Livro de Juízes — Quando Foi Escrito?

A propósito da data em que foi composto o livro de Juízes, vejamos as seguintes indicações: as palavras “todos os dias que a casa de Deus esteve em Silo” (Jz 18.31) implicam num tempo posterior à destruição de Silo em vida de Samuel; em segundo lugar, a expressão “naqueles dias não havia rei em Israel” (Jz 17.6; Jz 18.1; etc.) lembram uma época durante a monarquia; finalmente, as palavras “até o dia do cativeiro da terra” (Jz 18.30) indicam provavelmente o cativeiro assírio no século VIII a.C., isto é, o êxodo da população da Galileia, ordenado por Tiglate-Pileser III em 732.

A “filosofia da história” do autor do livro pode sugerir uma data posterior à reforma de Josias (621 a.C.), que foi baseada na readmissão do código-lei do Deuteronômio. Lembra E. Robertson no seu livro, The Old Testament Problem (1950), página 159 e segs., que só por argumentos internos se pode provar pertencer o livro a uma época em que era notável a rivalidade entre judeus e samaritanos.

É certo que Jz 1.21 se refere naturalmente a uma data anterior à tomada de Jerusalém pelo rei Davi (cerca de 1003 a.C.), e Jz 1.29 lembra uma data também anterior à conquista de Gezer por Salomão (cerca de 950). Mas estes textos apenas vêm provar que as partes componentes do livro foram escritas, na maioria, muito antes da sua composição final.

O autor teve à sua disposição antigos materiais, como o Cântico de Débora (Jz 5.1-31), contemporâneo do acontecimento a que se refere. E é através desses materiais que o autor expõe a sua filosofia da história.

A parte principal do livro-a narração da frequente tendência para a idolatria, a opressão estrangeira e a libertação por um “salvador” - é colocada desta forma na estrutura da obra: “E os filhos de Israel prevaricaram na presença do Senhor, e então o Senhor entregou-os nas mãos de A, rei de B, que os oprimiu durante X anos. Eles então clamaram ao Senhor, que lhes enviou o salvador C, filho de D, que os libertou das mãos do dito A, rei de B, trazendo a paz a Israel e um período de Y anos de paz (ou: julgou Israel durante tantos e tantos anos)”.

Nas tragédias aludidas fala-se da opressão de Cusã-Risataim, de Eglom, de Jabim, de Midiã, de Amom e dos filisteus com as correspondentes libertações efetuadas por Otniel, Eúde, Débora e Baraque, Gideão, Jefté e Sansão.

Esta parte principal dos Juízes (Jz 3-16) contém ainda o episódio de Sangar (Jz 3.31), a história de Abimeleque (Jz 9.1-57) e breves comentários aos cinco juízes menores: Tola, Jair, Ibsã, Elom e Abdom (Jz 10.1-5; Jz 12.8-15). Como a servir de introdução, faz-se um breve resumo da conquista da terra (Jz 1.1-2.10), recolhido de outras fontes primitivas, algumas partes das quais se encontram também em Josué, e no âmbito da filosofia da história do autor procura-se explicar como é que tantos povos pagãos puderam ainda ficar em Canaã (Jz 2.11-3.4).

A concluir, mais duas narrativas separadas, referindo-se cronologicamente à primeira parte da era dos juízes, que não tinham sido incorporadas na primitiva estrutura do livro: a emigração da tribo de Dã (Jz 17-18) e a guerra contra Benjamim (Jz 19-20), a ilustrarem ambas as péssimas condições daqueles dias “em que não havia rei em Israel, e cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (Jz 17.6).

É inútil discutirmos aqui as fontes e a composição de cada uma das narrativas, de que tratam pormenorizadamente alguns dos melhores comentários. J. Garstang (Joshua-Judges, 1931) pode dar um conhecimento do pano de fundo arqueológico, mas deve ser suplementado com referência às descobertas mais recentes.