Provérbios 30: Significado, Teologia e Exegese

Provérbios 30

Provérbios 30 se distingue das seções anteriores por apresentar as Palavras de Agur, filho de Jaqué, de Massá, indicando uma autoria diferente, embora em harmonia com a sabedoria salomônica. O capítulo começa com uma profunda declaração de humildade e reconhecimento da incompreensibilidade de Deus e da limitação do conhecimento humano. A mensagem geral é um chamado à moderação em todas as coisas, um alerta contra a arrogância e a falsidade, e uma crítica incisiva a certos tipos de comportamento socialmente destrutivos. Agur expressa seus desejos por um equilíbrio virtuoso e condena a opressão, a ganância e a presunção.

No hebraico original, este capítulo é notável pelo uso de numerais crescentes (X e X+1), uma técnica literária que apresenta listas de itens com uma progressão temática, criando um efeito cumulativo e enfatizando a observação perspicaz da natureza e do comportamento humano. Essa estrutura, juntamente com o uso de enigmas e comparações vívidas, distingue a voz de Agur. Seus ensinamentos sobre a humildade, a busca pela verdade e a condenação da opressão ressoam com os princípios do Novo Testamento, que também valoriza a moderação (Filipenses 4:5), a honestidade (Efésios 4:25) e a justiça social (Tiago 2:1-4). A sabedoria de Agur, ao observar o mundo natural e as interações humanas, oferece lições atemporais sobre a prudência e a moralidade.

📝 Resumo de Provérbios 30

Provérbios 30 começa com as Palavras de Agur, expressando sua humildade e a incompreensibilidade de Deus. Nos Pv 30:1–6, Agur declara que não é o homem mais inteligente, nem tem o entendimento humano. Ele não aprendeu sabedoria nem tem o conhecimento do Santo. Questiona quem subiu ao céu e desceu, quem ajuntou o vento nas mãos, quem amarrou as águas na sua veste, quem estabeleceu todos os limites da terra. Qual é o seu nome e o nome de seu filho, se é que você sabe? Toda palavra de Deus é pura; Ele é um escudo para quem n'Ele confia. Não acrescente nada às Suas palavras, para que Ele não o repreenda e você seja encontrado mentiroso.

Já nos Pv 30:7–9, Agur apresenta sua oração por equilíbrio e integridade. Ele pede a Deus duas coisas antes de morrer: que afaste dele a falsidade e a mentira, e que não lhe dê nem pobreza nem riqueza. Que o alimente com o pão que lhe é necessário, para que, sendo farto, não negue a Deus e diga: “Quem é o Senhor?”, ou, sendo pobre, não roube e profane o nome de seu Deus.

No que se refere à linguagem e à soberba, em Pv 30:10–14, a sabedoria adverte a não caluniar um servo ao seu senhor, para que ele não o amaldiçoe e você sofra as consequências. Há uma geração que amaldiçoa seu pai e não abençoa sua mãe. Há uma geração que se considera pura, mas não está lavada de sua imundície. Há uma geração de olhos altivos e pálpebras levantadas em soberba. Há uma geração cujos dentes são como espadas e cujas queixadas são facas, para devorar os aflitos da terra e os necessitados entre os homens.

Em seguida, nos Pv 30:15–16, o texto apresenta a insaciabilidade de certas coisas. A sanguessuga tem duas filhas, que clamam: “Dá! Dá!”. Existem três coisas que nunca se fartam, e uma quarta que nunca diz: “É o suficiente!”: o Sheol (mundo dos mortos), a madre estéril, a terra que nunca se farta de água e o fogo que nunca diz: “É o suficiente!”.

Ainda sobre a desobediência e a incompreensibilidade, em Pv 30:17–20, Agur fala do castigo para o filho que zomba do pai e despreza a obediência à mãe: os corvos do vale o bicarão, e os filhotes da águia o devorarão. Existem três coisas que são maravilhosas demais para ele, e uma quarta que ele não consegue entender: o caminho da águia no céu, o caminho da serpente na rocha, o caminho do navio em alto mar e o caminho do homem com uma donzela. Assim é o caminho da mulher adúltera: ela come, limpa a boca e diz: “Não fiz nada de mal”.

Os provérbios seguintes, nos Pv 30:21–23, tratam de quatro coisas que causam perturbação na terra. A terra treme por causa de três coisas, e por causa de uma quarta que não pode suportar: um servo que se torna rei, um tolo que se farta de comida, uma mulher odiada que se casa e uma serva que desaloja sua senhora.

Finalmente, o capítulo conclui com quatro coisas pequenas, mas sábias e poderosas. Nos Pv 30:24–28, existem quatro coisas pequenas na terra, mas que são extremamente sábias: as formigas, que são um povo sem força, mas preparam sua comida no verão; os arganazes, que são um povo fraco, mas fazem suas casas nas rochas; os gafanhotos, que não têm rei, mas marcham todos em bandos; e a lagartixa, que se agarra com as mãos, mas está nos palácios dos reis.

O capítulo encerra, nos Pv 30:29–33, com quatro criaturas de andar majestoso e a consequência da impetuosidade. Existem três que têm um andar elegante, e uma quarta que é majestosa ao andar: o leão, que é o mais forte entre os animais e não se intimida diante de ninguém; o galo orgulhoso; o bode; e o rei que lidera seu exército. Se você agiu tolamente, exaltando-se, ou se planejou o mal, ponha a mão sobre a boca. Pois, como o bater do leite produz manteiga, e o torcer do nariz produz sangue, assim o provocar da ira produz contenda.

📖 Comentário de Provérbios 30

Provérbios 30.1 Uma seção completamente nova do livro de Provérbios começa com as palavras de Agur. Tal como Lemuel (Pv 31.1-9), Agur foi um contribuinte árabe, e não hebreu, ao livro de Provérbios. Ambos tiveram fé no Deus de Israel em uma terra estrangeira. Nada sabemos sobre o pai de Agur, Jaque, nome este que parece significar obediente ou piedoso. Alguns acreditam que a palavra traduzida como oráculo seja o nome de uma tribo árabe. Outros eruditos, porém, defendem que a tradução correta seja do oráculo, o que faria de Agur um homem que recebia oráculos, uma espécie de profeta. Os provérbios a seguir foram endereçados a Itiel e Ucal, provavelmente possíveis discípulos de Agur e Lemuel. Como é incomum a repetição seguida do nome Itiel — Disse este varão a Itiel, a Itiel e a Ucal — , alguns eruditos dão outra interpretação a este trecho, traduzindo o texto como: Eu me extenuei, o Deus; eu me extenuei, o Deus, e estou consumido. Isso caberia no contexto dos versículos seguintes.

As questões que envolvem os dois pontos introdutórios são abordadas nos parágrafos acima. Aqui nos preocupamos com a tradução e o significado da “palavra do homem”. Esta frase ocorre em conexão com um oráculo de Balaão em Num. 24:3–4, bem como introduzindo um oráculo de Davi em 2 Sam. 23:1 (ver vv. 2–7). O que se segue está entre as linhas mais controversas do hebraico bíblico. Daremos primeiro a transliteração hebraica, seguida de opções e, finalmente, alguns argumentos que nos movem em direção à nossa tentativa de tradução final (as fontes para as possíveis traduções abaixo podem ser pequenas variações da versão real citada):

lĕʾîtîʾēl lĕʾîtîʾēl wĕʾūkāl
1. Profecia deste homem para Itiel, para Itiel e para Ucal (tradicional, NJB, NIV).
2. Eu não sou Deus; Eu não sou Deus, para que eu prevaleça (NAB, Murphy).
3. Estou cansado, ó Deus, estou cansado, ó Deus, e estou exausto (NLT, NRSV, REB, Clifford, Longman).

A interpretação 1 é a tradução tradicional, tomando as palavras difíceis por nomes pessoais, sempre uma escolha de último recurso. É verdade que Itiel é um nome encontrado em Nee. 11:7 e pode significar algo como “Deus está comigo”, mas novamente, esta tradução é improvável e não deve ser suportada a menos que tudo mais falhe, e mesmo assim pode ser melhor simplesmente colocar em branco!

A Interpretação 2 é inspirada no aramaico, onde lāʾ îtay ʾēl (uma redivisão e reposicionamento de lĕʾîtîʾēl) significa “Eu não sou Deus”. A redivisão da palavra não é um grande problema, mas a reorientação é um pouco mais problemática, e o apelo ao aramaico torna a tradução ainda mais difícil de defender.

Embora também tenha suas críticas, a terceira interpretação requer o mínimo de emenda e parece se encaixar no contexto. Essa abordagem considera lĕʾîtîʾēl como uma forma verbal de primeira pessoa de lʾh, “estar fraco, cansado”. Separa o ʾēl e o trata como um vocativo. O verbo é repetido e, em seguida, o terceiro verbo é ligeiramente apontado de ʾūkāl para ʾekel (da raiz klh). A tradução resultante se encaixa bem com a continuação um tanto deprimente do discurso.

Tomamos essas palavras como as de Agur. Eles são claramente auto-apagados. Aqueles que desejam ser verdadeiramente sábios devem primeiro reconhecer sua ignorância. Agur obviamente não é alguém que é “sábio aos seus próprios olhos”. As pessoas devem primeiro reconhecer sua própria ignorância antes de poderem se voltar para Deus em busca da verdadeira percepção.

A linguagem, no entanto, é extrema. Ele se autodenomina um “estúpido”. A palavra “burro” (baʿar) é forte e se refere a uma pessoa “que não tem a racionalidade que diferencia os homens dos animais”. [NIDOTTE 1:691.] Já encontramos esta palavra em 12:1, onde surpreendentemente se refere àqueles que recusam a correção. No entanto, aqui temos alguém que se autodenomina um idiota, mostrando autoconsciência. Em 12:1, esse rótulo foi aplicado a outro; pela natureza do caso, a pessoa assim designada não aceitaria o rótulo. Outro texto em que alguém, em retrospectiva neste caso, chama a si mesmo de “estúpido” está em Sl. 73:22. Aqui o salmista, consumido pela inveja, questiona a sabedoria e a justiça divinas ao ver os ímpios prosperarem enquanto os sábios lutam:

Eu era um idiota e não sabia;
Eu era como um animal para você.
(tradução do autor)
Em Provérbios, Agur descreve a si mesmo mais como um estúpido do que como uma pessoa, talvez também sugerindo que o status do estúpido é o de inteligência animal ou até inferior. Ele também se descreve como alguém que não tem sabedoria nem conhecimento do Santo. Se a última for a tradução correta – embora “coisas sagradas” também seja possível – então podemos ver a conexão. Afinal, “o temor de Javé é o princípio do conhecimento” (1:7), como aprendemos o tempo todo. No entanto, acredito que devemos entender a linguagem desses dois versículos como hiperbólica. Os verdadeiramente sábios sabem o quanto são ignorantes. Aqueles que pensam que são sábios não acham que precisam se esforçar mais para adquirir discernimento.

Este longo versículo pode ser comparado a várias outras passagens que fazem perguntas destinadas a despertar o reconhecimento da ignorância do conhecimento humano e da inacessibilidade da sabedoria divina. Nesses outros contextos, tal argumento serve para moldar uma dependência da sabedoria de Deus em vez da própria.

Começamos com o conhecido discurso divino em Jó 38–39. Até este ponto da narrativa, o sofredor, mas inocente Jó, apelou a Deus para uma audiência onde pudesse apresentar seu caso. Embora aqui Jó consiga a audiência que esperava, ele não consegue apresentar seu caso; em vez disso, Deus o bombardeia com perguntas que servem para colocar Jó em seu lugar. Deus começa com “Quem é este que questiona minha sabedoria com palavras tão ignorantes?” (Jó 38:2 NTLH). Deus então o enche de perguntas para mostrar sua ignorância, e Jó se submete diante dele.

