Interpretação de Mateus 23

Mateus 23

Algo do conteúdo deste discurso foi usado pelo Senhor anteriormente (Luc. 11:39 e segs.), mas agora ele faz a sua acusação no Templo em Jerusalém, na fortaleza dos seus inimigos.

23:1-12 Advertência contra os fariseus. Esta porção foi dirigida diretamente para os discípulos, embora na presença da multidão.

23:2 Na cadeira de Moisés se assentam, isto é, eles ocupam a posição de Moisés entre vocês, como expositores da Lei.

23:3, 4 Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem. Até onde o ensinamento deles apresentava o que Moisés ensinou, o povo devia obedecer. Porém, não os imiteis nas suas obras. Suas obras incluíam suas interpretações e perversões forçadas da Lei, que os capacitavam a zombar da importância espiritual do V.T. Suas múltiplas adições à Lei, aqui chamadas de fardos pesados e difíceis de carregar, faziam parte das suas obras. Nem com o dedo querem movê-los. Embora a casuística dos rabinos sem dúvida encontraria meios de escapar ao que era desagradável esta declaração provavelmente significa que eles nunca moviam um dedo para remover qualquer desses fardos (movê-los está em paralelo oposto a atam).

23:5 Filactérios. Pequenos estojos contendo tiras de pergaminho sobre as quais estavam escritas as palavras de Êx. 13:2-10, 11-17; Dt. 6:4-9 e 11:13-22. Os estojos eram amarrados com fitas à testa e no braço esquerdo. A prática surgiu depois do cativeiro de uma interpretação extremamente literal de Êx. 13:16. Os fariseus usavam-nas por ostentação. Alongam as suas franjas, borlas usadas nos quatro cantos da capa, de acordo com Núm. 15:38 e Dt. 22:12. Jesus usava essas borlas (Mt. 9:20; 14:36), mas os fariseus alargavam-nas por exibição.

23:6, 7 Lugar de honra nos banquetes e nas sinagogas eram objetos da ambição dos fariseus, além das efusivas saudações nas praças públicas, as quais chamavam a atenção para sua destacada posição. Mestre. Um título equivalente a professor ou doutor, que os judeus aplicavam aos seus instrutores espirituais.

23:8-12 As próximas palavras foram dirigidas especificamente aos discípulos. Os seguidores de Cristo não deveriam procurar serem chamados por esses títulos de mestre, Pai ou Guia, como os fariseus. Entretanto, esta não é uma proibição absoluta de hierarquia ou uso apropriado de títulos, pois o próprio Paulo se intitulou “pai” dos coríntios e chama Timóteo de “filho” (I Co. 4:15, 17). O maior mostra claramente a validade da diferença de postos. Mas um espírito de humildade deveria governar os crentes, não a ambição egoísta dos fariseus que usurpavam para si mesmos a autoridade que pertence a Deus.

23:13-36 Sete “ais” contra os fariseus. Aqui a atenção foi desviada dos discípulos para os fariseus, que faziam parte da multidão.

23:13 Hipócritas! Um epíteto destacando o fingimento dos fariseus e seus escribas. Fechais o reino dos céus. Na qualidade de líderes religiosos e reconhecidos intérpretes das Escrituras, deveriam ter sido os primeiros a atender a Jesus, influenciando os outros a segui-los. Quanto aos que estão entrando (o tempo presente indica disposição ou talvez futuridade – Dana e Mantey, Manual Grammar of the Greek New Testament, págs. 185, 186) não permitiam por causa de sua falsa liderança. O versículo 14 é uma interpolação de Mc. 12:40 e Lc. 20:47.

23:15 Rodeais o mar e a terra. Uma busca zelosa. Prosélito. Não o gentio temente a Deus que não era circuncidado (isto é, prosélito do portão), mas o gentio que fora persuadido a adotar o judaísmo in teta incluindo todas as tradições ensinadas por esses fariseus. Filho do inferno duas vezes mais do que vós. Os prosélitos feitos por esses fariseus que não eram espirituais (e sem dúvida que foram acrescentados a sua seita) apenas acrescentariam tradições rabínicas às suas noções pagãs.

23:16-22 O terceiro “ai” chama os fariseus de guias cegos e insensatos por terem pervertido a verdade do juramento. Já é bastante mau não se poder confiar na palavra de um homem sem o juramento. Mas os fariseus ensinavam que havia diferença na obrigatoriedade do cumprimento dos diversos votos. Os juramentos que usavam referências gerais ao templo ou ao altar não obrigava a pessoa a cumpri-los, mas se mencionasse mais especificamente o ouro do santuário ou a oferta do altar ficava obrigada a cumpri-los. Jesus mostrou o absurdo de tal raciocínio destacando que o maior (santuário, altar, Deus) inclui o menor (ouro, oferta, céu). À vista de tal perversidade, Cristo ensinou “De maneira nenhuma jureis” (Mt. 5:33-37).

