Interpretação de Juízes 9

Em Juízes 9, Abimeleque, filho de Gideão, procura tornar-se governante de Siquém e de todo o Israel. Ele manipula seu caminho para o poder, matando seus setenta irmãos e fazendo um pacto com os líderes de Siquém. Jotão, o filho sobrevivente de Gideão, conta uma parábola condenando o governo de Abimeleque. Abimeleque reina por três anos, mas surge um conflito entre ele e o povo de Siquém. Gaal, um novo líder em Siquém, desafia a autoridade de Abimeleque, levando a uma luta pelo poder. Abimeleque derrota Gaal e destrói Siquém, exibindo sua ambição implacável. No entanto, o reinado de Abimeleque chega a um fim violento quando uma mulher joga uma pedra de moinho em sua cabeça durante uma batalha em Tebes. Juízes 9 ilustra as consequências da busca de poder e manipulação, pois a ascensão de Abimeleque à autoridade leva à violência, divisão e sua eventual queda. O capítulo serve como um alerta sobre os perigos da ambição egoísta e as consequências destrutivas de usar o poder para ganho pessoal.

Juízes 9
A Usurpação de Abimeleque. 9:1-57.

9:1. Abimeleque... foi-se a Siquém, aos irmãos de sua mãe.
Na qualidade de filho de concubina, Abimeleque era considerado parte da família de sua mãe. Entre os antigos árabes, uma concubina ou “esposa” secundária permanecia com sua própria clã e era visitada por seu “marido” de vez em quando. Os filhos da união pertenciam à clã da esposa. Abimeleque, filho de uma concubina, tinha relacionamento intimo com a família de sua mãe. Buscou a ajuda deles quando de suas pretensões ao trono.

9:2. Lembrai-vos também de que sou osso vosso e carne vossa. Abimeleque deu a entender que todos os filhos de Gideão tinham a ambição de governar. Dissensão entre eles certamente traria consequências prejudiciais ao povo que lhe era sujeito. Seria melhor colocar a todos, disse Abimeleque, a favor do seu governo. Sendo sua mãe de Siquém, ele podia reivindicar laços de sangue com os siquemitas. Assim apelou ao orgulho local, sugerindo que ele fosse nomeado governador.

9:3. Disseram: É nosso irmão. Os homens de Siquém estavam convencidos de que sua lealdade deveria ser expressa para com Abimeleque.

9:4. E deram-lhe... prata, da casa de Baal-Berite. Na antiguidade, os templos costumavam ser centros de grande riqueza. As pessoas levavam ofertas aos templos, e os fundos públicos eram frequentemente guardados ali por medida de segurança. As setenta peças de prata dadas a Abimeleque não constituíam uma grande quantia, mas representavam o apoio dos homens de Siquém á causa de Abimeleque. Alugou Abimeleque uns homens levianos e atrevidos. Abimeleque descobriu um grupo de patifes que eram capazes de fazer qualquer coisa por um pouco de prata.

9:5. Foi à casa de seu pai, a Ofra, e matou a seus irmãos. Só Jotão, o filho mais jovem de Gideão, escapou da carnificina. O detalhe de que foram mortos sobre uma pedra, dá a entender que foram oferecidos como animais em sacrifício, sobre um altar de pedra. Os irmãos não morreram em batalha, mas foram formalmente executados.

9:6. Todos os cidadãos de Siquém, e toda Bete-Milo... proclamaram a Abimeleque rei. Milo pode ser o nome da cidadela, ou fortaleza, em Siquém. Provavelmente a tradução casa de Milo é a melhor para Bete-Milo. Junto ao carvalho memorial, que está perto de Siquém. Era coisa apropriada que Abimeleque fosse proclamado rei em um local associado à religião. A coroação realizou-se junto ao carvalho memorial. Jacó enterrou os ídolos de sua família sob a árvore em Siquém (Gn. 35:4), e ali Josué erigiu um monumento como testemunha da aliança entre Deus e Israel (Js. 24:26).

