Interpretação de Juízes 6

Em Juízes 6, os israelitas mais uma vez caem na idolatria e são oprimidos pelos midianitas. Um anjo do Senhor aparece a Gideão enquanto ele debulha o trigo em segredo e o chama para ser um libertador de Israel. Gideon expressa dúvidas e pede sinais de Deus para confirmar seu chamado. Deus pacientemente fornece sinais através de lã, assegurando Gideão de Sua presença. Gideão derruba o altar de Baal e o poste de Asherah, um ato de desafio contra a idolatria. Ele levanta um exército para lutar contra os midianitas, mas pede sinais adicionais de Deus. O capítulo retrata Gideão como um líder hesitante, mas obediente, revelando a paciência de Deus e Sua disposição de trabalhar com as limitações humanas. Juízes 6 ilustra o ciclo de desobediência, opressão e libertação enquanto destaca a capacidade de Deus de usar indivíduos improváveis para cumprir Seus propósitos.

Juízes 6
6:1. O Senhor os entregou nas mãos dos midianitas.
O ciclo do pecado, castigo e livramento repetiu-se outra vez. Os midianitas eram nômades que habitavam na região leste e sudeste do Mar Morto. Sua genealogia vai até Abraão, através de sua concubina Quetura (Gn. 25:1, 2).

6:2. Prevalecendo o domínio dos midianitas sobre Israel, fizeram estes para si, por causa dos midianitas, as covas que estão nos montes, e as cavemos e as fortificações. As incursões midianitas eram tão constantes que os israelitas tiveram que recorrer às cavernas e esconderijos das montanhas para se refugiarem.

6:3. Cada vez que Israel semeava, os midianitas e os amalequitas, como também os povos do Oriente. Associados aos midianitas estavam os amalequitas (cons. 3:13) e os povos do Oriente, um termo generalizado para os nômades do deserto da Síria.

6:4. E contra ele se acampavam. Em feitio tipicamente nômade eles acampavam temporariamente na terra, usando-a como pastagem pata seus rebanhos e assenhoreando-se dos seus produtos. Israel estava indefesa para interferir com os movimentos dos beduínos.

6:5. Não se podiam contar, nem a eles nem aos seus camelos. O uso dos camelos domesticados tomava possível, pela primeira vez, incursões a longas distâncias. A Bíblia refere-se a camelos antes da Era Patriarcal (Gn. 24:10 e segs.), mas esta é a primeira referência a uma incursão organizada na qual foram usados os camelos.

6:8. (O Senhor) enviou um profeta. A opressão midianita levou o povo a clamar a Deus por livramento. Um profeta apareceu no meio deles que fê-los lembrar do misericordioso livramento de Deus quando Seu povo estava no Egito, e sua subsequente desobediência.

6:11. Então veio o Anjo do Senhor. A mensagem a Israel veio por meio de um profeta, mas o chamado a Gideão veio por intermédio do Anjo do Senhor. Como em 2:1-5, deve ser mentor entendido por uma teofania – uma aparição do próprio Deus a Gideão. E Gideão... estava malhando trigo do lagar, para o pôr a salvo dos midianitas. Gideão, tal como seus companheiros israelitas, tinha de trabalhar secretamente para que os midianitas não se apoderassem dos cereais. Dentro dos limites de um lagar só uma pequena quantidade de trigo podia ser malhada de vez. Era uma atitude de desespero.

6:12. O Senhor é contigo, homem valente. A mensagem do anjo do Senhor parecia zombaria, pois Gideão sentia-se sem forças para ir ao encontro das necessidades do seu povo.

6:13. Senhor meu, se o Senhor é conosco, por que nos sobreveio tudo isto? O poder dos inimigos de Israel parecia provar que Deus não estava com o Seu povo. Gideão perguntou a respeito dos milagres do passado, e admirou-se por não vê-los em sua geração.

6:14. Vai nessa tua força, e livra a Israel da mão dos midianitas. Embora Israel fosse fraco diante dos seus inimigos, Deus prometeu a Gideão que libertaria o Seu povo.

6:15. Com que livrarei a Israel? Os líderes de Israel exibiam igualmente um espírito de humildade diante de Deus (Êx. 3:11; Is. 6:5; Jr. 1:6). Gideão protestou que a sua situação na vida era um empecilho que fosse líder em Israel.

6:17. Dá-me um sinal de que és tu, Senhor, que me falas. Gideão queria uma realização sobrenatural diante dele para confirmar o fato de que era realmente uma mensagem de Deus.

6:19. Entrou Gideão e preparou um cabrito. Isto seria a oferta (minha) que ele queria oferecer ao seu visitante (6:18). A terminologia é ambígua propositadamente. Em um sentido Gideão preparou um alimento que normalmente colocaria diante de um hóspede que desejasse honrar. Tal alimento, contudo, poderia também servir de oferta a Deus. Um sinal de que Deus aceitava a oferta validaria a mensagem que constituía uma fonte de perplexidade para Gideão.

