Aparições de Jesus Cristo

Aparições de Jesus Cristo

APARIÇÕES DE JESUS CRISTO


 I. O Registro Histórico

1. No dia da ressurreição.  A Maria Madalena (Jo. 20:14-18). Às outras mulheres, Maria, mãe de Tiago e José, Joana, Salomé (e outras) que tinham vindo com especiarias para ungir o corpo de Jesus (Luc. 24:10, Mat. 28:7-10). Na tarde daquele mesmo dia, a Pedro (Luc. 24:10, Mat. 28:7-10). Mais tarde, ainda nesse dia, aos dois discípulos no caminho de Emaús, um dos quais se chamava Cléopas, embora desconheçam os o nome do outro. Provavelmente Cléopas forneceu a informação sobre este acontecimento que Lucas incluiu no seu Evangelho (ver Luc. 24:13,18). Pouco m ais tard e, a dez discípulos, pois Judas Iscariotes já morrera e Tomé estava ausente (Luc. 24:36-43, Jo. 21:1-23).

2. Oito dias mais tarde (Jo. 20:26), a todos os onze apóstolos, incluindo Tomé (Jo. 20:24-29).

3. Certo número indeterminado de dias,  depois disso, a sete discípulos, Pedro, Tom é, Natanael, Tiago, João (estes dois últimos filhos de Zebedeu), e dois outros cujos nomes não foram fornecidos (Jo. 21 :2).

4. Em alguma data indeterminada,  a quinhentos irmãos (I Cor. 15:6).

5. Em Jerusalém e em Betânia, em data posterior, para Tiago (I Cor. 15:7), e pouco mais tarde, a todos os apóstolos novamente, ao tempo da ascensão (I Cor. 15:7, Mat. 28:16,20, Luc. 24:33-43, Atos 1:3-12).

6. Por meio de visões,  a Paulo (I Cor. 15:8, Atos 9:3-6), a Estêvão (A tos 7:55), e a João, na ilha de Patmos (Apo. 1:10-19). As narrativas assim fornecidas nos dão uma base histórica firme sobre o fato da ressurreição, sendo um dos princípios fundamentais do NT e da fé cristã. Ver o artigo geral sobre a Ressurreição.

II. Comentários Gerais sobre as Aparições:

As manifestações de Cristo, após a sua ressurreição são importantes porque, através delas, e foram muitas, temos provas empíricas do fato da ressurreição; e diversos pormenores das mesmas fornecem-nos algum discernimento na natureza da própria ressurreição. Um sumário dessas manifestações, com base em todas as fontes informativas, é dado em João 20:1 no NTI. As tradições que envolvem a questão, até mesmo aquelas preservadas nos evangelhos sinópticos, diferem muito quanto à ordem das manifestações e ao seu número; m as são unânimes na narrativa do grande fato  da ressurreição. De fato, é quase impossível preparar-se uma harmonia desses acontecimentos, com qualquer certeza. Porém, até mesmo isso favorece o fato, pois se a igreja cristã primitiva tivesse criado a narrativa, apoiando-se mediante manifestações supostas, mas não reais, tal invenção mui provavelmente exibiria os sinais de uniformidade e harmonia. 

Bem pelo contrário, naquelas horas de perplexidade e espanto, o Senhor Jesus foi visto por muitas vezes, por muitas pessoas; e nenhuma das narrativas inclui todas essas manifestações, sendo bem possível que a ordem de ocorrência das mesmas apareça nos diversos livros bíblicos de maneira um tanto confusa. Esse “elemento humano”, nas narrativas, é exatamente o que se poderia esperar em meio a circunstâncias tão avassaladoras, o que explica a presença de certa confusão nas narrativas. Portanto, onde sofre a harmonia, a verdade brilha ainda com mais resplendor. A narrativa de Paulo, se deriva de uma das mais antigas tradições, embora com algumas curiosas e marcantes diferenças, quando a confrontamos com a história relatada nos evangelhos sinópticos,  bem como com a história do evangelho de João. 