9:7. Jotão foi e se pôs no cume do monte Gerizim. Uma plataforma rochosa triangular projeta-se de um dos lados de Gerizim formando um púlpito natural que dá para Siquém. A voz de uma pessoa falando de Gerizim pode ser ouvida até o Monte Ebal, por cima do vale no qual Siquém está localizada. Jotão, o único sobrevivente irmão de Abimeleque, escolheu este local para fatal, dirigindo-se aos homens de Siquém.

9:8. Foram... as árvores a ungir... um rei. Jotão escolhe instruir o povo por meio de uma parábola. Ele quis mostrar que só indivíduos baixos têm o desejo de governar os outros. Aqueles que têm ocupações dignas estão ocupados demais pala quererem ser reis.

9:9. A oliveira lhes respondeu: Deixaria eu o meu óleo? Bosques de oliveiras abundam na região á volta de Siquém. Azeite de oliva era usado como unguento pala a pele e com propósitos cerimoniais quando sacerdotes e reis eram ungidos. Era queimado para fornecer iluminação, e usado na alimentação tal como a nossa manteiga. A oliveira não pede ser persuadida a deixar seu importante trabalho para se tornar rei.

9:11. A figueira lhes respondeu: Deixaria eu a minha doçura? A figueira era a árvore frutífera mais comum da Palestina. Os figos não eram um luxo delicioso, como são em outras partes do mundo, mas um dos gêneros alimentícios mais comuns do pais.

9:13. A videira lhes respondeu: Deixaria eu o meu vinho, que agrada a Deus e aos homens? Elohim pode ser traduzido para Deus ou deuses. Neste contexto parece que Jotão se refere às libações religiosas oferecidas aos deuses, durante as quais o vinho era derramado sobre o sacrifício ou sobre o solo ao lado do altar. As uvas eram grandemente estimadas em Israel, como no mundo mediterrâneo em geral. As uvas não tinham função mais alta do que produzir vinho.

9:15. Respondeu o espinheiro às árvores:... Vinde, e refugiai debaixo de minha sombra. Como última alternativa, as árvores aproximaram-se do espinheiro, o qual podia ser visto trepando pelos rochedos nas vizinhanças de Siquém. O espinheiro disse ironicamente: Refugiai debaixo da minha sombra, um absurdo óbvio. Com sentimento de auto-importância, ameaçou consumir os cedros do Líbano, se as outras árvores não lhe concedessem a devida deferência. O espinheiro seco geralmente é o ponto inicial de incêndios destrutivos. Moore, em suas notas no ICC, diz: “Aqueles que fizeram do espinheiro o seu rei, colocaram-se neste dilema: se lhe fossem fiéis, desfrutariam de sua proteção que não passava de tolice; se lhe tossem infiéis, ele os arruinaria”.

9:16-20. Se deveras e sinceramente procedestes... alegrai-vos com Abimeleque ...mas, se não, saia fogo de Abimeleque. Jotão fez uma aplicação evidente à sua parábola. Os homens de Siquém poderiam sentir que agiram bem, no fato de esquecer tudo o que Gideão tinha feito por eles, apoiando o assassinato dos seus filhos. Neste caso, disse Jotão, “muita felicidade vocês terão com este seu rei-espinheiro” (Moore). Contudo, Jotão advertiu, tal não seria o caso. Não só este rei-espinheiro se comprovaria destrutivo pala os homens de Siquém, mas os homens de Siquém, por sua vez, consumiriam Abimeleque.

9:21. Fugiu logo Jotão, e foi-se para Beer. Jotão conseguiu escapar da vingança de Abimeleque. Beer significa poço, e havia muitos lugares na Palestina com esse nome. Alguns comentadores têm sugerido que o lugar de seu retiro fosse Berseba. El-Bireh, entre Siquém e Jerusalém, é outra possibilidade.

