Estudo sobre João 20

Estudo sobre o Evangelho de João





João 20

v. 1. No primeiro dia da semana, bem cedo [...] Maria Madalena chegou ao túmulo: Cf. 19.25; Lc 23.56. i.e., no domingo de manhã, v. 2. Tiraram o Senhor. As mulheres ficaram com medo, visto que ladrões de corpos podiam estar em ação. A primeira pessoa do plural, em “[nós] sabemos”, lembra a narrativa sinóptica (cf. Mc 16.1-8; Mt 28.1-8; Lc 24.1-12), em que ficamos sabendo que diversas visitantes mulheres foram ao sepulcro. v. 4. o outro discípulo foi mais rápido que Pedro: Cf. o v. 2; 13.23; 19.26; 21.20. Isso é um toque natural, mostrando como é vívida a lembrança do discípulo amado, provavelmente o mais jovem dos dois. v. 6. Simão Pedro [...] entrou no sepulcro: Aquela impulsividade que marcou Simão ao longo dos anos do ministério de Jesus ainda está aí. E o que ele viu (cf. versículo seguinte) parece descrever o que as faixas de sepultamento pareceriam se Jesus tivesse deixado o túmulo sem revolvê-las. v. 8. Depois o outro discípulo [...] viu e creu: A aparência das faixas foi suficiente para ele. Mas ele precisava desse tanto de evidência, pois até então nenhum dos dois homens entendia as Escrituras com relação à ressurreição (cf. SI 16.10; At 2.2932), que a mesma necessidade divina que determinou a morte de Jesus também determinava sua ressurreição dos mortos, v. 10. Evidentemente a fé no discípulo amado foi suficiente para despertar a fé em Pedro, de forma que ambos deixaram o sepulcro.
Maria, no entanto, tinha seguido os outros para o sepulcro e agora chegou, esperando do lado de fora e chorando (v. 11). v. 16. Maria\ Ouvir o seu nome foi suficiente para ela saber quem era que estava falando. Era a mesma voz poderosa que tinha levantado essa mulher anteriormente da sua vida possuída por demônios (Lc 8.2). Então, voltando-se para ele, Maria exclamou em aramako: ”Rabônil”: Há evidências, especialmente com base na consideração de um possível pano de fundo aramaico do evangelho, que voltando-se aqui significa “reconheceu”; isso tem apoio no Sinaítico Siríaco e é sugerido também por M. Black. (O aramaico é uma língua próxima do hebraico, que usa a mesma escrita; cf. “Linguagem do Antigo Testamento”, NBD.) v. 17. Não me segure-, O “Não me toque” da VA é fraco. A atitude expressa na emoção de Maria seria tal que impediria Jesus, se não de entrar na sua glória, ao menos de transmitir aquela manifestação vital de que tinha falado aos seus discípulos (cf. 14.15ss). Mas Jesus diz: Estou voltando. A aparição de Jesus a Maria agora é para assegurar a ela que ele está voltando para o Pai. João não apresenta a ascensão como um evento físico que aconteceu depois do intervalo de quarenta dias desde a ressurreição, mas como algo que já estava acontecendo. Em João, a morte de Cristo é sua exaltação — seu “ser levantado”. Nunca antes Jesus falou de meus irmãos-, mas, mesmo agora, ele distingue sua filiação da filiação deles ao dizer: meu Deus e Deus de vocês.
v. 19. medo dos judeus-. Cada uma das aparições pós-ressurreição de Jesus cumpriu um propósito especial. Para Pedro e o discípulo amado, foi a proclamação da vitória; para Maria, foi a satisfação do amor; agora, para o restante dos discípulos, é o acalmar dos medos, v. 20. mostrou-lhes as mãos e o lado: Não tinha havido nenhuma substituição; ele era o mesmo Jesus. Como ele podia passar por portas trancadas é um mistério para nós, embora à luz do que é conhecido acerca da natureza da matéria, esse tipo de fenômeno “desnaturai” de forma alguma é tão inconcebível como já foi no passado, v. 22. Recebam o Espírito Santo: O sopro de Deus é uma metáfora regular nas Escrituras para se referir ao Espírito Santo (cf. Gn 2.7; Ez 37.9,10). A primeira efusão do sopro de Deus fez do homem um ser vivente. Aqui o sopro do Cristo ressurreto transforma os medrosos discípulos em novos homens. Não há razão para supor que o Espírito Santo não tenha sido completamente transmitido nesse momento. Uma comparação com o relato de Lucas (cf. Lc 24.33) sugere que, além dos dez discípulos, havia outras pessoas presentes aqui. O que é descrito mais tarde em Atos (cf. At 2.1-4) foi um derramamento do Espírito compreendido especialmente à luz do ministério internacional dos apóstolos no dia de Pentecoste. Que eles foram vivificados aqui, está além de qualquer dúvida. (Mas v. H. B. Swete, The Holy Spirit in the NT [London, 1909], p. 164-8.) v. 23. Se perdoarem os pecados de alguém: Essas palavras, quando compreendidas corretamente, se referem aos discípulos como o primeiro núcleo da sociedade cheia do Espírito. Seu ministério no evangelho vai ser eficiente. Alguns serão perdoados; outros vão rejeitar sua mensagem e serão endurecidos. Se estamos inclinados a duvidar do poder da Igreja de cumprir tal responsabilidade, é porque sabemos (como sabiam os apóstolos) que o “espírito do mundo” ainda está ativo na vida dos membros. Mas quando a Igreja funciona como o verdadeiro Corpo de Cristo, ela pode fazer pronunciamentos acerca do pecado com a mesma segurança que Jesus quando deu essa ordem.
v. 25. Se eu não vir [...] não crerei: Tomé (cf. 11.6) de fato exigiu a evidência básica da ressurreição, i.e., a identidade daquele corpo que ele tinha conhecido antes de Jesus morrer, e com isso a evidência de continuidade. A apresentação daquela evidência aqui é, portanto, fundamental para a natureza cumulativa dos trechos da ressurreição, e Tomé não consegue se conter e clama: Senhor meu e Deus meu! (v. 28). Assim, ao discípulo que de forma mais firme exigiu evidência factual, foi dada a honra de fazer a primeira confissão de fé na plenitude da revelação resumida na ressurreição de Jesus Cristo, v. 29. Felizes os que não viram e creram'. Provavelmente estamos enganados se entendemos essas palavras como censura. Outros podem se considerar felizes (embora não mais felizes) por crerem com menos evidências palpáveis. O Senhor abarcou e aceitou todos os que tinham vindo à fé antes da sua morte sem qualquer dessas evidências convincentes de sua divindade, como também aqueles que depois creriam nele com base na evidência da Palavra escrita e falada. Mas a fé e a confiança de todos serão iguais em posição, v. 31. estes foram escritos para que vocês creiam-, Nossas autoridades textuais divergem entre o tempo aoristo (sugerindo o alvorecer da fé) e o presente (sugerindo persistência na fé). Nem todos os fatos da vida de Jesus estão registrados. Os Evangelhos não são biografias. São Evangelhos, que, como escreve C. H. Dodd, “declaram a glória de Deus ao revelar o que ele fez”. Comentar esta última frase significaria reler ou re-expor o evangelho. Dar fundamento à fé e à posse da vida foi o objetivo do evangelista em todo o livro, que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus: Cristo não é restrito à concepção judaica do Messias, mas deve ser entendido no sentido de o Filho de Deus apresentado nesse evangelho como o que revela o Pai.

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