Mateus 13 — Comentário de Matthew Henry

Mateus 13

Versículos 1-23: A parábola do semeador. 24-30 e 36-43: A parábola da discórdia; 31-35: As parábolas da semente de mostarda e do fermento; 44-52: As parábolas o tesouro escondido, a pedra preciosa, a rede lançada ao mar e o pai de família; 53-58: Jesus é novamente rejeitado em Nazaré.

Vv. 1-23. Jesus entrou em um barco para ser menos pressionado e para que as pessoas o escutassem melhor. Com isto nos ensina nas circunstâncias externas da adoração a não desejar o que é majestoso, mas sim a fazer o melhor das facilidades que Deus nos concede em sua providência. Cristo ensinava por meio de parábolas. Por meio delas simplificava e tornava mais fáceis as coisas de Deus para os dispostos a aprender, e mais difíceis ou obscuras aos dispostos a ser ignorantes.

A parábola do semeador é clara. A semente semeada é a Palavra de Deus. o semeador é nosso Senhor Jesus Cristo, por si ou por seus ministros. Pregar a uma multidão é semear o grão; não sabemos onde brotará. Alguns tipos de terrenos, ainda que tenhamos trabalhado muito nele, não dá fruto adequado, enquanto a boa terra dá fruto com abundância. Assim também ocorre com os corações dos homens, que possuem caracteres diferentes, e estão aqui descritos como quatro classes de terrenos. Os ouvintes negligentes e frívolos são presas fáceis para Satanás que, como o grande homicida das almas, é o grande ladrão dos sermões, e seguramente estará pronto a roubar-nos a Palavra se não tivermos o cuidado de obedecê-la. Os hipócritas, como o terreno pedregoso, têm seu começo frequentemente como cristãos verdadeiros em sua demonstração de profissão de fé. Muitos dos que se alegram por ouvir um bom sermão são os que não se beneficiam. Se lhes é falado da salvação gratuita, dos privilégios dos crentes e a felicidade do céu, e que sem mudança de coração, sem convicção permanente de sua própria depravação, de sua necessidade do Salvador ou da excelência da santidade, rapidamente adotam uma segurança sem fundamentos. Porém, quando uma grande prova os ameaça ou podem ter uma vantagem pecaminosa se rendem ou ocultam sua profissão de fé, ou voltam-se a um sistema mais fácil.

Os afãs do mundo são comparados de modo apropriado com as espigas, porque vieram com pecado e são fruto da maldição; são bons em seu lugar para encher um vazio; porém, o homem que tenha muito a ver com eles deve estar bem armado, pois enredam, afligem e arranham, e seu fim é ser queimado (Hb 6.8). Os afãs do mundo são grandes obstáculos para que tenhamos proveito na Palavra de Deus.

O engano das riquezas efetua o mal; não se pode dizer que nos enganamos, a menos que depositemos a nossa confiança nelas; então, afogamos a boa semente. o que distinguiu o bom terreno foi a frutificação. Através disto, os cristãos verdadeiros são distinguidos dos hipócritas. Cristo não disse que a boa terra não tem pedras e espinhos, mas que nada pode impedir que dê fruto. Não são todos iguais; devemos crescer mais em direção ao céu para que demos mais frutos. A audição não pode ser melhor utilizada do que para ouvir a palavra de Deus; observemo-nos a nós mesmos para que saibamos distinguir a que classe de ouvintes pertencemos.

Vv. 24-30 e 36-43. Esta parábola representa o estado presente e o futuro da Igreja do Evangelho; o cuidado de Cristo por ela, a inimizade do Diabo contra ela; a mescla de bons e maus que existe neste mundo, e a separação deles no mundo vindouro. Tão propenso a pecar é o homem caído, que se o inimigo semear, poderá seguir o seu caminho, pois a ira brotará e causará dano; mesmo quando se planta uma boa semente, deve-se ter o cuidado de regá-la e protegê-la. os servos se queixam a seu Senhor: "Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente?". Sem dúvida que sim; seja o que for que estiver mal na Igreja, tenhamos a segurança que não é de Cristo. Ainda que os transgressores grosseiros e outros que se opõem abertamente ao Evangelho, devam ser separados da sociedade dos fiéis, contudo, não há habilidade humana que possa efetuar uma separação precisa: os que se opõem não devem ser arrancados, mas sim instruídos, e com mansidão. E ainda que os bons e os maus estejam juntos neste mundo, contudo, no dia do grande juízo serão separados, e então serão claramente conhecidos o justo e o ímpio; aqui muitas vezes é difícil demais distinguí-los. Se conhecemos o temor do Senhor, não cometamos iniquidades. Na morte, os crentes brilharão por si mesmos; no grande dia brilharão ante todo o mundo. Brilharão por reflexo, com luz emprestada da Fonte de luz. A santificação deles será aperfeiçoada e sua justificação publicada. Que sejamos achados neste feliz grupo.