Pedro aparece em I Cor. 15 como a primeira pessoa para quem Jesus apareceu, ainda que o vocábulo “primeira” não seja usado; mas esse sentido é óbvio no texto. Portanto, o apóstolo dos gentios deixa de lado a belíssima narrativa da aparição de Jesus a M aria Madalena (contida exclusivamente no evangelho de João), além de sua manifestação a várias outras mulheres, conforme lemos nos evangelhos sinópticos. Por semelhante modo, é curioso que a manifestação do Senhor Jesus a Pedro não seja mencionada nos evangelhos exceto em uma referência passageira, em Luc. 24:34, ainda que haja narrativa de uma aparição do Senhor a Pedro, em João 21:7ss; mas essa aparição teve lugar na Galileia, e não em Jerusalém, que foi a cena de seus primeiros aparecimentos. 

Outra curiosidade, acerca dessa questão em geral é que, conforme a narrativa dos evangelhos sinópticos, tem-se a impressão de que todos os acontecimentos da ressurreição, as aparições e a ascensão do Senhor ocorreram em um só dia. Já o evangelho de João mostra um intervalo de uma semana (ver João 20:26) a separar algumas das aparições do Senhor; e foi após esse intervalo que a manifestação especial de Jesus a Pedro teve lugar, em bora os “doze” já tivessem avistado ao Senhor pelo menos duas vezes antes disso. Todavia, esse aparecimento especial a Pedro não pode ter sido o mesmo mencionado pelo apóstolo Paulo. Antes, deve ter havido vários aparecimentos a Pedro, sob variegadas circunstâncias. Quanto à longa permanência de quarenta dias, após a ressurreição, somente o livro de Atos (mas não qualquer dos evangelhos) nos dá tal informação, a qual, na realidade, não é deixada implícita em nenhum outro lugar. 

Além disso, som ente Lucas (Lucas-Atos) nos fornece qualquer “narrativa” sobre a ascensão; mas até mesmo nesse caso, no tocante ao evangelho de Lucas, a narrativa é posta em dúvida devido a certas variantes textuais; e isso significa que somente no livro de Atos é que se encontra a história da ascensão do Senhor, ainda que existam muitas alusões a esse fato, A narrativa da ascensão, no evangelho de Marcos, cai dentro do longo término disputado (existem quatro finais sobre o evangelho de Marcos, nos manuscritos antigos, provavelmente nenhum dos quais é original); pelo que também isso não faz parte da narrativa de qualquer dos evangelistas originais, mas de algum escriba subseqüente. O aparecimento de Jesus a Pedro, conforme nos informa Paulo, é situado antes do seu aparecimento aos “doze”, pelo que pode ser o mesmo aparecimento aludido de passagem em Luc. 24:34, embora em parte algum a haja narrativa detalhada acerca dessa ocorrência. 

Embora as várias manifestações do Senhor contenham elementos que nos fazem lembrar visões e outras experiências místicas, a linguagem prevalente de Paulo, neste ponto, bem como a linguagem usada na maioria das narrativas, mostra-nos que um aparecimento literal está em foco, embora o corpo de Cristo tenha sido espiritualizado tendo entrado nos primeiros estágios da glorificação, pela qual ele finalmente passou quando de sua ascensão, e que atingirá o seu clímax quando a igreja estiver inteiramente redimida e arrebatada aos céus. Pode-se notar o trecho de João 20:20, onde Jesus mostrou suas mãos e seu lado a seus discípulos, tendo feito ainda a mesma coisa a Tomé, nos versículos vigésimo sétimo em diante, onde devemos supor que Tomé realmente examinou e tocou nas cicatrizes. Então, conforme a narrativa do vigésimo primeiro capítulo, Jesus “comeu”; e essa é um a outra prova óbvia de sua manifestação “corporal”. A tradição cristã, pois, não se refere apenas à sobrevivência do espirito de Jesus, mas inclui a espiritualização de seu corpo, que estivera morto. 

A sobrevivência, mesmo sem a ressurreição, é um a grande verdade, porquanto a alma humana sobrevive à morte física; mas a doutrina cristã vincula grande importância à sobrevivência da personalidade humana inteira; e essa é uma verdade que as manifestações corporais do Senhor Jesus, apôs a sua ressurreição, bem demonstram. Sobre o que isso significa, no caso dos crentes — se os próprios elementos do antigo corpo (como no caso de Jesus Cristo) serão reorganizados e revivificados é até hoje questão intensamente disputada entre os eruditos bíblicos. Seja como for, isso certamente significa que a alma será revestida de um veículo apropriado, um corpo glorificado,  e isso com a finalidade de contrabalançar qualquer derrota que seja reputada como inerente à morte do corpo físico. Sim, a morte não pode matar! 

