Interpretação de Mateus 21

Mateus 21

A primeira de uma série de visitas a Jerusalém durante a última semana (conf. 21:18; Mt. 11:19).

21:1 Betfagé. Uma aldeia que parece ficar entre Betânia e Jerusalém, uma vez que Jesus pousou em Betânia na noite anterior (Jo. 12:1, 12). A localização exata ainda é desconhecida. Monte das Oliveiras. A colina que fica a leste de Jerusalém e que oferecia aos viajantes a primeira vista da cidade.

21:2, 3 As explícitas instruções de Jesus referentes à jumenta e ao jumentinho indicam a importância do acontecimento. Em outras ocasiões Jesus costumava andar a pé, e aqui a distância não era mais de duas milhas.

21:4, 5 Cumprimento de Zc. 9:9 foi a motivação dessa atitude, embora os discípulos não tomassem consciência disso antes da Ressurreição (Jo. 12:16). Os judeus geralmente consideravam essa passagem como sendo messiânica (Edersheim, Life and Times of Jesus, II, 736).

21:6-8 Foram trazidos os dois animais (a jumenta foi necessária para sossegar o jumentinho que ainda não fora montado por ninguém), mas todos os evangelistas testificam que Jesus montou o jumentinho. Algumas pessoas da multidão estenderam suas capas sobre o caminho para lhe prestar homenagem, aclamando-o agora Rei (II Reis 9:13). Outros jogavam folhas de palmeiras pelo caminho (Jo. 12:13). O jumento era um animal humilde e nenhum rei judeu desde Salomão montara um deles oficialmente. Mas a brandura e a humildade eram sinais inequívocos do Messias preditos por Zacarias, que agora se cumpriam.

21:9. Hosana. Uma expressão hebraica significando Viva agora. Os gritos da multidão, empregando as frases de Sl. 118:25, 26, proclamavam claramente suas esperanças em Jesus como Messias, o Filho de Davi. Anteriormente Cristo se esquivou a tais demonstrações públicas (embora confessando sua messianidade a indivíduos; Jo. 4:26; Mt. 16:16-20); mas agora ele fizera cuidadosos preparativos para uma inconfundível apresentação pessoal à nação.

21:10, 11. Quem é este? A aclamação messiânica provocou a pergunta da parte daqueles que talvez não conhecessem Jesus (ele evitou Jerusalém durante a maior parte do seu ministério).

21:12-17 Uma purificação semelhante foi registrada no começo do ministério de Jesus (Jo. 2:13-22), mas não temos motivos para duvidarmos que tenha havido dois exemplos iguais. Jesus repetia frequentemente suas palavras e atos. Esses homens maus logo voltaram aos seus caminhos perversos, pois os atrativos financeiros eram mais atraentes. Tendo Jesus entrado no templo. Foi no dia que se seguiu à Entrada Triunfal (Mc. 11:11, 12). Mateus registra aqui acontecimentos fora do tempo. Todos os que ali vendiam e compravam. O pátio externo, que era dos gentios, continha estábulos onde podia-se comprar animais para os sacrifícios e mesas para se trocar dinheiro estrangeiro por siclos do santuário. Esse mercado, uma rica fonte de extorsão, era controlado pela família de Anás, o sumo sacerdote. Pouco tempo depois da guerra dos judeus contra Roma, a indignação popular contra esses bazares de Anás provocou a sua retirada (veja Edersheim, Life and Times of Jesus, I, 367-372).

21:13. Está escrito. Is. 56:7 e Jr. 7:11. Covil de salteadores. Um refúgio para ladrões, cujas práticas infames eram protegidas pelos preceitos sagrados.

21:14-16 Só Mateus registra as curas que provocaram novas Hosanas das crianças (meninos, no masculino) no Templo. Para responder aos sacerdotes que o desaprovavam, Jesus empregou Sl. 8:2 mostrando que Deus suscita louvor até mesmo daqueles que os homens consideram insignificantes.

21:17. Para Betânia, onde pernoitou. A aldeia ao pé do Monte das Oliveiras (conf. Lc. 21:37). Não se sabe ao certo se ele passou a noite em uma casa na cidade ou ar livre (conf. Lc. 24:50 com Atos 1:12 para o uso alternado desses nomes.)

