Significado de Gênesis 38

Gênesis 38

Gênesis 38 é um capítulo do primeiro livro da Bíblia que conta a história de Judá e Tamar. Este capítulo é uma partida da narrativa de José, que domina os capítulos circundantes, e é um conto intrigante de engano, traição e redenção.

O capítulo começa com Judá se casando com uma mulher cananeia chamada Shua e tendo três filhos com ela. Quando seu filho mais velho, Er, morre, Judá instrui seu segundo filho, Onã, a engravidar a viúva de Er, Tamar, de acordo com o costume do casamento levirato. No entanto, Onã se recusa a cumprir esse dever e Deus o pune com a morte. Judá então promete a Tamar seu terceiro filho, Shelah, quando ele tiver idade para se casar, mas ele não cumpre sua promessa, deixando Tamar viúva.

Frustrada com a promessa quebrada de Judá, Tamar resolve o problema com as próprias mãos e se disfarça de prostituta para seduzir Judá. Ele cai na armadilha, a engravida e depois descobre que ela está grávida. Ao saber que Tamar está grávida de seu filho, ele reconhece seu erro e a declara mais justa do que ele. Tamar dá à luz filhos gêmeos, Perez e Zerá, que mais tarde se tornam parte da genealogia de Jesus. 

No geral, Gênesis 38 é um relato fascinante da luta de uma mulher pela justiça e seu eventual triunfo sobre as normas patriarcais de seu tempo.

Comentário de Gênesis 38

Gênesis 38.1-30 Embora algumas pessoas considerem a história de Judá e Tamar uma intromissão desnecessária na passagem a respeito da vida de José, ela se encaixa perfeitamente no fluxo narrativo. Primeiro, o texto nos fornece um atordoante contraste entre a moral de Judá e a de José. Depois, a história de Judá ilustra a posterior desintegração da família de Jacó. Os filhos de Jacó venderam José, e agora Judá se casa com uma mulher de Canaã e tem relações sexuais aparentemente com uma “prostituta” cananita (na verdade, a viúva de um de seus filhos; v. 11-16). Se este processo continuasse, a família de Jacó, a família da promessa, se tornaria como o povo de Canaã. O fato de a linhagem do Messias vir da linhagem de Judá é um claro sinal da graça e da misericórdia de Deus (Gn 49.10; Mt 1.2,3). Sendo assim, é difícil não dar importância às questões narradas neste capítulo, pois elas estão relacionadas com os propósitos de Deus no plano da salvação. O assunto do capítulo não é muito agradável, mas seu objetivo é didático, e o resgate revela-se salvador; demonstra que o Senhor virá da família de Judá e de Tamar!

Gênesis 38.1 A família de Jacó estava dissolvendo-se aos poucos. Primeiro, Simeão e Levi se deixaram levar pela sede de vingança em Siquém (Gn 34). Depois, Rúben, o primogénito, teve relações sexuais com Bila, concubina do pai (Gn 35.22). Posteriormente, os irmãos de José o venderam para ser escravo (Gn 37). Agora, Judá, o quarto filho de Leia, deixou a família da promessa, em que fora criado, para se unir aos amigos cananeus. E aconteceu, no mesmo tempo, que Judá desceu de entre seus irmãos e entrou na casa de um varão de Adulão, cujo nome era Hira. Este vivia em Adulão — lugar montanhoso à noroeste de Hebrom; mais tarde, seria um refúgio de Davi (1 Sm 22.1), Durante o período de dissociação de sua família, Judá considerou o cananeu Hira como um amigo e confidente (v. 12,20).

Gênesis 38.2 Judá tomou por mulher a filha de um varão cananeu. Como se já não bastasse Judá ficar amigo de um cananeu, ele ainda tomou uma mulher de mesma naturalidade como esposa.

Gênesis 38.3-5 Em uma sucessão rápida, três filhos nasceram da união entre Judá e a filha de Sua: Er [hb. ‘Er, acordado], Onã [hb. ‘Ownan, forte] e Sela [hb. Shelah, uma petição]. Quando este terceiro filho nasceu, Judá permaneceu em Quezibe que ficava a cerca de 5 km à sudeste de Adulão.

Gênesis 38.6 Judá se unira a uma mulher de Canaã e teve com ela filhos. Agora, já crescido, seu filho primogênito, Er, também se casa com uma cananita, Tamar. Dessa forma, Judá permite que sua família se misture com os cananeus. Tamar significa palmeira, indicando uma beleza terna e esguia.

Gênesis 38.7 O Senhor não julgou a mulher de Canaã, Tamar. Em vez disso, julgou Er, o filho primogênito de Judá, que era mau aos olhos do Senhor.