Jó foi alguém que, nas palavras de Prov. 30:4, pensou que “tinha subido ao céu” para receber a sabedoria de Deus e “descer”. Pelo menos essa é a impressão que ele deu a Elifaz, que acusa Jó em 15:7–8:

Você foi a primeira pessoa a nascer?
Você nasceu antes que as colinas fossem feitas?
Você estava ouvindo o conselho secreto de Deus?
Você tem o monopólio da sabedoria?
(NLT)
Provérbios 30.2, 3 “Eu sou mais bruto do que ninguém.” Com esta expressão, Agur queria dizer que estava perplexo. Da mesma forma, sua negação de ter conhecimento do Santo também é um floreio retórico (como se vê pela comparação a suas palavras nos v. 5,6). Agur estava declarando, com forte ironia, que era incapaz de explicar o enigma a sua frente.

Tomamos essas palavras como as de Agur. Eles são claramente auto-anulados. Aqueles que desejam ser verdadeiramente sábios devem primeiro reconhecer sua ignorância. Agur obviamente não é alguém que é “sábio aos seus próprios olhos”. As pessoas devem primeiro reconhecer sua própria ignorância antes de poderem se voltar para Deus em busca da verdadeira percepção.

A linguagem, no entanto, é extrema. Ele se autodenomina um “estúpido”. A palavra “burro” (baʿar) é forte e se refere a uma pessoa “que não tem a racionalidade que diferencia os homens dos animais”. aqueles que recusam a correção. No entanto, aqui temos alguém que se autodenomina um idiota, mostrando autoconsciência. Em 12:1, esse rótulo foi aplicado a outro; pela natureza do caso, a pessoa assim designada não aceitaria o rótulo. Outro texto em que alguém, em retrospectiva neste caso, chama a si mesmo de “estúpido” está em Sl. 73:22. Aqui o salmista, consumido pela inveja, questiona a sabedoria e a justiça divinas ao ver os ímpios prosperarem enquanto os sábios lutam:

Eu era um idiota e não sabia;
Eu era como um animal para você.
(tradução do autor)
Em Provérbios, Agur se descreve mais como um idiota do que uma pessoa, talvez também sugerindo que o status do idiota é o de inteligência animal ou até inferior. Ele também se descreve como alguém que não tem sabedoria nem conhecimento do Santo. Se a última for a tradução correta – embora “coisas sagradas” também seja possível – então podemos ver a conexão. Afinal, “o temor de Javé é o princípio do conhecimento” (1:7), como aprendemos o tempo todo. No entanto, acredito que devemos entender a linguagem desses dois versículos como hiperbólica. Os verdadeiramente sábios sabem o quanto são ignorantes. Aqueles que pensam que são sábios não acham que precisam se esforçar mais para adquirir discernimento.

Provérbios 30.4 Este versículo mostra a charada que deixou Agur intrigado. As questões são enigmáticas. Culminam em: Qual é o seu nome, e qual é o nome de seu filho, se é que o sabes. Neste ponto, não há resposta a charada. O AT responderia que a expressão seu nome refere-se ao Senhor, mas não havia um nome para o seu filho. Esta charada ficaria sem solução até que Jesus a respondeu a Nicodemos (Jo 3.13). Estes versículos enquadram entre os textos mais messiânicos em toda a Bíblia.

Este longo versículo pode ser comparado a várias outras passagens que fazem perguntas destinadas a despertar o reconhecimento da ignorância do conhecimento humano e da inacessibilidade da sabedoria divina. Nesses outros contextos, tal argumento serve para moldar uma dependência da sabedoria de Deus em vez da própria.

Começamos com o conhecido discurso divino em Jó 38–39. Até este ponto da narrativa, o sofredor, mas inocente Jó, apelou a Deus para uma audiência onde pudesse apresentar seu caso. Embora aqui Jó consiga a audiência que esperava, ele não consegue apresentar seu caso; em vez disso, Deus o bombardeia com perguntas que servem para colocar Jó em seu lugar. Deus começa com “Quem é este que questiona minha sabedoria com palavras tão ignorantes?” (Jó 38:2 NTLH). Deus então o enche de perguntas para mostrar sua ignorância, e Jó se submete diante dele.

Jó foi alguém que, nas palavras de Prov. 30:4, pensou que “tinha subido ao céu” para receber a sabedoria de Deus e “descer”. Pelo menos essa é a impressão que ele deu a Elifaz, que acusa Jó em 15:7–8:

Você foi a primeira pessoa a nascer?
Você nasceu antes que as colinas fossem feitas ?
Você estava ouvindo o conselho secreto de Deus?
Você tem o monopólio da sabedoria?
(NLT)
Também podemos ver uma conexão entre as respostas de Javé a Jó e nosso versículo em Provérbios quando reconhecemos como Deus se refere ao estabelecimento de sua criação como algo em que os seres humanos não tiveram participação . Aqui, é claro, também somos lembrados da associação da Sabedoria da Mulher com a criação em Prov. 8:22–31.
Além disso, encontramos uma série de perguntas retóricas em Isa. 40:12–14, que também têm o propósito de apontar a incomparabilidade de Deus aos seres humanos:
Quem mais segurou os oceanos em suas mãos?
Quem mediu os céus com os dedos?
Quem mais sabe o peso da terra
ou pesou as montanhas e as colinas?
Quem é capaz de aconselhar o Espírito do SENHOR?
Quem sabe o suficiente para ser seu professor ou conselheiro?
O SENHOR já precisou do conselho de alguém?
Ele precisa de instrução sobre o que é bom ou o que é melhor?
(NLT)
Uma outra passagem bíblica relacionada expressa a inacessibilidade da sabedoria, nas palavras do Mestre em Eclesiastes 7:23–24: “Tudo isso testei com sabedoria. Eu disse: ‘Serei sábio!’ Mas estava longe de mim. Longe está aquilo que é, e profundo, profundo, quem pode encontrá-lo?” No entanto, no Mestre, embora haja esse reconhecimento relacionado da incapacidade de gerar sabedoria por meio de recursos humanos, não há a mesma afirmação da sabedoria divina e certamente nenhuma indicação de que Deus compartilhará sua sabedoria com os seres humanos como nós tem em Jó (ver cap. 28) e na presente passagem em Provérbios.

Agora que discutimos a função e o sentido de Prov. 30:4 como um todo, oferecemos algumas palavras pertinentes a cada uma das questões retóricas que o compõem. Quem subiu ao céu e desceu? A pergunta começa da terra e pergunta quem subiu e quem desceu. A resposta é: “Nenhum ser humano”. Pode-se dizer que Deus desceu do céu, e certamente os anjos descem e sobem, como descreve o sonho de Jacó em Betel (Gn 28:10-22). Mas esta questão pressupõe que a sabedoria e o conhecimento do Santo estão no céu, que não é a fonte dos seres humanos. Aqueles que pensam que podem ir para o céu e voltar por conta própria são citados nas Escrituras como exemplos de orgulho arrogante, como vemos na Torre de Babel (Gênesis 11:1–9) e na provocação contra o rei da Babilônia. (Isaías 14:13–15).

O NT afirma a natureza especial de Jesus Cristo a esse respeito: “Mas, se vocês nem mesmo acreditam em mim quando lhes falo sobre coisas que acontecem aqui na terra, como acreditarão se eu lhes contar o que está acontecendo no céu? Pois somente eu, o Filho do Homem, vim à terra e voltarei ao céu novamente” (João 3: 12–13 NLT).

Quem juntou o vento pelo punhado? Esta pergunta exige a resposta “Ninguém, nenhum ser humano”. Só Deus poderia reunir o vento pelo punhado. Deus é quem controla o vento (Gn 1:2; 8:1; Êx 10:13; 15:10; Nm 11:31; Amós 4:13). Os ventos estão em seus depósitos (Sl 135:7). Quem amarrou água em uma roupa? Novamente, a resposta é negativa: “Nenhum ser humano prendeu água em uma roupa. Só Deus pode fazer uma coisa dessas.” De fato, uma referência em Jó indica isso, além de apresentar a pista que nos ajuda a entender a metáfora da vestimenta; O próprio Jó diz: “Ele [Deus] amarra as águas em suas espessas nuvens” (Jó 26:8 NVI). Provavelmente é melhor pensar na ligação da água em uma vestimenta como infundir as nuvens com água, que se manifesta como chuva.

Quem estabeleceu todos os confins da terra? Novamente, isso não é algo que os seres humanos realizaram, mas somente Deus. Ver Prov. 8:27–29. Qual é o nome dele e o nome do filho dele,
se você conhece? Aqui o questionador zomba do leitor porque sabe que não há resposta. Tem sido uma questão de debate por que esta pergunta pede o nome do filho. Acredito que faz sentido deixar claro que o questionador está perguntando sobre seres humanos nas perguntas anteriores.

Provérbios 30:5 diz: “Toda palavra de Deus é pura; escudo é para os que nele confiam.” Esse versículo, simples em palavras, carrega um dos fundamentos mais importantes da vida com Deus: a absoluta confiabilidade das Escrituras e a segurança que encontramos nelas. Nos versos anteriores, Agur havia negado o conhecimento a si mesmo e, de fato, a qualquer ser humano. Aqui ele apresenta os “discursos de Deus” como algo puro, usando a metáfora metalúrgica do refinamento, e como proteção para as pessoas, usando a metáfora militar do escudo. Ao descrever os discursos de Deus dessa maneira, ele está encorajando as pessoas a se valerem de sua ajuda em meio à ignorância humana. As palavras de Deus são verdadeiras; à parte das palavras de Deus, as palavras humanas não são verdadeiras. A palavra hebraica usada aqui para “palavra” é imrah, uma palavra rara em Provérbios, e o termo para “Deus” é Eloah, também incomum. Isso sugere um tom solene e especial. O versículo afirma que “cada palavra de Deus é pura” — ou seja, sem mistura, como prata refinada no fogo (tēruphah). A ideia de “pureza” aqui tem conexão com textos como Salmos 12:6: “As palavras do Senhor são palavras puras, como prata refinada em forno de barro, purificada sete vezes.”

Essa pureza significa que a palavra de Deus é verdadeira, perfeita, segura. Nenhuma outra literatura do mundo pode ser chamada assim. Nenhum livro humano está isento de falhas ou parcialidade, mas a Escritura procede de um Deus que é luz e em quem não há treva nenhuma (1 João 1:5). Assim como os raios de luz têm a mesma natureza do sol, as palavras de Deus têm a mesma santidade de seu autor. Toda palavra da Bíblia, mesmo as que parecem menos importantes, carrega autoridade divina, pois foram inspiradas por Deus. Como declara 2 Timóteo 3:16-17: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e é úctil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a instrução na justiça.”

A pureza da Palavra de Deus: escudo para quem confia, conforme Provérbios 30:5.
Em um mundo de incertezas, Provérbios 30:5 nos revela a única rocha inabalável: Toda palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele!

Por isso, devemos resistir à tentação de tratar a Bíblia seletivamente. Às vezes nos apegamos apenas às partes mais fáceis ou agradáveis, ignorando outras por parecerem difíceis, ou distantes da nossa realidade. Mas todo o texto sagrado é proveitoso. As leis, as genealogias, os salmos, os profetas, os evangelhos e as cartas apostólicas formam uma unidade. Quem privilegia apenas uma parte é como quem quer conhecer o mundo olhando apenas para os jardins e ignorando os desertos. Mas Deus fala também nos desertos. Como disse Jesus em Mateus 22:29: “Errais, não conhecendo as Escrituras.”

Além de pura, a Palavra também é protetora. O texto diz: “Ele é um escudo para os que nele confiam.” A imagem do escudo aparece muitas vezes na Bíblia. Em Gênesis 15:1, Deus diz a Abrão: “Eu sou o teu escudo.” Salmos 18:30 diz: “A palavra do Senhor é provada; ele é um escudo para todos os que nele se refugiam.” Essa imagem significa que a Palavra não apenas nos ensina, mas nos protege contra o erro, contra tentações, contra o desespero, contra as mentiras do mundo. Quando confiamos na Palavra, encontramos nela abrigo.

No Novo Testamento, essa conexão entre a Palavra e a pessoa de Deus fica ainda mais clara. Em Hebreus 4:12-13, a Palavra de Deus é viva, eficaz e penetra o mais profundo do coração humano. Não há criatura alguma encoberta diante dele. Ou seja, a Palavra está tão intimamente ligada à própria pessoa de Deus, que confiar nela é o mesmo que se refugiar Nele. A Palavra não é apenas um texto: é uma pessoa. Em João 1:1 lemos: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Por isso, ao nos submetermos à Escritura, estamos nos submetendo a Cristo.

