Mateus 22 — Comentário de Matthew Henry

Comentário do Evangelho de Mateus 22
por Matthew Henry



Mateus 22

Versículos 1-14: A parábola da festa das bodas; 15-22: Os fariseus perguntam a Jesus sobre o imposto; 23-33: A pergunta dos saduceus sobre a ressurreição; 34-40: A essência dos mandamentos; 41-46. Jesus interroga os fariseus.

Vv. 1-14. A provisão feita no Evangelho para as almas que perecem, está representada por uma festa real, feita por um rei de um modo pródigo, conforme o costume oriental, por ocasião do casamento de seu filho. Nosso Deus misericordioso não só tem providenciado o alimento, mas também uma festa real para as almas que perecem, dentre as suas rebeldes criaturas. Na salvação de seu Filho Jesus Cristo há o suficiente, e com sobra, de tudo o que se pode acrescentar a nosso consolo e felicidade eterna.

Os primeiros convidados foram os judeus. Quando os profetas do Antigo Testamento não prevaleceram, nem João Batista, nem o próprio Cristo, que lhes disse que o reino de Deus estava próximo, foram enviados os apóstolos, e ministros do Evangelho, depois da ressurreição de Cristo, a dizer-lhes que viria persuadi-los para que aceitassem a sua oferta. A razão de os pecadores não irem a Cristo e à salvação por Ele, não é que não possam, mas porque não querem. Ignorar a Cristo e a grande salvação realizada por Ele é o pecado que condena o mundo. Eles foram indiferentes. As multidões perecem para sempre por pura indiferença, sem mostrar aversão direta, mas são negligentes acerca de suas almas. Além do mais, as atividades e o proveito das ocupações mundanas atrapalham a muitos, impedindo-os de estabelecer uma aliança com o Salvador. Camponeses e mercadores devem ser diligentes, e não importa o que tenhamos nas nossas mãos no mundo, devemos ter o cuidado de manter fora de nosso coração, para que não aconteça que isto se interponha entre nós e Cristo. A extrema ruína que sobreviria a alguns na Igreja e à nação judaica está representada aqui. A perseguição dos fiéis ministros de Cristo enche a medida da culpa de todo o povo. A oferta de Cristo e a salvação dos gentios não era esperada; foi tamanha surpresa, como seria se um peregrino fosse convidado para uma festa real de casamento. o desígnio do Evangelho é alcançar almas para Cristo; a todos os filhos de Deus espalhados por todas as partes (Jo 10.16; 11.52).

O exemplo dos hipócritas está representado pelo convidado que não possuía o traje adequado para a ocasião. É nossa obrigação prepararmo-nos para o juízo; e os que, e só os que se vistam do Senhor Jesus, que tenham o temperamento mental cristão, que vivam por fé em Cristo e para quem Ele é o todo em tudo, possuem a vestimenta para a boda. A justiça de Cristo que nos é imputada, e a santificação do Espírito, são igualmente necessárias. Ninguém possui a roupa das bodas por natureza, nem pode fazê-lo por si mesmo. Chegará o dia em que os hipócritas serão chamados a prestar contas de todas as suas instruções presunçosas nas ordenanças do Evangelho e da usurpação dos privilégios do Evangelho. Lançai-o às trevas exteriores. Aqueles que andam de um modo indigno em relação ao cristianismo abandonam toda a felicidade que proclamam presunçosamente.

Nosso Salvador passa aqui da parábola ao seu ensino. os hipócritas, mesmo aparentemente andando na luz do Evangelho, caminham em direção à extrema escuridão. Muitos são chamados à festa das bodas, isto é, à salvação, mas poucos têm a roupa para a ocasião; a justiça de Cristo e a santificação do Espírito. Então, examinemo-nos se estamos na fé e procuremos ser aprovados pelo Rei.

Vv. 15-22. Os fariseus enviaram seus discípulos aos herodianos, um partido de judeus que apoiava a submissão total ao imperador romano. Mesmo sendo contrários entre si, uniram-se contra Cristo. Estavam corretos naquilo que disseram a respeito de Cristo; seja o que for que eles soubessem, bendito seja Deus por aquilo que sabemos. Jesus Cristo é um mestre fiel, que reprova diretamente.