Gênesis 38.8 No antigo Oriente, se um homem morresse sem deixar um filho como herdeiro, era uma perda incalculável. A memória de uma pessoa só podia ser preservada por meio de seus descendentes. De forma a manter a linhagem familiar e o nome do falecido, um irmão ou outro parente próximo deveria casar-se com a viúva e gerar um filho, que continuaria a descendência. Isso é chamado de lei do levirato. [De acordo com essa lei, quando um israelita morresse sem ter um filho homem, o irmão ou o parente mais próximo deveria casar com a viúva e suscitar nela um filho; o primogénito dessa união era considerado o filho e herdeiro do primeiro marido.] O costume se tornou parte da lei mosaica (Dt 25.5-10; Rt 4.1-12).

Gênesis 38.9 Por causa de seu egoísmo e de uma atitude perversa em relação a seu falecido irmão, Onã [ao ter relações sexuais com Tamar], derramava fora seu sêmem, não deixando que a viúva de Er concebesse uma criança. Ele temia que o nascido perpetuasse o nome de seu irmão, e não o seu próprio. [Daí em português o termo onanismo ser sinônimo de masturbação, uma prática condenável à luz da Palavra de Deus.]

Gênesis 38.10 E o que fazia era mau aos olhos do Senhor, pelo que também o matou. O Senhor julgou Onã, assim como Ele julgara Er (v. 7).

Gênesis 38.11 Em vez de assumir que a morte de seus dois filhos aconteceu devido à própria perversidade destes, Judá culpou a inocente Tamar. Ele temia perder seu último filho também. Então, Judá usou um pretexto insincero ao prometer que ela se casaria com seu último filho quando este tivesse a idade certa. Presume-se que Judá tinha esperanças de que Tamar, por fim, casasse com outra pessoa que não fosse da família dele.

Gênesis 38.12 Com a morte da esposa de Judá, apenas o filho mais novo lhe restou. A menos que Judá se casasse novamente, sua posteridade dependia somente de Selá. Então, Judá subiu aos tosquiadores, para ficar com seu amigo Hira. Aqui, contata-se que amizade entre Hira e Judá durou muito tempo. A época da tosa não era só um período de trabalho, mas também um tempo de celebração (2 Sm 13.23,24). Timna fica na região montanhosa de Judá (Js 15.10,57).

Gênesis 38.13 Este versículo sugere que Judá perdeu o contato com a sua nora Tamar após a morte de Onã. Não teria sido o sogro quem falara com Tamar a respeito da intenção de não casá-la com o filho mais novo dele.

Gênesis 38.14, 15 O período de luto já havia passado. Tamar continuou a usar as suas roupas de viúva na esperança de casar com Selá, mas percebeu finalmente que isso não aconteceria. Então, ela se cobriu com um véu para não ser reconhecida por Judá e fez-se passar por uma prostituta cultual. Seu ato desesperado foi motivado por um senso de justiça, pois Judá quebrara a promessa de casá-la com Selá. Além disso, ela não havia feito nada para se tornar uma viúva esquecida. As mortes de seus maridos não foram sua culpa. O termo usado aqui para prostituta (hb. zônâ) é o utilizado de modo geral nos textos bíblicos em hebraico. Entretanto, seu significado é esclarecido no versículo 21, em que a palavra específica para prostituta cultual [hb. qedeshâ] é usada (veja v. 21). Uma prostituta comum não disfarçava seu rosto com véu; ao contrário, fazia tudo que podia para se tornar mais atraente e sedutora (compare com a cena de sedução em Pv 7). Entretanto, uma prostituta cultual escondia o rosto de seu “cliente” como um meio de manter o mito de que o enlace sexual entre eles era um ato espiritual, e não meramente físico. A prostituta cultual era considerada um instrumento da deusa Aserá, e deitar-se com ela era um rito de adoração na cultura de Canaã. Judá tinha muita familiaridade com estes conceitos, como se pode observar em suas ações.

Gênesis 38.16 Prostituta cultual ou não, ainda havia um preço a ser pago.

Gênesis 38.17 A promessa de Judá de dar-lhe um cabrito, em circunstâncias normais, seria suficiente como pagamento. Contudo, Tamar insistiu para que ele lhe desse alguma coisa como penhor.

