Panorama do Livro de 1 Samuel

Panorama do Livro de 1 Samuel

Panorama do Livro de 1 Samuel

O livro abrange, em parte ou no todo, a vida de quatro líderes de Israel: Eli, o sumo sacerdote; Samuel, o profeta; Saul, o primeiro rei; e Davi, que foi ungido para ser o próximo rei.

A judicatura de Eli e o jovem Samuel ( 1:1–4:22)

No início da narrativa, somos apresentados a Ana, esposa favorita de Elcana, um levita. Ela não tem filhos e é desprezada por isso pela outra esposa de Elcana, Penina. Enquanto a família faz uma das suas visitas anuais a Silo, onde se acha a arca do pacto de Yahweh, Ana ora fervorosamente a Yahweh para que lhe dê um filho. Ela promete que, se sua oração for atendida, devotará o filho ao serviço de Yahweh. Deus atende a sua oração, e ela dá à luz um filho, Samuel. Logo que é desmamado, ela o leva à casa de Yahweh e o coloca sob os cuidados do sumo sacerdote Eli, como alguém ‘emprestado a Yahweh’. (1:28) Ana se expressa, então, em jubilante oração de agradecimentos e de felicidade. O menino se torna “ministro de Yahweh perante Eli, o sacerdote”. — 2:11.

Nem tudo vai bem com Eli. Está velho, seus dois filhos se tornaram imprestáveis, e ‘não reconhecem a Yahweh’. (2:12) Usam o seu cargo sacerdotal para satisfazer a sua ganância e seus desejos imorais. Eli deixa de os corrigir. Yahweh, portanto, passa a enviar mensagens divinas contra a casa de Eli, avisando que “nunca chegará a haver um homem idoso na tua casa”, e que ambos os filhos de Eli morrerão num só dia. (1 Sam. 2:30-34; 1 Reis 2:27) Por fim, Ele envia o menino Samuel a Eli com uma mensagem de julgamento de fazer tinir os ouvidos. Assim, o jovem Samuel é credenciado à função de profeta em Israel. — 1 Sam. 3:1, 11.

No devido tempo, Yahweh executa esse julgamento, suscitando os filisteus. Visto que o resultado da batalha é desfavorável a Israel, os israelitas levam, com grande grito, a arca do pacto de Silo para seu acampamento militar. Ouvindo o grito e sabendo que a Arca foi trazida para dentro do acampamento de Israel, os filisteus fortalecem-se e ganham uma sensacional vitória, desbaratando totalmente os israelitas. A Arca é capturada, e os dois filhos de Eli morrem. Com coração tremendo, Eli ouve o relato. Ao se mencionar a Arca, cai de costas da cadeira, quebra o pescoço e morre. Assim, termina a sua judicatura de 40 anos. Deveras: “A glória exilou-se de Israel”, pois a Arca representa a presença de Yahweh com o seu povo. — 4:22.

Samuel julga Israel (5:1–7:17)

Agora os filisteus também têm de aprender, para a sua grande tristeza, que a arca de Yahweh não deve ser usada como amuleto. Quando levam a Arca para dentro da casa de adoração de Dagom, em Asdode, o deus deles cai estirado de bruços. No dia seguinte, Dagom cai de novo estirado na soleira, desta vez com a cabeça e as palmas de ambas as mãos decepadas. Com isto começa o costume supersticioso, entre os filisteus, de ‘não pisar no limiar de Dagom’. (5:5) Os filisteus mandam apressadamente a Arca para Gate, e daí para Ecrom, mas tudo em vão! Sobrevêm tormentos em forma de pânico, hemorróidas e uma praga de roedores. Os senhores do eixo dos filisteus, em desespero final com o aumento do número de mortos, devolvem a Israel a Arca num novo carro puxado por duas vacas que amamentam. Em Bete-Semes, sobrevém calamidade sobre alguns dos israelitas, porque olham para a Arca. (1 Sam. 6:19; Núm. 4:6, 20) Finalmente, a Arca descansa na casa de Abinadabe, na cidade de Quiriate-Jearim.

