Estudo sobre Deuteronômio 32

Estudo sobre Deuteronômio 32

Estudo sobre Deuteronômio 32 



Deuteronômio 32

5) O cântico de Moisés (32.1-43)
No seu contexto, isso está relacionado a 31.28,29 e, na verdade, é o testemunho de Moisés a Israel, em termos que poderiam ser aplicados a qualquer época da história do povo. Em vista de suas características literárias e alguns dos seus conceitos teológicos (cp., e.g., o v. 39 com Is 44.6; 45.5-7 etc.), muitos estudiosos atribuíram esse texto ao período exílico. Mas ele contém características linguísticas arcaicas, e muitos hoje datam a sua forma inicial de época tão antiga quanto o século XI a.C. Na forma, ele se parece com os documentos em que suseranos confrontavam vassalos faltosos. Essa forma ríb (“controvérsia”), exemplificada nos séculos XVIII e XVII, pode bem ter sido conhecida de Moisés. Geralmente começava com um apelo aos céus e à terra para que fossem testemunhas do mal cometido pelo vassalo (cf. v. 1-4). Depois vinham perguntas do demandante nas quais se baseava uma acusação (cf. v. 5,6). Em seguida, vinha a declaração acerca dos benefícios passados recebidos pelo vassalo (cf. v. 7-14) e da sua presente ingratidão (cf. v. 15-18). O padrão ríb terminava com uma referência à futilidade de outras alianças e um chamado para a mudança de diretrizes ou para encarar a retribuição. Mas, no cântico de Moisés, os v. 26-43 divergem do padrão ríb, introduzindo uma palavra de esperança e a promessa de libertação. Thompson sugere que uma declaração mosaica original, baseada livremente no padrão ríb, foi ampliada e reaplicada em data posterior.
v. 1-4. Acerca do testemunho de céus e terra, cf. Is 1.2; Mq 6.1,2. As palavras do cântico lembram a chuva e o orvalho porque refrescam e renovam os ouvintes, já que aludem ao caráter de Javé. Ele é tão sólido e confiável como uma rocha. v. 5,6. A acusação (v. 5) é seguida de uma pergunta por parte do mensageiro do suserano (v. 6). v. 7-14. Os atos reais do suserano a favor de seu vassalo são alistados sob três cabeçalhos: (a) v. 8,9. A escolha que Deus fez de Israel remonta ao tempo em que o Altíssimo (‘elyôn) demarcou fronteiras entre as nações (v. Gn 10). Ao final do v. 8, a RSV segue a LXX (apoiada mais tarde por um manuscrito de Gunrã) ao associar isso às atividades do conselho celestial (cf. Gn 1.26; Jó 1.6; 38.7; lRs 22.19-22; Dn 10.13; Ap 4.2,4[?]). Acerca do v. 9, cf. Ef 1.18, que é interpretado erroneamente com frequência. (b) v. 10-12. O texto fala da libertação de Israel de três maneiras, sendo ela comparada ao cuidado que um homem tem com a pupila dos seus olhos, à forma em que uma águia ensina os seus filhotes a voar e à condução de um pastor, v. 10a. Cf. Os 9.10. (c) v. 13,14. A conquista das montanhas da Transjordânia (?) resultou em fartura de alimento, incluindo mel e óleo de oliva (v. 13b). v. 15-18. A acusação contra Israel é que, apesar da (ou talvez em virtude da) sua prosperidade dada por Deus, o povo se esqueceu de Javé e até mesmo se voltou para outros deuses. Jesurum parece ser um nome carinhoso para o povo — lit. ”aquele que é justo” — cf. 33.5,26; Is 44.2. Acerca dos deuses dos pagãos serem considerados demônios (v. 17, uma palavra rara usada aqui e em SL 106.37), v. ICo 10.20; para outro ponto de vista sobre as religiões pagãs, v. At 17.23,27. v. 18. Destaca -se aqui tanto a paternidade quanto as características maternas de Deus; ignorar esse aspecto da natureza de Deus tem conduzido a uma ênfase não-bíblica da Virgem Maria. v. 19-25. E declarada a sentença contra Israel por transgredir a aliança, v. 19. Embora às vezes haja referências a Israel como o “filho” de Javé (Os 11.1), é raro que se fale dos israelitas como seu filhos, particularmente em termos da aliança (contraste com Ml 2.10). v. 21. Cf. Os 1.9; 2.23. A GNB traz “supostos deuses [...] suposta nação”. Tentativas de datar o poema com base nessa referência vaga são infrutíferas. v. 22. A ira de Deus é ilimitada nos seus efeitos, v. 23-25. As maldições lembram aquelas do cap. 28: doenças, animais selvagens, serpentes venenosas e guerra, v. 25. em seus lares-, lugar em que normalmente se espera viver em segurança.