6:20. Toma a carne e os bolos asmos, põe-nos sobre esta penha. O anjo deu ordens a que o alimento fosse colocado sobre um altar improvisado.

6:21. Então subiu fogo, da ponha, e consumiu a carne e os bolos. Era sinal de aceitação divina (Lv. 9:24; I Reis 18:38), o tipo de sinal pelo qual Gideão tinha esperado.

6:22. Ai de mim, Senhor Deus. Gideão assustou-se porque vira o (não um) anjo do Senhor. Jeová dissera a Moisés: “Homem nenhum verá a minha face, e viverá” (Êx. 33:20). Quando o Anjo do Senhor desapareceu, Gideão temeu que a teofania fosse um prenúncio de morte iminente.

6:23. Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo! Não temas! Não morrerás! Deus assegurou a Gideão que não teria de morrer. A mensagem do Visitante angélico foi confirmada, e Gideão se comprovaria “um homem valente”.

6:24. Então Gideão edificou ali um altar. Ele edificou um altar para comemorar a mensagem divina que recebeu. Shalom é a palavra hebraica que significa “paz”. O altar ainda existia quando o Livro de Juízes foi escrito.

6:25. Toma um boi que pertence a teu pai. Considerando que a idolatria era o pecado prevalecente em Israel, Gideão recebeu ordens de provar sua lealdade ao Deus de Israel repudiando o culto a Baal. Gideão devia tomar um boi para adorar o Senhor. Então devia destruir o altar de Baal e derrubar o asherah que estava ao seu lado. Este asherah, ou bosque (E.R.C.) ou poste-ídolo (E.R.A.), representava o elemento feminino no culto à fertilidade e consistia de um poste de madeira, ou o tronco de uma árvore, que era levantado ao lado do altar de Baal.

6:26. Edifica ao Senhor teu Deus um altar no cume deste baluarte. Gideão tinha de construir um altar ao Deus de Israel e usar a madeira do asherah para os preparativos do sacrifício.

6:27. Então Gideão... fez como o Senhor lhe dissera. Dez homens se associaram com Gideão neste ato, que foi realizado à noite por precaução contra possível oposição dos israelitas que simpatizavam com o culto a Baal.

6:29. E uns aos outros diziam: Quem fez isto? No dia seguinte os habitantes da aldeia ficaram enraivecidos com um ato que interpretaram como sacrilégio.

6:31. Contendereis vós por Baal? Quando os homens exigiram que Gideão fosse morto por este ato de profanação, Joás, seu pai, lançou-se em sua defesa. Ele disse: Se é Deus, que por si mesmo contenda. Em outras palavras, um deus que não pode defender-se não é digno da devoção do seu povo. Este é o significado da afirmação de Joás, que mais tarde ameaçou de morte a qualquer um que desposasse a causa de Baal.

6:32. Passou a ser chamado Jerubaal. Este é um outro nome para Gideão. Foi interpretado significando. “Baal contenda (yareb Ba’al). Serviu como uma espécie de lema para os adversários do Baalismo. Mais tarde o nome de Jerubaal foi substituído por Jerubesete (II Sm. 11:21), tal como Isbosete (II Sm. 2: 8) substituiu Esbaal (1 Cr. 8:33). O termo ba’al nos primórdios da vida hebraica era sinônimo de adonay. Ambos os termos significam “senhor” ou “mestre” e podiam ser usados em relação ao Deus de Israel. Depois do período de conflito como culto fenício a Baal, a palavra veio a ser sinônimo de idolatria. A palavra boshet, “vergonha”, era considerada substituto apropriado para Baal, termo componente de nomes próprios.

6:33. E todos os midianitas... se acamparam no vale de Jezreel. O vale se estende do Monte Carmelo até o vale do Jordão. Um braço passa entre o Monte Tabor e o outeiro de Moré, e outro entre o Moré e o Monte Gilboa. Jezreel tem sido um campo de batalha através da história porque penetra no coração da Palestina.

6:34. Então o Espírito do Senhor revestiu a Gideão. O espírito divino envolveu Gideão de tal modo que ele se transformou no instrumento usado pelo Espírito na realização dos propósitos divinos. E os abiezritas se ajuntaram após dele. A clã de Gideão, os abiezritas, foi a primeira a se agrupar ao seu lado. Manassés, Aser, Zebulom e Naftali vieram depois ajudar Gideão em sua campanha contra os midianitas.

6:37. Eis que eu porei uma porção de lã na eira. Novamente Gideão buscou um sinal para saber se podia ou não esperar a vitória na batalha. Colocou um pouco de lã no chão e disse que teria certeza da vitória se encontrasse a lã montada de orvalho e o chão á volta seco.

6:38. De manhã encontrou a lã molhada de orvalho e apertando a lã, do orvalho dela espremeu uma taça cheia de água. Para confirmar a sua certeza, ele propôs que no dia seguinte a lã ficasse seca, mas o chão à sua volta, molhado. O duplo sinal, com suas interpretações naturalisticamente impossíveis, era evidência para Gideão de que Deus concederia a vitória a ele e seu exército.

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