Por 20 anos, a Arca permanece na casa de Abinadabe. Samuel, já adulto, insta com os israelitas para que se desfaçam dos Baalins e das imagens de Astorete e sirvam a Yahweh de todo o coração. Eles fazem isso. Quando se reúnem em Mispá para adoração, os senhores do eixo dos filisteus aproveitam a oportunidade para batalhar, e Israel é apanhado de surpresa. Israel invoca a Yahweh por intermédio de Samuel. Um grande barulho de trovão da parte de Yahweh lança os filisteus em confusão, e os israelitas, fortalecidos mediante sacrifícios e orações, obtêm uma vitória esmagadora. Daquele tempo em diante, ‘a mão de Yahweh continua a ser contra os filisteus todos os dias de Samuel’. (7:13) Contudo, Samuel não pára seu serviço. Durante toda a vida, continua a julgar Israel, fazendo viagem anual desde Ramá, logo ao norte de Jerusalém, até Betel, Gilgal e Mispá. Em Ramá, ele levanta um altar a Yahweh.

Saul, o primeiro rei de Israel (8:1–12:25)

Samuel já está envelhecido no serviço de Yahweh, mas seus filhos não andam nos caminhos de seu pai, pois aceitam subornos e pervertem o julgamento. Neste tempo, os homens mais idosos de Israel vão ter com Samuel com o seguinte pedido: “Designa-nos deveras um rei para nos julgar, igual a todas as nações.” (8:5) Samuel, extremamente perturbado, busca a Yahweh em oração. Yahweh responde: “Não é a ti que rejeitaram, mas é a mim que rejeitaram como rei sobre eles. . . . E agora escuta a sua voz.” (8:7-9) Primeiro, porém, Samuel precisa adverti-los das conseqüências funestas de seu pedido rebelde: arregimentação, pagamento de impostos, perda da liberdade e, com o tempo, amargura e clamor a Yahweh. O povo, irredutível nos seus desejos, exige um rei.

Agora, passamos a conhecer Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim, e incomparavelmente o mais belo e o mais alto homem em Israel. Ele é conduzido a Samuel, que lhe reserva um lugar de honra num banquete, unge-o e daí o apresenta a todo o Israel numa assembléia em Mispá. Embora no início Saul se esconda entre a bagagem, é finalmente apresentado como sendo a escolha de Yahweh. Samuel relembra mais uma vez a Israel a prerrogativa do reinado, escrevendo-a num livro. Entretanto, não é senão depois da vitória sobre os amonitas, que acaba com o sítio em Jabes de Gileade, que Saul é levado a sério por todos os dentre o povo, de modo que confirmam a sua realeza em Gilgal. Samuel os exorta outra vez a temer, servir e obedecer a Yahweh, e roga a Yahweh que envie um sinal em forma de trovões e chuva fora de época, na ocasião da colheita. Numa demonstração aterradora, Yahweh mostra a sua ira por terem rejeitado a Ele qual Rei.

A desobediência de Saul (13:1–15:35)

Ao passo que os filisteus continuam a molestar a Israel, Jonatã, o corajoso filho de Saul, derrota uma guarnição dos filisteus. O inimigo, para vingar-se disto, envia um enorme exército, “como os grãos de areia que há à beira do mar”, em tamanho, e eles acampam em Micmás. A inquietação assola as fileiras dos israelitas. ‘Se tão-somente Samuel viesse dar-nos a orientação de Yahweh!’ Saul, impaciente de esperar por Samuel, peca, oferecendo presunçosamente ele próprio o sacrifício queimado. Samuel aparece de súbito. Rejeitando as pouco convincentes desculpas de Saul, pronuncia o julgamento de Yahweh: “E agora teu reino não durará. Yahweh certamente achará para si um homem que agrade ao seu coração; e Yahweh o comissionará como líder do seu povo, porque não guardaste o que Yahweh te ordenou.” — 13:14.

Jonatã, cheio de zelo pelo nome de Yahweh, ataca outra vez um posto avançado dos filisteus, desta vez acompanhado apenas de seu escudeiro, e como um raio eles abatem cerca de 20 homens. Um terremoto aumenta a confusão dos inimigos. Estes se põem em fuga e os israelitas os perseguem decididamente. Contudo, a plena força da vitória fica enfraquecida pelo juramento precipitado de Saul de proibir os guerreiros de comer antes de terminar a batalha. Os homens se cansam logo e daí pecam contra Yahweh, comendo carne recém-abatida, sem dar tempo para o sangue escoar. Jonatã, da sua parte, revigorara-se com um favo de mel antes de saber do juramento que ele denuncia intrepidamente como um empecilho. Ele é remido da morte pelo povo, por causa da grande salvação que efetuou em Israel.