23:23, 24 O quarto “ai” descreve o cuidado escrupuloso dos fariseus nas questões menos importantes e a sua negligência nos deveres mais importantes. O dízimo das diversas ervas baseava-se em Lv. 27:30.
Hortelã, endro, e cominho eram plantas de hortas, usadas para temperar alimentos. Justiça, misericórdia e fé. Essas obrigações éticas e espirituais (cf. Mq. 6:8) são o mais importante da lei e são portanto de importância primária, embora aquelas (o dízimo) também são próprias do povo de Deus. Através de tal prática os fariseus tinham escrupulosamente coado o mosquito (inseto leviticamente imundo que poderia cair no copo), mas engoliam um camelo (o maior dos animais imundos da Palestina; Lv. 11:4).

23:25, 26 O quinto “ai” descreve a deslocada ênfase dos fariseus sobre as coisas externas. Limpais o exterior do copo. A figura aponta para a preocupação dos fariseus com a purificação ritualística (rabínica, não de Moisés) e a negligência com o conteúdo do copo. Mas estes por dentro estão cheios de rapina e intemperança. Os fariseus sustentavam seu modo de vida pressionando os outros. Obediência ao ritual rabínico não poderia alterar esta corrupção interior.

23:27, 28 O sexto “ai” descreve a influência secreta dos fariseus. Sepulcros caiados. Na primavera, após a estação das chuvas, as sepulturas eram caiadas para que uma pessoa desavisada não se contaminasse cerimonialmente tocando-as por descuido. (Nm. 19:16; conf. Ez. 39:15). Esse costume há pouco cumprido forneceu uma ilustração oportuno da aparência atraente dos fariseus mas corrupção interna. Lucas 11:44 usa sepulturas em uma ilustração um pouco diferente.

23:29-31 O sétimo “ai” descreve os ouvintes do Senhor como participantes da mesma natureza de seus perversos antepassados. Construindo e embelezando sepulturas de profetas assassinados, supunham que estivessem desautorizando esses homicídios. Mas Jesus declarou que seus atos provavam exatamente o oposto. Pois, construindo sepulturas, eles apenas completavam o que seus pais (espirituais, como também raciais) tinham começado. Sua própria conspiração de matar Jesus (21:46; 22:15; Jo. 11:47-53) provou serem filhos dos que mataram os profetas.

23:32 Enchei vós, pois, a medida de vossos pais. Compare ordem semelhante a Judas, Jo. 13:27.

23:33 Raça de víboras. Conf. com acusação de João em 3:7, 34-36.

23:34 Eis que eu vos envio profetas. Uma declaração semelhante em Lc. 11:49 atribui esse enviar à “sabedoria de Deus”. Assim Jesus, como a própria personificação da sabedoria de Deus, declara-se senhor desse título (I Co. 1:24). Profetas sábios e escribas. Termos particularmente próprios para o seu auditório. Os termos poderiam incluir também as testemunhas da Igreja Primitiva, tais como Pedro, Tiago, Estêvão e Paulo. Essas perseguições que aqui foram preditas fariam transbordar a medida da culpa dos judeus, de modo que a destruição divina viria sobre essa geração da nação. Desde... Abel... até... Zacarias inclui todos os homicídios praticados no V.T, desde o primeiro livro (Gn. 4:8) até o último do cânon hebreu (II Cr. 24:20-22). O fracasso desses fariseus de aprenderem as lições da história e de se arrependerem de sua perversidade, também característica de seus pais, significava que aos olhos de Deus eles tinham parte na culpa. Perseguições ulteriores tornariam isso indiscutivelmente claro. Zacarias, filho de Baraquias. Em II Cr. 24:20 ele é chamado “filho do sacerdote Joiada”, talvez segundo um ilustre avô que morrera, há pouco, com a idade de cento e trinta anos (II Cr. 24:15). Mateus deveria ter documentos que davam o nome do seu pai. (Para apreciação de todos os pontos de vista, veja Broadus, Comm. on Matt, págs. 476, 477).

23:37-39 Lamentação sobre Jerusalém. Jesus já expressou sentimentos semelhantes anteriormente (Lc. 13:34, 35; 19:41-44).

23:37 Que matas os profetas. Este elo com o versículo 34 fornece fácil transição para a pública lamentação de Cristo sobre a cidade rebelde. Quantas vezes quis eu. Um testemunho involuntário da autenticidade do Evangelho de João, o único que registra as numerosas visitas de Jesus a Jerusalém.

23:38 Eis que a vossa casa ficará deserta. Conf. I Reis 9:7; Jr. 22:5;12:7. Casa tem sido diversamente interpretada como nação cidade e o Templo. Visto que Jesus proferiu essas palavras ao deixar o Templo pela Última vez (24:1), a interpretação do Templo é muito atraente. Um templo abandonado pelo Messias transforma-se em vossa casa, não de Deus.

23:39 ...me não vereis mais. O ministério público do Senhor terminara. Após a Ressurreição, Jesus apareceu apenas a testemunhas escolhidas (Atos 10:41). Até que venhais a dizer. Na segunda vinda de Cristo os judeus reconhecerão, como nação, o seu Messias rejeitado, e lhe darão boas vindas (Rm. 11; Zc. 12:10).

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