O aparecimento de Jesus, “primeiramente” a Simão Pedro, conforme a tradição utilizada por Paulo, sem dúvida tinha significação p ara a Igreja primitiva segundo as linhas da exaltação de Pedro, como uma autoridade superior, conforme também transparece em Mat. 16:18 e ss. Há aqui uma significação especial quanto à questão da “restauração” e da “esperança”. Porquanto aquele discípulo, que tão poucos dias antes havia “negado” a seu Senhor, em temor e fraqueza, foi então completa e imediatamente restaurado pelo seu Senhor; que encontro deve ter sido aquele! “O apóstolo que fora levantado, depois de sua queda, mediante as palavras de absolvição ditas pelo Cristo ressurrecto, foi o primeiro a anunciar o evangelho da ressurreição aos corações de seus colegas”. (Swete). Crisóstomo especulou que Pedro é alistado em primeiro lugar, nas aparições de Jesus, por ter sido o primeiro a confessar a sua missão messiânica, e devido ao seu tão profundo desejo de vê-lo vivo novamente. 

É provável que essa seja uma lição que a igreja cristã primitiva vinculava a esse aparecimento. E é bem provável que o próprio Pedro tenha narrado a história dessa manifestação do Senhor aos ouvidos de Paulo; e só podemos lamentar que Pedro não nos tenha contado, igualmente, essa sua experiência. Contudo, existem certas coisas por demais sagradas e delicadas para serem contadas a todos. Talvez assim é que Paulo e o próprio Pedro se sentiam acerca dessa questão. Seja como for, a experiência de Pedro um dia também será a nossa, ainda que isso possa demorar algum tempo. e depois, aos doze,  I Cor. 15:5. Todas as tradições bíblicas incluem essa manifestação (excetuando o evangelho de Marcos); mas, na realidade, houve mais de uma dessas manifestações, conforme os evangelhos o mostram. (Ver Mat. 28:16-20; Luc. 24:36 esse João 20:19ess). Também constitui uma outra curiosidade que Marcos, o mais antigo dos quatro evangelhos, não inclui tal informação, embora narre o aparecimento do Senhor Jesus às mulheres. 

A narrativa dessa manifestação aparece no término “longo” do evangelho de Marcos, que começa no décimo quarto versículo de seu último capítulo; mas esse final não faz parte autêntica do evangelho original de Marcos. É perfeitamente possível, entretanto, que o final “perdido” desse evangelho (se tal teoria é correta) realmente contivesse tal narrativa. De fato, podemos até considerar isso como uma boa probabilidade, visto que esse final se encontra essencialmente contido nos demais evangelhos, de uma forma ou de outra; e os outros três evangelhos, em seus finais, contêm a narrativa (ou as narrativas) do aparecimento do Senhor Jesus aos “doze”. Por qual razão Paulo “deixou” de mencionar vários aparecimentos do Senhor Jesus? Precisamos lembrar que quando esse apóstolo escreveu a primeira epístola aos Coríntios, não tinha ele em mãos qualquer dos quatro evangelhos, porquanto ainda não haviam sido publicados. 

Paulo deve ter tido à sua disposição alguma tradição, oral ou escrita, ou ambas as coisas; porém, é lógico supormos que nenhum a das primitivas tradições cristãs continha todas as manifestações do Cristo ressurrecto. É justo conjecturarmos que se Paulo contasse com informações acerca de outras manifestações do Senhor Jesus, após a sua ressurreição, teria ele apresentado tais narrativas, para tornar ainda mais convincentes os seus argumentos em prol da ressurreição de Cristo. O fato de que ele não incluiu algumas dessas manifestações, que conhecemos hoje em dia, através de outros documentos do N .T., mostra-nos simplesmente que ele não tinha consciência das mesmas.