Vv. 31-35. O alcance da parábola da semente de mostarda é mostrar que o princípio do Evangelho é pequeno, mas seu final será grande; deste modo, será executada a obra da graça no coração, o reino de Deus dentro de nós. A graça, realmente crescerá na alma onde realmente está; ainda que no princípio não seja discernida, ao final terá grande força e utilidade.

A pregação do Evangelho trabalha como fermento no coração dos que o recebem. O fermento certamente trabalha, e assim faz também a Palavra, mas gradualmente. Atua silenciosamente, sem ser vista e sem falhar. Assim foi no mundo. os apóstolos, pregando o Evangelho, esconderam um punhado de fermento na grande massa da humanidade. Tornou-se poderoso pelo Espírito do Senhor dos exércitos, que trabalha e ninguém pode impedi-lo. No coração é assim. Quando o Evangelho chega à alma, realiza uma transformação radical; se expande a todos os poderes e faculdades da alma e altera a propriedade até mesmo dos membros do corpo (Rm 6.13). Estas parábolas nos ensinam a esperar um processo gradual; perguntemos então: Estamos crescendo na graça e nos santos princípios e costumes?

Vv. 44-52. Aqui temos quatro parábolas:

1. A do tesouro escondido no campo. Muitos recebem o Evangelho apressadamente porque olham apenas a superfície do campo. Todos os que esquadrinham as Escrituras podem encontrar nelas a Cristo e a vida eterna (Jo 5.39), descobrirão porque o tesouro deste campo o torna extremamente valioso, e se apropriarão dele a qualquer custo. Ainda que nada possa ser dado como pagamento pela salvação, todavia, muito deve dar-se por amor a ela.

2. Todos os filhos dos homens estão ocupados; um será rico, outro será honrado, ainda outro será douto; porém, a maioria está enganada e tomam as falsificações como pérolas legítimas. Jesus é a pérola preciosa; tendo a Ele teremos o suficiente para fazermo-nos felizes aqui e para sempre. O homem pode comprar ouro muito caro, mas não esta pérola preciosa. Quando o pecador convicto vê a Cristo como o Salvador da graça, tudo mais perde o seu valor para seus pensamentos.

3. O mundo é um grande mar, e em seu estado natural, os homens são como os peixes. Pregar o Evangelho é lançar uma rede nesse mar, para pescar algo para a glória daquEle que tem a soberania sobre este mar. os hipócritas e os cristãos verdadeiros serão separados: desgraça será a condição daqueles que forem lançados fora.

4. O fiel e destro ministro do Evangelho é um escriba bem versado nas coisas do Evangelho e capaz de ensiná-las. Cristo o compara com um bom pai de família, que traz os frutos da colheita do ano anterior e o recolhido este ano, abundante e variado, para com ele tratar de seus amigos. Todas as experiências antigas e as observações novas têm sua utilidade. Devemos estar aos pés de Cristo, e aprender diariamente, novamente, as velhas lições e também as novas.

Vv. 53-58. Cristo repete a sua oferta àqueles que o rejeitaram. Eles o rejeitam: Não é este o filho do carpinteiro? Sim, é certo que tinha a fama de sê-lo. Não é nenhuma desgraça ser filho de um comerciante honesto; deveriam respeitá-lo ainda mais por ser um deles, mas por isto o desprezaram. Ele não fez muitas obras poderosas ali, devido à incredulidade deles. A incredulidade é o grande obstáculo para os favores de Cristo. Mantenhamo-nos fiéis a Ele, como o Salvador que fez a nossa paz com Deus.