Significado de Mateus 4

Mateus 4

Mateus 4 é um capítulo do Novo Testamento da Bíblia cristã e se concentra principalmente na tentação e no início do ministério de Jesus. Mateus 4 começa descrevendo como Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo diabo. Ele jejua por quarenta dias e quarenta noites e então é tentado pelo diabo três vezes. O diabo tenta fazer Jesus pecar tentando-o com comida, poder e glória, mas Jesus resiste todas as vezes, usando as escrituras para repreender o diabo.

Após a tentação, Jesus inicia seu ministério na Galileia. Ele começa pregando a mesma mensagem de João Batista, chamando as pessoas ao arrependimento, pois o reino dos céus está próximo. Ele também começa a reunir discípulos, começando por dois irmãos, Simão (Pedro) e André, que eram pescadores.

Jesus continua pregando e realizando milagres, e sua fama se espalha por toda a região. Ele cura pessoas enfermas, possuídas por demônios ou paralíticas, e muitas pessoas o seguem para ouvi-lo ensinar e testemunhar seus milagres.

O capítulo conclui resumindo o ministério de Jesus na Galileia, descrevendo como ele ensina nas sinagogas e proclama as boas novas do reino, curando todas as doenças e enfermidades entre o povo.

No geral, Mateus 4 enfatiza a tentação de Jesus como uma forma de destacar sua força moral e resistência ao pecado, bem como sua confiança nas escrituras. O capítulo também apresenta o ministério de Jesus e o início de seus milagres de ensino e cura, que formam o fundamento de sua mensagem sobre a vinda do reino dos céus.

Comentário de Mateus 4

Tanto Mateus quanto Marcos vinculam as tentações ao batismo de Jesus. É difícil ter certeza do que exatamente aconteceu ou de que forma Satanás veio a Jesus. Estar sobre uma alta montanha (v. 8) não forneceria um vislumbre de “todos os reinos do mundo”; alguma visão sobrenatural é pressuposta. Mas não há razão para pensar que a estrutura da história é puramente simbólica em oposição a visionária.

Mateus 4:1, 2 Não foi Satanás quem levou Cristo ao deserto para ser tentado, mas o Espírito Santo. No início de Seu ministério, Cristo teve Sua santidade colocada à prova diante das astutas tentações do diabo. Isso aconteceu logo depois de Jesus ter sido batizado (compare com Marcos 1.12). Depois das vitórias espirituais vêm sempre grandes provações (veja o caso de Elias em 1 Rs 19). Depois do seu batismo público, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, que se refere a um monte do deserto da Judeia. O local histórico da tentação, cujo alvo direto era a natureza humana de Jesus, indica que essa não foi apenas uma vitória mental sobre Seus pensamentos, mas uma experiência que Ele viveu de fato e da qual saiu vencedor.

O fato de Jesus ter sido conduzido pelo Espírito deixa bem clara a relação entre Jesus e o Espírito. Em sua obra terrena, Jesus dependia do Espírito Santo para capacitá-lo.

Mateus 4:1 As três tentações de Jesus se relacionam com seu batismo, não apenas pelas referências à filiação e ao Espírito, mas pela abertura “Então”. O mesmo Espírito que gerou Jesus (1:20) e atestou o reconhecimento do Pai de sua filiação (3:16-17) agora o leva ao deserto para ser tentado pelo diabo. O “deserto” (GR 2245) não é apenas o lugar associado à atividade demoníaca (Is 13:21; 34:14; Mt 12:43; Ap 18:2), mas, em um contexto repleto de referências a Dt 6–8 , o lugar onde Israel experimentou seus maiores testes iniciais.

O “diabo” (GR 1333) é o principal opositor de Deus, o arquiinimigo que lidera todas as hostes espirituais das trevas (cf. Gn 3; Jo 8:37–40; 2Co 11:3; 12:7; et al.). Em uma época de crescente ocultismo e satanismo aberto, é mais fácil acreditar no claro testemunho da Bíblia sobre ele do que vinte anos atrás.

O fato de Jesus ser guiado “pelo Espírito” para ser tentado “pelo diabo” não é estranho a Jó 1:6–2:7. “Tentar” (GR 4279) também pode significar “testar”. “Tentar” ou “provar” nas Escrituras pode revelar ou desenvolver o caráter (Gn 22:1; Êx 20:20; Jo 6:6; 2Co 13:5), bem como solicitar o mal (1Co 7:5; 1Ts 3:5).; veja comentários sobre Lc 4:1–2). Nas tentações de Jesus, Deus claramente pretendia testá-lo, assim como Israel foi testado; As respostas de Jesus provam que ele entendeu.

