Interpretação de Mateus 17

Mateus 17

17:1-13. A Transfiguração. Nesse momento estratégico do ministério de Jesus, quando ele evocou de Pedro a sua verdadeira designação (16:16), e anunciou a sua morte e ressurreição que estavam por acontecer, essa muitíssimo notável experiência foi garantida a três discípulos.

17:1. Seis dias depois. Também Mc. 9:2. Os “quase oito dias depois” de Lucas (9:28) incluem o término e também a alegada. Pedro, Tiago e João. Esses antigos sócios de negócios (Lc. 5:10) tiveram privilégios especiais em mais outras duas ocasiões (Lc. 8:15; Mt. 26:37). Será que tinham mais percepção espiritual do que os outros nesta ocasião? Alto monte. O tradicional Monte Tabor é contextualmente improvável. O mais provável é um local perto de Cesaréia de Filipe (16:13), talvez um dos picos do Hermom.

17:2. E foi transfigurado diante deles. O verbo (metamorphoô) indica uma transformação da forma essencial, procedente do interior, e em Rm. 12:2 e II Co. 3:18 foi usado em relação à transformação espiritual que caracteriza os cristãos quando a nova natureza se manifesta neles. Embora para os crentes esta transformação seja uma experiência gradual, a ser completada quando Cristo for visto (II Co. 3:18; I Jo. 3:2), no caso de Jesus, a gloriosa forma que geralmente se encontrava velada foi rapidamente exposta.

17:3. Moisés e Elias, os representantes ilustres, segundo o pensamento judeu, da Lei e dos Profetas, apareceram falando com ele sobre os próximos acontecimentos em Jerusalém (Lc. 9:31). Essa conversação mostrou aos discípulos que a morte do Messias não era incompatível com o V.T. Considerando a transfiguração como uma pré-estréia do reino messiânico (16:28), alguns têm visto em Moisés (que já morrera) e Elias (que passara desta vida para a outra sem experimentar a morte) os representantes dos dois grupos que Cristo trará com ele para estabelecer o seu reino: santos mortos ressuscitados e santos vivos transladados. Do mesmo modo os três discípulos são considerados representantes dos homens vivos na terra por ocasião do Segundo Advento (L. S. Chafer, Systematic Theology, V. 85-94 ; G. N. H. Peters. Theocratic Kingdom, II, 559-561).

17:4, 5. Então disse Pedro, isto é, reagiu à situação. Um desejo de prolongar esta experiência incentivou Pedro a oferecer-se para construir (façamos) três tendas feitas de ramos, iguais aos que os adoradores construíam por ocasião da Festa dos Tabernáculos. Em resposta, a voz divina saiu da nuvem, reconhecendo Jesus como o Filho amado de Deus, e ordenando aos discípulos: A ele ouvi, Moisés e Elias não tinham nada de novo para transmitir (Hb. 1:1, 2).

17:6-9. Amedrontados com a voz, os discípulos foram confortados, mas também admoestados, no final destes acontecimentos. A ninguém conteis a visão. Parece que nem mesmo os outros apóstolos deviam ser informados nessa ocasião. As coisas que testemunharam só confundiriam e perturbariam politicamente os menos perceptíveis.

17:10. Por que dizem pois, os escribas ser necessário que Elias venha primeiro? A presença de Elias no monte e a ordem subsequente de silenciar motivou a pergunta. Se essa era a profetizada vinda de Elias (Ml. 4:5), então certamente era chegado o momento de anunciar publicamente. Se não era, como poderia Jesus ser o Messias, pois esse personagem tinha de ser precedido de Elias.

17:11. De fato, Elias virá primeiro. A forma é presente futuro. Jesus proclama aqui que Ml. 4:5 será cumprido.

17:12,13. Elias já veio. Para os judeus que não eram espirituais e que meramente andavam à caça de sinais, o próprio João dissera “Eu não sou Elias” (isto é, o profeta do V.T. ressuscitado, Jo. 1:21). Entretanto, para os que eram sensíveis espiritualmente, João já viera “no espírito e virtude de Elias” (Lc. 1:17), e os homens foram levados a Cristo por intermédio dele. Assim o oferecimento que Jesus fez do reino foi uma oferta válida, dependendo da aceitação nacional, e Israel não poderia acusar a ausência de Elias para o seu fracasso em reconhecer Jesus. Deus em sua onisciência sabia que Israel, na primeira vinda de Cristo, não estava preparada para o sinal do ministério de Elias, e por isso enviou João “no espírito e virtude de Elias”.

