Babilônia na Bíblia
Babilônia
BABILÔNIA = ACADIANO (babilani) Porta dos deuses.
1. Nome da capital do império babilônico. Aparece, pela primeira vez, este
nome, nas escrituras hebraicas em Gênesis 10:10, associado a outros três nomes no
princípio do reino de Nemrode (comp. Isaías 23:13). Ali começaram a edificar a
torre de Babel, e deu-se, a confusão das línguas, Gn 11: 1-9. Esta cidade era o
centro do poder babilônico no reinado de Hamurabi, vinte séculos antes de
Cristo (Vide Amrofel) e desde então, ficou sendo o centro político e religioso
de todo o país. Atingiu o auge de sua glória no sexto século A. C., sob o
reinado de Nabucodonosor que muito fez para convertê-la na mais esplêndida
capital do mundo. O antigo palácio erguia-se na margem oriental do Eufrates. O
palácio real foi por ele aumentado no dobro de seu tamanho original.
Estendia-se para o norte, e era cercado pelo rio a oeste e por um canal ao
norte e ao sul. A parte oriental era ornada por um magnífico pórtico, tendo em
frente a grande Avenida das Procissões de cerca de três quilômetros de
extensão, que ia dar no templo de Marduque. Nabucodonosor edificou outro
palácio ao norte do primeiro, a uns três quilômetros de distância, sobre uma
eminência artificial, ladeado de terraços, onde provavelmente, existiam os
famosos jardins suspensos. Heródoto que viveu no ano 413 A. C., diz que
Babilônia, a qual ele havia visitado, ocupava uma área quadrada, tendo cada
lado 120 estádios, ou cerca de 22 quilômetros, com uma área provável de 370
quilômetros, incluindo Borsipa, que ficava nos limites da cidade. Ctesias, que
também floresceu no ano 400 A. C., e que foi testemunha de vista, dá a cada
lado da cidade, 90 estádios, dando aos quatro lados, uma extensão de 360
estádios ou 66 quilômetros e meio, cobrindo uma área superior a 185
quilômetros. A cidade era protegida por um muro, segundo Jr 51: 58; ou, segundo
Heródoto, por muralhas duplas. Entre estes dois muros, havia um espaço onde não
se permitia a construção de casas. Em todo o circuito do muro interno,
estendiam-se jardins, hortas e campos, que aumentavam a área e que pouco
serviam para aumento da população. Diz Heródoto que os muros tinham a espessura
de 50 cúbitos reais, que corresponde a 28 metros e a altura de 200 cúbitos
reais, ou 112 metros.
Quinto Cúrcio, ano 40 da era cristã, dá a largura de 101 metros e meio
e Clitarcus (segundo Diodoro Siculo) e Estrabão dizem que a altura dos muros
era de 24 metros e 75 cent. Estes escritores calculam a área da cidade entre
365 a 385 estádios, ou sejam 67.525 ou 71.225 metros respectivamente. A cidade
tinha cem portas de bronze, vinte e cinco em cada lado. À entrada de cada
porta, abriam-se largas ruas que se cruzavam em ângulos retos, dividindo a
cidade em áreas quadradas. O Eufrates corria pelo centro da cidade, dividindo-a
em duas partes; as margens do rio eram cercadas de um cais separado da cidade por
uma muralha em toda a sua extensão, a qual tinha vinte e cinco portas de
comunicação para o rio por meio de caminhos em declive até à sua margem. O rio
dava curso a barcos de recreio e era atravessado por uma ponte e por um túnel.
Os muros, cais, palácios, templos e edifícios particulares, eram construídos de
tijolos, com betume servindo de argamassa, Gn 11: 3. O madeiramento empregado
nas construções, geralmente de dois, três e quatro andares, era de palmeiras
(Heródoto, 1: 178-186).
