Significado de Neemias 9

Neemias 9

Neemias 9 continua a narrativa da renovação espiritual e restauração da comunidade judaica em Jerusalém. Este capítulo enfoca especificamente uma oração de confissão e lembrança, recitada pelos levitas, enquanto eles refletem sobre a história do relacionamento de Israel com Deus.

O capítulo começa com o povo jejuando, vestindo pano de saco e confessando seus pecados. Eles se separam das influências estrangeiras e se reúnem para uma assembleia pública, onde os levitas os conduzem em uma longa oração de confissão e louvor.

A oração narra a história de Israel, começando no tempo de Abraão e destacando momentos-chave como o êxodo do Egito, a entrega da Lei no Monte Sinai e o período de peregrinação no deserto. Os levitas reconhecem a fidelidade de Deus, Suas intervenções milagrosas e Sua provisão para Seu povo.

No entanto, a oração também enfatiza a repetida desobediência e rebelião dos israelitas ao longo de sua história. Os levitas relatam os casos em que o povo se afastou de Deus, adorou ídolos e rejeitou Sua orientação. Apesar da paciência e misericórdia de Deus, os israelitas continuamente se desviaram de Seus mandamentos.

Os levitas também se lembram da compaixão de Deus ao livrá-los de seus inimigos, sustentando-os no deserto e guiando-os para a Terra Prometida. Eles reconhecem a justiça de Deus em discipliná-los e Sua fidelidade em cumprir Suas promessas.

A oração termina com uma confissão sincera do atual estado de servidão do povo sob poderes estrangeiros. Eles reconhecem seus problemas atuais como consequência de sua própria infidelidade e pecado. No entanto, eles imploram pela misericórdia de Deus e buscam Seu favor para restaurá-los à sua posição de direito.

O capítulo termina com a assembleia comprometendo-se com um convênio obrigatório com Deus, comprometendo-se a obedecer a Seus mandamentos, não se casar com estrangeiros e honrar o sábado e outras observâncias religiosas.

Em resumo, Neemias 9 é uma oração reflexiva de confissão e lembrança. Os levitas guiam o povo por uma jornada pela história de Israel, destacando a fidelidade de Deus, a repetida desobediência do povo e o ciclo contínuo de misericórdia e disciplina. O capítulo destaca a importância de reconhecer os erros do passado, buscar o perdão de Deus e renovar seu compromisso com Sua aliança.

Significado

9.1-38 Esse capítulo é, comprovadamente, um dos mais significantes em toda a Escritura hebraica. Ele apresenta uma narração convincente da história básica do Antigo Testamento, com um foco glorioso na obra do Altíssimo na vida de Seu povo. A passagem não se encerra com história, mas com resposta. Toda compreensão verdadeira da pessoa e da obra de Deus leva a ações de justiça e atitudes de adoração. A maior parte do capítulo (v. 5-38) é frequentemente considerada como uma oração ao Senhor. Se for uma oração, deve ser a mais longa registrada na Bíblia. Mas, em sua forma e em seu conteúdo, assemelha-se mais a um cântico, mostrando afinidades principalmente com os Salmos 105 e 106. O texto não registra quem escreveu tais palavras, mas podemos citar a tradição de que Esdras as escreveu e chamar esse trecho de O Grande Salmo de Esdras.

9.1 Dia vinte e quatro deste mês. A adoração pública do povo tinha começado no primeiro dia do sétimo mês (8.2), e, mais de três semanas depois, o povo ainda estava envolvido nela. Jejum, pano de saco e terra eram sinais tradicionais de luto; aqui eles eram a preparação para a confissão do pecado do povo (v.2).

9.2 A geração de Israel (ou a linhagem de Israel, ARA) significa a semente de Israel. A separação de todos os estranhos era uma separação sagrada dos estrangeiros que adoravam outros deuses e cujas práticas devem ter trazido danos à adoração do Senhor pelo Seu povo. Dos seus pecados e das iniquidades de seus pais. A confissão dos pecados do próprio povo foi para perdão pessoal e coletivo; já a confissão dos pecados de seus pais foi para lembrar que os judeus não podiam continuar praticando as atitudes perversas do passado.

9.3, 4 Como em Neemias 8.5, o povo, em reverência, pôs-se em pé ao ouvir a leitura das Escrituras.

Uma quarta parte do dia. Aproximadamente foram gastas três horas (compare com cap. 8.3) na leitura pública e três horas na adoração coletiva. O povo fez confissão. Esse verbo, quando usado em relação a Deus, como nesse versículo, implica louvor ao Altíssimo.

9.5 Levantai-vos, bendizei ao Senhor, vosso Deus. Essas palavras foram ditas em alta voz pelos levitas.

De eternidade em eternidade. O Senhor dos Exércitos será louvado eternamente.

O nome da tua glória. A importância do nome de Deus dificilmente pode ser superestimada. Esse cântico é fundamentado na teologia da Lei (os livros de Moisés), como era de se esperar depois de três semanas de leitura das Escrituras (8.1,2). Assim, a exaltação que o poema faz ao nome do Senhor é baseada na revelação de Seu nome pelo próprio Deus, como registrado em Êxodo 3.14. O profeta Isaías também louvou o glorioso nome do Senhor (Is 63.14).

