Interpretação de Mateus 16

Mateus 16

16:1. Aproximando-se os fariseus e saduceus. Inimigos tradicionais, ligados por um ódio comum a Jesus. Os saduceus aparecem apenas em mais dois lugares no texto do Evangelho: no batismo de João (3:7) e na última semana de Cristo (22:23). Um sinal vindo do céu. Este pedido, semelhante ao de 12:38, menospreza todos os milagres anteriores de origem celestial. Isto eles pediram com desígnio oculto, “para o tentarem, obrigando-o a fazer o que antes se recusara, (12:39) ou mais, desacreditando-se caso fosse incapaz.
2,3. A parte da resposta de Cristo registrada em 16:2, 3 não existe em outros manuscritos antigos, mas alguns o contêm. A figura é semelhante a de Lc. 12:54-56. Chama a atenção para a capacidade do homem de predizer o tempo com os dados disponíveis, mas a completa incapacidade dos contemporâneos de Cristo de lerem os sinais dos tempos espirituais. A pregação de João, as obras e os ensinamentos de Jesus, a profecia das setenta semanas de Daniel – tudo deveria constituir fatores significativos para o discernimento.
4. O sinal do profeta Jonas. (Conf. comentário sobre 12:38-40.) Uma referência à ressurreição corporal de Cristo. Esse era o grande sinal para o qual sempre apontava quando pressionado (Jo. 2:18-22; Mt. 12:38-40), para os crentes uma preciosa prova de sua redenção, mas para os incrédulos um presságio do juízo de Cristo ressuscitado que estava por vir.
16:5-17:23 Esta quarta retirada leva Jesus novamente para o ambiente gentio, longe das tensões da constante oposição (conf. Betsaida Julias, 14:13; Fenícia, 15:21; Decápolis, 15:24, Mc. 7:31). Durante esse período, talvez com diversos meses de duração, aconteceu a momentosa confissão de Pedro, a detalhada predição de Sua próxima paixão, e a Transfiguração.
5-12. Conversa no caminho.
5. Para o outro lado, isto é, para o lado nordeste (Betsaida Julias, Mc. 8:22), a caminho de Cesaréia de Filipe (Mt. 16:13). Esqueceu-lhes levar pão. A rápida saída de Magadã pode ter causado esta omissão, de modo que só encontraram um pão velho no barco (Mc. 8:14).
6. Fermento dos fariseus e saduceus. (Sobre fermento, veja 13:33). A permeadora influência maligna desses declarados inimigos de Cristo é o ponto em questão.
7-11. Entretanto os discípulos, atrapalhados com o esquecimento, não perceberam o simbolismo. Homens de pequena fé. Jesus sabia que a sua incapacidade de entender era devido a sua ansiedade pelas provisões, e os lembrou das lições de confiança que já tinham aprendido.
12. Doutrina dos fariseus e saduceus. Os fariseus eram legalistas e tradicionalistas, cuja ênfase dada ao ritual era hipócrita e espiritualmente moribunda (Lc. 12:1). Os saduceus eram racionalistas, que não criam na ressurreição nem na existência de seres espirituais que não pudessem ser naturalmente explicados (Atos 23:8). Contavam entre os seus a hierarquia sacerdotal de Israel. A advertência contra tais ensinamentos sutis e racionalistas continua sendo pertinente.
13-20. A confissão de Pedro.
13. Bandas de Cesaréia de Filipe. As aldeias remotas. (Mc. 8:27). Não se diz que Jesus tenha entrado na cidade. Cesaréia de Filipe. Cerca de vinte e cinco milhas ao norte do Mar da Galiléia.
14. A variedade de opiniões que os homens tinham em relação a Jesus mostrava que, mesmo que muitos o relacionassem com a profecia messiânica, ninguém o via de maneira certa. João Batista era o precursor profetizado (3:1-3; 14:1, 2). Elias era aquele que precederia o "dia do Senhor" (Ml. 4:5, 6) Jeremias era esperado que aparecesse e restaurasse a arca que supostamente escondera (II Ma. 2:1-8).
15,16. Depois de levar os Doze a abandonarem idéias errôneas, Jesus pediu a sua opinião pessoal. Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Todos sem dúvida concordaram, mas Pedro portou-se à altura da situação com a resposta inequívoca. Declarações semelhantes foram pronunciadas antes, algumas bem antes (Jo. 1:41, 49), mas muitas noções falsas sobre o caráter e propósito do Messias precisavam ser removidas. Por isso a declaração de Pedro aqui não é o produto de entusiasmo prematuro mas de uma analisada reflexão e solene fé. A noção popular de um simples líder político foi suplantada pelo conceito do Messias como o Filho de Deus, o artigo definido o fazendo a distinção.
17. Tal compreensão espiritual não era o produto da humanidade desamparada (carne e sangue; compare esta expressão com Gl. 1:16; Ef. 6:12; Hb. 2:14), mas sim uma divina revelação. Verdades espirituais só podem ser compreendidas por aqueles cujas faculdades espirituais foram despertadas por Deus (I Co. 2:11-14). Tal discernimento espiritual era uma evidência do bem-aventurado estado espiritual de Pedro.
18. Sobre esta pedra edificarei a minha igreja. Aqui existe um óbvio jogo com as palavras Pedro (Petros, nome próprio indicando um pedaço de rocha) e pedra (petra, uma rocha). O corpo espiritual, a igreja, aqui mencionada pela primeira vez, constrói-se sobre o fato divinamente revelado a respeito de Cristo e confessado por Pedro (I Co. 3:11; I Pe. 2:4), conforme os homens vão tomando consciência e reconhecendo a Sua pessoa e obra (Crisóstomo, Agostinho). Outro ponto de vista interessante entre protestantes (Alford, Broadus, Vincent) é que Pedro (ao lado os outros apóstolos; Ef. 2:20; Ap. 21:14) é a pedra, mas sem a supremacia papal que lhe foi conferida pelos caprichos romanos centrados às Escrituras.