Mateus 4:2 Os paralelos com o Israel histórico continuam. O jejum de Jesus de quarenta dias e noites refletiu a peregrinação de quarenta anos de Israel (Dt 8:2). Tanto a fome de Israel quanto a de Jesus ensinaram uma lição (Dt 8:3); ambos passaram um tempo no deserto em preparação para suas respectivas tarefas. Para ambos, Deus pretendia provar sua obediência e lealdade em preparação para o trabalho designado. O único “filho” falhou, mas apontou para o “Filho” que nunca falharia (cf. comentário em 2:15).

Mateus 4:3–4 Quando o tentador veio a Jesus, ele não desafiou a filiação de Jesus, mas a assumiu e refletiu sobre seu significado. A filiação do Deus vivo, sugeriu ele, certamente significa que Jesus tem o poder e o direito de satisfazer suas próprias necessidades. A resposta de Jesus se baseia unicamente na Escritura: “Está escrito” (seguido de Dt 8,3). Todos devem reconhecer sua total dependência da palavra de Deus. A comida de Jesus é fazer a vontade do Pai que o enviou (Jo 4,34).

O objetivo de cada tentação deve ser determinado pelo exame minucioso da tentação e da resposta de Jesus. A primeira foi uma tentação para Jesus usar sua filiação de maneira inconsistente com sua missão ordenada por Deus. O objetivo de Satanás era seduzir Jesus a usar poderes que eram seus por direito, mas que ele havia abandonado voluntariamente para cumprir a missão do Pai (cf. 26:53–54; 27:40). Recuperá-los para si seria negar a auto-humilhação implícita na sua missão e na vontade do Pai. Israel exigiu seu pão, mas morreu no deserto; Jesus negou a si mesmo o pão, reteve sua justiça e viveu pela submissão fiel à palavra de Deus.

Mateus 4:4 Está escrito. A resposta de Jesus às três tentações foi tirada da Palavra de Deus, mostrando aos Seus servos o poder das Escrituras na batalha contra o Maligno (Dt 6.13; 8.3; SI 91.11, 12). Não havia nada moralmente errado em transformar pedras em pão; o que o diabo estava tentando Jesus a fazer era realizar um milagre fora do plano do Pai. Isso explica por que Jesus usou Deuteronômio 8.3.

A vida não depende só de pão; afinal de contas, Deus é Aquele que provê tudo em nossa vida. Portanto, nosso dever é confiar em Deus e permanecer na Sua vontade. Por mais inocente que uma atitude possa parecer, a questão fundamental se refere à fé (Rm 14:23) e à vontade de Deus.

Mateus 4:5, 6 Lança-te daqui abaixo. Ao lembrar a Jesus a promessa da proteção de Deus no Salmo 91.11, 12, o diabo omite as palavras para te guardarem em todos os teus caminhos. Ele tentou Jesus a atrair a atenção das pessoas fazendo algo espetacular, e não por Sua mensagem ou Sua vida de retidão. Esse é um perigo que todos nós temos de evitar, principalmente aqueles que estão sempre em lugar de destaque.

Mateus 4:7 Deuteronômio 6.16 destaca que ninguém deve tentar Deus. O Senhor disse ao povo israelita para prová-lo somente em uma área: nos dízimos. Se eles dessem os dízimos, poderiam prová-lo para ver se Ele cumpriria Sua promessa e abençoaria a todos (Ml 3.10).

Mateus 4:5–7 A segunda tentação (a terceira de Lucas) se passa na “cidade santa”, no ponto mais alto do complexo do templo (ver comentário em Lc 4:9–12). Satanás citou o Salmo 91:11–12 da LXX, omitindo as palavras “para te guardar em todos os teus caminhos”. Seu engano consistia não em omitir algumas palavras, mas em aplicar mal sua citação em uma tentação que facilmente aprisiona a mente devota, aparentemente dando aprovação ao que de outra forma poderia ser considerado pecaminoso. De acordo com esta passagem, os anjos levantarão em suas mãos qualquer um que confie em Deus (principalmente Jesus). Jesus é assim tentado a testar sua filiação contra a promessa de Deus de proteger os seus.