21:18-22 Novamente é preciso consultar Marcos (11:12-14, 19.25) para verificação de cronologia. Mateus encaixa as duas fases do incidente em uma só.

21:18 Cedo de manhã. De acordo com Marcos, era manhã do dia no qual ele purificou o Templo.

21:19, 20 Figueira. Esta conhecida árvore da Palestina era usada muitas vezes como símbolo da nação de Israel (Os. 9:10; Joel 1:7). Uma peculiaridade dessa árvore é que seus frutos e folhas costumam aparecer ao mesmo tempo, com os frutos às vezes em primeiro lugar. A próxima colheita seria esperada para Junho. Essa árvore em particular produzira tão abundante folhagem em Abril que qualquer um esperaria encontrar nela também os frutos. Este parece ser um exemplo no qual, pelo fato de Cristo ter-se esvaziado completamente do seu ego (Fl. 2:7), Ele deixou de usar a sua onisciência para que a sua reação humana fosse inteiramente genuína.

Nunca mais nasça fruto de ti. Foi dito com a solenidade de um julgamento condenatório. Embora não haja nenhuma declaração de que a situação deveria ser considerada alegórica, parece ser a única explicação razoável para o incidente (pois árvores não tem responsabilidade moral). Ele forneceu uma sequência pitoresca para a parábola de Lc. 13:6-9 referente à nação judia, estéril apesar de todas as vantagens. A figueira secou imediatamente. Imediatamente pode com certeza ser bastante amplo para se entender diversas horas. Na manhã seguinte os discípulos logo perceberam, que já se encontrava seca até as raízes (Mc. 11:20).

21:21, 22 Para os admirados discípulos Jesus explicou que tal poder (para feitos ainda maiores) estava à disposição deles através da oração da fé. Esse tipo de fé, entretanto, só pedirá aquelas coisas que sabe ser da vontade de Deus (conf. com 17:20).

21:23-22:14-23 Durante essa terceira visita ao templo em dias sucessivos, Jesus foi interrogado pelas autoridades do Sinédrio (principais sacerdotes, anciãos do povo e escribas, Mc. 11:27). Com que autoridade? Autorização costumava ser fornecida pelo Sinédrio ou algum rabino eminente, que dava testemunho quanto à validade dos ensinamentos, declarando-os inteiramente de acordo com as devidas fontes tradicionais (veja Edersheim, Life and Times of Jesus, II, 381-383). Estas coisas. Uma referência às obras de Cristo (purificação do Templo, milagres) como também aos seus ensinamentos e à sua aceitação de homenagem devida ao Messias.

21:25-27 O batismo de João. Representativo do ministério de João. A contra-pergunta de Cristo não foi uma evasiva às exigências do Sinédrio, mas serviu ao duplo propósito de responder implicitamente (conf. Jo. 5:33-35) e de expor a desonestidade do Sinédrio. João Batista, cujo ministério era popularmente reconhecido como sendo genuinamente profético, proclamara publicamente que Jesus era o Messias e ensinara os homens a confiar nEle (Jo. 3:26-30; Jo. 1:29-37; Atos 19:4). Assim os oficiais viram claramente o dilema que a pergunta de Cristo colocava diante deles. Se reconhecessem a autoridade divina de João, teriam obrigação de reconhecer que ele ensinara sobre Jesus - que Ele era o Messias. Entretanto, uma negativa da autoridade de João desencadearia sobre eles a ira do povo. Esses homens desonestos e covardes não mereciam outra resposta.

21:28-32 Parábola dos Dois Filhos. Só Mateus registra as três parábolas (conf. Mc. 12:1, "parábolas") apresentadas nessa ocasião, evocadas pela oposição dos membros do Sinédrio à autoridade de Jesus. A parábola dos Dois Filhos foi interpretada por Jesus como a descrição das reações opostas dos párias religiosos e seus líderes em relação ao ministério de João, que era preparatório do Seu próprio. O filho (criança) que primeiro disse Não quero mas se arrependeu mais tarde e foi descreve os publicanos e as meretrizes, párias da religião que finalmente aceitaram a mensagem de João. Muitos deles tornaram-se seguidores de Jesus (Lc. 15:1, 2). O filho que disse Eu vou mas não foi descreve os líderes religiosos que primeiro deram uma aprovação mais ou menos incerta a João (Jo. 5:35) mas nunca foram até o fim (Lc. 7:29, 30). Assim os publicanos e as meretrizes, aceitando a João, demonstraram a sua prontidão para aceitação do reino de Deus messiânico.

