Estudo sobre Daniel 7
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As visões de
Daniel (7.1—12.13)
Até esse ponto, Daniel foi
apresentado como o intérprete divinamente inspirado de sinais e sonhos, e
a partir de agora ele é o que tem visões e precisa de interpretações.
Para Daniel, as pistas dadas nas interpretações podem ter sido
suficientes; o tratamento dado ao livro pela igreja cristã mostra que
essas pistas foram fracas demais para que os leitores posteriores pudessem
ter certeza numa série de aspectos.
1) Os quatro animais (7.1-8)
v. 1. A data localiza essa
visão após a morte de Nabucodonosor, ainda durante a época da Babilônia, em
torno de 553 a.C. Ele escreveu o seguinte resumo do seu sonho,
percebendo que a sua mensagem teria relevância para além da sua
época. v. 2. os quatro ventos sopravam dos quatro pontos cardeais,
agitando e revirando o mar, despertando assim os grandes animais
das suas profundezas, o grande mar. não é necessário identificá-lo.
No pensamento antigo, o mar e muitas das suas criaturas eram hostis à
ordem, e os hebreus consideravam ambos obstinados, mas mesmo assim sob o
controle de Deus (e.g., SL 104.6-9; 148.7; Jó 26.12,13). v. 3. Quatro
grandes animais-, bestas mitológicas eram muito comuns na poesia e na arte
religiosa da Babilônia, de onde passaram à Pérsia (especialmente em
decorações de relevos nas paredes de palácios na Babilônia, em Susã e em Persépolis). Um monstro
marinho mencionado diversas vezes no ATOS como Raabe era usado de
forma poética com referência ao Egito (e.g., SL 87.4; Is 30.7). Esse
uso é análogo ao de Daniel, pois o v. 17 nos informa que Os quatro
grandes animais são quatro reinos — ou reinos personificados nos seus
governantes — que se levantarão na terra. Eles eram diferentes
uns dos outros na avaliação humana, v. 4. O primeiro era
composto e passou por uma modificação. Se esse animal representa a
Babilônia (a expressão se levantarão do v. 17 não pode ser
forçada contra esse ponto de vista; três dos reinos ainda seriam futuros),
a modificação pode refletir a carreira de Nabucodonosor culminando em
4.34ss. v. 5. um segundo animal. é descrito num ato de conquista,
devorando a sua presa e avançando para obter mais, instigado pela ordem
divina. Para alguns comentaristas, o urso é a Média; para outros,
a Pérsia, e entre estes há alguns que identificam as três costelas
com a Lídia, a Babilônia e o Egito incorporados no Império Persa. v.
6. outro animal, que se parecia com um leopardo, mas com
diferenças estranhas, quatro asas para proporcionar velocidade
máxima; quatro cabeças para representar extensão
universal. Pode-se encontrar apoio em diversas referências para relacionar
a figura com Ciro por aqueles que acham que o urso é a Média,
e igualmente para relacionar a figura com Alexandre, o Grande, por aqueles
que crêem que a Pérsia é o urso. v. 7. O quarto animal tem
a sua própria apresentação e é indescritível, diferente, com o
qual não se podia fazer nenhuma comparação. A sua natureza era
clara, cruel, poderosa, destrutiva, resultando nos dez chifres
e na blasfêmia final. Com dentes de ferro [...] despedaçava e
devorava suas vítimas, fazendo eco da quarta parte da estátua no cap.
1. Dele saíam dez chifres, e um décimo primeiro, chamado o chifre pequeno,
mas que parecia maior do que os outros (v. 20). A sua arrogância
ultrapassou de longe os limites de Deus, e assim o juízo precisou ser anunciado
contra ele. Até esse momento crítico, o chifre estava derrotando os santos, acrescenta
o v. 21, e era isso que não podia mais ser tolerado.
2) O julgamento (7.9-14)
v. 9,10. Do horror do
animal com chifres, Daniel foi dirigido para o esplendor solene da
corte celestial. Lá estava sentado um ancião (“Ancião de Dias”, ARA),
venerável, totalmente puro (veste branca, cabelo branco),
purificando do erro e consumindo-o com fogo. Por saber tudo que
tinha ocorrido na história, ele estava qualificado para julgar o último
arrogante, assim como tinha julgado os outros antes (Assíria, Is 10;
Babilônia, Is 14 etc.). A autoridade judicial era demonstrada no rio
de fogo, e o poder necessário, nos incontáveis milhares que o
serviam. Ao lado do juiz tronos foram colocados (e não “derrubados”, como
na VA) para os atendentes principais, cf. 3.25. Diante dessa corte, os
livros que registravam os atos dos acusados foram abertos. (Registros
celestiais de atividades humanas são mencionados por muitos escritos
antigos; cf. SL 56.8; Ml 3.16, também Êx 32.32,33.) v. 11. Leia: “Então
eu observava do som das grandes palavras [...] Fiquei olhando até que
o animal foi morto,’. Nada poderia distrair o vidente até
que o drama terminasse com o julgamento dos arrogantes no fogo da justiça, v.
12. Três animais permaneceram, impotentes, para o tempo determinado
(como em 4.25).
v. 13,14. vi alguém
semelhante a um filho de homem-, contrastando com os animais que
eram inerentemente hostis a Deus, estava essa figura visionária, como um
ser humano. Esse é o significado de filho de homem, como em Ez 2.1
etc., semelhante a “filho dos deuses” em 3.25. Ao passo que Nabucodonosor
parece ter visto uma pessoa celestial no contexto do seu julgamento
terreno, Daniel viu um ser humano no lugar da justiça de Deus.
