Significado de Gênesis 15

Gênesis 15

Gênesis 15 relata a promessa de Deus a Abrão (mais tarde Abraão) de numerosos descendentes e da terra de Canaã. Deus reafirma esta promessa a Abrão através de uma visão, enfatizando sua fé como justiça. O capítulo culmina com uma cerimônia solene de aliança, simbolizada por um braseiro fumegante e uma tocha acesa passando entre os animais sacrificados, selando o acordo entre Deus e Abrão.

Comentário de Gênesis 15

Gênesis 15.1-21 Esta passagem é um dos textos que apresentam a aliança abraâmica (ver Gn 17-1-22; 18.1-15; 22.15-18; 26.23, 24; 35.9-15; compare com Gn 12.1-3,7; 13.14-17).

Gênesis 15.1 A expressão depois destas coisas indica decorrência de tempo, transição (Gn 22.1). O que se segue é um acontecimento novo na vida de Abrão: veio a Palavra do Senhor a Abrão em visão. O escritor do livro de Hebreus nos lembra que Deus fala muitas vezes e de várias maneiras (Hb 1.1). O uso de uma visão é apenas um dos meios pelos quais Deus interage com os Seus servos. Esta foi a terceira aparição do Senhor a Abrão desde a chegada deste a Canaã. (A primeira foi em Gênesis 12. 7, e a segunda em Génesis 13.14-17; 17.) Deus disse: Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão. A melhor coisa que uma pessoa pode ter em toda a vida é um relacionamento pessoal com Deus.

Gênesis 15.2 A expressão Senhor Jeová é uma tradução das palavras hebraicas YHWH Adonai, usadas para se referir a Deus; significa o mesmo que Yahweh. Abrão e Sarai não tinham filhos (Gn 11.29,30). Mais tarde, saberemos que Abrão teve seis filhos com uma concubina chamada Quetura (Gn 25.1-6). A relação dele com Quetura provavelmente aconteceu depois dos acontecimentos deste capítulo. De acordo com o costume da época, o homem que não tinha filhos adotava alguém, possivelmente um escravo, para se tornar seu principal herdeiro. Se mais tarde este homem viesse a ter um filho natural, este tomaria o lugar daquele que foi adotado como principal herdeiro. Leis similares faziam parte dos códigos legais do extremo Oriente, incluindo o famoso Código de Hammurabi, da Babilônia. Aqui, lemos sobre o damasceno Eliézer, que poderia ter tido a honra de ser o herdeiro de Abrão e Sarai, já que o casal não tinha um filho natural até então. Alguns estudiosos cogitam a possibilidade de Eliézer ter sido o servo que, mais tarde, buscou a esposa para Isaque (Gn 22.5; 24.2).

Gênesis 15.3 A palavra semente aqui é usada em lugar de filho. Também pode ser traduzida como descendentes. (Outras ocorrências: Gn 3.15; 15.5,13,18).

Gênesis 15.4 Aquele que de ti será gerado, esse será o teu herdeiro. Eliézer não era o filho natural de Abrão; então, Deus promete que Abrão geraria um filho, mesmo tendo idade avançada.

Gênesis 15.5 Olha, agora, para os céus e conta as estrelas, se as podes contar. Apenas o Criador pode contar as estrelas (SI 147.4; Is 40.26). Assim, esse pronunciamento significava apenas que os descendentes de Abrão seriam inúmeros (Gn 22.17; compare com Gn 13.16). O termo traduzido como descendência é a mesma palavra hebraica usada para semente. E uma alusão ao Messias por vir (Nm 24.7; Is 6.13).

Gênesis 15.6 E creu ele no Senhor, e foi-lhe imputado isto por justiça. Quando Deus fez a promessa, Abrão creu no Senhor. O verbo “crer” vem da raiz hebraica ‘amam, que significa “ser estabelecido ou confirmado”. No momento em que Deus fez a promessa, Abrão creu, obedecendo às condições (Gn 12.4; 22.3). Nada marcou mais a vida de Abrão e Sarai do que sua crença em Deus (Hb 11.8-19). Essa crença é justamente a fé no único Deus vivo e verdadeiro que salva e justifica o pecador (Jo 12.11). Crer foi imputado como um ato de justiça a Abrão. Algumas pessoas pensam que na época veterotestamentária os indivíduos eram salvos pelas suas boas obras, e não por sua fé, mas esta é uma ideia errônea. Abrão não foi salvo por causa da sua vida justa, mas por acreditar em Deus e ser declarado justo por Ele. A única obra válida é a obra que Deus realiza em nós por meio da nossa fé nele (Jo 6.28,29).