Agur, autor deste provérbio, sabia que a razão humana não é suficiente para entender a vida ou a natureza de Deus (veja os versículos anteriores, Provérbios 30:2-4). Por isso, ele se volta para a revelação. Não se aprende sobre Deus por especulações metafísicas, mas pela revelação que Ele mesmo nos deu. E essa revelação é segura, testada, purificada, provada. Como diz Salmos 19:8: “Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro, e ilumina os olhos.”

Que a nossa resposta, então, seja confiar, obedecer e buscar refúcio nessa Palavra pura. Como disse o salmista: “Escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti” (Salmos 119:11).

Provérbios 30:6 diz: “Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso.” O provérbio de Agur, ao continuar a reflexão sobre a natureza pura da Palavra de Deus, passa de uma declaração afirmativa a uma advertência solene: “Nada acrescentes às suas palavras”. A expressão hebraica usada para “acrescentar” é tôsêph, forma do verbo yāsap, que implica em adicionar ou ampliar algo que já existe. A construção imperativa negativa aponta para um mandamento categórico: não interfiras naquilo que é perfeito.

Essa proibição ecoa fielmente advertências similares tanto na Torá quanto no Apocalipse, que funcionam como moldura da revelacão escrita. Em Deuteronômio 4:2 e 12:32, lemos: “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela”. De forma conclusiva, Apocalipse 22:18-19 encerra o cânon com uma sanção severa: “Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos descritos neste livro…”. Trata-se, portanto, de uma linha condutora que liga todo o corpo das Escrituras: a Palavra revelada deve ser recebida em sua integridade, sem acréscimos nem remoções.

O motivo para tal proibição é imediatamente fornecido: “para que não te repreenda e sejas achado mentiroso”. Aqui, o verbo hebraico hōkīach, traduzido como “repreender”, implica em uma confrontação judicial, como quem mostra um engano por meio de provas irrefutáveis. Ao adulterar a revelacão divina, o homem se coloca em oposição ao próprio Deus, que cedo ou tarde o desmascarará como falso. O termo “mentiroso” é kazāv, aquele que fala falsidade, contraposto à verdade imaculada do Senhor (hebr.: ėmēt).

O perigo aqui descrito é não apenas hipotético, mas histórico e recorrente. O texto de Jeremias 28, por exemplo, narra o confronto entre o profeta verdadeiro e o falso profeta Hananias, que acrescentou palavras não pronunciadas por Deus, sendo imediatamente repreendido e declarado mentiroso pelo próprio Senhor: “Eis que te lançarei fora da face da terra… porque pregaste rebeldia contra o Senhor” (Jeremias 28:16). Outro exemplo é encontrado em 2 Reis 7, onde um oficial do rei desprezou a palavra de Deus anunciada por Eliseu, sendo em seguida castigado com morte, conforme predito (2 Reis 7:1-17).

Comentadores antigos ressaltaram a gravidade espiritual desse ato. “Nada que o homem possa acrescentar à Palavra de Deus a torna mais apta a suprir as necessidades humanas”, observa o Pulpit Commentary. A analogia empregada é clara: nenhum artifício humano pode tornar o sol mais adaptado ao olho humano; da mesma forma, a Palavra divina, já perfeita, não pode ser melhorada.

O apelo é também teológico e pastoral. Como afirmado: “É um ato criminoso colocar ideias humanas em igualdade com os pensamentos revelados de Deus”. Em outras palavras, qualquer acréscimo à Escritura é, por essência, um insulto à suficiência e à santidade do que Deus falou. O Novo Testamento ecoa essa responsabilidade em 2 Timóteo 3:16-17, onde Paulo declara que toda a Escritura é inspirada e suficiente para tornar o homem de Deus “perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”.

A advertência também se aplica à tendência moderna de equiparar tradições humanas à autoridade bíblica, ou de adotar interpretações distorcidas que “entortam” o sentido original das Escrituras. Como alerta 2 Pedro 3:16, “os indoutos e inconstantes torcem [as Escrituras] para sua própria destruição”.

Deus deseja que Sua Palavra seja aceita com submissão e temor, não ajustada aos moldes humanos. É suficiente, é pura, é perfeita como Ele é. É como próprio Cristo a orou ao Pai: “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (João 17:17). E não há maior demonstração de rebeldia espiritual do que contrariar ou corromper essa Palavra.

Assim, Provérbios 30:6 permanece como um marco de advertência e um convite à humildade: ler, crer e obedecer a cada declaração de Deus, sem a arrogância de modificá-la. Pois quem se ergue sobre ela será sustentado; quem a manipula será abatido.

Provérbios 30:7-9 Este provérbio complexo ainda deve ser entendido como as palavras de Agur. Tem a forma de uma oração a Deus; pelo menos esse parece ser o entendimento mais razoável de “você” no v. 7. Afinal, quem mais poderia conceder tal pedido? Como Clifford aponta, a forma de oração é apropriada porque “Agur rejeitou toda sabedoria, exceto aquela dada por Deus, pois somente a palavra de Deus é confiável e dá proteção.” [Clifford, Proverbs, p. 262.]

De qualquer forma, Agur pede duas coisas [Murphy, Proverbs, p. 229] em sua oração, ambas relacionadas a temas bem conhecidos do livro de Provérbios. Em primeiro lugar, ele pede honestidade. Ele faz isso negativamente, pedindo a Deus que o proteja do engano. Provérbios exorta as pessoas a dizerem a verdade.

Embora o segundo pedido também contribua para um tema importante do livro — riqueza e pobreza —, ele fala com uma voz ainda não ouvida no livro. Até este ponto, a riqueza parece ser o objetivo desejado. Embora reconhecendo que a piedade nem sempre leva à riqueza, é o que se esperaria, todas as coisas sendo iguais. Certamente, esta é a primeira e única vez em Provérbios onde o sábio pede para não adquirir riqueza. De fato, o mesmo é verdade para a pobreza. Em termos sociológicos modernos, o sábio pede status de classe média em vez de riqueza ou pobreza. O sábio quer que suas necessidades sejam atendidas: “Permita-me devorar minha porção regular de pão.” Ao dizer isso, ele parece rejeitar a ambição do grande luxo. Os leitores cristãos ouvirão um eco desse pedido na Oração do Senhor (“O pão nosso de cada dia nos dá hoje” [Mateus 6:11 NVI]; veja também 1 Tim. 6:8: “Se temos comida e roupa, ficará contente com isso” [NRSV]).

O versículo 9 é perspicaz em sua descrição dos motivos desse pedido. Por um lado, se alguém é rico (e, portanto, “satisfeito”), a pessoa não se preocupa com o Senhor. Todas as necessidades são atendidas. Em tal situação, quem precisa de Deus? Por outro lado, não ter o suficiente pode compelir a pessoa a roubar e, ao roubar, desonrar o nome de Deus.

Agora, é claro, nem todas as pessoas ricas desdenham de Deus, e nem todas as pessoas pobres recorrem ao roubo. Assim, é possível ser uma pessoa piedosa rica e uma pessoa moralmente pobre. No entanto, o sábio identifica as tentações para os ricos e os pobres e opta pelo meio, e ao fazer isso ele leva o leitor a pensar sobre as questões.

Byargeon apontou os “ecos de sabedoria” que podem ser ouvidos ao comparar esta oração com a chamada oração do Senhor em Mateus. 6:9–13.[Byargeon, “Echoes of Wisdom,” p. 364.] Ele não acha que haja necessariamente uma dependência literária entre os dois textos, mas ouve ecos “não apenas relacionados ao conceito de pão diário, mas também [à] questão de santificar o nome de Deus”. Esses ecos indicam que a oração de Jesus vive no mundo conceitual da sabedoria do AT.

Provérbios 30.10 Este provérbio alerta o servo contra o ato de caluniar o seu senhor. Ao contrário, ele deve prestar obediência e prover um serviço honesto ao seu proprietário. Naquela época o escravo era considerado uma pessoa inferior. Caluniar as pessoas é falar mal delas de uma forma que mancha sua reputação. Certamente é apropriado falar mal das pessoas se a intenção for ajudá-las a reconhecer seus erros e melhorar. Mas calúnia é diferente de crítica construtiva. Frequentemente, também implica falsa representação. Provérbios consistentemente condena a calúnia como uma forma de linguagem tola (10:18; 20:19). Aqui a calúnia dos servos é visualizada. Os servos estão sem muito poder. Alguém pode acreditar erroneamente que os servos não teriam recurso contra alguém que os calunia. No entanto, até os servos são capazes de invocar maldições. Maldições, mesmo proferidas em segredo, não devem ser tomadas levianamente. Especialmente se merecidas, as maldições representariam uma ameaça para aqueles que estão sob elas. Por outro lado, o Mestre aconselha os senhores a não ouvirem muito a fala de seus servos nesses casos: “Além disso, não dê atenção a todas as palavras que eles falam, para não ouvir seu servo amaldiçoá-lo. Além disso, seu coração sabe que você também amaldiçoou os outros muitas vezes” (Eclesiastes 7:21–22).

Provérbios 30.11-16 Agur escreveu sobre uma geração assolada por males sociais como falta de respeito pelos pais, altivez, ganância e egoísmo. Ironicamente, tais males tem assolado todas as gerações, e não somente a de Agur. Os vv. 11-14 são coerentes em virtude de sua abertura comum. Cada um deles descreve um “tipo de pessoa” (ver nota de rodapé da tradução), e todos esses quatro tipos de pessoas são ruins. Já ouvimos falar deles antes em Provérbios, mas agora Agur entra em ação. Basta uma descrição para indicar que essas pessoas são, como no resto dos Provérbios, tolas.

Os do primeiro tipo não respeitam seus pais (veja também 20:20; 30:17). Eles deveriam abençoar seus pais, mas, em vez disso, os amaldiçoam, quebrando não apenas as restrições da sabedoria, mas também o quinto mandamento (Êxodo 20:12) e Êxodo. 21:17 descreve este tipo de comportamento como um crime capital.

As pessoas do segundo tipo pensam que estão em boa forma, mas na verdade são imundas da maneira mais grotesca. Sua própria percepção é distorcida. Eles imaginam que estão limpos ou puros, mas estão cobertos com suas próprias fezes!

A palavra “limpo” (ṭāhôr) é frequentemente usada em um contexto ritual para indicar aquele estado de preparação espiritual que permite a entrada na presença divina. Mas eles estão cobertos de excrementos, que sabemos da lei latrina de Deut. 23:12-14 torna a pessoa ritualmente impura. Os israelitas devem ter um lugar fora do acampamento; lá, “sempre que você se aliviar, deve cavar um buraco com a pá e cobrir o excremento” (v. 13 NLT). Tal falta de auto-entendimento em Prov. 30:12 é loucura. Se alguém não entende o quão ruim é, não pode melhorar.

Talvez essa ideia de pensar mais alto de si mesmo do que realmente convém leve ao próximo tipo de pessoa, aqueles que são ridicularizados por seu orgulho. Este versículo faz pensar no salmista, que expressa o estado de espírito oposto:

Senhor, o meu coração não é orgulhoso;
meus olhos não são altivos.
Eu não me preocupo com assuntos muito grandes
ou incrível para mim.
Mas eu me acalmei e me acalmei,
assim como uma criança desmamada fica quieta com sua mãe.
Sim, como uma criança desmamada é a minha alma dentro de mim.
Ó Israel, põe a tua esperança no Senhor,
agora e sempre.
(Salmos 131 NLT)
Novamente, essa condenação do orgulho é um tema comum em Provérbios. Finalmente, ouvimos falar daqueles que usam seu poder de fala para destruir os outros, especialmente os vulneráveis, os “necessitados” e “desamparados”. A ameaça de seu discurso é enfatizada pela metáfora das armas. Suas palavras, como espadas e facas de açougueiro, cortam, ferem e matam. Para ideias semelhantes em outras partes de Provérbios, veja 25:18.

