Interpretação de Juízes 8

Em Juízes 8, Gideão persegue os reis midianitas Zebá e Zalmunna, buscando vingança por sua opressão. Ele enfrenta desafios de seu próprio povo, os homens de Efraim, que o criticam por não incluí-los na batalha inicial. Gideon habilmente difunde a situação e persegue os reis, eventualmente capturando-os. Apesar de sua vitória, a resposta de Gideão aos homens de Efraim demonstra humildade, evitando conflitos desnecessários entre os israelitas. Gideon pede brincos de ouro de seus soldados, criando um éfode que mais tarde se torna uma fonte de idolatria. O capítulo termina com a morte de Gideão e o retorno de Israel à adoração de ídolos. Juízes 8 destaca as complexidades da liderança e os desafios morais que acompanham o sucesso. Retrata o legado misto de Gideon, mostrando tanto seu valor quanto as armadilhas do poder. No geral, o capítulo explora temas de unidade, humildade e os perigos da idolatria.

Atos 8

8:1. Então os homens de Efraim... contenderam com ele fortemente.
Os efraimitas zangaram-se com Gideão porque este não os convocou antes para a batalha contra os midianitas. Considerando que o vencedor dividia os despojos, suspeitaram que Gideão estivesse tentando privá-los dos despojos da guerra.

8:2. Não são, porventura, os rabiscos de Efraim melhores do que a vindima de Abiezer? A resposta de Gideão contrasta notavelmente com a de Jefté (12:1-6). Assegurou aos homens de Efraim que sua façanha fora maior. Efraim prendera os chefes midianitas enquanto a clã de Abiezer (clã de Gideão) só realizara funções preparatórias. A resposta branda de Gideão satisfez os efraimitas.

8:4. Vindo Gideão ao Jordão. Gideão e seu bando de trezentos perseguiram os reis midianitas, Zeba e Salmuna, além do Jordão.

8:5. Dai, peço-vos, alguns pães. Gideão e seu exército passaram por Sucote, a leste do Jordão e norte do Jaboque. Uma vez que o exército estava cansado e com fome, Gideão pediu aos homens de Sucote que lhe desse alguns filões (lit. círculos) de pão. As autoridades da cidade preferiram não atender o pedido, sem se preocupar com o bem-estar de seus irmãos em Canaã. Zombaram de Gideão, perguntando-lhe se Zeba e Salmuna já estavam em suas mãos para que fizesse tal exigência. Gideão ameaçou punir os homens de Sucote logo após derrotar os reis midianitas, e então partiu.

8:8. Dali subiu a Penuel. Em Penuel, a leste de Sucote, Gideão fez o mesmo pedido e recebeu resposta semelhante. Os homens de Penuel orgulhavam-se de sua torre, a qual lhes servia de forte quando atacados.

Gideão ameaçou destruir a torre quando retornasse em paz – isto é, como vencedor sobre os midianitas.

8:10. Estavam, pois, Zeba e Salmuna em Carcor. O lugar não foi identificado. Seu nome significa terreno palmo e macio.

8:11. Subiu Gideão pelo caminho dos nômades. Os midianitas estavam escapando pala a região do deserto, que era habita, da apenas pelos povos nômades. Não esperavam que Gideão os perseguisse até lá. Ao oriente de Noba e Jogbeá. Jogbeá pode ser identificada como Jubeiate, 24,14kms a sudeste de Penuel. Que se achava descuidado. Os midianitas achavam que estavam suficientemente distantes dos homens de Gideão para afrouxarem a guarda. Imaginavam-se em segurança e por isso foram surpreendidos por Gideão.

8:12. Prendeu os dois reis dos midianitas..., e desbaratou todo o exército. Quando os reis foram capturados, o exército midianita foi novamente tomado de terror.

8:13. Voltando, pois, Gideão... pela subida de Heres. Em algum lugar ao longo da rota, ele se encontrou com um jovem do qual recebeu a informação relativa às autoridades e anciãos de Sucote.

8:14. O qual deu por escrito os nomes dos príncipes e anciãos de Sucote. A escrita já era largamente conhecida no tempo dos Juízes. Nossos primeiros documentos escritos datam de 3000 A.C. Documentos de Ras Shamra (antiga Ugarit) em Canaã datam do século quinze A.C.

8:16. Com eles deu severo lição aos homens de Sucote. Veja 8:7, onde Gideão fez a ameaça: “Trilharei a vossa carne com os espinhos do deserto, e com os abrolhos”. Embora essa forma de castigo não nos seja conhecida, sabemos que Gideão recompensou os homens de Sucote por sua recusa em ajudá-lo.

