Estudo sobre Hebreus 13

Índice: Hebreus 1 Hebreus 2 Hebreus 3 Hebreus 4 Hebreus 5 Hebreus 6 Hebreus 7 Hebreus 8 Hebreus 9 Hebreus 10 Hebreus 11 Hebreus 12 Hebreus 13

VIII. EXORTAÇÕES PRÁTICAS, BÊNÇÃO PASTORAL E SAUDAÇÕES PESSOAIS (13.1-24)
De maneira semelhante à de Paulo (cf. Rm 12.4ss; Ef 5.21ss etc.), o autor conclui sua carta com instruções práticas. Ele está evidentemente seguindo um esboço catequético que trata de ética cristã e que já estava bem estabelecido na igreja primitiva. A sua preocupação é que os leitores exerçam o amor fraternal (v. 1), que significa um interesse ativo pelo bem-estar de seus irmãos cristãos, e exerçam a hospitalidade (v. 2), que tem sua própria compensação (cf. Gn 18—19), e que tenham um sentimento de compaixão por aqueles que estão na prisão e pelos que estão sendo maltratados (v. 3) para prover às necessidades deles, pois eles, sendo humanos também, são suscetíveis a dificuldades idênticas (v. 3), e que eles não somente reconheçam a honorabilidade do casamento e a santidade da intimidade sexual dentro dos laços do casamento, mas também a maldade da imoralidade e do adultério (v. 4), e, finalmente, que estejam contentes com o que têm, guardando a sua mente da avareza (v. 5), pois Deus é seu ajudador e provedor. A única resposta inteligente então à compreensão de tal cuidado providencial é a dada pelo salmista: não temerei (v. 6b).
O autor também dá aos leitores conselhos acerca do bem-estar da Igreja. Ao relembrar a vida de fé dos seus líderes e a maneira em que eles morreram, i.e., o resultado da vida que tiveram (gr. ekbasis), serão estimulados a imitá-los (v. 7). Mas o maior de todos os padrões a serem imitados é Jesus Cristo (v. 8). ”Líderes humanos podem passar, mas Jesus Cristo, o supremo objeto e tópico do seu fiel ensino, permanece, e permanece o mesmo: nenhuma nova adição à sua verdade é necessária” (J. Moffatt, Epistle to the Hebrews, ad loc.). O autor também adverte contra afastar-se das doutrinas dos seus líderes, levados pelos diversos ensinos estranhos (v. 9). O que eram esses ensinos não sabemos. O autor só menciona alimentos (cf. Cl 2.16ss) e não detalha. Não obstante, o objetivo dessa observação é mostrar que o cristianismo na sua forma mais verdadeira não é regulada por coisas exteriores; é uma questão do coração fortalecido pela graça, por influências espirituais (v. 9).
Os v. lOss são de difícil interpretação. Eles podem significar que, embora o cristianismo não dependa de coisas exteriores, nem por isso lhe falta qualquer coisa essencial como alguém poderia ser levado a concluir. Aliás, os cristãos realmente participam daquele altar único que foi barrado aos adoradores da antiga aliança. Na dispensação anterior, os sacerdotes participavam de todos os sacrifícios oferecidos nos altares de Israel, exceto daquele que era oferecido no Dia da Expiação (Lv 16.27), pois o sumo sacerdote leva sangue de animais até o Santo dos Santos, como oferta pelo pecado, mas os corpos dos animais são queimados fora do acampamento (v. 11). Não podiam ser comidos pelos sacerdotes, nem pelo sumo sacerdote. Nós, cristãos, no entanto (e aqui o contraste entre a antiga e a nova alianças é destacado novamente), participamos exatamente daquele sacrifício de expiação — o sacrifício do Dia da Expiação — ao participarmos de Cristo, pois ele é seu grande cumprimento (cf. Spicq, Comm. v. II, p. 424). Que Cristo é de fato o antítipo desse grande sacrifício agora é tornado ainda mais claro pelo autor nas palavras que seguem: Assim como o corpo do animal sacrificial, morto no Dia da Expiação, era levado para fora do acampamento e queimado, Jesus foi levado para fora das portas da cidade para sofrer pelo povo e santificá-lo por sua morte (v. 11,12).