9:23. Suscitou Deus um espírito de eram grandemente estimadas em Israel, aversão entre Abimeleque e os cidadãos de Siquém. Depois de Abimeleque reinar três anos, ele e as homens de Siquém desenvolveram um espírito de animosidade entre si. As Escrituras muitas vezes falam de tais atitudes como operação de Deus nos negócios humanos (cons. I Sm. 16:14; 1 Reis 22:21). O princípio da retribuição divina está evidente através de todo o Livro de Juízes. Aqui somos informados de como Abimeleque foi presa de traição, tal como traiçoeiramente matou seus irmãos.

9:25. Os cidadãos de Siquém puseram contra eles homens de emboscada sobre os cumes dos montes. A emboscada armada pelos homens de Siquém teria tido sucesso em despojar de Abimeleque os impostos e outras taxas que ele poderia ter cobrado das caravanas que usavam as importantes estradas que passavam por Siquém.

9:28. Disse Gaal... quem é Abimeleque? Na celebração da vindima, Gaal levou os siquemitas a amaldiçoarem Abimeleque, fomentando uma rebelião contra o seu governo. Falou mais como cananeu e não israelita, insistindo com o povo a que servissem antes aos homens de Hamor, pai de Siquém (cons. Gn. 33:19). Assim insistiu com o povo a que rejeitasse o “moderno” governo israelita da casa de Gideão e reanimasse uma antiga aristocracia siquemita.

9:31. Alvoroçaram a cidade contra ti. Zebul advertiu Abimeleque das atividades rebeldes. Em lugar de fortificaram (E.R.C.), contudo, leia-se Alvoroçaram de acordo com a E.R.A. Abimeleque evidentemente designara Zebul para governador de Siquém, pois ele pessoalmente, morava em Arumá (9:41). Onde a E.R.A. diz que Zebul enviou mensageiros astutamente, a versão JPS diz em Tormá, que é outra forma do nome do lugar, Arumá.

9:34. Levantou-se, pois, Abimeleque... e se puseram de emboscada contra Siquém, em quatro grupos. Abimeleque aceitou o conselho de Zebul e organizou as forças para por um fim à rebelião de Gaal (cons. 7:16; I Sm. 11:11; 13:17).

9:36. Eis que desce gente dos cumes dos montes. Quando Gaal viu o movimento dos homens nas montanhas, falou sobre isso com Zebul, que zombou dele dizendo que estava confundindo as sombras das montanhas com homens. Zebul deu a entender que Gaal estava amedrontado como resultado de uma consciência culpada.

9:37. Eis ali desce gente defronte de nós, e uma tropa vem do caminho do carvalho dos adivinhadores. O primeiro grupo parecia vir defronte, literalmente do meio. Sem dúvida era o monte central no distrito. Outro vinha de Elom-Meonenim, do carvalho dos adivinhadores. Pode ser o mesmo carvalho do versículo 6.

9:38. Onde está agora a tua boca? Agora Zebul zombava abertamente de Gaal por causa de sua atrevida declaração em relação a Abimeleque.

9:39. Saiu Gaal adiante dos cidadãos de Siquém, e pelejou contra Abimeleque. Gaal reuniu suas forças, mas era tarde demais para repelir Abimeleque.

9:41. E Zebul expulsou a Gaal e a seus irmãos. A revolta de Gaal terminou e seu líder foi expulso de Siquém. Sem dúvida Gaal se transformou em um bode expiatório para os siquemitas, que o teriam acusado pela revolta frustrada.

9:43. Então (Abimeleque) se levantou contra eles, e os feriu. Quando os siquemitas abandonaram a cidade, Abimeleque pessoalmente liderou seu exército contra eles. Não está claro se os homens de Siquém saíram para o campo nas atividades normais da agricultura ou em missões de pilhagem, como em 9:25.