Gênesis 38.18 O selo, o lenço e o cajado eram meios de identificação na antiguidade. O selo era um anel ou sinete, usado para selar, que era esculpido em pedra, metal ou marfim, e ficava pendurado no pescoço de quem o usasse. Para confirmar um trato ou uma negociação, os antigos costumavam pressionar o selo na argila úmida. Fazendo uma transposição para os dias de hoje, era como se Judá tivesse usado um cartão de crédito, [a palavra traduzida como lenço, provavelmente era um cordão, onde o selo era pendurado]. O cajado de Judá também era marcado de maneira distintiva. Tamar engravidou de Judá, como planejara. Agindo assim, ela confirmou que não era uma prostituta cultual, pois esta, quando engravidava, normalmente usava algum método abortivo para permanecer como uma suposta representante humana da “deusa virgem”. Por mais inaceitável que pareça o estratagema de Tamar, na concepção de um filho de Judá, podemos observar Deus agindo por meio de situações que aparentemente não são adequadas para revelar a Sua bondade. O fato de Deus agir ocasionalmente mediante circunstâncias impróprias produzidas pelo homem não é um desculpa para perpetuar uma vida de pecados, mas sim um motivo para celebrar a Sua misericórdia. A vontade de Deus será feita apesar das atitudes dos pecadores que tentam arruinar a obra divina.

Gênesis 38.19 Tamar recomeçou a usar as suas vestimentas indicando luto, pois elas deixavam claro a todas as pessoas da comunidade que Judá quebrara a promessa que lhe fizera, e não ela.

Gênesis 38.20 Quando Hira foi fazer o pagamento que Judá prometera (v. 17), Tamar já havia desaparecido.

Gênesis 38.21 Prostituta cultual é uma expressão que significa literalmente mulher sagrada e refere-se à prostituição religiosa. Tais mulheres exerciam as práticas sexuais como parte do culto pagão local. O termo utilizado em hebraico para a mulher sagrada é qedeshâ, e o significado básico da expressão ser sagrado (hb. qadash) não é pureza, como muitos imaginam, mas separação, ou seja, reservado para uma função especial. Assim, o que fazia com que os cananeus diferenciassem uma prostituta comum de uma prostituta cultual era o fato de as últimas estarem separadas para propósitos religiosos. De forma similar, em Israel, objetos comuns poderiam ser abençoados por sacerdotes e separados para a sagrada adoração a Deus. Assim, pessoas comuns são diferenciadas das santas, pois estas adoram a Deus em espírito e em verdade e estão separadas para uso do Senhor. Na Bíblia, é dito que Deus é santo (Is 6.3). Assim, além de ser puro e justo, também é destacada Sua distinção em relação a todas as coisas criadas por Ele e pelo homem (inclusive os deuses pagãos, que são invenções da mente humana). Em outras palavras, Deus transcende; é superior, distinto, único e absoluto. Sua misericórdia está em todo lugar e pode ser observada em tudo que Ele criou, mas Ele próprio não deve ser confundido com a Sua criação, pois Sua glória excede a tudo, até os céus (SI 113.5).

Gênesis 38.22-24 Após aproximadamente três meses, a gravidez de Tamar já era evidente. Judá percebeu nesta situação uma oportunidade de livrar-se dela; então, ele ordenou que a nora fosse levada para fora da cidade e queimada. A lei de Moisés menciona essa punição para certas prostitutas (Lv 21.9). Mas, nesta ocasião, Judá não estava usando a lei de Deus para promover a justiça. Ele queria simplesmente acabar com a mulher que acreditava ter destruído a sua família.

Gênesis 38.24 A imediata reação de Judá nos faz lembrar de Davi perante o julgamento do Senhor em 2 Samuel 12.5.

Gênesis 38.25 A identificação de Judá como o culpado pela gravidez de Tamar guarda uma semelhança impressionante com a identificação de Davi também como o culpado no episódio com o profeta Natã (2 Sm 12.7).

Gênesis 38.26 Mais justa é ela do que eu. Judá, um dos herdeiros da eterna aliança com o Deus vivo, foi humilhado por uma mulher. Para o próprio bem, ele confessou seus pecados.

Gênesis 38.27 O nascimento de gémeos era uma bênção especial do Senhor. Esta passagem dá continuidade ao tema bíblico de competição entre os irmãos (capítulos 4 e 25—28).

Gênesis 38.28 Não havia como cometer erros a respeito de quem nascera antes. A parteira amarrou um fio vermelho no braço do menino, para se certificar de que todos saberiam qual deles veio ao mundo primeiro.

Gênesis 38.29 O outro bebê encontrou uma brecha para sair quando o primeiro recolheu a mão. Apesar de seu irmão ter posto a mão para fora antes dele, Perez foi o primeiro a nascer. Ele se tornou aquele que está na linhagem de Davi e, por fim, de Jesus (Rt 4.18; Mt 1.3).

Gênesis 38.30 Perez e Zerá estabeleceram suas famílias na casa de Judá (1 Cr 2.3-8). Selá também teve uma descendência (Nm 26.19-22). Tamar se tornou um membro da família da promessa, mesmo sendo uma mulher cananeia (Rt 4-12). Mateus menciona Tamar na linhagem do Messias. Ela se tomaria uma heroína da fé, apesar de suas origens e da natureza de suas ações (Mt 1.3).

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