Interpretação de Mateus 18

Mateus 18

18:1. Quem é porventura o maior? Os antecedentes desta pergunta encontram-se na disputa entre os discípulos enquanto viajavam (Mc. 9:33; Lc. 9:46). Talvez fosse acesa pela proeminência dada aos três em Cesareia de Filipe (17:1) ou a Pedro no incidente do pagamento do imposto (17:27).

18:2-4 Chamando uma criança, ele advertiu os discípulos, dizendo que se não deixassem de pensar grandes coisas de si mesmos, seu problema não seria o de grandeza relativa, mas de entrada no reino dos céus (o reino messiânico que eles esperavam que estabelecesse). A ausência do orgulho da posição é o aspecto da infância aqui referido. Para se entrar no reino de Cristo, um homem deve compreender sua imperfeição pessoal, e sua inteira dependência do Senhor. Deve experimentar o novo nascimento (Jo. 3:3 e segs.)

18:5 Tal como este, isto é, uma pessoa que, crendo, tornou-se como um menino (conf. v. 6). Os versículos 5-14 já não tratam mais do menino da ilustração (1-4) mas de um crente semelhante a um menino. Em meu nome. Tendo Cristo por base. Acolhendo outros crentes por causa de Cristo (não por causa de prestígio, riqueza, etc.) é como se acolhêssemos o próprio Cristo (10:42).

18:6 Qualquer que fizer tropeçar a um destes pequeninos que creem em mim. Pequeninos também se refere a crente. O terrível julgamento que aguarda aqueles que prejudicara a fé dos crentes foi dramatizado por meio de uma comparação. Pedra de moinho. Literalmente pedra de asno, a grande pedra superior do moinho movida por um asno.

18:7 Embora seja inevitável que venham escândalos, pois fazem parte da disciplina de Deus para moldagem do caráter do crente, o ofensor humano é moralmente responsável por sua culpa.

18:8, 9. Assim, é necessário tomar as medidas mais drásticas para evitar-se a ofensa (Veja 5:29,30)

18:10 Destes pequeninos. Crentes como crianças (não crianças verdadeiras, anão ser que sejam crentes). Os seus anjos. Os anjos que têm o encargo de guardar os crentes como um grupo (Hb. 1:14). Não temos aqui suficiente justificação para a ideia de que cada crente individual tem um anjo particular que lhe foi designado. (Atos 12:15 reflete a opinião corrente sobre os anjos, mas não é necessariamente uma verdade.) O versículo 11 foi provavelmente interpolado de Lc. 19:10.

18:12-14 A importância de até mesmo o mais humilde crente está ilustrada pela parábola da Ovelha Perdida. Considerando que o pastor se preocupa grandemente por uma simples ovelha desgarrada, como é grande a nossa obrigação de não desprezar essas infelizes. Esta parábola foi usada em outra ocasião (Lc. 15:4-7) para ilustrar a salvação dos pecadores.

18:15-20 Instruções sobre o procedimento em relação aos ofensores.

18:15 Apesar das mais sérias advertências, ofensas serão feitas. Um resumo do procedimento foi apresentado para que o ofendido soubesse como reagir. Sua primeira responsabilidade é a de ir procurar o ofensor em particular, sem esperar que este se desculpe. Tal procedimento torna mais fácil obter uma confissão. Se tiver sucesso, ficará amigo do irmão ofensor e o restaurará na comunhão com o Senhor e com a congregação.

18:16 Se houver necessidade de uma segunda visita, é preciso que diversas testemunhas estejam presentes à entrevista (veja Dt. 19:15).

18:17 Dize-o à igreja. Quando o ofensor permanece impenitente (e o pecado é suficientemente grave para afetar a congregação), a igreja deve examinar o assunto.

A igreja aqui não quer dizer sinagoga, à vista das prerrogativas mencionadas em 18:18, 19. Uma igreja cristã está se formando, como indica a implícita ausência de Jesus (v. 20). Se a igreja fracassar e o ofensor não atender o seu conselho, deve ser tratado como alguém de fora (gentio, publicano). É claro que tal tratamento deveria envolver esforços para alcançá-lo com o Evangelho.