Provérbios 30:15-16 O primeiro provérbio numérico da série começa com um monovírgula bastante interessante antes do próprio provérbio realmente começar. Descreve as duas filhas da sanguessuga. Por que uma sanguessuga? Em primeiro lugar, a sanguessuga é algo que suga o sangue de seu hospedeiro e o faz até parecer transbordar. A sanguessuga não parece ficar satisfeita. Ainda hoje, usamos o termo “sanguessuga” para nos referirmos a pessoas que se apegam a outras para drenar seus recursos. Por que filhas? Talvez as filhas, ainda mais do que os filhos, fossem conhecidas por serem consumidoras, então a filha de uma sanguessuga seria particularmente exigente. Por que duas filhas? A resposta aqui pode ser encontrada na introdução do provérbio numérico, que começa com três e vai até o quatro. Assim, vemos as “duas” filhas sanguessugas, resultando em uma sequência dois, três, quatro.

Tal lista após a introdução de um provérbio numérico nem sempre estará de acordo com os números anunciados. Famosamente, os oráculos de julgamento no início de Amós têm o seguinte padrão:

Assim diz o SENHOR:
Por três transgressões de [x],
e por quatro, não revogarei a punição.
(1:3 etc., NRSV)

Então o oráculo pode especificar apenas duas transgressões. Porém, nos casos seguintes, a lista é tão longa quanto o maior número da sequência, neste caso quatro. Estas são as quatro coisas que nunca estão satisfeitas: Seol. Já encontramos vários provérbios sobre o Sheol e até mesmo um que especifica a impossibilidade de satisfazê-lo (27:20). Sheol é a sepultura, com conotações do submundo em geral. Sheol é aqui personificado como uma entidade que nunca está satisfeita. Sempre cabe mais um morto. A morte nunca para, e sua insaciabilidade significa que todos inevitavelmente serão encontrados na sepultura. O útero estéril. Talvez devêssemos olhar para algumas das mulheres estéreis da tradição narrativa do AT para pintar um quadro da insaciabilidade de uma mulher estéril. Ter um filho era de suma importância durante os tempos do AT, e as mulheres que não engravidavam frequentemente tinham um clima de desespero ao seu redor.

Podemos pensar em Raquel, sobre quem se diz: “Quando Raquel viu que não tinha filhos, ficou com ciúmes de sua irmã. ‘Dá-me filhos, ou morrerei!’, exclamou ela a Jacó” (Gn 30:1 NLT). Ou podemos nos lembrar de Ana, que é descrita como “chorando amargamente enquanto orava ao SENHOR” por um filho (1 Sam. 1:10 NLT). Uma terra não saturada com água. A Palestina é uma terra onde a chuva é mínima e grandes áreas são selvagens. A chuva no solo ressecado absorve a água disponível e parece nunca ter o suficiente. Fogo. Enquanto houver material combustível, o fogo não para. Jogue outro tronco em um fogo violento, e ele queima e queima. Neste caso, os quatro exemplos são talvez para afirmar e ilustrar um princípio que poderia ser estendido. Quando uma pessoa se depara com uma situação em que parece haver um desejo insaciável, esse provérbio pode ser citado para enfatizar que não importa quanto seja dado, nunca será suficiente.

Provérbios 30.17 A falta de respeito pelos pais mencionada no versículo 11 leva a morte. As expressões usadas para ilustrar essa maldição são fortes e violentas, assim como é o castigo daquele que maltrata os próprios pais. O versículo 17 é uma das duas exceções à regra dos provérbios numéricos encontrados na segunda parte do cap. 30. De todos os provérbios que advertem sobre as punições que aguardam aqueles que ignoram ou abusam de seus pais, este é o mais contundente. A punição potencial prevista neste provérbio é que a própria natureza punirá uma criança não natural, que não atenderia à instrução dos pais. O propósito óbvio é motivar a ouvir o conselho de pais piedosos. Ao longo de Provérbios, há um incentivo positivo para ouvir os pais, bem como advertências negativas para aqueles que não o fazem.

Provérbios 30.18-20 O termo traduzido como “virgem” também pode ser lido como “moça” neste contexto. O versículo 20 contrasta com o caminho do versículo 19. Este caminho é terrível, enquanto que aquele é maravilhoso. A mulher adúltera não sente remorso por suas relações sexuais ilícitas, atitudes comparadas ao banquete. Após a refeição, a adúltera sente-se satisfeita e ainda limpa a sua boca para retirar as evidências de seu pecado, não deixando assim nenhuma evidência para seu marido e outras pessoas.

Aqui novamente temos um provérbio numérico de três, quatro, com uma lista de quatro a seguir. A categoria enumerada aqui inclui mistérios, coisas além do alcance do sábio. Ao olharmos para os quatro, podemos notar ainda outra semelhança: cada um descreve o movimento de uma coisa sobre a outra. O foco de atenção provavelmente está na quarta e última maravilha.

É um mistério como uma águia plana no céu. É um mistério como uma cobra desliza sobre uma rocha. É um mistério como um navio atravessa o mar. E quanto ao quarto, um rapaz e uma moça? Uma vez que os três anteriores destacaram o movimento de um corpo movendo-se sobre outro (deslizando, deslizando, cortando), o ponto de referência aqui pode ser a relação sexual: como o corpo de um homem se move no corpo de uma mulher. A intenção de um significado sexual pode explicar por que os sábios colocaram o próximo provérbio (v. 20) após este provérbio numérico.

Provérbios 30:20 Este é o caminho da mulher adúltera:

ela come e limpa a boca,
e ela diz: “Não fiz nada de errado!”

No provérbio numérico anterior, aprendemos sobre o caminho de um “homem com uma jovem”. Isso é uma coisa maravilhosa. Aqui temos o inverso, chocante, o caminho de uma mulher adúltera. A mulher adúltera é insensível. Ela se envolve em sexo ilícito tão casualmente quanto comendo alguma coisa. Este provérbio joga com o fato de que comer é muitas vezes usado como um eufemismo para relações sexuais, como praticamente qualquer página do Cântico dos Cânticos atestará (veja também as imagens associadas à Sabedoria da Mulher e à Loucura da Mulher em Prov. 9).

A mulher afirma não ter feito nada de errado, mas tais relacionamentos ameaçam a estabilidade do casamento. Este verso parece ter uma abundância de consoantes que podem ser classificadas como labiais (sons formados pelos lábios: m, b, p), que se encaixam bem com o assunto.

Provérbios 30.21-23 Em contraste com as quatro coisas maravilhosas mencionadas nos versículos 18 e 19, vemos nos versículos 21 a 23 quatro coisas atrozes, que são uma inversão de prioridades. Três estão claras: o servo, o tolo e a serva se veem todos em posições de poder inesperadas. Já a mulher aborrecida se refere a situação triste da esposa cujo marido a detesta.

Com este provérbio numérico (também um paralelismo formatado “três, sim quatro”), aprendemos algo sobre os valores sociais dos sábios. Para os sábios, o mundo social tinha ordem e hierarquia definidas; quando esta ordem é perturbada, a “terra treme”. De fato, este é um excelente exemplo de uma forma māšāl na qual a ordem social afeta a ordem cósmica.

Para o sábio, um servo é um servo e não tem o que é preciso para ser um governante. Se alguém com a mentalidade e o histórico de um servo assumir, quem sabe que estrago seria o resultado? Já vimos esse sentimento expresso em 19:10, mas observe também Eccles. 10:5–7: “Há um mal que observei debaixo do sol, um erro de fato que se origina do governante. O tolo é colocado em posições importantes, enquanto o rico se senta em lugares baixos. Observei escravos a cavalo e nobres andando a pé como escravos.” Pensamentos negativos semelhantes sobre um mundo de pernas para o ar podem ser encontrados nas Admoestações de Ipu-Wer e em textos apocalípticos como Isa. 24:2 e as profecias acadianas de Marduk e Shulgi.

Em segundo lugar, os “idiotas” (nābāl, outra palavra para “tolo”) não devem ter comida em abundância ou qualquer outra coisa. Isso está errado, porque é o sábio que deve ser recompensado por sua sabedoria. Mas que tais anomalias acontecem e que são motivo de preocupação por parte dos sábios pode ser visto na clássica declaração do Mestre sobre o fracasso da retribuição em Eccles. 9:11:

Então me virei e observei outra coisa sob o sol. Ou seja, a corrida não é para os velozes, a batalha não é para os poderosos, nem a comida para os sábios, nem a riqueza para os inteligentes, nem o favor para os inteligentes, mas o tempo e o acaso acontecem a todos eles. [Longman, Ecclesiastes, p. 232–33.]

O versículo 23 apresenta duas situações envolvendo mulheres que não estão certas, de acordo com os sábios. São situações que vão provocar o caos no âmbito social. Em primeiro lugar, uma mulher odiada finalmente consegue um marido e, agora que ocupa uma posição de poder, pode começar seu trabalho de vingança. O segundo caso é semelhante ao primeiro. É ruim para um servo estar na posição de rei, então é ruim para uma serva assumir a posição de patroa. Aqui talvez possamos ver por que Sara ficou tão perturbada com Agar. Hagar era uma esposa secundária; depois de dar à luz o filho desejado, ela começou a “tratar Sarai, sua senhora, com desprezo” (Gn 16:4 NLT). Sara não perdeu tempo, porém, em acabar com essa minirebelião.

Provérbios 30.24-28 Este trecho bíblico fala sobre quatro criaturas de tamanho pequeno, mas de comportamento estupendo. Cada criaturinha destas tem um traço de conduta que pode ser fonte de aprendizado para os sábios.

Este provérbio numérico tem uma pequena reviravolta. Em vez de seguir o padrão x, x+1 como nas passagens anteriores, esse provérbio simplesmente afirma que a lista a seguir tem quatro membros. A categoria assim alistada inclui pequenos animais que parecem despretensiosos, mas demonstram sabedoria. Aqui podemos ver claramente como a sabedoria não é uma questão de capacidade intelectual; nenhum desses animais teria uma boa pontuação em um teste de QI. O que os torna sábios é sua habilidade em viver. Em essência, a passagem coloca a sabedoria contra a força. Estes são pequenos animais que são extremamente sábios.

A primeira é a formiga. Definitivamente pequenos, eles ainda têm uma excelente estratégia de sobrevivência. Eles preparam sua comida no verão para consumo durante o inverno. Sua sabedoria é demonstrada em seu planejamento para o futuro e em seu trabalho árduo no momento oportuno. Eles são como o jovem sábio em 10:5:

Um filho perspicaz colhe no verão;
um filho desgraçado dorme durante a colheita.
Esse filho viverá bem nos meses que não são de verão.
O segundo animal marcado por sua sabedoria é o coney. São pequenos animais (o nome técnico é hyrax) que possuem pequenos cascos com solas semelhantes a sucção e, portanto, podem escalar penhascos íngremes. Ao fazer isso, eles se mantêm relativamente a salvo de predadores e, assim, mostram uma estratégia hábil de preservação da vida.

A terceira ilustração da sabedoria são os gafanhotos, que não parecem ter um líder, mas operam como um grande exército. Nem mesmo os humanos podem se organizar tão eficientemente sem um líder dando ordens. Então, finalmente, os lagartos podem ser segurados na mão, mas são encontrados vivendo nos ambientes mais opulentos, até mesmo em palácios.

Provérbios 30.29-33 Os provérbios de Agur se encerram com alertas contra a ostentação e a desordem. A expressão “põe a mão na boca” significa “pare com isso”. A ideia é que, se você estiver tramando alguma encrenca e, repentinamente, perceber sua insensatez, pare antes que as coisas piorem.

O próximo provérbio numérico diz respeito a um comportamento majestoso, indicado por uma caminhada excelente. O poder gera confiança, e a confiança se reflete na maneira como a pessoa caminha. O paralelismo “três, sim quatro” nos dá quatro exemplos de quem anda sem medo. Três são do mundo animal e o quarto é o rei. É provável que a ênfase esteja no rei. Porém, começa pelo animal que ainda hoje chamamos de “rei das feras”, o leão. O leão não tem medo de nada, conforme indicado pelos dois pontos do v. 30. Os galos também têm um andar arrogante, assim como os bodes. Todos eles são animais perigosos à sua maneira. Mas o mais perigoso é o rei acompanhado de um exército.