Essa figura, no entanto, veio com as nuvens dos céus. Em todos
os outros textos do ATOS, e fora dele, as nuvens acompanham a deidade,
embora esta geralmente venha montada nelas ou entre elas. Há então um
elemento celestial além do humano. Se alguma realização terrena capacitou
um mortal a subir ao céu, sem passar pela morte, e a aparecer diante do ancião,
ou se um ser celestial assumiu a forma humana, ainda é uma questão em
aberto. A investidura que segue é única. Por seu estilo, o reino claramente
faz eco da descrição do Reino de Deus feita em 4.3,34,35; 5.26
e especialmente 2.44, mas também do reino dos santos com o qual é
identificado (v. 18, 27). Muitos interpretam a figura do “filho de
homem” à luz desses últimos versículos como um símbolo do povo de Deus, um
representante humano. Contra esse ponto de vista, temos a evidência
indisputável a favor da reconhecida compreensão messiânica do texto
no NT (Mt 26.64; Mc 14.62 — somente dois séculos depois da composição do
livro com base na data tardia) e nos escritos judaicos um pouco mais tarde
(em que “aquele das nuvens” é também um título messiânico).
A manutenção desse ponto de vista no judaísmo, apesar da sua adoção pelos
cristãos, sugere que possuía status antigo e autorizado.
3) As interpretações (7.15-28)
v. 15. A reação de Daniel
foi como o susto e a preocupação de Nabucodonosor acerca do propósito
da sua visão. v. 16. Ele encontrou um intérprete cuja primeira resposta
sucinta continha os indícios básicos, o significado ou “a verdade”
(ARA) como em ”É verdade, ó rei” (ARA) em 3.24. v. 18. O povo de Deus
deve usufruir do domínio confiado ao que é semelhante a um filho de
homem dos v. 13,14. Se ele deve ser entendido como um indivíduo,
então os santos serão os seus súditos leais, os santos (aram. qaddis)-.
um termo raro fora desse capítulo (em outros textos, ocorre na forma hebraica
equivalente qãdõs, pl. qedõsím em 8.24; SL 16.3; 34.10); a
palavra hebraica comumente traduzida por ”santo” é hãsld, mas o
termo talvez fosse desconhecido no aramaico. v. 19-22. A preocupação de
Daniel exigia uma resposta mais detalhada, visto que o quarto animal era
tão pernicioso. A sua segunda descrição amplia a primeira em alguns
aspectos; v. comentário dos v. 7,8 já mencionados. Nos v. 23-27, é dada a
explicação mais abrangente.
O quarto reino será
mais cruel e mais extenso do que os três anteriores, dez reis [...] sairão
desse reino e um outro rei [...] será diferente, ou como
parte integral dele, ou como um estágio distinto da existência do reino
(assim Young e a escola dispensacionalista). (A divisão sugerida pelo
segundo ponto de vista resulta antes das interpretações de outros trechos
do que desse texto em Sl.) Se o reino é o de Alexandre e o décimo primeiro
rei é Antíoco Epifânio, é impossível contar dez reis sem incluir um
assassino que nunca alcançou o trono (Heliodoro, chefe de governo de Seleuco
IV) e o herdeiro legítimo a quem Antíoco depôs, mas que o
seguiu, Demétrio Soter. Se o reino é Roma, então Júlio César pode ser
contado primeiro, Tito o décimo primeiro, embora tenha sido o seu
pai, Vespasiano, que derrotou “três reis” (ARA), ou ao menos teve sucesso
em manter o trono que eles não tinham conseguido segurar. Para aqueles que
separam reino de reis, Roma é o reino, os dez são governantes
que dominam nos séculos seguintes ou ainda por vir, e o décimo
primeiro é o anticristo. Blasfemando e perseguindo, o décimo primeiro vai
tentar abolir as observâncias religiosas estabelecidas, mas o seu governo
será limitado (v. 25 é paralelo aos v. 20,21). v. 25. um tempo é a
palavra comentada em 4.16; nada determina que seja um ano, um mês,
uma década, ou um dia; é um tempo determinado pelo Altíssimo, tempos:
a palavra pode ser um dual, “dois”, ou plural, como a interpreta
a LXX. A formulação aqui, como o seu equivalente hebraico em 12.5, pode
ser indefinida e simbólica, um primeiro período seguido de um com o
dobro da extensão ou mais, e o acréscimo esperado a seguir é
abreviado. Que um período preciso de três anos e meio seja expresso
de forma tão indireta, até mesmo numa interpretação visionária de
uma visão parece algo mais obscuro do que o restante do livro! Altíssimo
é a palavra usada nos v. 18,22,27; está em forma intensiva, um superlativo
mais forte do que o termo usado na segunda cláusula e em outros textos, v.
27. reinos [...] serão entregues nas mãos dos santos: em
interpretações históricas, esse reino precisa ser tratado como espiritual;
futuristas podem entendê-lo da mesma forma, começando com o Segundo
Advento, ou como o ”milênio” de Cristo e da sua igreja na terra, v.
28. A visão se completou, deixando Daniel perturbado (aterrorizado), com
uma impressão profunda que constantemente retornaria à sua mente.
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