Em 520-19 A. C., e outra vez em 514, Babilônia revoltou-se contra Dario
Hitaspes, sendo ambas as vezes subjugada e facilmente desmantelada. Seleuco
Nicator apressou a sua decadência; conquistando-a em 312 A.C., e retirando dela
grande cópia de materiais para construir a sua nova capital, Selêucia, nas
margens do Tigre.
As profecias da Escritura acerca de Babilônia tem sido literalmente
cumpridas, Is caps. 13 e 14 até o v. 23; 21: 1-10; 6: 1, 2; 47: 1-3; Jr caps.
50, 51. Jeremias no cap. 51 comp. com cap. 5: 26, disse que ela seria reduzida
a montões, tal qual como existe atualmente. As suas ruínas começam a seis
quilômetros e meio acima da aldeia de Hillah, e estendem-se a cinco quilômetros
e meio para noroeste a perto de quatro do oriente para o acidente,
principalmente do lado oriental do rio. Aos três montões principais dão os
árabes o nome de Babil, Kasr e Amram; estão no oriente do rio, e em uma secção
da antiga cidade, que num período remoto, tinha a forma triangular limitada
pelo rio e por muros. Estes muros eram construídos em linhas retas que se
encontravam, formando um ângulo reto na direção do oriente, com três a cinco
quilômetros de extensão. O montão sul, Amram, assinala o local do templo de
Marduque, o montão central, Kasr, cobre as ruínas do velho palácio e do templo
da deusa Belite; situado mais para este, e separado do palácio pela Avenida das
Procissões. O montão Babil, ao norte é o lugar do palácio norte de
Nabucodonosor.
2. Nome da Babilônia mística de que fala o Apocalipse de S. João, 14:
8; 16: 19; e caps. 17 e 18, que representa a cidade de Roma edificada sobre
sete montes (comp. 17: 3, 5, 6, 9).
3. Nome da região ocidental da Ásia, cuja capital era Babilônia. Esta
região tem às vezes o nome de Senaar, Gn 10: 10; 12: 2; Is 11: 11, e outras o
de Galdéia, Jr 24: 5; 25: 12; Ez 12: 13. Era limitada ao norte pela
Mesopotâmia, linha divisória, entre as duas, que correm desde perto do Hite no
Eufrates até um pouco abaixo do Samara no Tigre. O limite é natural e separa a
planície levemente elevada de formação secundária ao norte, da parte baixa
formada pelas aluviões trazidas pelo Eufrates e pelo Tigre ao sul. A região é
limitada ao oriente pelas montanhas do Elão, a leste pelo rio Tigre; ao sul,
pelo Gôlfo Pérsico, a oeste pela Arábia Deserta . Nos antigos tempos
históricos, a sua área era de 46.300 quilômetros quadrados, porém com as
aluviões trazidas gradualmente sobre a parte norte do Gôlfo Pérsico, a superfície
eleva-se a 55.560. A parte formada pelas aluviões é riquíssima; irrigada
artificialmente, é de fertilidade admirável. Foi ali que os descendentes de Cus
se estabeleceram e bem assim os semitas, Gn 10: 8-10. As cidades principais que
se fundaram ali foram: Ur, 11: 28, Larsa, Ereque, Badel, Acabe, Cutá, 2 Rs 17:
24, e Nipur. Estas cidades foram às vezes reinos independentes, e outras vezes governadas
por um só monarca. Nemrode, em breve, dominou sobre quatro destas cidades.