Cristo viu a iniquidade deles. Qualquer que seja a máscara que o hipócrita utilize, nosso Senhor Jesus vê através dela. Cristo não interveio como juiz em matérias desta natureza, porque o seu reino não é deste mundo, porém, insta a sujeitar-se pacificamente aos poderes que existem. Reprovou os seus adversários e ensinou aos seus discípulos que o cristianismo não é inimigo do governo civil.

Cristo é e será a maravilha não só de seus amigos, como também de seus inimigos. Eles admiraram a sua sabedoria, mas não foram guiados por ela; igualmente ao seu poder, porém não se submeteram.

Vv. 23-33. As doutrinas de Cristo desagradam aos infiéis saduceus, aos fariseus e aos herodianos. Ele mostra as grandes verdades da ressurreição e do estado futuro, mais além do que se havia revelado até então. Não é possível deduzir através do estado deste mundo o que acontecerá no além. A verdade seja manifesta à luz, e se manifeste com toda a sua força. Havendo-os silenciado deste modo, nosso Salvador passou a mostrar-lhes a verdade da doutrina da ressurreição a partir dos livros de Moisés. Deus declarou a Moisés que Ele era o Deus dos patriarcas que haviam morrido há muito tempo; isto demonstra então que eles estavam capacitados a desfrutar seu favor, e prova que a doutrina da ressurreição é claramente ensinada no Antigo e no Novo Testamento. Mas esta doutrina estava reservada para uma revelação mais plena depois da ressurreição de Cristo, primícias dos que dormiram. Todos os erros surgem de não conhecer as Escrituras e o poder de Deus.

Neste mundo a morte leva uns após outros, e assim acaba com todas as esperanças, as alegrias, as tristezas e os relacionamentos terrenos. Quão desgraçados são aqueles que não esperam nada melhor além da sepultura!

Vv. 34-40. Um intérprete da lei perguntou algo a nosso Senhor, para provar não tanto seu conhecimento, mas seu juízo. o amor de Deus é o primeiro e grande mandamento, e o resumo de todos os mandamentos da primeira tábua. Nosso amor por Deus deve ser sincero, não só por palavra e língua. Todo o nosso amor é pouco para dar-lhe; portanto, todos os poderes da alma devem comprometer-se com Ele e ser executados para Ele.

Armar a nosso próximo como a nós mesmos é o segundo grande mandamento. Há um amor próprio que é corrompido, e é a raiz dos maiores pecados; este deve ser deixado e mortificado; porém, há um amor próprio que é a regra do dever maior: devemos ter o devido interesse pelo bem estar de nossa alma e nosso corpo. Devemos amar a nosso próximo tão verdadeira e sinceramente como nos amamos a nós mesmos; em muitos casos devemos negar a nós mesmos pelo bem do próximo. Que o nosso coração seja modelado por estes dois mandamentos.

Vv. 41-46. Quando Cristo deixou os seus inimigos perplexos, perguntou-lhes o que pensavam sobre o Messias prometido. Como podia Ele ser o filho de Davi e, ao mesmo tempo, ser o seu Senhor? Cita o Salmo 110.1. Se o Cristo seria um simples homem, que só existiria muito tempo depois da morte de Davi, como poderia o seu antepassado tratá-lo como Senhor? os fariseus não puderam responder isto, nem tampouco resolver a dificuldade, a menos que reconhecessem que o Messias seja o Filho de Deus e o Senhor de Davi, do mesmo modo que o Pai. Ele tomou nossa natureza humana e, assim, Deus se manifestou em carne; neste sentido Ele é o Filho do Homem e filho de Davi.

Sobretudo, nos convém indagar seriamente: Que pensamos de Cristo? É Ele completamente glorioso aos nossos olhos e precioso a nossos corações? Que Cristo seja nosso gozo, nossa confiança, nosso tudo. Que diariamente sejamos feitos mais como Ele é, e mais dedicados a seu serviço.