Este provérbio exorta o ouvinte a ter cuidado ao maltratar os outros com orgulho e por meio de conspirações. O versículo 33 dá a motivação sugerindo que o orgulho e a conspiração levarão à raiva, que resultará em acusações (um termo legal) tão naturalmente quanto bater o leite dará lugar à coalhada e beliscar o nariz causará hemorragias nasais. A advertência para colocar a mão na boca pode ser comparada ao contexto do arrependimento de Jó diante de Deus em Jó 40:4 (veja também 21:5 e 29:9). É equivalente a dizer “Cala a boca”.

🙏 Devocional de Provérbios 30

Provérbios 30:1-6 (A Humildade da Sabedoria e a Advertência sobre a Palavra de Deus)

Provérbios 30 inicia com a autoria de Agur, filho de Jaqué, e uma profunda declaração de humildade intelectual e dependência de Deus. O versículo 1 introduz: “As palavras de Agur, filho de Jaqué, de Massá. O oráculo. Disse este homem a Itiel, a Itiel e a Ucal”. O v. 2 expressa a autopercepção de Agur: “Na verdade, sou mais estúpido do que ninguém, e não tenho a inteligência de um homem”. O v. 3 continua a autodepreciação: “Nem aprendi a sabedoria, nem tenho o conhecimento do Santo”. Os vv. 4-6 questionam a capacidade humana de compreender o divino e advertem sobre a pureza da Palavra de Deus: “Quem subiu ao céu e desceu? Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas numa roupa? Quem estabeleceu todas as extremidades da terra? Qual é o seu nome? E qual é o nome de seu filho, se o sabes? Toda palavra de Deus é pura; escudo é para os que nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso”.

A aplicação prática dessas verdades nos impele à humildade intelectual, à busca pelo conhecimento de Deus e à reverência pela Sua Palavra. Para o seguidor de Cristo, a humildade de Agur é um modelo: reconhecer nossa própria limitação e ignorância é o primeiro passo para a verdadeira sabedoria, que vem de Deus (1 Coríntios 1:25-27). As perguntas retóricas sobre o poder de Deus nos lembram de Sua soberania e transcendência, e a revelação do "nome de Seu filho" aponta profeticamente para Jesus Cristo. A pureza e a suficiência da Palavra de Deus são inegáveis, e a advertência contra acrescentar ou diminuir dela é um chamado à fidelidade (Apocalipse 22:18-19). No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a reconhecerem que não sabem tudo e a serem humildes em seu aprendizado. Eles devem também incutir o amor e o respeito pela Bíblia como a pura Palavra de Deus, alertando contra qualquer tentativa de distorcê-la ou acrescentar a ela. Filhos aprendem que a humildade é o caminho para o conhecimento e que a Palavra de Deus é a verdade inabalável.

No ambiente profissional, a humildade de Agur é um lembrete para líderes e profissionais que não se deve presumir saber tudo. A busca por conhecimento e a dependência de princípios éticos e de sabedoria superior são cruciais. A integridade na comunicação e a aderência à verdade, sem distorções, são essenciais. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve promover a humildade teológica e a dependência da revelação divina. A pregação deve ser fiel e pura, sem acréscimos ou deleções, e a autoridade da Bíblia deve ser o fundamento de toda a doutrina e prática. Como cidadãos, somos chamados a cultivar a humildade em nosso conhecimento e a buscar a sabedoria superior. A valorização da verdade e a condenação de distorções e mentiras, especialmente em discursos públicos e ideologias, são cruciais para a integridade de uma nação, onde a pureza da palavra e a humildade levam ao discernimento e à segurança.

Provérbios 30:7-9 (A Oração pela Moderação e a Integridade)

Este bloco de Provérbios 30 apresenta uma oração modelar de Agur, pedindo por moderação em duas áreas cruciais da vida: riqueza e pobreza, sempre visando à integridade e à glória de Deus. O versículo 7 inicia o pedido: “Duas coisas te pedi; não mas negues, antes que morra”. O v. 8 especifica os pedidos: “Afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem pobreza nem riqueza; mantém-me com o pão da minha porção de costume”. Finalmente, o v. 9 explica a razão de cada pedido: “Para que, porventura, estando farto, não te negue, e diga: ‘Quem é o Senhor?’ ou que, empobrecendo, não fure a sua mão, e profane o nome do meu Deus”.

A aplicação prática dessas verdades nos impele à busca por equilíbrio e integridade, e à dependência de Deus em todas as circunstâncias. Para o seguidor de Cristo, a oração de Agur é um exemplo de contentamento e de priorização da glória de Deus sobre as circunstâncias materiais (Filipenses 4:11-13). Ele compreende que tanto a riqueza excessiva quanto a pobreza extrema podem ser armadilhas que afastam o homem de Deus ou o levam ao pecado. O pedido por honestidade e aversão à mentira é fundamental para uma vida de integridade. No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a serem honestos em tudo e a buscar o contentamento com o que têm. Eles devem também alertar sobre os perigos tanto da ganância pela riqueza quanto do desespero na pobreza, mostrando que a moderação e a dependência de Deus são o caminho para a integridade. Filhos aprendem que a honestidade e a moderação são virtudes que levam à paz e à honra a Deus.

No ambiente profissional, a integridade na palavra e nas negociações é crucial. A busca por um equilíbrio entre a prosperidade e a humildade é mais saudável do que a ambição desenfreada ou a total aversão ao trabalho. Profissionais que valorizam a verdade e o contentamento são mais éticos e resilientes. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve promover a honestidade, a moderação e o contentamento entre os crentes. A oração de Agur é um lembrete de que a fé é testada tanto na abundância quanto na escassez, e que o objetivo principal é sempre glorificar a Deus. Como cidadãos, somos chamados a promover a integridade em todas as esferas da vida pública e a buscar um equilíbrio econômico que evite os extremos de opulência e miséria. A valorização da honestidade e a condenação da ganância são cruciais para a construção de uma sociedade justa e equitativa, onde as pessoas não se esqueçam de Deus em sua abundância nem O blasfemem em sua pobreza.

Provérbios 30:10-14 (Os Tipos de Pessoas Perversas)

Este bloco de Provérbios 30 apresenta uma série de observações sobre diferentes tipos de pessoas perversas, destacando a maldade de seus corações e a sua arrogância. O versículo 10 adverte: “Não calunies o servo ao seu senhor, para que não te amaldiçoe, e fiques culpado”. O v. 11 descreve uma geração amaldiçoadora: “Há uma geração que amaldiçoa a seu pai e não abençoa a sua mãe”. O v. 12 fala de uma geração autoenganada: “Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos, e contudo não está lavada da sua imundícia”. O v. 13 continua com a arrogância: “Há uma geração cujos olhos são altivos, e cujas pálpebras se levantam em soberba”. Finalmente, o v. 14 descreve a crueldade: “Há uma geração cujos dentes são como espadas, e cujas queixadas são como facas, para devorarem os pobres da terra e os necessitados dentre os homens”.

A aplicação prática dessas verdades nos impele a evitar a calúnia, a honrar os pais, a buscar a verdadeira pureza, a rejeitar a arrogância e a lutar contra a opressão. Para o seguidor de Cristo, a calúnia é um pecado que traz culpa. A desonra aos pais é condenada por Deus (Êxodo 20:12). A autojustificação e a hipocrisia, sem a verdadeira transformação interior, são enganosas. A arrogância e a soberba são abomináveis a Deus (Provérbios 16:18). E a opressão dos pobres é uma injustiça grave que clama aos céus (Tiago 2:13). No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a não caluniar, a honrar seus pais e a buscar a verdadeira pureza de coração, não a autojustificação. Eles devem também combater a arrogância e a crueldade, incentivando a compaixão pelos mais fracos. Filhos aprendem que a honestidade e a humildade são virtudes que agradam a Deus e que a injustiça e a arrogância trazem condenação.

No ambiente profissional, a calúnia e a deslealdade são destrutivas para a equipe. Profissionais que se autojustificam e que agem com arrogância prejudicam o ambiente. A opressão ou a exploração de subordinados é inaceitável. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve combater a calúnia, promover a honra aos pais e exortar à verdadeira pureza e humildade. A condenação da arrogância e da opressão (inclusive dentro da própria comunidade) é fundamental para o testemunho cristão. Como cidadãos, somos chamados a combater a calúnia e a desonra aos mais velhos em nossa sociedade. A denúncia da hipocrisia, da arrogância e, acima de tudo, da opressão dos pobres e necessitados, é crucial para a construção de uma sociedade justa e compassiva, onde a verdade e a humildade prevalecem sobre a falsidade e a crueldade.

Provérbios 30:15-19 (As Quatro Coisas Insaciáveis e as Maravilhas da Vida)

Este bloco de Provérbios 30 apresenta uma série de provérbios numéricos, descrevendo coisas insaciáveis e maravilhas inexplicáveis, que apontam para a profundidade do mistério e da natureza humana. O versículo 15 inicia com uma imagem de ganância: “A sanguessuga tem duas filhas, que clamam: ‘Dá! Dá!’”. Depois, lista quatro coisas insaciáveis: “Três coisas há que nunca se fartam; sim, quatro que nunca dizem: ‘Basta!’: o inferno; a madre estéril; a terra que nunca se farta de água; e o fogo que nunca diz: ‘Basta!’”. Os vv. 17-19 continuam com a irreverência e as maravilhas: “Os olhos que escarnecem do pai e desprezam a obediência à mãe, os corvos do vale os arrancarão e os filhotes da águia os devorarão. Três coisas há que me são maravilhosas; sim, quatro que não conheço: o caminho da águia no ar; o caminho da cobra na penha; o caminho do navio no meio do mar; e o caminho do homem com uma virgem”.

A aplicação prática dessas verdades nos impele a reconhecer a insaciabilidade do pecado, a temer a Deus e a maravilhar-nos com a complexidade da criação e das relações humanas. Para o seguidor de Cristo, a insaciabilidade da ganância, do pecado e da morte é uma realidade que só pode ser superada pela graça de Deus (Romanos 6:23). A desonra aos pais é condenável e tem consequências graves. As "quatro maravilhas" nos lembram da sabedoria insondável de Deus em Sua criação e na complexidade das relações humanas, especialmente no mistério da união entre homem e mulher. No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos sobre a insaciabilidade da ganância e a necessidade de contentamento. Eles devem também incutir o respeito e a honra aos pais, alertando sobre as consequências da desobediência. É um bom momento para instigar a curiosidade e o deslumbramento com a natureza e o mistério das relações humanas. Filhos aprendem que a ganância não tem fim e que o respeito aos pais é fundamental.

No ambiente profissional, a ganância insaciável pode levar à corrupção e à insatisfação. A desonra a figuras de autoridade pode prejudicar a carreira. A capacidade de observar e aprender com as complexidades da vida, sem arrogância, é uma virtude. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve pregar contra a ganância e a insaciabilidade, e promover a honra aos pais e o respeito à autoridade. A admiração pela criação de Deus e pela complexidade das relações humanas, incluindo o casamento, deve levar à adoração e ao discernimento. Como cidadãos, somos chamados a combater a ganância insaciável que leva à exploração. A valorização da honra aos pais e a admiração pela complexidade da vida e do universo são cruciais para uma sociedade que busca sabedoria e reverência, onde a insaciabilidade é um aviso e as maravilhas da criação e das relações humanas são um convite à reflexão.

Provérbios 30:20-23 (A Caminho da Mulher Adúltera e as Quatro Coisas que Perturbam a Terra)

Este bloco de Provérbios 30 descreve a desfaçatez da mulher adúltera e lista quatro coisas que perturbam a ordem social. O versículo 20 ilustra a autojusificação do adúltero: “Tal é o caminho da mulher adúltera: ela come, e limpa a sua boca, e diz: ‘Não fiz mal nenhum’”. Os vv. 21-23 listam as quatro coisas que fazem a terra tremer: “Por três coisas a terra treme, e por quatro não pode suportar: pelo servo quando reina; e pelo tolo quando se farta de pão; pela mulher aborrecida quando casa; e pela serva quando herda de sua senhora”.

