Mateus 12 — Comentário de Matthew Henry

Mateus 12

Versículos 1-8: Jesus defende seus discípulos por debulhar as espigas no dia do repouso; 9-13: Jesus cura o homem da mão seca no dia de repouso; 14-21: A malícia dos fariseus; 22-30: Jesus liberta um endemoninhado; 31, 32: A blasfêmia dos fariseus; 33-37: As trás palavras procedem de um coração mau; 38-45: Os escribas e fariseus são repreendidos por pedirem sinais; 46-50: Os discípulos de Jesus são seus irmãos mais próximos.

Vv. 1-8. Estando nos campos de trigo, os discípulos começaram a colher espigas, pois a lei de Deus o permitia (Dt 23.25) . Esta era uma pequena provisão para Cristo e seus discípulos, porém, contentavam-se com isto. os fariseus não discutiram com eles por cortarem o milho de outro homem, mas sim por fazê-lo no dia de repouso. Cristo veio libertar seus seguidores não só das corrupções dos fariseus, mas também de suas regras antibíblicas, e justificou o que eles fizeram. O maior não verá satisfeitas suas concupiscências, porém, o menor verá que há respeito por suas necessidades. os trabalhos no dia de repouso são legítimos se forem necessários, e o dia de repouso é para aumentar, e não para ser obstáculo à adoração. Deve-se fazer a provisão necessária para a saúde e a comida, porém, o caso é muito diferente quando se tem servos em casa, e as famílias tornam-se cenários de pressa e confusão no dia do Senhor, para dar uma festa aos visitantes ou para fazer algo especial para elas mesmas. Cabe condenar coisas como essas e outras que são comuns entre os que professam a fé. o descanso do dia de repouso foi ordenado para o bem do homem (Dt 5.14). Não se deve entender nenhuma lei de forma tal que contradiga a sua própria finalidade. Como Cristo é o Senhor do dia do repouso, é apropriado que dedique a si o dia e sua obra.

Vv. 9-13. Cristo demonstra que as obras de misericórdia são lícitas e próprias para serem realizadas no dia do Senhor. Há outras maneiras de fazer o bem nos dias de repouso, além dos deveres da adoração: atender ao enfermo, aliviar ao pobre, ajudar aos que necessitam de alívio urgente e ensinar os jovens a cuidar de suas almas; estas obras fazem bem, e devem ser feitas por amor e caridade, com humildade e abnegação para serem aceitas (Gn 4.7).

Isto tem um significado espiritual, como outras curas que Cristo realizou. Por natureza nossas mãos estão secas, e por nós mesmos somos incapazes de fazer algo que seja bom. Só Cristo nos cura pelo poder de sua graça; Ele cura a mão seca dando vida à alma morta; realiza em nós tanto o querer como o efetuar; porque com o mandamento há uma promessa de graça dada pela Palavra.

Vv. 14-21. Os fariseus consultaram-se entre si para achar alguma ocasião contra Jesus, para condená-lo a morte. Consciente da intenção deles, Ele se retirou deste lugar, porque a sua hora não havia chegado. ' o rosto não corresponde mais exatamente ao rosto refletido na água, o que simboliza o caráter de Cristo em nossa vida, esboçado pelo profeta com seu temperamento e conduta descrita pelos evangelistas. Encomendemos nossas almas com alegre confiança a um amigo tão bom e fiel. Longe de rompê-la, fortalecerá a cana quebrada; longe de apagar o pavio fumegante, ou quase extinto, Ele soprará para avivar a chama. Desprezemos as contendas e os debates irados, e nos recebamos uns aos outros como Cristo nos recebe, e enquanto estivermos animados pela bondade da graça de nosso Senhor Jesus, devemos orar para que seu Espírito repouse em nós e nos faça capazes de imitar seu exemplo.

Vv. 22-30. Uma alma submetida ao poder de Satanás e presa por ele está cega para as coisas de Deus e muda perante o trono da graça; nada vê e nada diz com propósitos. Satanás cega os olhos com incredulidade e sela os lábios, impedindo-os de orar. Enquanto mais pessoas magnificavam a Cristo, os fariseus estavam mais desejosos de injuriá-lo. Era evidente que se Satanás ajudasse Jesus a expulsar demônios, o reino do inferno estaria dividido contra si mesmo; então, como poderia resistir? E se diziam que Jesus expulsava demônios pelo príncipe dos demônios, não podiam provar que seus filhos os expulsaram por algum outro poder.