Chega, então, o tempo de Yahweh executar o julgamento sobre os vis amalequitas. (Deut. 25:17-19) Devem ser totalmente exterminados. Nada deverá ser poupado, nem homem nem animal. Nenhum despojo deve ser tomado. Tudo tem de ser entregue à destruição. Entretanto, Saul, desobedecendo, poupa a Agague, rei dos amalequitas, e os melhores animais dentre os rebanhos e manadas, ostensivamente para os sacrificar a Yahweh. Isto desagrada tanto ao Deus de Israel que ele inspira Samuel a expressar uma segunda rejeição de Saul. Desconsiderando as desculpas de Saul que quer salvar as aparências, Samuel declara: “Tem Yahweh tanto agrado em ofertas queimadas e em sacrifícios como em que se obedeça à voz de Yahweh? Eis que obedecer é melhor do que um sacrifício . . . Visto que rejeitaste a palavra de Yahweh, ele concordemente rejeita que sejas rei.” (1 Sam. 15:22, 23) Saul estende então o braço para implorar clemência a Samuel e arranca a aba de sua túnica. Samuel lhe certifica que Yahweh arrancará igualmente o reino de Saul e o dará a um homem melhor. O próprio Samuel lança mão da espada, executa a Agague e vira as costas a Saul, para nunca mais o ver.

A unção de Davi, sua bravura (16:1–17:58)

Yahweh conduz a seguir Samuel à casa de Jessé, em Belém de Judá, para selecionar e ungir o futuro rei. Um por um os filhos de Jessé são passados em revista, mas são rejeitados. Yahweh faz lembrar a Samuel: “Não como o homem vê é o modo de Deus ver, pois o mero homem vê o que aparece aos olhos, mas quanto a Yahweh, ele vê o que o coração é.” (16:7) Finalmente, Yahweh indica a sua aprovação de Davi, o mais moço, descrito como sendo “ruivo, rapaz de belos olhos e bem-parecido”, e Samuel o unge com óleo. (16:12) O espírito de Yahweh vem então sobre Davi, mas Saul desenvolve um espírito mau.

Os filisteus fazem novamente incursões em Israel, apresentando o seu campeão, Golias, um gigante de seis côvados e um palmo (cerca de 2,9 m) de altura. É tão monstruoso que sua cota de malha pesa cerca de 57 quilos e a lâmina de sua lança, quase 7 quilos. (17:4, 5, 7) Dia após dia, este Golias desafia blasfema e desdenhosamente a Israel para que escolha um homem e o deixe sair para lutar, mas ninguém responde. Saul estremece na sua tenda. Entretanto, Davi chega a ouvir os escárnios do filisteu. Com justa indignação e coragem inspirada, Davi exclama: “Quem é este filisteu incircunciso que venha escarnecer das fileiras combatentes do Deus vivente?” (17:26) Rejeitando a armadura de Saul porque não a experimentou antes, Davi sai ao combate, munido unicamente de um bastão de pastor, uma funda e cinco pedras lisas. Considerando o confronto com este jovem pastor uma afronta à sua dignidade, Golias invoca o mal sobre Davi. Ressoa a resposta confiante: “Tu vens a mim com espada, e com lança, e com dardo, mas eu chego a ti com o nome de Yahweh dos exércitos.” (17:45) Uma pedra certeira da funda de Davi lança o campeão dos filisteus por terra! Correndo para ele à plena vista de ambos os exércitos, Davi desembainha a espada do gigante e a usa para decepar a cabeça do dono dela. Que grande libertação da parte de Yahweh! Que regozijo no acampamento de Israel! Morto o seu campeão, os filisteus fogem, e os jubilantes israelitas os perseguem cerradamente.

Saul persegue a Davi (18:1–27:12)

Em conseqüência da ação destemida de Davi a favor do nome de Yahweh, apresenta-se-lhe uma amizade maravilhosa. É com Jonatã, filho de Saul e herdeiro natural do reino. Jonatã chega a “amá-lo como a sua própria alma”, de modo que os dois fazem um pacto de amizade. (18:1-3) Enquanto se celebra a fama de Davi em Israel, Saul, irado, procura matá-lo, mesmo lhe dando sua filha Mical em casamento. A inimizade de Saul se torna cada vez mais insana, de modo que Davi se vê forçado a fugir com a amorosa ajuda de Jonatã. No momento da separação, os dois choram, e Jonatã reafirma a sua lealdade a Davi, dizendo: “Mostre o próprio Yahweh estar entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua descendência, por tempo indefinido.” — 20:42.