III . Os Evangelhos de Lucas e João Comparado:

1. Ambas as narrativas mostram Jesus aparecendo aos dez porquanto Judas Iscariotes já se suicidara e Tomé não estava presente, embora Lucas não nos informe especificamente acerca disso. Porém, o evangelho de João diz discípulos,  e menciona claramente que Tomé não estava presente na primeira oportunidade. (Ver João 20:24). Naturalmente a palavra “discípulos” não limita -necessariamente o número de apóstolos a “dez”, mas é provável que essa seja a intenção do termo, porque os apóstolos eram os discípulos especiais de Jesus, aqueles que eram focalizados nessa parte da história da ressurreição de Cristo. Porém, apesar de que estavam em foco os “dez”, contudo o trecho de Luc. 24:36 indica que também se achavam presentes os dois discípulos com os quais Jesus se encontrara no caminho para Emaús, perfazendo um total de doze seguidores de Cristo.

2. A narrativa do evangelho de João registra o tempo exato dessa aparição. Ela teve lugar na noite do mesmo dia da ressurreição. Lucas, todavia, não nos dá essa informação.

3. O relato do quarto evangelho diz-nos que Jesus apareceu estando fechadas as portas, porquanto os discípulos temiam ainda aos “judeus”. Já o terceiro evangelho nada nos adianta sobre essa particularidade.

4. O evangelho de Lucas dá a entender que a repentina aparição de Jesus aterrorizou os discípulos.

5. Ambos esses evangelhos indicam que o Senhor lhes trouxe uma mensagem de encorajamento, apesar de que a narrativa está vazada em termos diferentes, nos dois relatos.

6. Ambos esses evangelhos mostram como o Senhor Jesus comprovou ante seus discípulos que tinha corpo. Todavia, a narrativa de Lucas é mais gráfica e específica, como o evangelho de João se mostra mais tarde, ao narrar a revelação de Jesus a Tomé.

7. A narrativa do evangelho de Lucas menciona que Jesus comeu pão e peixe,  o que o evangelho de João também faz mais adiante (João 21:12,13), embora não se trate da mesma aparição do Senhor.

8. A narrativa de Lucas faz alusão ao fato de que o Senhor instruiu os discípulos nas Escrituras do A.T., a respeito de sua própria pessoa, por ocasião desse seu aparecimento. Entretanto, o quarto evangelho faz silêncio acerca disso.

9. O relato do evangelho de João informa-nos que o Senhor soprou o Espírito Santo sobre os seus discípulos, investindo-os de uma autoridade especial, algo que, anteriormente, já havia sido dada graciosamente a Simão Pedro, conforme lemos em Mateus 18:18,19. Já o evangelho de Lucas não nos presta tal informação.

10. Nessa ação de Jesus, dando o Espírito Santo a seus discípulos, conforme o quarto evangelho (ver João 20:21), há uma espécie de Grande Comissão aos discípulos. No entanto, conforme a seqüência do tempo, no evangelho de Lucas isso é apresentado imediatamente antes da ascensão do Senhor. Todavia, no quarto evangelho essa comissão é claramente dada antes de sua subida aos lugares celestiais. Poderíamos supor, entretanto, que a ascensão, nesse quarto evangelho, é registrada no parágrafo seguinte, sem haver menção de qualquer intervalo de tempo, não tendo, portanto, qualquer intenção de servir de indício cronológico, como se tivesse de ser aceito como incidente que ocorreu logo depois do incidente anteriormente historiado. No evangelho de João figuram outros incidentes, incluindo outras aparições do Senhor Jesus, que o evangelho de Lucas omite inteiramente. Com base nas considerações expostas acima, vemos a futilidade de tentar obter a harmonia entre as diversas narrativas evangélicas sobre as muitas aparições do Senhor Jesus aos seus seguidores. Pois houve muitas dessas aparições, preservadas por diversas tradições históricas diversas.

IV. A História e a Fé.

1. Apesar de ser verdade que a fé religiosa pode ser comunicada por meio de símbolos, sem qualquer base histórica, notemos que os escritores do NT anelavam por apoiar sua doutrina sobre realidades históricas.

2. Isso pode ser confrontado com o prólogo do Evangelho de Lucas. Ver o artigo sobre a Historicidade dos Evangelhos. A maioria das testemunhas oculares estava viva. Seus inimigos estavam vivos e poderiam disputar a história. As testemunhas nada tinham a ganhar, mas muito a perder se contassem a verdade. Essas evidências foram registradas cerca de 25 anos após a ocorrência dos fatos alegados. Teria sido fácil confirmar ou refutar estes fatos. O próprio NT é uma afirmação, baseada em pesquisas históricas, da verdade da ressurreição e das aparições de Jesus depois da sua morte.