A aplicação prática dessas verdades nos impele a combater a autojusificação do pecado e a reconhecer as situações que geram instabilidade social. Para o seguidor de Cristo, a dissimulação e a negação do pecado, especialmente da imoralidade sexual, são perigosas e enganosas. As "quatro coisas" que perturbam a terra são exemplos de desordem social que resultam de inversões de papéis e de poder sem preparo ou caráter. No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos sobre os perigos da imoralidade e da autojustificação do pecado. Eles devem também alertar sobre as consequências de inversões de papéis e da ascensão de pessoas sem caráter ao poder, mostrando que a ordem e a sabedoria são essenciais para a estabilidade. Filhos aprendem que o pecado tem consequências e que a ordem e o respeito são fundamentais para a paz.

No ambiente profissional, a falta de prestação de contas e a autojustificação de erros são prejudiciais. A ascensão de pessoas despreparadas ou sem caráter ao poder pode causar caos e ineficiência. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve combater a imoralidade e a autojustificação do pecado. A pregação deve alertar sobre as consequências da desordem e da falta de caráter na liderança, promovendo a humildade e a preparação para o serviço. Como cidadãos, somos chamados a combater a neoralidade e a irresponsabilidade, e a reconhecer que a ascensão de pessoas sem caráter ou preparo para posições de poder pode desestabilizar a sociedade. A valorização da sabedoria, da justiça e da ordem é crucial para a prosperidade de uma nação, onde a negação do pecado e a desordem social trazem instabilidade e sofrimento.

Provérbios 30:24-28 (As Quatro Coisas Pequenas e Sábias)

Este bloco de Provérbios 30 apresenta um conjunto de "quatro coisas" que, apesar de pequenas, demonstram grande sabedoria e organização, servindo como exemplos de diligência e estratégia. O versículo 24 inicia: “Quatro coisas há na terra que são pequenas, mas extremamente sábias”. O v. 25 descreve as formigas: “As formigas, povo sem força, todavia preparam no verão o seu pão”. O v. 26 as tocas dos arganazes (ou coelhos da rocha): “Os coelhos da rocha, povo não poderoso, todavia fazem a sua casa nas rochas”. O v. 27 as gafanhotas: “Os gafanhotos não têm rei, todavia marcham todos em bandos”. Finalmente, o v. 28 a lagartixa (ou aranha): “A aranha, que se pode apanhar com as mãos, todavia está nos palácios dos reis”.

A aplicação prática dessas verdades nos impele à humildade de aprender com a natureza e a aplicar seus princípios de diligência, planejamento, segurança e perseverança. Para o seguidor de Cristo, esses exemplos da criação nos ensinam sobre a sabedoria e a providência divina. A formiga nos ensina sobre a previdência e o trabalho árduo (Provérbios 6:6-8). O arganaz (ou coelho da rocha) sobre a busca por segurança em um refúgio seguro. As gafanhotas sobre a organização e a disciplina, mesmo sem uma liderança formal. E a aranha sobre a perseverança e a capacidade de alcançar lugares improváveis. No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a observar a natureza e a aprender com ela. Eles devem incentivar a diligência, o planejamento, a busca por segurança e a perseverança, mostrando que a sabedoria se manifesta de diversas formas, mesmo nas pequenas coisas. Filhos aprendem que o planejamento e a persistência trazem resultados, independentemente do tamanho ou força.

No ambiente profissional, esses exemplos inspiram a produtividade, a segurança nos processos, a organização em equipe e a perseverança para alcançar objetivos ambiciosos. A humildade de aprender com as "pequenas coisas" é crucial para o sucesso. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve aprender com a diligência e a organização para cumprir sua missão. A busca por segurança em Deus (a Rocha) e a perseverança na fé, mesmo sem líderes humanos perfeitos, são lições valiosas. Como cidadãos, somos chamados a valorizar a diligência, o planejamento e a organização em todas as esferas da vida. A observação de como a natureza demonstra sabedoria, mesmo em suas criaturas mais simples, é crucial para a nossa própria prosperidade e segurança, onde a dedicação e a estratégia, independentemente dos recursos, podem levar a grandes feitos.

Provérbios 30:29-33 (As Quatro Coisas Nobres e a Sabedoria da Aversão à Contenda)

Este bloco final de Provérbios 30 apresenta uma série de "quatro coisas" que demonstram majestade ou comportamento digno, e conclui com uma advertência sobre a contenda e a raiva. O versículo 29 inicia: “Há três que andam com garbo, e a quarta anda com elegância no seu porte”. O v. 30 descreve o leão: “O leão, o mais forte entre os animais, que não volta atrás por causa de ninguém”. O v. 31 o galo (ou o galgo): “O galo que anda com garbo, ou o bode, ou o rei com o seu exército”. O v. 32 adverte contra a altivez e o mal: “Se procedeste loucamente, exaltando-te, ou se o pensaste mal, põe a mão na boca”. Finalmente, o v. 33 conclui com a causa e efeito da contenda: “Porque o mexer do leite produz manteiga, e o torcer o nariz produz sangue, assim o forçar a ira produz contenda”.

A aplicação prática dessas verdades nos impele à coragem, à dignidade, à humildade e à aversão à contenda. Para o seguidor de Cristo, a coragem e a dignidade do leão, do galo e do rei são exemplos de liderança. A advertência contra a altivez e o mal pensado é um chamado à humildade e ao arrependimento (Tiago 4:6). A lição sobre a causa e efeito da contenda nos ensina a evitar a raiva e a provocação, pois elas inevitavelmente geram conflito. No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a ter coragem e dignidade em suas ações. Eles devem também alertar sobre os perigos da arrogância e do mal planejado, incentivando a humildade. É crucial ensinar que a provocação e a ira levam à contenda e à discórdia. Filhos aprendem que a dignidade e a humildade são virtudes e que a paciência evita conflitos.

No ambiente profissional, a coragem para liderar e a dignidade no comportamento são essenciais. A humildade para reconhecer erros e a capacidade de controlar a raiva são cruciais para um ambiente de trabalho produtivo. A provocação e a agressividade verbal levam a conflitos e prejudicam a equipe. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve promover a coragem na fé e a dignidade na conduta dos crentes. A humildade e a rejeição de pensamentos malignos são fundamentais. A busca pela paz e a aversão à contenda são cruciais para a unidade do corpo de Cristo. Como cidadãos, somos chamados a valorizar a coragem e a dignidade em nossos líderes. A condenação da arrogância e do mal planejado, e a promoção da paz e do diálogo sobre a contenda e a raiva, são cruciais para a harmonia e o progresso de uma nação, onde a calma e a sabedoria evitam conflitos desnecessários e promovem a paz.

✡️✝️ Comentário dos Rabinos e Pais Apostólicos

✡️ Rashi (Rabbi Shlomo Yitzchaki, séc. XI)

Provérbios 30:1 — “Palavras do agur, filho de jaque: A palavra é esta, a Deus pertence, e a Deus pertence a palavra do agur, filho de jaque.”

“Rashi identifica Agur como um sábio cuja fala expressa humildade e reconhecimento da dependência divina.”

Comentário: A introdução destaca a humildade do autor e a origem divina da sabedoria, ressaltando a importância da reverência a Deus na busca pelo entendimento.

Fonte: Rashi on Proverbs 30:1 (Sefaria)

✡️ Malbim (Rabbi Meir Leibush ben Yehiel Michel, séc. XIX)

Provérbios 30:5 — “Toda palavra de Deus é pura; ele é um escudo para os que nele confiam.”

“Malbim afirma que a palavra divina é perfeita e confiável, sendo fonte de proteção para os fiéis.”

Comentário: Este versículo exalta a confiança na palavra de Deus como fundamento seguro para a vida espiritual e moral.

Fonte: Malbim on Proverbs 30:5 (Sefaria)

✡️ Midrash Mishlei (מדרש משלי)

Provérbios 30:7-9
“Duas coisas te peço; não as negues antes que eu morra: Afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me o pão necessário.”

“O Midrash Mishlei interpreta este pedido como um anseio por equilíbrio e honestidade na vida.”

Comentário: O texto enfatiza a moderação e a sinceridade como virtudes fundamentais, evitando excessos que possam desviar do caminho correto.

Fonte: Midrash Mishlei 30 no Sefaria

✝️ Orígenes (grego)

Provérbios 30:5
“Πᾶν ῥῆμα Θεοῦ πεπυρωμένον· ὑπερασπίζεται τοὺς ἐλπίζοντας ἐπ’ αὐτόν.”
(“Toda palavra de Deus é pura; Ele é um escudo para os que nele confiam.”)

«Ἡ τοῦ Θεοῦ γραφὴ καθαρὰ καὶ ἀδολοῖ· οὐδὲν ἐν αὐτῇ ψεῦδος· πᾶσιν τοῖς ἐλπίζουσιν αὐτῷ γίγνεται φρούρημα.»
(“A Escritura de Deus é pura e sem engano; nela não há falsidade; para todos que nela esperam, torna-se proteção.”)

Comentário: Orígenes reforça a confiança absoluta na veracidade da Escritura, enfatizando sua pureza e eficácia como escudo espiritual.

Fonte: Origenes, Homiliae in Proverbia, PG 13:860-865

✝️ Clemente de Alexandria (grego)

Provérbios 30:8-9
“Ματαιότητα καὶ λόγον ψευδῆ μάκρυνέ ἀπ’ ἐμοῦ· πενίαν καὶ πλοῦτον μὴ δῷς μοι· ἀλλά δός μοι τὰ ἀναγκαῖά μου...”
(“Afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem pobreza nem riqueza, mas apenas o pão necessário...”)

«Ἡ αὐτάρκεια ἀρετὴ ἐστίν· οὐ πλοῦτος τὸ σωτήριον, ἀλλὰ ἡ τῶν ἀναγκαίων οἰκονομία.»
(“A suficiência é uma virtude; não é a riqueza que salva, mas o uso moderado do necessário.”)

Comentário: Clemente destaca a autarquia (αὐτάρκεια) como ideal cristão: a vida equilibrada e moderada, sem excessos materiais, é mais segura espiritualmente.

Fonte: Clemens Alexandrinus, Paedagogus, PG 8:610-615

✝️ Eusébio de Cesareia (grego)

Provérbios 30:12
“Γενεὰ ἣν καθαρὰν λογίζεται ἑαυτῇ, ἀπὸ δὲ τῶν ῥυπῶν αὐτῆς οὐκ ἀπελούσθη.”
(“Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos, mas que nunca foi lavada da sua imundícia.”)

«Ἡ ψυχὴ ἄνθρωπος εἶναι δοκεῖ καθαρὰ, ἀλλ’ ἐὰν μὴ λουσθῇ πνευματικῶς, ῥυπαρὰ μένει.»
(“A alma pode parecer pura ao homem, mas, se não for espiritualmente lavada, permanece impura.”)

Comentário: Eusébio interpreta esta passagem como uma advertência contra o autoengano espiritual: só a purificação divina torna a alma verdadeiramente limpa.

Fonte: Eusebius Caesariensis, Commentarii in Proverbia, PG 23:620-625

✝️ Santo Agostinho (latim)

Provérbios 30:4
“Quis ascendit in caelum atque descendit? Quis continuit spiritum in manibus suis?”
(“Quem subiu ao céu e desceu? Quem recolheu o vento em seus punhos?”)

«In Christo solum haec implentur: qui de caelo descendit et ascendit; qui Spiritum Sanctum misit, et omnia continet.»
(“Estas coisas se cumprem apenas em Cristo: que desceu do céu e subiu; que enviou o Espírito Santo e a tudo sustenta.”)

Comentário: Agostinho vê aqui uma clara referência cristológica, antecipando a encarnação, ascensão e envio do Espírito Santo por Cristo.