Jesus respondeu com Dt 6:16. Sua hesitação veio porque as Escrituras proíbem colocar Deus à prova (veja Êx 17:2–7, onde os israelitas “põem o Senhor à prova” exigindo água). Então Jesus foi tentado por Satanás para testar Deus; mas Jesus reconheceu o teste de Satanás como uma espécie de suborno manipulador expressamente proibido nas Escrituras. Tanto para Israel quanto para Jesus, exigir proteção milagrosa como prova do cuidado de Deus era errado; a atitude adequada é a confiança e a obediência (Dt 6,17).

Mateus 4:8-10 Cristo repreendeu o diabo quando este o tentou a adorá-lo, algo que o levaria a pecar justamente naquilo que Deus disse aos israelitas para não fazer (Dt 6.13, 15). No caso específico de Jesus, Satanás estava oferecendo-lhe uma coroa sem a cruz. Essa experiência de Jesus nos mostra um padrão de batalha espiritual para hoje: Jesus resistiu a Satanás (Ef 6.11, 13, 14; Tiago 4:7; 1 Pe 5.9). Desse modo, Ele venceu Satanás usando a eficaz e poderosa Palavra de Deus (Ef 6.17).

Satanás oferece os reinos do mundo e seu “esplendor” sem mostrar seu pecado. Jesus, porém, veio para remover o pecado. Aqui estava uma tentação de alcançar o poder tomando um atalho para a autoridade messiânica total, evitando a cruz e introduzindo a idolatria (veja o comentário em Lc 4:5-8).

Jesus reconheceu que a sugestão de Satanás implicava privar Deus de sua reivindicação exclusiva de adoração: nem o “filho” de Deus, Israel, nem o “Filho” de Deus, Jesus, podem desviar-se da lealdade indivisa ao próprio Deus (cf. Êx 23:20–33; Dt 6:13). Então Jesus respondeu com um terceiro “está escrito” e baniu Satanás de sua presença. Em outras palavras, Jesus tinha em mente desde o início de seu ministério terreno a combinação de reinado real e servidão sofrida atestada em seu batismo (ver comentários em 3:15, 17). 

Mateus 4:11 Eis que chegaram os anjos e o serviram. Logo após ter rejeitado a oferta de Satanás, os anjos vieram até Jesus e o serviram. O diabo deixou Jesus temporariamente (cf. 16:23). Embora o conflito mal tenha começado, o padrão de obediência e confiança foi estabelecido. Ele aprendeu a resistir ao diabo (cf. Tg 4,7). A ajuda angélica não é uma bênção passageira, mas contínua. Jesus recusou-se a aliviar sua fome transformando milagrosamente pedras em pão; agora ele é alimentado sobrenaturalmente. Ele se recusou a se jogar das alturas do templo na esperança de ajuda angelical; agora os anjos o alimentam. Ele se recusou a pegar um atalho para herdar o reino do mundo; agora ele cumpre as Escrituras iniciando seu ministério e anunciando o reino dos gentios na Galileia (vv.12-17). 

Mateus 4:12-16 A passagem citada aqui, Isaías 9.1, 2, é uma profecia do reinado do Messias em um Reino futuro. O ministério de Jesus na Galileia foi um sinal do que estava por vir. A Galileia era uma região populosa e fértil que tinha duas grandes rotas de comércio. O caminho do mar era uma delas.

Mateus 4:12 A prisão de João Batista (provavelmente na fortaleza de Maquero) parece ter levado Jesus a retornar à Galileia. Embora Jesus tenha começado seu ministério na Judéia concomitantemente com João Batista (veja Jo 1:19–3:21), os Sinópticos começam com seu ministério na Galiléia após a prisão de João. Por que o ministério judeu é ignorado é desconhecido, embora talvez fosse porque a prisão marcou o fim do ministério do precursor. Além disso, especialmente para Mateus, a Galiléia é de profundo significado porque anuncia o cumprimento da profecia (vv.14-16) e aponta para a extensão do Evangelho a “todas as nações” (28:19).

Mateus 4:13 Jesus mudou-se de Nazaré para Cafarnaum (cf. Lc 4,31), uma aldeia na margem noroeste do lago da Galileia. Esta aldeia tinha uma indústria pesqueira que provavelmente exigia a presença de uma coletoria de impostos (9:9). Aqui também ficava a casa de Pedro (8:14). Mas Mateus está interessado em apontar a localização de Cafarnaum com referência aos antigos lotes tribais de Zebulom e Naftali (ver vv.15–16).