9.6 Um dos ensinamentos fundamentais das Escrituras é que Deus não é um entre outros; só Ele é o Deus vivo (Dt 6.4).

O céu [...], a terra [...], os mares. O Todo-poderoso, sozinho, criou todas essas coisas e preserva-as. Toda a adoração é devida apenas a Ele. A primeira parte desse cântico (Ed 9.5,6) estabelece o clima para o poema inteiro: o Senhor é incomparável (Nm 23.8,9; Dt 4-32-40; SI 113.4-6).

9.7-31 Aqui, temos uma exposição da fidelidade do Altíssimo para com o Seu povo, apesar de sua história cheia de altos e baixos. Esse longo trecho é o coração do Salmo, no qual o poeta contrasta dramaticamente a lealdade do Senhor com o triste registro da desobediência de Israel aos Seus mandamentos, a indiferença pelas Suas maravilhas e o desdém pelos Seus atos de correção. Ainda assim, Deus permanece fiel.

9.7,8 Tu és Senhor, o Deus. A ordem das palavras do texto em hebraico é impressionante: “Tu és Ele, Jeová, (o) Deus” . O uso do artigo definido para a palavra Deus destaca-o como o verdadeiro Deus.

Abraão. A história da escolha de Abraão começa em Gênesis 12.1-3. O objetivo aqui é enfatizar a graça divina. Abraão não buscou o Senhor. Ao contrário, Deus o buscou.

Achaste o seu coração fiel. Todos os personagens bíblicos pecaram, exceto Jesus. Ainda assim, existiram alguns cuja fé no Altíssimo era constante, dentre eles, Abraão e Sara (Hb 11.11,12). A história subsequente do povo de Israel não foi marcada pela fé firme vista em Abraão, para a tristeza do Senhor.

A Terra Prometida, a terra dos cananeus, era habitada por diversos grupos de pessoas que perderam o direito à terra por causa da iniquidade que tinham em seu coração (Gn 15.18-21; Ex 3.8,17; 23.23; 33.2; Dt 7.1; Js 3.10). Confirmaste as tuas palavras. Esta é a essência do cântico. A fidelidade de Deus para com o Seu povo não pode ser questionada.

És justo. Uma das grandes razões para celebrar o caráter de Deus é Sua conformidade ao Seu próprio padrão de perfeição (v.33).

9.9 O livro de Êxodo narra a situação dos israelitas no Egito e o pedido de libertação que fizeram ao Senhor, além de falar sobre a misericórdia de Deus em Sua resposta às necessidades do povo. Esse versículo sugere que, antes de Israel expressar seu sofrimento, o Altíssimo já conhecia seus problemas.

9.10 Os sinais e prodígios foram as dez pragas narradas em Êxodo 7 — 12. Esses grandes atos divinos foram principalmente dirigidos contra Faraó.

Soberbamente. Em Êxodo 18.11, Jetro, sogro de Moisés, usou este mesmo termo para descrever as ações arrogantes do povo do Egito. Foram essas atitudes cheias de orgulho por parte dos egípcios que levaram o juízo de Deus sobre eles.

9.11, 12 A expressão e o mar fendeste refere-se às ações divinas de libertação no mar Vermelho (Ex 14; 15). Observe a semelhança das tropas de Faraó afundando como uma pedra (Ex 15.5). Coluna de nuvem e coluna de fogo. A presença contínua do Altíssimo na vida de Seu povo era indicada por estes símbolos (Ex 13.21,22; Nm 10.11,34; Dt 1.33).

9.13, 14 O significado do Sábado na Lei de Deus para Israel é celebrado aqui (Ex 20.8-11; 23.10-13; 31.12-18).

Pelo ministério de Moisés. A Lei veio do Senhor, mas foi dada por intermédio de Moisés (Jo 1.17).

9.15 As dádivas de pão, ou maná (Ex 16.9-35), e água (Ex 17.1-7) demonstravam o cuidado de Deus por Israel na jornada que o povo fez rumo à Terra Prometida.

9.16,17 Porém eles. Essas palavras demonstram um surpreendente contraste com a descrição das ações de Deus nos versículos 9-15. O pecado dos israelitas foi agirem soberbamente — ou seja, comportando-se em relação a Deus da mesma maneira como o Egito se comportou em relação a eles. A principal referência aqui é à revolta de Israel contra o Senhor em Cades (Nm 13; 14). Essa rebelião foi tão longe que os israelitas levantaram um chefe para levá-los de volta ao Egito.

Porém tu. Essa expressão contrasta com porém eles, escrita no início do versículo 16 (Ex 34.6). Perdoador significa repleto de perdão. Tardio em irar-te. Essa expressão traduz uma expressão idiomática hebraica longo de nariz, que tem o mesmo significado de demorar a perder a paciência. Beneficência, que quer dizer amor leal, é muito usada no livro de Salmos (Sl 13.5). Em virtude da lealdade e constância divinas, o Altíssimo não desamparou o Seu povo.