Fonte: Augustinus, De Trinitate, PL 42:890-895

✝️ Basílio de Cesareia sobre Provérbios 30:3-4

Levantai, pois, os vossos olhos para o céu, como aquele que disse: “A ti, que habitas no céu, levanto os meus olhos”. Olhai para o sol da justiça e, como sois guiados pelos mandamentos do Senhor, que se assemelham à mais radiante das estrelas, tende olhos vigilantes. Não permitais que os olhos [da alma] cochilem nem que as pálpebras descansem, para que os mandamentos vos guiem perpetuamente. “Pois a vossa lei é lâmpada para os meus pés”, diz ele, “e luz para o meu caminho”. De fato, se nunca adormecerdes ao leme enquanto navegais pela vida, dada a situação obviamente instável dos assuntos mundanos, obtereis a cooperação do Espírito, que vos guiará além e vos transportará com brisas suaves e em pacífica segurança até que chegueis ilesos àquele portão tranquilo e sereno, pela vontade de Deus, a quem sejam a glória e o poder para todo o sempre. Amém.
Sobre Provérbios 30:8-9:
Salomão diz: “Não me deis mendicância nem riquezas; dai-me apenas o necessário e suficiente”, para que, estando farto, eu não negue e diga: Quem me vê? Ou, sendo pobre, eu roube e renegue o nome do meu Deus; representando assim a riqueza como saciedade, a pobreza como a completa falta das necessidades da vida e a suficiência como um estado livre de carência e sem superfluidade. A suficiência varia, no entanto, de acordo com a condição física e a necessidade atual.… Em todos os casos, deve-se ter cuidado com uma boa mesa, mas sem ultrapassar os limites da necessidade real.
Fonte: HOMILIA SOBRE O INÍCIO DE PROVÉRBIOS 17, THE LONG RULES 20.

✝️ Beda sobre Provérbios 30:5

Toda palavra de Deus é um escudo aceso para aqueles que nele esperam. Toda a Igreja de Cristo sabe disso, especialmente aqueles que, com Deus habitando neles, desprezam a sabedoria terrena, porque toda palavra divina acende os corações dos eleitos com o fogo da caridade, ilumina com o conhecimento da verdade, consome a imundície dos vícios e protege contra as ciladas dos inimigos e todas as adversidades. Mas isso deve ser observado com mais atenção, pois a peculiaridade da língua grega, que é pepyromenon, não é explicada em latim por uma única palavra; por isso, ora é traduzida como ignitum, ora como inflamado pelo fogo, como a Tua palavra é veementemente inflamada (Sl. CXVIII), e Prata provada pelo fogo (Sl. XI). Ambas são expressas em grego por uma única palavra, pepyromenon. E o que soa muito semelhante a esta frase de Salomão é: As palavras do Senhor são provadas pelo fogo (Sl. XVII): isto é, pepiromenos. Portanto, purificada como se derretida, no fogo, ela é purificada; pois, assim como quaisquer metais derretidos pelo fogo não contêm em si nenhuma escória estranha e inútil, tudo o que permanece neles é verdadeiro e perfeito, e purificado de toda mancha de faltas; assim também a palavra de Deus, testificando a fé nos bens eternos em si mesma. Por isso é que o Senhor diz: Nem um jota ou um ápice perecerá da lei até que todas as coisas sejam cumpridas (Mateus V). Pois todas as coisas são verdadeiras e fora de toda ambiguidade, inflamadas por vaidade supérflua.
Fonte: Comentário sobre Provérbios

✝️ Ambrósio de Milão sobre Provérbios 30:8-9

O pobre e o rico devem, portanto, tomar cuidado, pois há tentações tanto para o homem pobre quanto para o rico. E então o sábio diz: "Não me deis nem mendicância nem riquezas". Ele explica como isso pode ser obtido. O homem tem o suficiente quando tem o suficiente, porque um homem rico tende a distender sua mente com preocupações e ansiedades, assim como enche seu estômago com comida farta. Por essa razão, o sábio ora para que possa ter o que é necessário e adequado... Evite, portanto, as tentações do mundo, para que os pobres não se desesperem e os ricos não se engrandeçam.
Fonte: SEIS DIAS DA CRIAÇÃO 6:53

✝️ Hipólito de Roma sobre Provérbios 30:15-16

Quanto à sanguessuga-cavalo. Havia três filhas apaixonadamente amadas pelo pecado: fornicação, assassinato e idolatria. Essas três não a satisfaziam, pois ela não se satisfaz. Ao destruir o homem por meio dessas ações, o pecado nunca varia, mas apenas cresce continuamente. Pois o quarto, continua ele, nunca se contenta em dizer "basta", significando que é a luxúria universal. Ao nomear o "quarto", ele se refere à luxúria no universal. Pois, assim como o corpo é um, e ainda assim tem muitos membros, assim também o pecado, sendo um, contém em si muitas e variadas concupiscências, pelas quais arma ciladas aos homens. Portanto, para nos ensinar isso, ele usa os exemplos do Sheol (Hades), do amor às mulheres, do inferno (Tártaro) e da terra que não está cheia de água. E água e fogo, de fato, jamais dirão: "Basta". E o sepulcro (Hades) de modo algum cessa de receber as almas dos homens injustos; nem o amor ao pecado, no caso do amor às mulheres, cessa de se entregar à fornicação, tornando-se o traidor da alma.
Fonte: Fragmentos Exegéticos de Hipólito

📚 Comentários Clássicos Teológicos

📖 Matthew Henry (1662–1714)

Matthew Henry observa que Provérbios 30 é um capítulo singular, atribuído a Agur, que apresenta uma reflexão humilde e profunda sobre a sabedoria e os limites do conhecimento humano. Ele destaca a abertura (vv.1-4) como uma confissão de ignorância, onde Agur reconhece sua falta de entendimento, contrastando com a pretensão de muitos sábios de seu tempo. Henry vê nisso uma lição sobre a humildade verdadeira, que é fundamental para a sabedoria.

No restante do capítulo (vv.5-33), Henry comenta as diversas "provações" e "medidas" que Agur apresenta, como listas de coisas que são insaciáveis (v.16), inexplicáveis (v.18-19), e comportamentos que merecem repreensão (v.21-31). Para Henry, essas listas refletem a observação da ordem divina na criação, a justiça e o juízo que governa a vida humana.

Especialmente ele chama atenção para os versículos 23-28, que falam sobre o perigo da soberba, a injustiça e a crueldade, mostrando que a sabedoria é também ética e prática. Henry conclui que o capítulo é um convite a reconhecer a insuficiência humana, a confiar na revelação divina e a observar a sabedoria na vida cotidiana.

Fonte: Matthew Henry Commentary on Proverbs 30

📖 John Gill (1697–1771)

John Gill destaca Provérbios 30 como uma obra de Agur, que difere dos outros provérbios por sua forma e conteúdo. Gill enfatiza a humildade expressa nos versículos iniciais, especialmente a confissão de que o homem não possui entendimento próprio suficiente para conhecer a Deus plenamente (vv.1-4).

Ele explica o nome “Ithiel” e “Ukal” como possíveis pseudônimos ou títulos, e analisa o significado do termo hebraico לֹא אָכְלִיתִי (lo akhliti), “não comi”, ressaltando o jejum espiritual de Agur. Nos versículos 5-6, Gill exalta a perfeição e o poder da palavra de Deus, que serve de guia e proteção contra o erro.

Nas passagens que seguem (vv.7-33), ele comenta as diversas observações de Agur sobre a natureza humana e o mundo, destacando o contraste entre o sábio e o insensato, e a importância da moderação, da justiça e da prudência. Gill também explica detalhadamente as metáforas e as imagens, como as que falam do escorpião e da andorinha, interpretando-as dentro do contexto moral.

Fonte: John Gill's Exposition of the Bible on Proverbs 30

📖 Albert Barnes (1798–1870)

Albert Barnes ressalta que Provérbios 30 é uma composição distinta, atribuída a Agur, marcada por sua sinceridade e pela análise profunda da condição humana. Ele comenta que a declaração de Agur nos versículos iniciais (vv.1-4) revela a humildade intelectual do autor, que reconhece sua limitação e a majestade insondável de Deus.

Barnes observa que os versículos 5-6 sublinham a autoridade e a pureza da palavra divina, e que devem ser aceitos com reverência. Quanto às listas de observações nos versículos seguintes, Barnes vê nelas uma série de provérbios que ilustram a sabedoria prática, o juízo divino e o comportamento moral correto.

Ele explica que as figuras do escorpião, do gafanhoto, do grilo, entre outros (vv. 27-31), são usadas para descrever a disciplina e a ordem na criação, sugerindo que os homens deveriam aprender com essas ordens naturais. Barnes conclui destacando que Provérbios 30 é um apelo à humildade, à confiança em Deus e ao reconhecimento dos limites humanos.

Fonte: Albert Barnes' Notes on the Whole Bible on Proverbs 30

📖 Keil (1807–1888) & Delitzsch (1813–1890)

Keil & Delitzsch realizam uma análise detalhada do texto hebraico de Provérbios 30, ressaltando a estrutura e as expressões únicas usadas por Agur.

Eles destacam a abertura do capítulo (vv.1-4) como uma confissão da insuficiência humana para compreender a Deus, observando termos hebraicos como אֶת־הַכָּל שְׂעַר־חָכְמָה (et hakol se'ar chokhmah, "toda a soma da sabedoria"), que indica a totalidade do conhecimento divino inacessível ao homem.

No versículo 5, eles enfatizam a palavra “שְׁלֵמָה” (shlemah), “perfeita” ou “completa”, aplicada à palavra divina, sublinhando sua inerrância e poder. Ao comentar as listas de coisas “impossíveis de entender” (vv.18-19), eles detalham a expressão hebraica חֲמִשָּׁה אֵלֶּה לֹא־יָדְעוּ (chamishah eileh lo yad'u, "cinco coisas que eles não sabem"), ressaltando que esse estilo é típico da poesia sapiencial hebraica para chamar atenção ao mistério divino.

Keil & Delitzsch também analisam as metáforas dos versículos 27-31, observando o uso de termos específicos para cada inseto e animal e como isso reflete a ordem e o controle divinos na natureza. Eles concluem que Provérbios 30 é um dos textos mais originais da literatura sapiencial, que ensina a humildade diante do mistério divino e a necessidade de confiar na sabedoria revelada por Deus.

Fonte: Keil & Delitzsch Commentary on Proverbs 30

📚 Concordância Bíblica

🔹 Provérbios 30:6
“Não acrescentes nada às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas encontrado mentiroso.”

Deuteronômio 4:2
“Não acrescentarás à palavra que eu te ordeno, nem diminuirás dela...”

Apocalipse 22:18–19
“Porque, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia...”

Comentário: Este versículo reforça a santidade e a integridade da Palavra de Deus. Como no Deuteronômio, a advertência é para preservar a pureza do texto sagrado, sem acréscimos ou omissões. No Novo Testamento, Apocalipse ecoa essa advertência, mostrando a continuidade do cuidado divino pela revelação.

🔹 Provérbios 30:7
“Duas coisas te pedi; não mas negues antes que eu morra: a falsidade e a mentira afasta de mim.”

Salmo 34:14
“Aparta-te do mal, e faze o bem...”

Efésios 4:25
“Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo.”

Comentário: O pedido por afastamento da falsidade e mentira reflete o desejo pela justiça e verdade, que permeiam tanto o Antigo quanto o Novo Testamento. Paulo em Efésios reforça essa ética cristã da sinceridade, alinhando-se ao pedido do sábio em Provérbios.

🔹 Provérbios 30:8
“Afasta de mim a vaidade e as palavras mentirosas; dá-me também a tua graça, e a tua lei não a deixe.”

Salmo 119:29
“Afasta de mim o caminho da mentira...”

João 1:14
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade.”

Comentário: A vaidade e a mentira são rejeitadas em favor da graça e da lei divina. A ligação com João 1 destaca que a verdadeira graça e verdade se manifestam em Cristo, o Verbo encarnado, quem cumpre a lei e oferece a graça que o salmista e o provérbio desejam.

🔹 Provérbios 30:9
“Para que não me enriqueça, nem venha a negar-te, dizendo: Quem é o Senhor?”

1 Timóteo 6:10
“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males...”

Lucas 12:15
“Acautelai-vos e guardai-vos da avareza...”

Comentário: O temor de se tornar rico e esquecer Deus reflete a advertência bíblica sobre os perigos do materialismo. Paulo e Jesus alertam que a riqueza pode afastar o homem da fé e da humildade, ecoando a sabedoria deste provérbio.