Mateus 4:14–16 O movimento de Jesus cumpriu Isaías 9:1–2, uma profecia que faz parte de uma grande estrutura que aguarda a vinda de Emanuel (ver comentário em 1:23). O ponto da citação é bastante claro. Na desprezada Galileia, lugar onde se vive nas trevas sem as vantagens religiosas e cultuais de Jerusalém e da Judéia, onde as trevas são mais densas, aqui raiou a luz. Este era o plano profetizado de Deus; desde a antiguidade, o Messias foi prometido à “Galileia dos gentios”, um prenúncio da comissão a “todas as nações” (28:19). Além disso, se a luz messiânica brilha nos lugares mais escuros, então a salvação do Messias só pode ser uma doação de graça; Jesus veio chamar, não os justos, mas os pecadores (9:13).

Mateus 4:17 A frase desde então, começou Jesus é dita duas vezes em Mateus (aqui e em Mt 16.21), e ambas marcam uma direção fundamental no Evangelho. Essa menção em Mateus 4:17 aponta para o começo do ministério terreno de Jesus enquanto a de Mateus 16.21 fala de Sua crucificação e ressurreição. A exortação de Jesus, expressa no imperativo arrependei-vos, é igual à de João Batista (Mt 3.2).

“Daquele momento em diante” marca uma virada importante porque liga algo novo ao que acaba de preceder. O peso da pregação de Jesus até aqui é, em si, idêntico ao de João Batista: “Arrependei-vos, porque o reino dos céus está próximo” (ver comentários em 3:1-2). Mas João Batista colocou essas palavras em um contexto do AT que destaca sua função como o precursor que aguarda o Messias e seu reino; quando Jesus diz as mesmas palavras, elas estão ligadas (por “daquele tempo”) com um contexto do AT que insiste que Jesus cumpre as promessas de uma luz surgindo para brilhar sobre os gentios. Com Jesus, o reino se aproximou tanto que realmente amanheceu. Portanto, os ouvintes de Jesus devem se arrepender - uma exigência feita não apenas pelo Batista, mas por Jesus. A estrutura do livro estabelece, assim, um paralelismo implícito: Jesus não é tanto um novo Moisés quanto um novo Josué, pois como Moisés não entrou na Terra Prometida, mas foi sucedido por Josué, que o fez, João Batista anunciou o reino e foi seguido por Jesus (Josué) que conduz seu povo a ela (cf. comentário em 1:21).

Mateus 4:18-22 Eu vos farei pescadores de homens. Jesus aqui faz referência a Jeremias 16.16 para chamar Pedro e André ao discipulado e a viver para o ministério. Mas este não foi o primeiro encontro que o Senhor teve com Pedro e André (veja o primeiro contato entre eles em João 1.35-42). Podemos tirar muitas lições desse encontro: (1) Deus se alegra em usar pessoas simples; (2) tudo o que aprendemos na nossa vida e na nossa profissão tem valor quando servimos a Cristo. Os pecadores puderam usar sua experiência para pescar vidas para o Senhor; e (3) uma prova da verdadeira obediência é aceitar o chamado na mesma hora (compare com Mateus 4-20, 22).

Mateus 4:18–20 De acordo com João 1:35–51, Pedro e André primeiro seguiram Jesus em uma data anterior, mas depois presumivelmente voltaram a pescar. Talvez esse evento anterior explique a rapidez com que seguiram Jesus.

Simão foi chamado “Pedro” (que significa “pedra”), mas Mateus não nos conta como Pedro recebeu este nome (cf. 16,18; Jo 1,42). Jesus chamou ele e seu irmão André para “seguir-me”. Esta expressão (juntamente com várias outras) pressupõe um “seguidor” físico durante o ministério de Jesus. Seus “seguidores” não eram apenas “ouvintes”; eles realmente seguiram seu Mestre (como os alunos então fizeram) e se tornaram, por assim dizer, estagiários. Há uma linha reta desta comissão até a Grande Comissão (28:18-20). Os seguidores de Jesus devem realmente pegar outras pessoas.

Mateus 4:21–22 Tiago e João podem ter feito reparos depois de uma noite de pesca. Jesus tomou a iniciativa e os “chamou” (GR 2813). Nos Sinópticos, ao contrário das cartas de Paulo (por exemplo, Romanos 8:30), o chamado de Jesus não é necessariamente eficaz. Mas, neste caso, foi imediatamente obedecido.

Mateus 4:23-25 Ensinando[...] pregando[...] curando. Esse é o resumo do ministério terreno de Jesus. Seu ensinamento é caracterizado pelo discurso; Sua pregação é caracterizada pelo que Ele anunciou em Mateus 4:17; Sua cura é caracterizada pelos muitos milagres.