8:17. Derribou a torre de Penuel, e matou os homens da cidade. Isto, também, está de acordo com sua ameaça anterior (8:9).

8:18. Que homens eram os que matastes em Tabor? Literalmente, onde estão eles...? A pergunta implica em que Gideão já sabia que Zeba e Salmuna tinham matado seus irmãos. Sua resposta foi em forma de arrogante lisonja: “Eram iguais a você, homens de aspecto principesco” (ICC).

8:19. Se os tivésseis deixado com vida, eu não vos mataria. Matando seus irmãos, os midianitas impuseram a Gideão o dever da vingança de sangue (Dt. 19:6). Gideão explicou que eram seus irmãos legítimos, isto é, não só por parte do pai mas da mesma mãe também.

8:20. E disse a Jéter, seu primogênito: Dispõe-te, e mata-os. Isto acrescentaria mais humilhações aos reis midianitas. O rapaz, contudo, não puxou da espada.

8:21. Levanta-te, e arremete contra nós. Com altivez de espírito os midianitas desafiaram Gideão a matá-los. Gideão matou a Zeba e Salmuna sem mais delongas. E tomou os ornamentos em forma de meia lua, que estavam nos pescoços dos seus camelos. As coleiras dos camelos tinham ornamentos de metal em forma de luas (heb. 'sharon) presos neles. A palavra está relacionada com a palavra aramaica e siríaca para “lua” (sahar). Tais ornamentos eram usados por homens (8:26) e mulheres (Is. 3:18). Sem dúvida eram em sua origem amuletos usados para dai boa sorte e afugentar maus espíritos.

8:22. Domina sobre nós, assim tu, como teu filho. Gideão comprovou-se um homem dotado com o Espírito de Deus na consecução da vitória contra os midianitas. Seu povo quis fazer dele seu rei. Esta foi a primeira tentativa registrada de estabelecimento de uma monarquia hereditária em Israel. A recusa de Gideão foi consistente com o seu reconhecimento dos direitos reais do Senhor, o ideal teocrático destacado em todo o Livro de Juízes.

8:24. Dai-me vós, cada um as argolas do seu despojo. Tendo recusado o reino, Gideão fez um pedido para si mesmo. Pediu aos guerreiros que lhe dessem os brincos que tinham tirado dos midianitas caídos.

8:27. Fez Gideão uma estola sacerdotal. Com cerca de setenta libras em ouro assim obtidas (8:26) fez uma estola sacerdotal. A natureza exata da estola sacerdotal é incerta. Era o nome dado a uma parte das vestes do sumo sacerdote (Êx. 28:4). Em certas ocasiões era consultado como fonte de orientação divina (I Sm. 23:9-12; 30:7, 8). Talvez por causa disso se tornasse um objeto de idolatria. É possível que Gideão tenha feito um ídolo com uma estola sacerdotal semelhante à que era usado pelo sumo sacerdote. E todo Israel se prostituiu ali após ela. A estola sacerdotal de Gideão veio a ser um objeto de idolatria. Isto marca o trágico fim da carreira de um homem verdadeiramente grande. Gideão e sua família sofreram os resultados disso. Em 9:5 lemos sobre a morte da maior parte dos filhos de Gideão por causa do desejo de um deles, Abimeleque, de ser rei. Esta tragédia pode ter sua origem traçada na idolatria que resultou da construção da estola sacerdotal de Gideão.

8:28. E ficou a teria em paz durante quarenta anos. A vitória sobre os midianitas produziu uma geração de paz para os israelitas.

8:29. Retirou-se Jerubaal, filho de Joás, e habitou em sua casa. Parece que Gideão aposentou-se de sua vida ativa alguns anos antes de sua morte.

8:31. A sua concubina, que estava em Siquém, lhe deu também à luz um filho. Além dos setenta filhos de suas esposas, menciona-se Abimeleque, o filho de uma concubina, por causa da tentativa que iria fazer, depois da morte de Gideão, de se fazer reconhecido como rei de Israel (9:1 e segs.).

8:33. Tornaram a prostituir-se os filhos de Israel... e puseram a Baal-Berite por deus. Um Baal especifico foi mencionado como objeto da idolatria depois da morte de Gideão. Baal-Berite tinha um santuário em Siquém (9:4). Seu nome significa Senhor da aliança, uma possível referência à confederação das cidades-estados que consideravam Siquém como seu líder. O fato de Israel ter participado de um berit, ou aliança, com Deus no Sinai pode ter encorajado os israelitas a igualar o berit israelita com o berit cananeu. As escrituras esclarecem, contudo, que os homens não podem fazer tal comparação sem incorrer na ira do Deus de Israel.

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