17:14-20 Curando um epilético endemoninhado. Todos os sinóticos colocam esta narrativa logo após a Transfiguração, mas a narrativa de Marcos (9:14-29) é a mais completa.

17:15 Senhor, compadece-te de meu filho porque é lunático. Literalmente, lunático (conf. etimologia latina de “lunático”). Os sintomas são geralmente como os da epilepsia, produzidos aqui pela possessão demoníaca.

17:17. Ó geração incrédula e perversa. Com palavras semelhantes às de Dt. 32:5, Jesus denuncia a falta de fé dos nove apóstolos como característica da sua geração. Sua falta de fé consistia no seu fracasso em se apropriar inteiramente do poder que lhes fora garantido em 10:8.

17:18. Removendo o demônio (a causa) Jesus efetuou a cura da doença (o efeito).

17:19. Por que não pudemos expulsá-lo? Sem dúvida foi o primeiro fracasso deles depois que receberam a autorização de Cristo (10: 8).

17:20. Por causa da pequenez da vossa fé. Não incredulidade em Jesus como o Messias, mas dúvidas quanto às palavras que ele lhes dissera anteriormente (10:8). Como um grão de mostarda. Sua pequenez era proverbial. O poder da fé foi ilustrado pela sua capacidade de remover este monte. (Teria Jesus apontado para o Monte da Transfiguração?) Em lugar de abrandar a expressão tornando a palavra “monte” símbolo de alguma dificuldade, é melhor entendê-la literalmente. Entretanto, devemos ter em mente que a fé escriturística é a confiança na Palavra e vontade de Deus reveladas. Daí, a fé para remover um monte pode ser exercitada somente quando Deus revelar que essa é a sua vontade. O versículo 21 foi omitido nos melhores manuscritos, sendo uma interpolação de Mc. 9:29.

17:22, 23 Jesus fala novamente sobre a sua morte e ressurreição. Tendo eles se reunido na Galileia. Embora a evidência do manuscrito gere conflito, este texto não parece mais autêntico e concorda muito com Mc. 9:30. Porque Jesus desejasse segredo, os Doze talvez retornassem por caminhos diferentes, e tendo se reunido novamente, receberam a revelação. O Filho do homem está para ser entregue. Entregue é menos sugestivo do que traído, embora possa sugerir a traição.

17:24. Cafarnaum. A visita final a essa cidade que era a sua residência. Não paga o vosso mestre as duas dracmas? Esse tributo eclesiástico, baseado em Êx. 30:11-16, era originalmente para o sustento do Tabernáculo, e foi reinstituído depois do exílio (Ne. 10:32, a terça parte dum siclo). Parece que nos dias de Jesus os judeus seguiam o plano anual de Neemias, mas cobravam a taxa de Moisés. O pagamento, geralmente feito na primavera, estava com alguns meses de atraso.

17:25, 26 Jesus se lhe antecipou, isto é, falou-lhe antes que ele falasse. Reconhecem: do a confusão de Pedro por causa da lealdade à integridade de Jesus e talvez pela falta de fundos, nosso Senhor mostra, por meio de uma ilustração, que os filhos dos reis estão isentos do tributo. Assim Jesus, o Filho de Deus, não estava pessoalmente obrigado a pagar imposto para a casa de Deus.

17:27. Mas, para que não os escandalizemos. Pois se Jesus tivesse reclamado o seu privilégio poderia muito provavelmente ter criado uma impressão errada entre o povo, incluindo talvez um desrespeito à casa de Deus. O milagre, demonstrando a onisciência de Jesus ao saber qual o peixe que continha o estáter, e sua onipotência em fazer que fosse o primeiro apanhado, enfatizou o fato de sua divindade (e assina o seu direito à isenção do imposto), a qual poderia ficar obscurecido com a intenção de fazer o pagamento. Estáter. Um estáter, igual a quatro dracmas ou dois terços do siclo, portanto suficiente para Jesus e Pedro.

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