Esta seção resume a divulgação das novas do reino por Jesus. Os resumos são comuns à literatura narrativa; mas o que está diante de nós, com seu paralelo em 9:35-38, tem características distintas. (1) Não apenas resume o que aconteceu antes, mas mostra a extensão geográfica e a variada atividade do ministério de Jesus. (2) Portanto, prepara o palco para os discursos e histórias particulares que se seguem e implica que o material apresentado é apenas uma amostra representativa do que estava disponível. (3) Não é uma mera crônica, mas transmite substância teológica.

O ministério de Jesus incluía ensino, pregação e cura. A Galiléia, o distrito abrangido, é pequena (aproximadamente setenta por sessenta quilômetros), mas tinha uma população de até três milhões e mais de duzentas cidades e aldeias. Jesus “andou fazendo o bem” (At 10:38). O simples desgaste físico deve ter sido enorme. Acima de tudo, devemos reconhecer que Jesus era um pregador e mestre itinerante que necessariamente repetia aproximadamente o mesmo material várias vezes e enfrentava os mesmos problemas, doenças e necessidades repetidas vezes.

Sobre o ensinamento de Jesus na sinagoga, veja o comentário em Mc 1,21. A mensagem que Jesus pregou foi a “boa nova” (GR 2295) sobre o reino, cuja proximidade já havia sido anunciada (3:2; 4:17) e que é o assunto central do Sermão da Montanha (5–7).. Deus estava entrando na história com seu reino salvador na pessoa de seu Filho. As curas de várias doenças entre o povo atestam ainda mais a presença e o avanço do reino (cf. 11:2–6; Is 35:5–6).

A extensão geográfica da “Síria” é incerta. Da perspectiva de Jesus na Galileia, a Síria ficava ao norte. Do ponto de vista romano, a Síria era uma província romana que abrangia toda a Palestina, exceto a Galiléia, pois estava sob a administração independente de Herodes Antipas nessa época. O termo “Síria” reflete a extensão do entusiasmo despertado pelo ministério de Jesus; se o uso romano do termo é presumido aqui, isso mostra seu efeito sobre as pessoas muito além das fronteiras de Israel. Duas das áreas especificamente mencionadas (Decápolis e a região além do Jordão) eram principalmente áreas gentias, um tema que Mateus já enfatizava (ver comentários em 1:6).

Jesus curou vários tipos de pessoas doentes. No NT, a doença pode resultar diretamente de um pecado específico (por exemplo, João 5:14; 1Co 11:30) ou não (por exemplo, João 9:2-3). Mas tanto a Escritura quanto a tradição judaica consideram a doença como resultado de viver em um mundo caído (cf. em 8:17); a Era Messiânica acabaria com essa dor (Is 11:1–5; 35:5–6). Portanto, os milagres de Jesus, lidando com todo tipo de doença, não apenas anunciaram o reino, mas mostraram que Deus havia se comprometido a lidar com o pecado em um nível básico (cf. 1:21; 8:17).

Mateus 4:1-2 (Devocional)

Tentado pelo Diabo

Em Mateus 4 vemos a tentação de nosso Senhor. Aquele que é o Rei nascido deve primeiro ser súdito. Seu direito de governar deve ser demonstrado em Sua alegria de obedecer. Aquele que tem o direito exclusivo de comandar, primeiro assume o lugar de servo. Se Deus deseja ter uma criação redimida que tenha estabilidade duradoura e da qual cada parte esteja sem mancha de pecado ou sombra de imperfeição, então Ele, que manterá tudo junto, deve ser posto à prova. O começo e a garantia dessa nova criação é Cristo. Mas Ele deve ser testado, e de uma forma que ninguém mais saberá.

Antes de o Senhor ser tentado, duas coisas foram claramente estabelecidas nos versículos anteriores (Mateus 3:16-17): Ele é o Filho de Deus e está selado como Homem com o Espírito Santo. Isso também se aplica ao crente. As tentações fazem parte da vida do cristão. Antes de sermos confrontados com eles, vemos como o Senhor foi adiante de nós nisso.

Cristo tem que lidar com três tentações. Na primeira tentação Ele é tentado como Homem, na segunda como o Messias e na terceira como o Filho do Homem. A primeira tentação é sobre dependência de Deus, a segunda é sobre confiança em Deus e a terceira é sobre adoração e serviço a Deus (cf. 1Jo 2:16).