9.18-21 Nesses versículos, o poeta descreve a fidelidade de Deus para com os israelitas, apesar do comportamento desprezível deles. Bezerro de fundição é uma referência ao ato de rebelião descrito em Êxodo 32. Multidão das tuas misericórdias descreve sentimentos profundos como os de uma mãe para com seu filho.

Não deixaste no deserto. O Senhor teria tido razão em abandonar Seu povo por causa de sua rebelião cheia de iniquidade e sem propósito. Porém, ainda assim, Deus foi forçado por Seu caráter a não fazê-lo.

E deste o teu bom espírito. O Todo-poderoso não só concedeu bênçãos a Israel; Ele se fez conhecer no meio dele.

Quarenta anos no deserto. A experiência no deserto (Dt 2.7) é vista de duas maneiras na Bíblia: (1) como um período de punição prolongada por causa da rebelião; e (2) como um período de misericórdia contínua graças ao caráter imutável de Deus.

Vestes e pés. As provisões do Altíssimo eram experiências diárias de milagres divinos (Dt 8.4; 29.5).

9.22-25 O escritor descreve as misericórdias do Senhor sobre Israel na conquista da Terra Prometida e na provisão contínua de Deus ao Seu povo. Reinos e povos. A Bíblia celebra a posse de terra do lado oriental do rio Jordão, assim como a conquista de Canaã.

Como as estrelas do céu. O crescimento milagroso do povo é descrito nesta hipérbole familiar (Gn 15.5; 22.17).

Entraram nela. A posse da terra, como descrita no livro de Josué, é indicada aqui. Cidades fortes, terra gorda e casas. Com poucas exceções, Israel conquistou os habitantes de Canaã de tal maneira que pôde mudar-se para as cidades e casas intactas dos cananeus. Os israelitas também puderam beneficiar-se das colheitas e dos poços pelos quais não tiveram de trabalhar. Tudo isso é testemunho da grande bondade de Deus.

9.26-29 A rebelião do povo foi expressa durante a época dos juízes e a dos reis. A metáfora lançaram a tua lei para trás das suas costas refere-se à rebelião.

Mataram os teus profetas. Jesus também dirigiu essa acusação contra o povo rebelde (Mt 23.31). Pelo que os entregaste na mão dos seus angustiadores faz referência às experiências dos israelitas durante o período descrito pelo livro dos Juízes. O homem que os cumprir viverá. Salvação em qualquer tempo é apenas pela graça mediante a fé (Ef 2.8,9). Cumprir a Lei nunca foi um meio de obter a salvação, mas é um guia para levar uma vida que agrade ao Senhor

9.30, 31 Deus permaneceu fiel ao Seu desobediente povo. Por muitos anos refere-se à história de Israel desde Saul até o último dos reis. Teu Espírito, pelo ministério dos teus profetas fala do trabalho do Senhor ao inspirar as palavras dos profetas de Israel (Jr 1.9). Pelo que os entregaste na mão dos povos das terras refere-se ao cativeiro de Israel.

Nem desamparaste. Pela terceira vez nesse cântico (v. 17,19), esta realidade é confirmada.

9.32-35 Firmado na contínua misericórdia do Senhor ao longo dos séculos, o poeta, agora, volta-se para a situação atual e pede que a fidelidade do Altíssimo continue a ser experimentada por Seu povo. Essa é uma maravilhosa demonstração do modelo de oração bíblica. Com base nas ações passadas de Deus, o cristão afligido pede, pela fé, Sua contínua misericórdia.

9.32 Aqui, faz-se referência à época do grande avivamento sob a liderança de Esdras (8.1, 2). O concerto e a beneficência. A lealdade do concerto divino é inquebrável (Hb 6.17,18).

Não tenhas em pouca conta toda a aflição. A vista da inexprimível maravilha de Deus, o sofrimento de Seu povo poderia parecer pequeno demais para ser notado.

Reis e povo. Os efeitos dos problemas de Israel afetavam todos.

Desde os dias dos reis da Assíria. As incursões dos assírios, começando com Tiglate-Pileser III, iniciaram um período de opressão aos judeus.

9.33-35 Tu és justo. O autor confirma a justiça divina.

Tu fielmente te houveste, e nós impiamente nos houvemos. Essa é a realidade básica, não apenas deste capítulo, mas da história de Deus e de Seu povo.

9.36, 37 A designação servos é usada aqui como uma ironia. Israel havia sido chamado para ser servo de Deus (Lv 25.55), mas, aqui, os judeus foram servos dos governantes estrangeiros. O produto da terra não lhes pertencia; era destinado aos reis. Os israelitas eram tributados pela Pérsia no produto da terra que Deus lhes havia concedido.

9.38 O cântico finda em ação, e não apenas em sentimento. Sua intenção foi a mudança comportamental do povo do Senhor, um sinal para que os israelitas refletissem na fidelidade de Deus. O novo concerto comunitário desejava demonstrar a lealdade de Abraão e Sara.

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