Gênesis 15.7 Eu sou o SENHOR, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para a herdares. Esta é uma autêntica declaração do Senhor. Sua graça permite que uma pessoa seja transportada de uma condição espiritual para outra melhor e viva pela fé (Cl 1.13). (Sobre Ur, ver Gn 11.28,31.)

Gênesis 15.8 Senhor Jeová, como saberei que hei de herdá-la? Estas palavras indicam que Abrão estava pedindo ao Senhor um sinal de Sua promessa, e não que Abrão estava incrédulo.

Gênesis 15.9, 10 Abrão tinha apenas de preparar o sacrifício e levá-lo a Deus. O Senhor daria o sinal (v. 17). Isso enfatiza a natureza unilateral e incondicional da aliança.

Gênesis 15.11 Abrão se preocupou em não deixar que o sacrifício servisse de alimento aos abutres, a fim de que ele pudesse ver o grande sinal do Senhor. Assim, durante o resto do dia, Abrão ficou enxotando as aves predatórias, enquanto esperava o sinal divino.

Gênesis 15.12 E, pondo-se o sol, um profundo sono caiu sobre Abrão. Caiu sobre ele um profundo sono semelhante ao sono de Adão (Gn 2.21). Todavia, Abrão ainda tinha consciência dos acontecimentos à sua volta. Seu estado de transe permitiu que ele se lembrasse destes momentos pelo resto de sua vida. E eis que grande espanto e grande escuridão caíram sobre ele. Temor é um tipo de reação comum ante a indescritível santidade do Senhor (Sl 113.4-6; Is 6.3; 40.25). Abrão estava para experimentar a presença de Deus. [Contudo, é possível que as aves de rapina, as densas trevas e o grande espanto também tipifiquem os ataques espirituais que a descendência de Abrão experimentaria, conforme é revelado pelo Senhor no versículo seguinte, bem como a noite escura da alma, antes de ser salva por Deus.]

Gênesis 15.13 Então, disse a Abrão: Saibas, decerto, que peregrina será a tua semente em terra que não é sua; e servi-los-á e afligi-la-ão quatrocentos anos. A expressão saiba que tem a mesma ênfase da palavra que Deus dirige a Caim, advertindo-o do perigo (Gn 2.17). Peregrinos são aqueles que residem temporariamente em uma terra estranha. Abrão era um peregrino [hb. ger ou geyr] em Canaã, e seus descendentes peregrinariam em outra terra, o Egito. Sem dúvida, o fato de sua descendência ser escrava e afligida por 400 anos impressionou Abrão, mas deve ter impressionado muito mais os primeiros leitores de Gênesis, pois eles eram justamente a geração que experimentara isso (Êx 12.40-42).

Gênesis 15.14 Mas também eu julgarei a gente à qual servirão, e depois sairão com grande fazenda. Deus cumpriu a Sua promessa. Ele enviou dez pragas que destruíram o Egito (Ex 7—11). Os israelitas saíram do cativeiro com muitas riquezas despojadas dos egípcios (Êx 12.31-36).

Gênesis 15.15 E tu irás a teus pais em paz. Esta é uma maneira eufemística de falar de morte. A expressão também pode indicar a promessa de vida após a morte (Gn 25.8; 35.29; 49.33; 1 Sm 12.23).

Gênesis 15.16 E a quarta geração tornará para cá. [Tendo em vista que não foi exatamente a quarta geração de israelitas que vivenciou o êxodo do Egito] A expressão quarta geração pode ter sido usada aqui para aludir a quatro séculos [400 anos], tendo em vista que as pessoas nos dias de Abrão ainda viviam muito [cerca de 100 anos]. A medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia. De certo modo, o Senhor estava retardando Seu juízo sobre os povos de Canaã (Gn 12.5). Ele esperaria até que as ações pecaminosas atingissem um nível crítico. A palavra traduzida como injustiça (hb. ‘avôwn) também pode significar culpa. A ordem de Deus para que a terra fosse tirada dos cananeus (Dt 20) só seria dada quando estivesse completa a medida de maldade dos amorreus [hb. ‘emoriy, aquele que fala orgulhosa e soberbamente].