O Espírito, que recentemente veio sobre Ele, o leva para o deserto na presença do diabo. O diabo não é um ‘princípio ruim’, mas é tanto uma pessoa quanto o Senhor Jesus. De Gênesis 3 em diante, ele costuma enganar as pessoas, abordando suas concupiscências e orgulho. Ele não encontra isso com o Senhor Jesus.

Deus não colocou nenhuma proteção especial em torno de Seu Filho, para que Ele permanecesse livre de ser tentado pelo diabo. Cristo é tentado pelo diabo por um período completo de quarenta dias, isto é, enquanto estiver no deserto. Apenas as últimas três tentações são registradas na Bíblia.

Nas tentações que o Senhor Jesus sofre, existem dois tipos. O primeiro tipo de tentação não é geral para o homem, mas especialmente para Ele. Eles não são descritos porque não incluem lições para nós. O segundo tipo são aqueles pelos quais Ele passa no final dos quarenta dias. Estas são as três tentações descritas de Mateus 4:3 em diante. Tais tentações também são nossa porção.

O propósito das tentações pelas quais Cristo passa não é para ver se Ele pode pecar. Ele não pode. Com Ele, as tentações provam que nas circunstâncias mais extraordinárias Ele não faz outra coisa senão obedecer e confiar plenamente na Palavra de Deus. Ele vence onde o primeiro homem em circunstâncias muito mais favoráveis falhou. Afinal, Adão e Eva entregaram a Palavra de Deus ao diabo, enquanto o Filho do Homem resiste por meio da Palavra de Deus.

Durante todo o período de quarenta dias, o Senhor jejuou. Quando Ele fala de jejum em um dos capítulos seguintes (Mateus 6:16-18), Ele fala por experiência. Ele está perfeitamente ciente do enorme poder das tentações do diabo e do que está em jogo. Tudo mostra que Ele é verdadeiramente Homem. Ele também não está acima das consequências do jejum. Ele fica com fome. Ele passa por tudo o que pode acontecer a uma pessoa.

Mateus 4:3-4 (Devocional)

A Primeira Tentação

A primeira tentação do inimigo está no terreno das necessidades corporais. A fome é uma necessidade corporal. O diabo propõe que o Senhor satisfaça Suas necessidades corporais usando o poder que possui para fazer pão com pedras. É um pensamento impressionante ver que o Senhor Jesus realmente precisa de algo que Ele poderia prover para Si mesmo com o poder que possui. Aqui novamente vemos o mistério insondável de Sua Pessoa que Ele é completamente Homem e também verdadeiramente Deus.

Não é pecado ter fome, nem é pecado comer, nem é pecado o Senhor usar Seu poder. Mas Ele é o Homem dependente. Seria um pecado para Ele se Ele fornecesse Sua comida sem que Deus o tivesse dito. A tentação aqui é realizar um ato independente de Deus. O mundo tem sido governado desde a queda por atos dessa natureza. Eles provam que o homem que perde Deus se torna um egoísta, alguém que só pensa em si mesmo.

Com as palavras “se Tu és o Filho de Deus”, o diabo desafia-o a prová-lo, ordenando que as pedras se transformem em pães. Mas Seu Pai não lhe disse para fazer isso. Portanto, Ele não o faz. Isso também se aplica a nós. Se não temos uma instrução clara de Deus para fazer algo, devemos sempre esperar que Ele nos dê. A fé, a confiança, prova-se esperando que Deus revele Sua vontade.

O Senhor tomou o lugar de um servo, e esse não é o lugar para comandar. Pessoalmente Ele tem o poder de fazer pão das pedras. Nós não temos esse poder. No entanto, também podemos fazer pão da pedra no sentido espiritual. Fazemos isso quando usamos as coisas bonitas e atraentes no deserto do mundo para satisfazer nossas necessidades. Isso levanta a questão: com que enchemos nossa mente, com que comida?

O Senhor não quer usar Seu poder para Si mesmo, independente de Deus. É uma característica constante da obra do Espírito Santo nos filhos de Deus que eles não usem poderes milagrosos para si mesmos ou para seus amigos. Paulo não usou esse poder para si mesmo ou para seus colegas de trabalho.

O poder das ações do Senhor está na Palavra de Deus. Com isso Ele responde ao diabo, sem entrar em discussão com ele. Em Sua resposta, Ele mostra que a verdadeira vida só pode ser encontrada no que Deus disse (Dt 8:3). Se nos concentrarmos nisso, seremos preservados de agir em nosso próprio poder e dos atos danosos que daí resultam.