Existem dois grandes interesses no mundo; e quando os espíritos imundos são expulsos pelo Espírito Santo, na conversão dos pecadores a uma vida de fé e obediência, tem chegado a nós o reino de Deus. Todos os que não ajudam, nem se regozijam com este tipo de mudança estão contra Cristo.

Vv. 31,32. Aqui está uma bondosa segurança do perdão de todo o pecado nas condições do Evangelho. Cristo estabelece aqui o exemplo, para que os filhos dos homens estejam dispostos a perdoar as palavras ditas contra eles. Às vezes os crentes humildes e conscientes são tentados, para que pensem que têm cometido o pecado imperdoável, enquanto os que mais se aproximam disto raramente sentem algum temor. Podemos ter a segurança de que os que sem dúvida se arrependem e crêem no Evangelho, não têm cometido este pecado ou algum outro da mesma classe; o arrependimento e a fé são dons especiais de Deus, que Ele não outorgaria a nenhum homem se estivesse decidido a não perdoar; os que temem haver cometido este pecado, dão um bom sinal de que não o fizeram o pecador que é temente e contrito tem em si mesmo o testemunho de que não é esse o seu caso.

Vv. 33-37. Através do idioma de um homem se descobre de que país ele procede, igualmente de que classe e de que espírito é. o coração é a fonte, as palavras são os ribeiros. Uma fonte turva e uma corrente corrupta devem produzir ribeiros barrosos e desagradáveis. Nada curará as águas, amadurecerá o falar, nem purificará a comunicação corrupta, senão o sal da graça, lançada na corrente. o homem mau tem um mau tesouro em seu coração, do qual o pecador tira as más palavras e as más ações para desonrar a Deus e ferir ao próximo. Vigiemos continuamente sobre nós mesmos, para que possamos falar palavras de acordo com o caráter cristão.

Vv. 38-45. Ainda que Cristo esteja sempre pronto para ouvir e responder os desejos e as orações dos santos, os que pedem mal, pedem e não recebem. Foram dados sinais aos que os desejavam para confirmar sua fé, como no caso de Abraão e Gideão; porém, foram negados aos que os exigiam para desculpar sua incredulidade. A ressurreição de Cristo dentre os mortos por seu poder aqui se chama sinal "do profeta Jonas", e é a grande prova de que Cristo é o Messias. Assim como Jonas esteve três dias e três noites dentro do grande peixe, e em seguida voltou a sair vivo, assim estaria Cristo por este mesmo período na tumba e ressuscitaria.

Os ninivitas envergonhariam os judeus por não arrependerem-se; a rainha de Sabá os envergonharia por não crer em Cristo. Não temos tais impedimentos, nem vamos a Cristo com tais inseguranças. Esta parábola representa o caso da Igreja e nação judia. Também é aplicável a todos os que ouvem a palavra de Deus e reformam-se parcialmente, mas não se convertem de verdade. o espírito imundo se vai por um tempo, e quando volta, percebe que Cristo não está ali para impedi-lo de entrar, o coração está varrido pela reforma externa, mas adornado pelos preparativos para cumprir as más sugestões; e o homem se torna um inimigo ainda maior. Todo coração é a residência de espíritos imundos, salvo os que são templo do Espírito Santo, por fé em Cristo.

Vv. 46-50. A pregação de Cristo era simples, familiar e adequada para seus ouvintes. Sua mãe e seus irmãos queriam ouvi-lo. Com frequência, os que estão mais próximos dos meios do conhecimento e da graça são os mais negligentes. Temos a tendência de nos descuidar de nossos pensamentos sobre aquilo que podemos ter um dia, esquecendo que o amanhã não é nosso. Às vezes nos deparamos com obstáculos à nossa obra, por amigos que nos rodeiam, tomados pelos cuidados das coisas desta vida, das preocupações de nossa alma.

Cristo estava tão decidido a realizar sua obra que nenhum dever natural de outra índole o apartava dela. Não se trata de que sobre o pretexto da religião, sejamos insolentes com nossos pais ou maus para com eles, más sim que o dever menor deve aguardar enquanto cumprimos o maior. Deixemos os homens e nos apeguemos a Cristo; consideremos a todo cristão, em qualquer condição de vida, como irmão, irmã, ou mãe do Senhor da Glória; amemos, respeitemos e sejamos amáveis com eles por amor a Jesus, e seguindo o seu exemplo.