🔹 Provérbios 30:10
“Não expliques ao servo, para que não te amaldiçoe, porque mal nome tem o que profere palavras tortas.”

Mateus 10:24–25
“O discípulo não é superior ao mestre... se perseguiram a mim, também vos perseguirão a vós.”

Tiago 3:8–10
“Nenhum homem pode domar a língua... com ela bendizemos a Deus e com ela amaldiçoamos os homens.”

Comentário: Este versículo adverte sobre as consequências de se ensinar ou instruir alguém que pode reagir com ingratidão ou maldição. Jesus e Tiago falam sobre a dificuldade da convivência e controle da fala, mostrando o perigo das palavras mal usadas.

🔹 Provérbios 30:11
“Há uma geração que amaldiçoa a seu pai, e não bendiz a sua mãe.”

Êxodo 20:12
“Honra a teu pai e a tua mãe...”

Mateus 15:4
“Porque Deus disse: Honra a teu pai e tua mãe...”

Comentário: Este versículo denuncia a ingratidão e a desobediência às ordens divinas de honrar os pais. Jesus reafirma a importância do mandamento, mostrando que a maldição aos pais é uma violação grave da ordem moral divina.

🔹 Provérbios 30:12
“Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos, mas nunca foi lavada da sua imundícia.”

Isaías 64:6
“Todas as nossas justiças são como trapo de imundícia.”

Romanos 3:10–12
“Não há justo, nem um sequer...”

Comentário: Este versículo denuncia o falso senso de justiça própria. Isaías e Paulo enfatizam que ninguém é justo diante de Deus por si mesmo, e que a verdadeira purificação só vem por meio da graça.

🔹 Provérbios 30:13
“Há uma geração cujos olhos são altivos, e as pálpebras levantadas.”

Salmo 123:4
“Nossos olhos estão para o Senhor...”

Provérbios 21:4
“Olhos altivos e coração orgulhoso, ambos são pecado.”

Comentário: O olhar altivo representa orgulho e arrogância, um pecado contra Deus e o próximo. O Salmo chama a humildade e dependência de Deus, contrapondo-se ao orgulho da geração mencionada aqui.

🔹 Provérbios 30:14
“Há uma geração cujos dentes são espadas, e cujas presas, facas, para devorar os pobres da terra, e os necessitados da terra.”

Salmo 140:3
“Põem suas línguas como espada...”

Mateus 26:52
“Todo aquele que tomar a espada, à espada morrerá.”

Comentário: A metáfora dos dentes como armas reflete a violência e opressão dos poderosos contra os vulneráveis. O Salmo 140 lamenta esse mal, e Jesus lembra a justiça divina que repudia a violência.

🔹 Provérbios 30:15
“A sanguessuga tem duas filhas, que dizem: Dá, dá. Três coisas não se fartam, e quatro nunca dizem: Basta.”

Provérbios 27:20
“A sepultura e o abismo nunca se fartam; assim os olhos do homem nunca se fartam.”

Eclesiastes 1:8
“Nunca se fartam os olhos de ver, nem os ouvidos de ouvir.”

Comentário: O texto usa a sanguessuga como símbolo da insaciável cobiça humana, que nunca está satisfeita. Essa insatisfação incessante é um tema recorrente no Antigo Testamento, mostrando a natureza da ganância que afasta do temor de Deus.

🔹 Provérbios 30:16
“O aborto, o ventre que nunca se farta, a terra que não se satisfaz de água, e o fogo que nunca diz: Basta.”

Jeremias 2:13
“Porque dois males fez o meu povo: me deixaram a mim, fonte de água viva...”

Apocalipse 16:8
“E o quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol...”

Comentário: A comparação entre o ventre insaciável e a terra sedenta demonstra a natureza voraz e destrutiva do pecado. Jeremias enfatiza a rejeição de Deus como a verdadeira fonte da insatisfação humana, e o fogo simboliza julgamento divino.

🔹 Provérbios 30:17
“O olho que escarnece do pai, e despreza a obediência da mãe, os corvos do ribeiro o arrancarão, e a águia o comerá.”

Êxodo 21:15
“Quem ferir a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá.”

Mateus 15:4
“Honra teu pai e tua mãe.”

Comentário: Este versículo destaca a severidade do castigo divino contra a desobediência filial, um tema presente tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, reafirmando a importância do respeito e honra aos pais.

🔹 Provérbios 30:18
“Três coisas me são difíceis de entender, e quatro que não sei:”

Jó 37:18
“Também é difícil entender o caminho do trovão...”

Eclesiastes 3:11
“Fez tudo apropriado ao seu tempo; também pôs a eternidade no coração do homem...”

Comentário: A admissão da limitação humana diante dos mistérios da criação é uma postura humilde diante de Deus, reconhecida em várias passagens bíblicas que revelam a sabedoria divina além do alcance humano.

🔹 Provérbios 30:19
“O caminho da águia no céu, o caminho da cobra na pedra, o caminho do navio no meio do mar, e o caminho do homem com uma donzela.”

Jó 28:25-27
“Quando deu peso ao vento e fixou as medidas das águas... Ele fez uma regra para a chuva e um caminho para o relâmpago.”

Eclesiastes 3:11
“Fez tudo apropriado ao seu tempo; também pôs a eternidade no coração do homem...”

Comentário: Este versículo destaca mistérios da ordem natural e humana que escapam à compreensão completa, ressaltando o plano soberano de Deus na criação e na vida, que inclui o relacionamento humano — especialmente o da donzela, símbolo da pureza e do início da vida conjugal.

🔹 Provérbios 30:20
“Assim é o caminho da mulher adúltera; ela come, e limpa a sua boca, e diz: Não fiz mal algum.”

Provérbios 7:5-27
Narrativa da mulher adúltera e seu engano.

João 8:3-11
Jesus confronta a mulher adúltera e a oferece perdão, mas chama ao arrependimento.

Comentário: O versículo mostra a impiedade e a negação do pecado pela mulher adúltera, o que provoca juízo. No Novo Testamento, Jesus oferece perdão, mas não ignora o pecado, convidando à transformação.

🔹 Provérbios 30:21
“Por três coisas se abala a terra, e a quarta não pode suportar:”

Salmo 18:7
“Então a terra tremeu e se abalou...”

Isaías 24:19
“A terra está completamente quebrantada...”

Comentário: Este verso anuncia eventos de grande impacto e julgamento, que figurativamente “abalam a terra”. Revela a gravidade dos pecados e suas consequências na ordem criada.

🔹 Provérbios 30:22
“Por um servo, quando reina; por um tolo, quando se farta de pão;”

1 Samuel 8:6-7
Rejeição do reinado de Saul pelo povo; Deus vê isso como rejeição Dele.

Provérbios 29:15
“O castigo da correção é uma vara para o malvado...”

Comentário: A inversão da ordem natural, com um servo no trono, representa instabilidade e injustiça, mostrando a importância da liderança justa para a estabilidade social e espiritual.

🔹 Provérbios 30:23
“Por uma mulher rixa e contenciosa.”

Provérbios 21:9
“Melhor é morar no canto da eira do que com a mulher rixosa numa casa ampla.”

Efésios 4:31
“Longe de vós toda amargura, e cólera...”

Comentário: Aqui se reconhece o impacto negativo da discórdia doméstica, que pode gerar caos e desordem. A paz no lar é valorizada como reflexo da vida espiritual saudável.

🔹 Provérbios 30:24
“Quatro coisas são pequenas na terra, mas são muito sábias:”

Jó 12:7-10
A sabedoria encontrada na criação e nas pequenas criaturas.

Mateus 11:25
“Eu te louvo, ó Pai... porque escondeste estas coisas dos sábios e entendidos...”

Comentário : A valorização da sabedoria mesmo nas coisas pequenas e aparentemente insignificantes mostra que Deus revela a Sua sabedoria além do poder humano, desafiando os orgulhosos.

🔹 Provérbios 30:25
“As formigas são um povo sem força, porém preparam no verão o seu pão;”

Provérbios 6:6-8
Exortação a aprender com a diligência das formigas.

2 Tessalonicenses 3:10
“Se alguém não quiser trabalhar, também não coma.”

Comentário: A formiga simboliza diligência, planejamento e trabalho responsável, características valorizadas no ensino bíblico como parte da vida justa e sábia.

🔹 Provérbios 30:26
“O grilo não tem rei, porém, sai todos eles por bandos.”

Êxodo 10:12-15
A praga dos gafanhotos no Egito, que se move em grandes enxames.

Joel 1:4
“O que o gafanhoto deixou, o gafanhoto comeu...”

Comentário: O grilo simboliza a força coletiva apesar da ausência de liderança centralizada. Em termos espirituais, isso pode refletir como o poder pode emergir de ações coordenadas, mesmo sem autoridade formal, mostrando a importância da ordem divina para controle e justiça.

🔹 Provérbios 30:27
“A aranha se prende com as mãos, e está nas casas dos reis.”

Isaías 59:5
“A quem se parecem as suas obras? Como a teia de aranha...”

Salmo 91:3
“Ele te livrará do laço do passarinheiro...”

Comentário: A teia da aranha, apesar de sua delicadeza, é forte e eficaz, podendo simbolizar a rede invisível de influências e armadilhas, inclusive em ambientes poderosos, como o palácio dos reis.

🔹 Provérbios 30:28
“O lagarto se apanha com a mão, e está nos palácios dos reis.”

Isaías 65:4
Pessoas que “se assentam nos lugares altos, que comem carne de porco...”

Lucas 4:5-6
Satanás mostra a Jesus “todos os reinos do mundo...”

Comentário: O lagarto que habita palácios simboliza a presença de coisas pequenas, aparentemente insignificantes, mas que podem influenciar até os centros de poder, mostrando vulnerabilidades e a necessidade de vigilância espiritual.

🔹 Provérbios 30:29
“Há três coisas que são estonteantes nos seus passos; quatro que são gloriosas no andar:”

Jó 39:19-25
A descrição imponente do cavalo, enfatizando sua força e majestade.

Habacuque 3:19
“O Senhor Deus é a minha força...”

Comentário: A passagem valoriza a beleza e a força visível no movimento, um sinal de ordem e propósito na criação divina, que reflete a glória de Deus.

🔹 Provérbios 30:30
“O leão, o mais forte dos animais, que não volta atrás diante de ninguém.”

Apocalipse 5:5
Jesus é chamado “Leão da tribo de Judá.”

Gênesis 49:9
A bênção de Jacó descreve Judá como leão.

Comentário: O leão simboliza poder, coragem e realeza. Na Bíblia, é uma figura messiânica que aponta para Cristo, que governa com autoridade e coragem inabaláveis.

🔹 Provérbios 30:31
“O galo, o galo de galope e o carneiro, e o rei, para pelejar.”

Mateus 26:34
Jesus prediz que o galo cantará antes da negação de Pedro.

2 Samuel 23:1-7
Rei Davi como guerreiro e líder.

Comentário: O galo simboliza vigilância e anúncio, o carneiro força e sacrifício, e o rei a autoridade na batalha. Juntos, representam diferentes aspectos do poder e da liderança no plano divino.

🔹 Provérbios 30:32
“Se fores tolo, já contra ti o suportarás; e se forres louco, tu só o suportarás.”

Eclesiastes 7:25
“Eu tentei entender...” sobre a tolice humana.

Gálatas 6:7
“O que o homem semear, isso também colherá.”

Comentário: Este versículo enfatiza a responsabilidade pessoal pelos próprios atos, especialmente em relação à sabedoria e à tolice, mostrando que as consequências recaem diretamente sobre o indivíduo.

🔹 Provérbios 30:33
“O que enfurece o azeite, sai por cima; e o que enfurece as contendas, sopra a guerra.”

Mateus 5:9
“Bem-aventurados os pacificadores...”

Tiago 4:1
“De onde vêm as guerras e pelejas entre vós?”

Comentário: O azeite simboliza a unção e a paz, enquanto a contenda gera conflito. O versículo alerta sobre o poder destrutivo da ira e das disputas, contrastando com o chamado bíblico à paz e à reconciliação.

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