18:18 Tudo o que ligardes na terra (conf. 16:19). A decisão da congregação em tais assuntos, tomada através de oração, da Palavra e do Espírito, será ratificada no céu. Veja também Jo. 20:23.

18:19, 20 A promessa de que a oração será atendida se ao menos dois de vós concordarem fornece uma prova adicional de que as decisões tomadas através de oração pela congregação, nas questões de disciplina, serão divinamente aprovadas. Essa promessa relativa à oração de comum acordo deve ser considerada à luz de outros ensinamentos de Cristo sobre o assunto (conf. I Jo. 5:14). Ali estou eu no meio deles. Uma promessa da presença especial de Cristo na menor das congregações concebível.

18:21-35 Instruções sobre o perdão.

18:21 Senhor, até quantas vezes? A explanação anterior referente aos ofensores implica no desejo do ofendido de perdoar. Pedro ficou imaginando até onde o perdão deveria ser estendido por repetidas ofensas. Até sete? Os rabinos ensinavam (com base em Amós 1:3; Jó 33:29, 30) que bastavam três.

18:22 Jesus, entretanto, elevou a questão acima do reino da computação prática, exigindo setenta vezes sete. Em lugar de buscar um padrão numérico, o crente deve seguir o exemplo do seu Senhor (Cl. 3:13).

18:23 A parábola do servo inclemente ensina que os homens que experimentaram o perdão de Deus são obrigados a perdoar os outros. Este é o padrão do reino dos Céus (veja comentário sobre 13:11). O rei oriental (interpretado como sendo o Pai Celestial; v. 35) é apresentado quando fazia um acerto de contas com os seus escravos.

18:24 Um, aparentemente um sátrapa com acesso a grandes somas dos rendimentos do rei, foi descoberto estar devendo dez mil talentos. (O valor de um talento diferia em diversas ocasiões, de acordo com o metal envolvido, mas era sempre comparativamente alto.)

18:25-27 Entretanto, prostrando-se diante do rei, obteve um cancelamento completo da divida (em grego, empréstimo); pela graça do rei não foi considerado um desfalque.

18:28-30 Saindo da presença do rei, o servo perdoado foi acertar as contas com um dos seus conservos que lhe devia cem dinheiros (denarius, equivalente ao salário de um dia, 20:2), uma insignificantíssima quantia comparada aos talentos.

18:31-33 Não devias tu, igualmente, compadecer-se? Certamente os pecadores que experimentaram o perdão de Deus devem demonstrar um espírito idêntico para com os outros, especialmente porque as ofensas que os homens cometem uns contra os outros são infinitamente menores quando comparadas coma enormidade do débito para com Deus.

18:34, 35 O entregou aos verdugos. Eis aí o ponto crítico da interpretação. Não pode se referir à eterna ruína de alguém que foi verdadeiramente salvo, pois entraria em conflito com os mais claros ensinamentos de outras passagens. Não pode se referir também a algum purgatório contrário às Escrituras. Mas o fato de que o servo foi perdoado torna impossível que ele fosse um crente simplesmente professo. Entretanto, se encaramos os tormentos como males temporais com os quais o Pai celeste aflige os crentes que não perdoam, as dificuldades anteriores são evitadas. Verdugos (basanistaî) deriva-se do verbo basanizô, o qual se usa para descrever doenças (Mt. 4:24; 8:6), e circunstâncias adversas (Mt. 14:24). Ló "afligia a sua alma" em contato com os homens maus (II Pe. 2:8). Tais tormentos Deus usa para castigar e produzir um espírito adequado entre os seus filhos (I Co. 11:30-32). Assim, o perdão divino aqui é aquele que devemos experimentar diariamente para podermos desfrutar da comunhão perfeita como nosso Pai celestial, e isto se encaixa bem neste contexto no qual se discute o relacionamento entre crentes (vs. 16-20).

Mateus observa a saída de Jesus da Galileia e descreve a última viagem a Jerusalém. Uma comparação com Lc. 9:51–18:14 indica outra viagem a Jerusalém e um ministério que durou alguns meses. Assim um intervalo de talvez seis meses deve ser colocado em 19:1 entre deixou a Galileia e foi para o território da Judéia, além do Jordão.

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