Mateus 4:5-7 (Devocional)

A Segunda Tentação

A segunda tentação não é dirigida ao físico, mas às necessidades religiosas. Para isso o diabo leva o Senhor Jesus a Jerusalém, a cidade santa, ao lugar santíssimo daquela cidade, o templo. Ele permite que Ele fique no pináculo do templo. Então Ele faz o que o Senhor fez. Ele cita algo que está escrito. Mas quando o diabo cita a Palavra de Deus, é sempre para usá-la mal e sempre a cita erroneamente.

O texto citado pelo diabo para seduzir o Senhor a cometer um ato imprudente (Sl 91:11-12) refere-se à promessa de Deus de que Ele protegerá o Messias do desastre. Ao citar este texto, o diabo diz, por assim dizer: “Aqui está uma palavra de Deus para você”. A distorção da Palavra é que o diabo omite a palavra “em todos os Teus caminhos”. Novamente o diabo quer que Ele faça algo sem andar no caminho de Deus.

Mas sua astúcia vai ainda mais longe. Ele quer que Cristo desafie Deus para provar que Ele preservará e protegerá o Messias. Isso fica evidente na resposta do Senhor, uma resposta que novamente consiste em uma citação da Escritura (Dt 6:16). Aqui também Ele não entra em discussão com o diabo. Em Sua resposta, Ele indica que confia em Deus incondicionalmente e que é pecado perguntar com incredulidade se Deus é digno de Sua confiança. Desconfiamos de Deus se queremos que Ele prove Seu cuidado por meio de ações externas.

As duas primeiras tentações mostram dois princípios que conduzem à vitória. O primeiro princípio é a obediência simples e absoluta. A segunda é a confiança total no caminho da obediência. Para ter a coragem de obedecer, precisamos de confiança. Mas a confiança é encontrada apenas no caminho da obediência.

Mateus 4:8-10 (Devocional)

A Terceira Tentação

Para a terceira tentação, o diabo leva o Senhor a um lugar de onde oferece a Ele uma visão geral do mundo inteiro. Quando o diabo mostra algo belo e impressionante e também o oferece, ele o faz para prender alguém. De certa forma, os reinos deste mundo pertencem ao diabo. Adão perdeu a autoridade sobre ela e entregou o mundo ao diabo. Portanto, desde a queda do homem, o diabo tem sido “o deus deste mundo [lit. era]” e “o governante do mundo” (2 Coríntios 4:4; João 14:30). Esta situação continuará até que o Senhor Jesus volte. Só então Seu reino começará (Ap 11:15).

A tentação é que Cristo pode obter os reinos sem ter que sofrer por eles. O diabo mostra-lhe a herança que o espera. Ele o oferece com a condição de que o Senhor Jesus se ajoelhe diante dele. Quantas vezes as pessoas se ajoelharam para o diabo por muito menos. O diabo se revela como satanás ao afirmar abertamente que Cristo pode obter “todas essas coisas” se Ele se prostrar e adorá-lo. Satanás se coloca como objeto de adoração no lugar de Deus. Em troca, ele oferece coisas da área que governa.

O Senhor o rejeita como “Satanás”, que significa ‘adversário’. Ele resiste a ele. Nunca devemos permitir que algo ou alguém se coloque entre nosso coração e Deus e assim ocupe o lugar de Deus. Isso também é o que Pedro ouve quando quer desviar o Senhor de Seu caminho de obediência (Mateus 16:22-23).

Todas as citações da Palavra que o Senhor usa para responder ao diabo vêm do livro de Deuteronômio. Nesse livro, a responsabilidade de Israel é vista em conexão com a posse da terra e os privilégios da nação. Ali vemos que todas as bênçãos para a nação são baseadas na obediência.

Mateus 4:11 (Devocional)

O Diabo Derrotado

O Senhor resistiu ao diabo e o derrotou com a Palavra de Deus. O diabo é o perdedor e O abandona sem ter alcançado nenhum dos resultados que desejava. Ele não pode se apegar ao Senhor porque Ele permanece dependente, obediente, confiante e devotado em tudo. Por meio disso, o Senhor Jesus amarrou o forte. Agora Ele pode continuar a percorrer a terra para tirar do homem forte os seus bens, ou seja, para libertar do diabo aqueles que estão sob o seu poder (Mateus 12:29).