Gênesis 15.17 O sono profundo recaiu sobre Abrão quando o sol se pôs (v. 12). Agora, em meio a uma densa escuridão, ele viu uma luz sobrenatural, um forno de fumaça e uma tocha de fogo — símbolos da glória e da presença do Senhor. Fumaça e fogo, acompanhados de nuvens e escuridão, geralmente precedem os juízos divinos (ver Ex 19.16-20; Sl 97.2-6; Is 6.1-5; J1 2.2,3; S f 1.14-16). Sendo assim, a visão do forno de fumaça e da tocha de fogo pode indicar o iminente julgamento de Canaã, bem como a ratificação da promessa de Deus a Abrão, uma vez que a presença do Senhor passou por aquelas metades do sacrifício. Este ato possui implicações profundas. Em antigos acordos solenes, ambos os aliançados deveriam passar pelo “corredor” entre os pedaços ensanguentados dos animais sacrificados. Esta simbologia deixava evidente uma ideia para eles: “eu ficarei assim caso não cumpra a minha parte no acordo”. Entretanto, Abrão não andou sobre este caminho de sangue. Apenas Deus percorreu tal via, representado pela fumaça e pelo fogo. Isso significava que a promessa de Deus a Abrão, a aliança abraâmica, foi feita especificamente pelo Senhor e que seu cumprimento era certíssimo, pois dependia dele (Gn 22.15-18)!

Gênesis 15.18 Abrão creu no Senhor (v.6), e isso lhe foi creditado como justiça. A crença dele no Senhor continua inspirando-nos fé hoje (Rm 4.22-25). Naquele mesmo dia, fez o Senhor um concerto com Abrão. A significativa palavra concerto [hb. bariyt, aliança] é acompanhada da promessa de Deus. E o acordo entre Deus e Abrão é entre um ser infinitamente superior e um inferior a ele; diferente do que ocorre em Génesis 21.27, onde o pacto é entre iguais (Abraão e Abimeleque), assim como em Génesis 26.28 (onde o acordo se dá entre Isaque e outro Abimeleque). Quanto à palavra semente, de novo é usada para aludir aos descendentes de Abrão, podendo referir-se a um único indivíduo ou a um povo. Os judeus que descenderiam de Abrão cumpririam a promessa como semente (no sentido coletivo) de Abrão. E Jesus Cristo, como Semente (no sentido individual e único), representava o cumprimento mais exato dessa promessa (G1 3.16). Um dia, o Salvador e Seu povo, juntos, representarão o cumprimento por completo da promessa (Mc 5.2-5). Note também que a promessa é: A tua semente tenho dado esta terra. O termo-chave para esta passagem é esta terra. Como já foi dito, a promessa de Deus a Abraão incluía uma terra e descendentes por meio do prometido Filho, a Semente da mulher (Gn 3.15; Is 6.13). A promessa incluía uma terra da qual manavam leite e mel, Canaã (que viria a tornar-se de Israel), conforme anunciado pela primeira vez em Génesis 12.7. Novamente, aqui e em textos posteriores, é dada grande ênfase a esta promessa que é repetida e renovada (ver Gn 17.6-8). Algumas vezes, Deus permitiu que muitos israelitas fossem exilados de sua terra, mas Ele nunca revogou Sua promessa perpétua a Abrão (Gn 17.8), a qual seria cumprida em sua plenitude quando Jesus Cristo se manifestasse ao mundo (Is 9.1-7). A extensão de terra ia desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates. Este rio do Egito pode ser o Nilo ou o rio que é chamado hoje de Wadi el ‘Arish, um riacho na fronteira entre o Egito e Israel. Quanto ao rio Eufrates, é especificamente o braço setentrional do Eufrates na Síria.

Gênesis 15.19-21 E o queneu, e o quenezeu, e o cadmoneu, e o heteu, e o ferezeu, e os refains, e o amorreu, e o cananeu, e o girgaseu, e o jebuseu. Esta lista das nações serve a dois objetivos: (1) definir os limites da terra; e (2) impressionar o leitor, pois não menos do que dez nações seriam suplantadas pela nação israelita. Os primeiros ouvintes destas boas novas devem ter ficado grandemente encorajados!

Gênesis 15.20 A maior parte dos heteus viveu na Ásia Menor (atualmente Turquia), mas havia alguns em Canaã na época (Gn 23). Os refains eram um povo que possuía uma grande e incomum estatura. Eles foram chamados de gigantes em 2 Samuel 21.15-22 (ver também Nm 13.33; Dt 2.11; 3.11,13).

Gênesis 15.21 O termo cananeu pode ser usado como uma ideia ampla, incluindo todos os grupos de pessoas que viviam em Canaã (Gn 12.6), ou em sentido mais restrito, como aqui, para indicar um povo em particular (Gn 10.15-20).

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