Por outro lado, esses versículos podem significar que o cristianismo não é de forma alguma determinado por coisas exteriores como as celebrações exteriores tão essenciais para a antiga ordem. Para provar isso, o autor ressalta que o cristianismo depende do sacrifício do qual ninguém tem permissão de participar — o sacrifício da expiação. Até o sumo sacerdote, uma grande figura que era, foi proibido de comer dele (cf. Lv 16.27), pois a lei prescrevia que os corpos daqueles animais sacrificiais tinham de ser levados e queimados fora do acampamento (v. 11). Agora, como o autor já mostrou, Jesus é o cumprimento daquilo para o qual o sacrifício no Dia da Expiação apontava, e é por isso que ele também sofreu fora das portas da cidade (v. 12) . Por isso, o serviço que ele exige “não consiste de forma nenhuma em uma refeição ritual. Consiste, antes, em sofrer o desprezo e a rejeição do mundo junto com ele” (cf. acerca desse ponto de vista Scott, Comm., ad loc.).
Pode haver também outros pontos de vista. Mas, qualquer que seja o correto, não é necessário ver na exortação em que é baseado, saiamos até ele, fora do acampamento (v. 13), qualquer ordem de deixar o judaísmo ou qualquer outra religião lícita (em contraste com Manson, Epistleto the Hebrews, p. 151). E algo mais concreto que isso, significando simplesmente que você precisa se identificar totalmente com Jesus, mesmo que isso signifique suportar a desonra que ele suportou (v. 13). Esse tratamento deve ser esperado e não tem maiores consequências, visto que este mundo não é a nossa pátria; buscamos a cidade celestial que há de vir (v. 14).
Visto, portanto, que o cristianismo não é uma questão de rituais exteriores, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é fruto de lábios que confessam o seu nome (v. 15; cf. Os 14.2; cf. tb. a preponderância desse conceito de adoração entre os membros da seita do mar Morto: Manual da Disciplina 9.3ss; 9.26; 10.6,8,14; O Rolo do Hino 11.5, na tradução de A. Dupont-Sommer, The Essene Writings from Qumran, 1961). A adoração com os lábios não é suficiente, no entanto. Tem de ser acompanhada de boas obras (repartir com os outros, em particular, é destacado) que também são sacrifícios aceitáveis para Deus (v. 16).
Nas palavras finais de orientação do autor, há um pedido a seus leitores para que sejam submissos a seus líderes cristãos encarregados do bem-estar de todas as almas sob seus cuidados (v. 17). Há também uma exortação para a oração: Orem por nós [...] para que eu lhes seja restituído em breve (v. 18,19). Esse pedido de oração pode indicar que o autor esteja na prisão, mas não necessariamente.
Tendo feito um pedido de oração, ele agora apresenta uma oração de bênção por eles. Nela está contida a única referência explícita à ressurreição de Cristo na carta: Deus pelo sangue da aliança eterna trouxe de volta dentre os mortos o nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das ovelhas (v. 20). A frase “pelo sangue da aliança eterna” pode ter sido tomada de Zc 9.11. Ali o sangue da vítima foi o que consagrou a aliança messiânica. Se for esse o caso, o autor está dizendo de novo que Cristo, em virtude de seu sacrifício, foi feito o mediador supremo da nova aliança (cf. Spicq, Comm., v. II, p. 435-6). Sua ressurreição demonstra de forma conclusiva que o seu sacrifício foi aceito e que a aliança foi ratificada. Deus agora está pronto para nos equipar em todo o bem para \fazermos\ a vontade dele (v. 21). E tudo isso é realizado por meio de Jesus Cristo. Não está definido a quem a doxologia é dirigida, se a Deus ou a Jesus Cristo (v. 21).

Uma saudação pessoal do autor conclui sua palavra de exortação, que ele diz ter sido breve (v. 22). Ele menciona que certo Timóteo foi posto em liberdade, ou que ele já partiu para sua viagem, e que ele mesmo tem o firme propósito de acompanhá-lo em sua viagem e visita a eles (v. 23). A palavra de exortação parece ter sido escrita à gente comum, e não aos líderes (v. 24), ou então isso é uma forma diplomática de se dirigir a uma comunidade, incluindo seus líderes, da qual ele não é membro. Os da Itália (v. 24) é a pista principal para o enigma de quem eram os leitores, talvez indicando que a carta foi enviada a Roma. Mas, visto que essa expressão é ambígua, pode significar “os da Itália” como “os na Itália”, indicando que a carta foi escrita em Roma a italianos que moravam distante da capital. O autor conclui com uma segunda bênção: A graça seja com todos vocês (v. 25).