Inferno(equivalente a Sheol), o reino dos mortos.
As portas. A entrada para o Hades, que geralmente é a morte. A Igreja de Cristo, que seria inaugurada no Pentecoste, não ficaria à mercê da morte física, porque a ressurreição do Senhor garantiria a ressurreição de todos os crentes. Mais especificamente, os crentes que morrem antes da ressurreição vão imediatamente para Cristo, não para o Hades (Ef. 4:8, Fl. 1:23; II Co. 5:8).
19. As chaves do reino dos céus. Chaves significam autoridade para abrir. Te relaciona esta promessa com Pedro somente. Refere-se à escolha de Pedro, como o primeiro entre iguais, de oficialmente abrir o reino (desde o Pentecoste incluindo toda a esfera da fé cristã; conf. 13:3-52) aos judeus (Atos 2:14 e segs.) e gentios (Atos 10:1 - 11:18; 15:7,14). Alguns, entretanto, explicam a passagem escatologicamente, como se aplicando ao reino dos santos na terra durante o Milênio (A. J. McClain, The Greatness of the Kingdom, pág. 329 e segs.). O que ligares na terra. Esta parte da responsabilidade foi mais tarde concedido a todos os discípulos (18:18), que foram finalmente habilitados para a tarefa (Jo. 20:22, 23). Se Jo. 20:23 é uma explicação para o ligar e desligar, significando cancela e retenção de pecados, então Atos 10:43 é um exemplo do seu exercício. Através da proclamação do Evangelho, faz-se o anunciamento de que a aceitação confere desligamento da culpa e pena do pecado, e a rejeição deixa o pecador ligado para o juízo.
20. Que a ninguém dissessem ser ele o Cristo. A populaça ainda ficaria apenas politicamente perturbada com tal revelação.
21-27. Jesus prediz a sua morre e ressurreição.
21. Desde esse tempo, começou Jesus. Agora que Jesus tinha um núcleo de seguidores que verdadeiramente cria nEle como o Messias (16:16), ele entrou em um período de ensinamentos explícitos sobre a sua obra redentora. “Anciãos, principais sacerdotes, e escribas” formavam o Sinédrio. Ser morto, e ressuscitado. Embora Cristo profetizasse claramente a sua ressurreição logo após a sua morte, o significado disso no foi compreendido pelos Doze. Terceiro dia. Equivalente a "depois de três dias", Mc. 8:31. 22. O protesto de Pedro, tem compaixão de ti, Senhor (uma expressão idiomática significando, "Deus tenha misericórdia de ti e te poupe"), demonstrou seu completo fracasso de perceber no Messias judeu o aspecto do sofrimento (Is. 53).
23. Arreda! Satanás. Palavras iguais às que Jesus disse a Satanás em 4:10, pronunciadas aqui em uma situação semelhante. Satanás, usando Pedro como instrumento seu, estava novamente tentando afastar Jesus do sofrimento que era Seu quinhão. “Não cogitas as coisas de Deus. A divinamente revelada confissão de Pedro (v. 16) demonstrou resumidamente a propriedade do nome que Cristo Lhe deu, mas aqui ele exibe presença da fraqueza carnal. Antes do Pentecostes, os Doze vacilavam frequentemente entre o discernimento espiritual e a más grossa carnalidade. E esse costuma ser tragicamente o caso dos crentes de hoje.
24. Nesse ponto Jesus e os Doze foram seguidos por uma multidão (Mc. 8:34), mesmo embora o Senhor ficasse em relativo isolamento. “A si mesmo se negue, isto é, negue-se capaz de méritos no que se refere à vida eterna. “Tome a sua cruz, e siga-me. Uma muito conhecida figura de morte e sofrimento (conf. comentário sobre 10:38, 39). Aqui ele descreve a conversão de um pecador que deve reconhecer a sua própria pobreza espiritual e, então, aceitar a Cristo (Sua pessoa e ensinamentos), mesmo que isso signifique assumir, sob certo sentido, um sofrimento que de outra maneira não ocorreria.
25. Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á (conf. com 10:39). Aquele que não está pronto a assumir os riscos envolvidos em ser um discípulo de Cristo acaba perdendo a sua vida eternamente. Mas o inverso também é verdade.
26. Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, e perder a sua alma? Vida é psychê o termo grego para os dois conceitos, "vida" e "alma". Lucas 9:25 usa o pronome “se”. A figura retrata uma negociação comercial na qual o homem troca a sua própria vida (incluindo a alma) pelas atrações deste mundo. O que tal homem usaria para comprar sua psyché de volta?
27. O Filho do homem há de vir. Na segunda vinda de Cristo, ele acertará as contas. Assim, aquele que sofrer por Cristo, até mesmo morrendo, receberá sua devida recompensa.
28. Para destacar a realidade desse há de vir e do reino, como incentivo aos homens para que o sigam, mesmo sofrendo, Cristo deu a promessa do versículo 28. Essa vinda do Filho do homem em seu reino explica-se por alguns como sendo a destruição de Jerusalém e por outros como o começo da Igreja. Mas atribuí-la à Transfiguração satisfaz as exigências do contexto (todos os sinóticos dão logo a seguir a Transfiguração, Mc. 9:1; Lc. 9:27). Mais ainda, Pedro, que era um dos que estava lá (aqui estão), referiu-se à Transfiguração nas mesmas palavras (II Pe. 1:16-18). Chafer chama a Transfiguração de "pré-estréia da vinda do reino na terra" (L. S. Chafer, Systematic Theology, V. 85).

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