Davi e seu pequeno grupo de apoiadores famintos, fugindo do exacerbado Saul, chegam a Nobe. Ali, o sacerdote Aimeleque, depois de se certificar de que Davi e seus homens se abstiveram de mulheres, permite-lhes comer do pão sagrado da proposição. Agora, armado da espada de Golias, Davi foge para Gate, no território dos filisteus, onde finge estar louco. De lá, ele se esconde na caverna de Adulão, depois foge para Moabe, e mais tarde, seguindo o conselho do profeta Gade, ele retorna à terra de Judá. Temendo uma insurreição a favor de Davi, o Rei Saul, louco de ciúmes, ordena a Doegue, o edomita, que massacre a população sacerdotal de Nobe; só Abiatar escapa e foge para junto de Davi. Ele se torna o sacerdote do grupo.

Davi, servo leal de Yahweh, trava então uma bem-sucedida guerrilha contra os filisteus. Entretanto, Saul continua a sua campanha total de capturar a Davi, convocando seus guerreiros e indo ao encalço dele “no ermo de En-Gedi”. (24:1) Mas Davi, o amado de Yahweh, consegue sempre manter-se um passo à frente de seus perseguidores. Em certa ocasião, Davi tem oportunidade de matar a Saul, mas ele se refreia e apenas corta a aba da túnica de Saul para lhe provar que lhe poupara a vida. Mesmo este gesto inofensivo faz o coração de Davi bater, pois sente que agiu contra o ungido de Yahweh. Que grande respeito pela organização de Yahweh!

Embora a narrativa mencione nesta altura a morte de Samuel (25:1), o escriba que o sucede dá prosseguimento ao relato. Davi pede a Nabal, de Maom de Judá, que o proveja de alimento em troca dos serviços prestados a seus pastores. Mas Nabal só ‘lança invectivas’ contra os homens de Davi, e Davi põe-se a caminho para puni-lo. (25:14) Compreendendo a gravidade da situação, Abigail, esposa de Nabal, leva secretamente provisões a Davi e aplaca-lhe a ira. Davi a abençoa pela sua iniciativa judiciosa e a envia de volta em paz. Quando Abigail informa Nabal sobre o sucedido, ele é atacado do coração, e dez dias mais tarde morre. Davi casa-se então com a bondosa e bela Abigail.

Pela terceira vez, Saul persegue obstinadamente a Davi, e, mais uma vez, goza da misericórdia de Davi. “Um sono profundo da parte de Yahweh” cai sobre Saul e seus homens. Isto permite que Davi entre no acampamento e se apodere da lança de Saul, mas ele se refreia de estender a mão “contra o ungido de Yahweh”. (26:11, 12) Pela segunda vez Davi é forçado a buscar refúgio junto aos filisteus que lhe dão Ziclague como lugar de residência. De lá, ele continua as suas incursões contra outros inimigos de Israel.

Fim suicida de Saul (28:1–31:13)

Os senhores do eixo dos filisteus se unem num exército combinado e acampam em Suném. Em contrapartida, Saul posta-se junto ao monte Gilboa. Num estado de grande agitação, Saul busca orientação divina, mas não consegue obter nenhuma resposta de Yahweh. Se tão-somente pudesse entrar em contato com Samuel! Saul se disfarça e parte para ir consultar uma médium espírita, em En-Dor, por trás das linhas dos filisteus, cometendo assim outro grave pecado. Encontrando-a, roga-lhe que contate Samuel. Precipitado em tirar conclusões, Saul presume que aquele que a médium faz aparecer seja o falecido Samuel. Entretanto, “Samuel” não tem mensagem consoladora para o rei. No dia seguinte, ele morrerá e, em conformidade com as palavras de Yahweh, o reino lhe será tirado. No outro acampamento, os senhores do eixo dos filisteus estão subindo ao combate. Vendo a Davi e seus homens entre as fileiras deles, ficam com suspeitas e os mandam para casa. Os homens de Davi voltam a Ziclague no momento exato! Um bando de invasores amalequitas levou a família e as posses de Davi e de seus homens, mas Davi e seus homens os perseguem, e tudo é recuperado sem nenhum dano.

A batalha é travada no monte Gilboa. Israel sofre uma desastrosa derrota, e os filisteus controlam as áreas estratégicas do país. Jonatã e outros filhos de Saul são mortos, e Saul, mortalmente ferido, mata-se com a sua própria espada — é um suicida. Os filisteus vitoriosos prendem os cadáveres de Saul e de seus três filhos nas muralhas da cidade de Bete-Sã, mas os homens de Jabes-Gileade retiram os corpos dessa humilhante posição. O calamitoso reinado do primeiro rei de Israel chega assim a um fim desastroso.