O caminho da justiça (II Pe. 2:21) descreve a pregação de João (conf. 22:16 "caminho de Deus") em termos que faziam lembrar Noé (II Pe. 2:5), e provavelmente se refere mais ao conteúdo de sua mensagem do que ao seu comportamento pessoal.

21:33-46 Parábola dos Maus Lavradores. Esta parábola responde melhor a pergunta sobre a autoridade de Jesus mostrando-o como o Filho divino enviado pelo Pai. Embora as linhas principais da parábola sejam tão compreensíveis que os membros do Sinédrio não poderiam ter fugido ao seu significado, não se deve fazer a tentativa de forçar todos os detalhes. O pai de família certamente representa Deus, o Pai; entretanto seu otimismo leviano (v. 37) não pode ser atribuído a Deus. Talvez possamos ver nas atitudes do pai de família a maneira pela qual Deus parece agir aos olhos dos homens.

21:33. Uma vinha. Símbolo da teocracia de Israel, familiar a todos os judeus. Conf. Is. 5:1-7; Sl. 80:8-16. O versículo 43 compara a vinha ao reino de Deus apontando claramente para o reino que foi concedido a Israel através de reis divinamente escolhidos. Na parábola o pai de família foi descrito tomando todas as providências para o bem-estar da vinha. Espancaram um, mataram outro, e a outro apedrejaram. Para verificar o vergonhoso tratamento que Israel concedeu aos emissários de Deus veja Jr. 20:1, 2; 37:15 ; 38:6; I Reis 19:10; 22:24; l I Cr. 24:21.

21:37 Por último, enviou-lhes o seu próprio filho. A extraordinária paciência do pai de família revela a completa depravação dos lavradores.

21:38 Vamos, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança. Exatamente este sentimento fora revelado recentemente pelos líderes judeus (Jo. 11:47-53). Desse momento em diante, o campo de ação da parábola passa da história para a profecia.

21:39 E o mataram. Uma profecia da morte de Jesus nas mãos desses mesmos homens.

21:40, 41 A esta altura os líderes judeus pareceram não captar todo o significado da parábola (embora o fizessem logo após, v. 45) e por isso responderam prontamente à pergunta de Jesus, proferindo a sua própria condenação.

21:42-44 A citação que Jesus fez do Sl. 118:22, 23, apontava para o seu triunfo final após a rejeição. A mesma passagem também foi citada em Atos 4:11 e I Pe. 2:6,7. Como resultado de seu triunfo, o reino de Deus vos será tirado da posse desses líderes (e da contemporânea nação de Israel, conforme indica a menção de outra nação). A um povo que produz os respectivos frutos. Uma referência à igreja (chamada por Pedro de "nação santa" em um contexto onde foi usada a mesma passagem do V.T.; I Pe. 2:7-9). Com o Pentecostes formou-se um novo corpo, a Igreja, que seria o núcleo espiritual do reino messiânico (medianeiro). Embora esses líderes judeus individuais fossem permanentemente removidos do Reino, Rm. 9-11 explica que a nação de Israel receberá novamente as bênçãos da salvação ao fim da presente dispensação com destaque dos gentios (Rm. 11:25). Hoje em dia a Igreja desfruta de certos aspectos espirituais do Reino, visto que reconheceu Cristo como Rei (Cl. 1:13), e está sendo preparada para participar do próximo reino. Este aspecto do reino medianeiro foi descrito nas parábolas de Mt. 13.

21:45, 46 Temeram. Os líderes judeus foram impedidos em seus planos de matar Jesus (Jo. 11:53) porque recearam a popularidade dele. O mesmo medo evitou que difamassem a memória de João (Mt. 21:26).

Índice: Mateus 1 Mateus 2 Mateus 3 Mateus 4 Mateus 5 Mateus 6 Mateus 7 Mateus 8 Mateus 9 Mateus 10 Mateus 11 Mateus 12 Mateus 13 Mateus 14 Mateus 15 Mateus 16 Mateus 17 Mateus 18 Mateus 19 Mateus 20 Mateus 21 Mateus 22 Mateus 23 Mateus 24 Mateus 25 Mateus 26 Mateus 27 Mateus 28