9:45. Pelejou Abimeleque contra a cidade e a tomou, matou o povo que nela havia. Abimeleque não teve misericórdia dos homens de Siquém. Para se certificar de que nunca mais surgiriam problemas dessa fonte, ele assolou-a e a semeou de sal. Solo salgado, no hebraico, é equivalente a deserto. Era propósito de Abimeleque deixar estéril o próprio solo da cidade. Não obstante. Siquém tornou-se centro importante durante os dias do reino israelita (I Reis 12:1). Foi reconstruída e fortificada por Jeroboão (I Reis 12:25).

9:46. Os cidadãos da Torre de Siquém, entraram na fortaleza subterrânea, no templo de El-Berite. Siquém era uma cidade murada, com uma torre exterior que servia como defesa adicional. O deus Berite, ou El-Berite, deve ser identificado com Baal-Berite (9:4). Considerando que o seu templo estava localizado perto da torre, os homens da torre fugiram para o templo onde se esconderam.

9:48, 49. Então... Abimeleque e... cada um de todo o povo cortou a sua ramada. Abimeleque decidiu queimar o templo que servia de fortaleza para os homens ia torre de Siquém. Ordenou aos seus homens que o seguissem a uma montanha próxima, onde cortaram galhos de árvores para usarem como lenha a fim de incendiarem o templo. Cerca de mil homens e mulheres pereceram nas chamas.

9:50. Então se foi Abimeleque a Tebes. Tebes talvez seja a moderna Tubas, situada cerca de 20,9 kms ao norte de Siquém. Os habitantes de Tebes provavelmente se uniram á revolta centralizada em Siquém.

9:51. Havia, porém, no meio da cidade uma torre forte. A torre de Siquém ficava fora da cidade, mas a de Tebes, dentro. Depois que Abimeleque tomou a cidade, teve de tomar a fortaleza dentro dela.

9:53. Porém certa mulher lançou uma pedra superior de moinho sobre a cabeça de Abimeleque. O vitorioso Abimeleque foi subitamente interrompido por uma mulher. Sua arma foi a pedra superior removível de um moinho manual. Essas pedras tinham cerca de 20,32cms a 25,40cms de comprimento e diversos centímetros de espessura. Arrojada da altura da torre, esta pedra superior de moinho foi uma arma eficiente.

9:54. Desembainha a tua espada, e mata-me. A honra de um guerreiro exigia que ele morresse como homem na batalha. A morte pelas mãos de uma mulher era considerada desgraça máxima. Abimeleque pediu ao seu escudeiro que o matasse, o que o jovem fez.

9:55. Vendo, pois, os homens de Israel que Abimeleque era já morto, foram-se, cada um para sua casa. O exército de Abimeleque foi chamado de os homens de Israel. A rebelião dos siquemitas pode ser interpretada como rebelião cananita contra os israelitas. Embora Abimeleque tivesse inicialmente conseguido o governo com base no apoio que lhe deram os homens de Siquém, seu relacionamento com Gideão tomou-o aceitável a muitos israelitas. O apoio que os siquemitas deram a Gaal pode ser considerado como um movimento nacionalista com colorido anti-israelita.

9:57. Todo o mal dos homens de Siquém fez Deus cair sobre a cabeça deles. Tanto a destruição de Siquém como a morte de Abimeleque são interpretadas como justo castigo pelos crimes perpetrados contra a família de Gideão. Veio sobre eles a maldição de Jotão. Compare com 9:20. Os homens de Siquém e de Abimeleque, todos foram “devorados” como Jotão profetizou.

Índice: Juízes 1 Juízes 2 Juízes 3 Juízes 4 Juízes 5 Juízes 6 Juízes 7 Juízes 8 Juízes 9 Juízes 10 Juízes 11 Juízes 12 Juízes 13 Juízes 14 Juízes 15 Juízes 16 Juízes 17 Juízes 18 Juízes 19 Juízes 20 Juízes 21