v. 26-38. A misericórdia seguirá o juízo. Ao longo de toda a história, Deus tem castigado o seu povo (da antiga aliança e da nova), mas não o destruiu, v. 26,27. Esse vislumbre da luta entre a misericórdia e a justiça lembra Os 11.8, mas a razão da misericórdia divina é encontrada em Ez 20.9,14,22 etc. — embora o “nome” de Javé não seja mencionado aqui. O v. 27b também está relacionado com Is 10.7-11, que focaliza não uma visão deficiente do nome de Javé, mas uma visão elevada demais do poder dos seus inimigos, v. 28,29. Será que Israel é um povo sem juízo (assim na NTLH) ou são os seus inimigos? Provavelmente os inimigos; eles não tem percepção alguma do propósito de Deus na história de Israel, v. 30,31. Os inimigos de Israel deveriam reconhecer o verdadeiro significado da derrota de Israel, contrária à promessa da aliança de 28.7. Os inimigos são juízes ou (a) enviados por Deus para os seus propósitos ou (b) capazes de dar o veredicto com base nas evidências do v. 30.
v. 32,33. A Bíblia nunca “maquia” os instrumentos de Deus (Hb 1.12-17). Sodoma e Gomorra trazem a conotação do mal, do juízo e da pobreza, v. 34,35. A convicção de que o juízo divino é inevitável não é restrito a Israel (cf., e.g., as Erínias e Fúrias da mitologia clássica). Aqui, com útil ambiguidade, a calamidade é vista como que esperando pelo povo de Deus (v. 23,25) que precisa sofrer primeiro (IPe 4.17) ou como o destino dos inimigos de Deus (v. 36-43). v. 35. A vingança e a retribuição de Deus significam libertação para o seu povo (Is 61.2). Esse versículo é citado em Rm 12.19 como razão para que o povo de Deus não busque a vingança por conta própria. Em Hb 10.30, é usado como advertência contra a apostasia, v. 36-38. Deus não vai salvar o seu povo se este não reconhecer a sua impotência e a inutilidade dos seus deuses, v. 39. Palavras como essas (cf. 2Rs 5.7; SL 104.29,30) destacam o significado das palavras poderosas de Cristo, v. 4042. Javé solenemente jura pelo seu próprio nome (cf., e.g., 2Sm 12.5) que ele vai concluir a sua obra de juízo. v. 43. Se essas atitudes parecem estranhas para os cristãos, a razão pode não ser o seu grande amor pelos seus inimigos, mas a sua percepção incorreta do grande poder de destruição do pecado. SL 104.35 não é inoportuno aqui, e Ap 6.10 não se refere à vingança pessoal. É digno de destaque que esse versículo, que fala de um novo começo após a liberação, use uma palavra do contexto do sacrifício, kipper (cobrir, expiar). Pode-se basear a tradução do v. 43 na LXX, que foi confirmada por um manuscrito de Cunrã (cf. Hb 1.6).
v. 44-47. O cântico retoma aqui a forma de prosa. Não é um “mero” poema, mas a expressão da vontade de Deus (v. 46b), e o povo não deve pensar que “a Lei [de Deus] não vale nada” (v. 47, NTLH) e sim que é uma questão de vida e morte. v. 48-52. Acerca de Nebo, v. comentário de 34.1; também sobre a ordem “contemple Canaã”. A morte de Arão (também numa montanha) é descrita em Nm 20.22-29; 33.37-39. V. a discussão acerca de como Moisés (e Arão) foram infiéis em Meribá-Cades em Nm 20.10ss; o episódio é mencionado também em Dt 1.37; 3.26; 4.21 e Nm 27.12-14.

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