livro de
Oséias. Neste capítulo, identificamos o segredo da redenção: 1) A sinceridade
dos arrependidos, 2a; 2) A oração pela restauração total, 2b; 3) A fé em um
Deus misericordioso, 2c; 4) A esperança dos convertidos 4; (5) O crescimento
dos convertidos, 5,6; 6) O estado final dos convertidos, 7.
Na conclusão adequada de seu estudo sobre a profecia
de Oséias, Martin Buber fala de “A Virada para o Futuro”:
YHVH promete a Israel, que voltou à vida, um concerto
duplo (Os 2.1,19-23). Primeiro, há o concerto de paz que o Senhor faz por
Israel com todas as criaturas vivas e com todas as nações do mundo; e segundo,
há o novo concerto matrimonial pelo qual se casa com Israel para sempre segundo
os grandes princípios que compõem a relação de dois lados entre a deidade e a
humanidade. Esta promessa é qualificada para uma ligação dialógica. No
deserto, onde ocorre a mudança interior e de onde se origina a transformação de
todas as coisas, a esposa “cantará” (“responderá”, NVI; “corresponderá”, BV)
ao marido “como nos dias da sua mocidade” (Os 2.15), e ele “responderá” (Os
2.22,23), não somente a ela, mas ao mundo inteiro. Ao mesmo tempo, a chuva de “resposta”
se derrama de Deus para o céu e, dali, para a terra, sendo esta a razão de todas
as bênçãos produtivas de Jezreel. Tudo muda: como Lo-Ruama se torna Ruama
e Lo-Ami se torna Ami, assim Jezreel, outrora chamado por
este nome amaldiçoado devido ao lugar onde ocorreu uma ação sangrenta, agora
se revela de acordo com o significado deste nome, qual seja, “aquele que Deus
semeia”. Desta forma, Deus é responsável por uma nova geração. YHVH semeia a
terra com uma nova semente. E ao término do livro retorna o conceito dialógico
de “resposta”. YHVH cura o desvio dos israelitas, porque a sua “ira se apartou
deles” (Os 14.5). Ele deseja ser como orvalho para os filhos de Israel, que
voltarão a habitar na sombra do Líbano (Os 14.8) e florescer como a vide.
Porque “eu sou aquele que responde” (Os 14.9).