Interpretação de Deuteronômio 23

Deuteronômio 23

23:1-8. A santidade da congregação do Senhor destacava-se pela exclusão da participação nas assembleias teocráticas oficiais daqueles que eram desqualificados de diversas maneiras. A desqualificação podia ser física (vs, 1, 2) ou étnica e histórica (vs. 3-8). Excluídos estavam os eunucos (v. 1) e os bastardos (v. 2) com os seus descendentes – até a sua décima geração, isto é, indefinidamente (cons. v. 3). A condição do eunuco era de mutilação da natureza dada por Deus (cons. 14:1). O bastardo era o produto de um repúdio à ordenança divinamente estabelecida. Possivelmente, o mamzeir, traduzido para bastardo, era, mais acuradamente, aquele que nascia de uma união incestuosa (cons. 22:30). Tais exclusões do privilégio apontavam para a importância da administração convencional do casamento, cuja finalidade era assegurar uma descendência piedosa. Contudo, mesmo nos dias do V.T. tal incapacidade física era obstáculo apenas para o privilégio externo, não para as realidades espirituais da salvação. Nos dias do N.T. tais incapacidades já não entram mais em consideração, mesmo na administração dos privilégios visíveis da igreja (cons. Is. 56:4, 5; Atos 8:27, 28). O mesmo acontece com os casos de desqualificação mencionados em Dt. 23:3-8.

23:4a. Porquanto não foram ao vosso encontro com pão e água. Embora os amonitas e moabitas fossem concebidos em incesto (cons. v. 2; Gn. 19:30 e segs.), a razão assinalada para o seu impedimento é que não tiveram boa vontade em demonstrar hospitalidade ao povo de Deus, na sua viagem pelo deserto, quando vinha do Egito para a sua terra (cons. Dt. 2:18 e segs., 29) e até tentaram atacar Israel – e porque alugaram contra ti a Balaão (4b; cons. Nm. 22-25). A maldição divina é a porção daqueles que amaldiçoam o povo da aliança, de acordo com a promessa divina feita a Abraão (Gn. 12:3). Por isso, o Israel teocrático não devia fazer uma aliança de concerto com os amaldiçoados que tinham pretensões a amaldiçoadores (Dt. 23: 6).

23:7. Não aborrecerás o idumeu... nem... o egípcio. No caso dos edomitas e egípcios, a exclusão era regra por causa da inimizade passada (cons. a opressão egípcia, Êx. 1:8 e segs., e oposição edomita, Nm. 20:18 e segs.), mas foi modificada (Dt. 23:8; Êx. 20:5), em um caso, por causa dos laços de parentesco com Abraão (cons. Gn. 36:1 e segs.) e, no outro, por causa da hospitalidade demonstrada para com Abraão e a família de Jacó quando foram assolados pela fome (Gn. 12:42- 47).

23:9. Então te guardarás de toda coisa má. O acampamento militar dos israelitas, ocupados em guerras do Senhor, era uma extensão do reino teocrático e devia se caracterizar por aquela mesma santidade que destacava a comunidade.

23:14. Porquanto o Senhor teu Deus anda no meio do teu acampamento. Na guerra, como na paz, Deus estava presente no meio do Seu povo, e Seu nome tinha de ser santificado. Limpeza física era o símbolo apropriado da santidade no relacionamento da aliança. (Sobre os vs. 10, 11, cons. Lv. 15:16).

23:15-18. Estes versículos apresentam exemplos adicionais do que poderia e não poderia ser considerado compatível com a posição sagrada de membro da congregação do Senhor.

23:15. O escravo que, tendo fugido. Esta lei se relaciona aos escravos estrangeiros fugitivos. Sobre o asilo concedido aos refugiados, compare as leis de extradição nos tratados seculares.

23:17. Das filha de Israel... quem se prostitua... nem dos filhos. Eram prostitutas e prostitutos, conforme indicado pelos termos hebraicos, que são as formas feminina e masculina da raiz que significa “sagrado”. A lei se relaciona com os israelitas nativos devotados a prostituição cultual. Os abomináveis rituais dos cultos pagãos da fertilidade são os que estão sendo examinados.

23:18. Preço do cão. Sobre a palavra cão, outro termo usado para o prostituto, veja Ap. 22:15. Ninguém pode satisfazer as santas exigências da aliança divina, escondendo pecados sob a hipocrisia da religião. Para que as regras dadas em Dt. 23:3-8 não deixem a falsa impressão de que considerações étnicas eram de suma importância, torna-se claro por estas duas regras adicionais, uma acolhendo o estrangeiro e outra excluindo certos israelitas, que a misericórdia e moralidade eram os princípios vitais da administração da aliança.

23:19–24:22 Devia-se respeitar todos aqueles que tinham a digna posição de servos da aliança do Senhor. Esta seção de estipulações tem a intenção de garantir esta santidade do cidadão teocrático através de regulamentos que asseguravam a paz, a prosperidade e a liberdade dentro do compromisso da aliança de todo o povo de Deus, mas especialmente daquelas classes sociais, cujo bem-estar era prejudicado por diversas circunstâncias. Parece que a legislação foi arrumada em grupos correspondendo às leis de seis a dez no Decálogo, mas em uma ordem um pouco diferente, conforme se segue: leis de propriedade (23:19-25), de família (24:1-5), de vida (24: 6-15), de justiça (24:16-18) e de caridade (24:19-22).

23:19 A teu irmão não emprestarás com juros. Israelitas empobrecidos eram protegidos da exploração de seus irmãos mais ricos pela proibição da cobrança de juros nos empréstimos que lhes eram concedidos (cons. Êx. 22:25; Lv. 25:35 e segs.; Deut. 15:1 e segs.). Juros podiam ser cobrados do estrangeiro (v. 20), no entanto, porque o empréstimo feito a este, não era para aliviar a pobreza, mas com interesses comerciais para sei usado por esses mercadores ambulantes para obtenção de lucro.

23:22. Abstendo-te de fazer o voto. Fora as exigências tributadas especificadas pelo Senhor da aliança, a propriedade do vassalo estava a sua inteira disposição. Este direito não devia, contudo, desencorajar a livre expressão do amor e gratidão religiosa, nem devia fornecer fuga para a obrigação assumida com um voto voluntário, uma vez feito. Reverenciando o seu próprio Santo Nome, Deus não encorajaria um sentimento de desleixo ou impunidade naqueles que faziam solenes votos diante dEle (vs. 21,23; cons. Lv. 27; Nm. 30:2 e segs.).

23:24 A lei das colheitas (vs. 24,25) proporcionava liberdade para satisfazei o princípio da hospitalidade fraternal, mas proibia que se transformas a liberdade em licença que resultasse na violação dos direitos de propriedade dos cidadãos teocráticos.

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