O lugar do diabo é ocupado diretamente pelos anjos. Quão ofegantes eles devem ter assistido quando seu Criador foi tentado pelo diabo dessa maneira. Como eles teriam adorado defendê-Lo. Um dia eles travarão guerra contra o diabo e seus anjos (Ap 12:7). Este ainda não é o caso aqui. Agora eles vêm ao Senhor para ministrar a Ele, possivelmente com comida que Ele não quis comer por instigação do diabo.

Mateus 4:12-17 (Devocional)

Início do Serviço na Galileia

A prisão de João é o tempo para o Senhor começar Seu ministério público. A rejeição de João lança a sombra de Sua própria rejeição. João é o precursor do Senhor, tanto em sua missão quanto em sua rejeição (Mateus 17:12).

A área onde Ele realizará Seu ministério fica fora de Jerusalém e da Judéia. Ele vai para o norte do país. O norte é uma rota de trânsito para as nações. Ali vivem os pobres e desprezados do rebanho, o remanescente, que já se distingue claramente dos governantes do povo em Mateus 3-4.

A área para onde Ele está indo é predita por Isaías (Isaías 9:1-2). Com a Sua vinda, uma grande luz brilha para um povo que anda nas trevas. Para aqueles que estão na terra da sombra da morte, uma luz desponta. Com Ele, a esperança surge em uma situação desesperadora.

Ele vai viver e trabalhar lá. Sua pregação é a mesma de João (Mateus 3:1). A voz de João foi silenciada, mas o Senhor assume a pregação e a continua com mais força.
 

Mateus 4:18-22 (Devocional)

Chamado dos Primeiros Discípulos

O Senhor chama as pessoas para Si mesmo para aprender com Ele. Ele é o único que tem esse direito. Ele os chama para si mesmo para segui-lo completamente em seu ministério e tentações. Isso significa que eles se conectam com Ele e compartilham de tudo o que é Sua porção. Para fazer isso, eles têm que desistir de todo o resto. Quando Ele chama, Seus direitos vão além dos da natureza. Somente quando Seu chamado é feito, uma pessoa pode deixar seu trabalho e até mesmo sua família. Tal chamado é único. Pois é costume alguém servir ao Senhor em suas circunstâncias diárias comuns (1Co 7:24).

É sempre importante que, assim que Sua vontade for clara, ajamos “imediatamente”. Isso é o que tanto Pedro e André quanto Tiago e João fazem. No momento em que são chamados, estão ocupados exercendo sua profissão. O Senhor Jesus não chama pessoas preguiçosas, mas pessoas ativas.

Suas atividades durante o chamado simbolizam o trabalho que farão mais tarde para o Senhor. Pedro e André estão ocupados lançando uma rede ao mar. Mais tarde, eles são usados como pescadores de homens para trazer pessoas a Cristo. Tiago e João estão ocupados consertando suas redes, isto é, consertando-as e assim colocando-as em ordem para a próxima pescaria. Eles são usados mais tarde para colocar as relações entre os crentes em ordem. Pedro e André são mais evangelistas, Tiago e João são mais pastores.

Nenhuma educação humana torna alguém apto para fazer a obra do Senhor. Para ir com Ele pela terra, Ele não escolhe pessoas de alto cargo, nem pessoas ricas ou eruditas (cf. Atos 4:13). A qualificação mais importante é se alguém quer ser dependente Dele.

As pessoas que Ele reúne ao Seu redor representam o remanescente de Israel temente a Deus. A massa do povo não O quer, mas há quem acredite Nele. Existem apenas alguns, um remanescente no meio da massa incrédula. Para Ele, eles são o verdadeiro Israel. Ele vê isso nos discípulos que reúne ao seu redor.

Mateus 4:23-25 (Devocional)

O Senhor Ensina, Proclama e Cura

O ministério do Senhor consiste em ensinar, proclamar o evangelho e curar os enfermos. As curas são o poder que acompanha a proclamação. Por meio das curas, a atenção geral é firmemente atraída para todo o Seu serviço, que consiste em Seus ensinamentos, Sua pregação e Suas obras. Na cura das pessoas está a prova de que o poder do reino de Deus está presente nEle. É o poder de Deus que se revela na bondade na terra. Ele proclama o reino e combina isso com a evidência do poder que é capaz de estabelecer esse reino. Podemos ver os milagres como um sino que atrai uma audiência, após o que a mensagem é trazida.

Por meio de Seus ensinamentos e obras, muitos vêm a Ele. Nos capítulos seguintes, Mateus 5-7, Ele fala com eles sobre os princípios do reino dos céus.

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