Sargom de Agade, semita de origem, dominou em toda a região, 3.750 A. C. Porém
o seu domínio e bem assim o de seu filho Naram-sin, estendeu-se muito além de
Babilônia, chegando até ao Mediterrâneo. Dois milênios antes de Cristo,
Cudurnanhundi desceu de Elão e conquistou Babilônia. Presume-se que o rei
Quedorlaomer pertencia a esta dinastia, Gn 14: 1. Estes elamitas foram, afinal,
derrotados, terminando o domínio de Hamurabi sobre Babilônia. Posteriormente os
cosseanos se estabeleceram no país. Cerca de dezesseis séculos A. C., a
Palestina adotou a linguagem e a escrita usadas em Babilônia para sua
correspondência oficial com a corte egípcia. Em 1270 A. C., os assírios, sob o
governo de Tuculti-adra, subjugaram Babilônia, que durante 700 anos ficou sendo
uma potência de segunda ordem, ainda que, por vezes sacudindo o jugo dos
assírios. Nabonassar alcançou a independência em 747 A. C. O país foi novamente
conquistado por Tiglate-Pileser, 741 A. C., e depois de sucessivas revoltas,
por Sargom em 709; por Senaqueribe, em 703; e por Assurbanipal em 648 A. C.
Durante este período, Merodaque-Baladã duas vezes ocupou o trono, uma vez, de
721 a 709, e outra vez de 704 a 703. Em 625, A. C., a independência de
Babilônia foi finalmente consolidada por Nabopalusur, conhecido dos gregos pelo
nome de Nabopolassar que provavelmente era oficial do tempo dos assírios. Os
inquietos babilônicos juntamente com os medos ameaçaram o império assírio.
Auxiliado pelos caldeus, Nabopolassar apoderou-se de Babilônia, proclamou-se
independente da Assíria, aliou-se com os medos e lançou os fundamentos do
grande império babilônico. Reinou desde o ano 625 até 605 A. C. Nínive tinha
sido tomada e destruída em 606 A. C., e na partilha deste império, foram
anexadas ao império babilônico, a Susiana, o vale do Eufrates, a Síria, e a
Palestina. Porém, as pretensões de Babilônia à região ocidental do Eufrates,
foram disputadas por Faraó Neco, rei do Egito, e Nabopolassar mandou seu filho
Nabucodonosor para proteger os interesses babilônicos. Este derrotou totalmente
a Neco na batalha de Carcames, 605, A. C. e, continuando para o ocidente, no
prosseguimento de suas vitórias, teve de retroceder para Babilônia por causa da
morte de seu pai. Subiu ao trono em 605 A. C. e reinou 44 anos. No seu reinado,
o império estendeu os seus limites, como nunca antes; quase todos os
melhoramentos de engenharia e arquitetura foram por ele dirigidos. Tomou e
destruiu Jerusalém e levou cativo o povo de Judá (Vide Nabucodonosor). Morreu
em 562 A. C.; sucedeu-lhe no trono seu filho Evilmerodaque que se tornou amigo
do rei Joaquim, tirando-o do cárcere, 2 Rs 25: 27; Jr 52:31. Depois de um
reinado de 2 anos, 562-560. A. C., Evilmerodaque foi assassinado por uns
conspiradores chefiados por Neriglissar, genro de Nabucodonosor. Este parece
ter sido o mesmo Nergel que tomou parte no sítio de Jerusalém, Jr 39: 3, 13;
subiu ao trono e reinou 4 anos e meio, vindo a falecer em 556 A. C. Seu filho e
sucessor, Labashi-marduk, ainda criança, foi assassinado, alguns meses depois.
Os conspiradores investiram a um de seus companheiros, chamado Nabunaide, no
governo do país. Decorridos dezessete anos de seu reinado, 539 A. C., Ciro, rei
dos Persas, entrou em Babilônia, que deu fim ao império babilônico (Vide Ciro).
Depois de Ciro, vem Alexandre, o Grande, que, pelas suas grandes vitórias, 333
e 331 A. C. nulificou o domínio persa. Desde então, o território do baixo
Eufrates passou sucessivamente dos gregos para os romanos, para os partas, para
os persas outra vez, e, finalmente, para os maometanos. Depois da tomada de
Jerusalém, no ano 70 A. C., Babilônia foi um centro de instrução, onde existiam
várias escolas judaicas consagradas ao estudo e interpretação da Lei mosaica.
Este país é hoje região estéril, mas que se pode tornar rica e fértil sob um
governo culto e sábio.