Introdução Bíblica: Livro de Gênesis

Introdução Bíblica

Livro de Gênesis



Índice da Introdução

§1 Introdução
§2 Data e Autoria
§3 Autenticidade
§4 Esboço
§5 Conteúdo
§6 Narrativas da Criação
§7 Dados Genealógicos
§8 José no Egito
BIBLIOGRAFIA

§1 Introdução

livro de Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, e também o primeiro livro de Moisés, recebeu este título grego devido ao seu assunto. Esse nome significa “começo” ou podia se referir também às genealogias que são proeminentes nos primeiros capítulos (cf. Gn 2,4 e 5.1 com Mt 1.1). Em hebraico esse livro recebeu o nome de sua primeira palavra, bere’shit, de acordo com o costume hebraico geral. Essa palavra significa “no início”. Gênesis faz parte de um livro maior, dos cinco livros de Moisés chamados Pentateuco (q.v.). Existe um plano uniforme que pode ser visualizado no Pentateuco. A primeira história vai até o final do livro de Gênesis.

Êxodo traz a história de Israel até os acampamentos no Sinai e a consagração do Tabernáculo. Levítico dá as leis, muitas das quais foram promulgadas no Sinai. O livro de Números começa com a preparação da primeira tentativa para invadir Canaã e apresenta a história até o final da peregrinação pelo deserto. Deuteronômio repete, em grande medida, as leis e as histórias do Sinai e do período no deserto sob a forma de um sermão como base para a renovação nacional dos votos feitos na aliança com Deus. Portanto, Gênesis parece ser parte de uma obra maior, do primeiro rolo do Pentateuco. E a única fonte do período que antecede o Êxodo; Deuteronômio não reproduz esse material. O livro de 1 Crônicas faz extensas citações a partir das genealogias de Gênesis, e outras passagens do AT fazem muitas referências a esse livro. Mas o livro de Gênesis é único quanto ao seu conteúdo. 



Ponto de vista histórico. A opinião sobre a data e a autoria de Gênesis pode ser brevemente mencionada, Como uma única voz, os judeus e a Igreja Cristã reconheceram a autoria mosaica desse livro até o surgimento da Alta Crítica no século XIX. Quase não se pode duvidar de que essa seja a posição testemunhada em Neemias 8—9. O livro que orientava os levitas era chamado “Livro da Lei de Moisés" (Ne 8.1). Mas na oração de Neemias (Ne 9), a história de Israel foi resumida, começando com a criação e a convocação de Abraão, continuando com o Êxodo, o Sinai, a rebelião em Cades-Bameia, uma citação de Êxodo 34,6 (Ne 9.17), as experiências no deserto, a conquista da Transjordânia e, brevemente, a história posterior de Israel.

Em suma, o tema abrange todo o Pentateuco, começando com o Gênesis. Esse testemunho está um tanto à frente da tendência de recentes estudiosos de concordar e atribuir as históricas datas do final do século V a Esdras/Neemias e aos livros das Crônicas (F. L. Cross, The Ancient Library of Qumran [1961], p. 189; John Bright, History of Israel [1959], p. 383). O AT ensina repetidamente que Moisés escreveu a lei ícf. Js 1.7-9; 23.6; 1 Rs 2.3; 8.53,56; Ed 7.6 etc.). Com referência à história de Israel, os eventos de Gênesis são citados na mesma sequência com Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Em adição à seqüência que temos em Neemias 9, o histórico Salmo 105 representa outro exemplo a esse respeito. As alusões feitas em Oseias à antiga história da nação também se referem com igual facilidade a Gênesis (Os 12.3,4,12), ao Êxodo (Os 12.13; 13.4), a Levítico (Os 12.9), a Números (Os 9.10), a Deuteronômio (ref. a Zeboim, Os 11.8) e aos livros posteriores. Está claro que Gênesis faz parte da história sagrada do início de Israel. No NT, Cristo começou por “Moisés e por todos os profetas” a expor as profecias messiânicas em “todas as Escrituras” (Lc 24.27).

Está claro que Jesus considerava o primeiro livro da Bíblia como mosaico. Na verdade, o Senhor Jesus se referiu ao AT como “Moisés e os profetas” (Lc 16.29,31; cf, Jo 5.46,47; Mt 5.17; Lc 24.44). Os apóstolos também usavam essa terminologia (At 26.22; 28.23). Ao mesmo tempo, Cristo se referiu a muitos tópicos registrados em Gênesis como partes das Escrituras inspiradas (Mt 19.4-6; 24.38; Lc 17.32; Jo 7.22). Está claro que Cristo e seus apóstolos consideravam a autoria mosaica de Gênesis. O historiador judeu Josefo afirmou expressamente a mesma opinião em aprox. 90 d.C. (Against Apion 1,8). Nenhuma autoridade antiga respeitável questiona essa autoria. Quanto à data em que o livro de Gênesis foi escrito, ela foi estabelecida pela opinião conservadora como sendo do período da peregrinação pelo deserto, cerca de 1440-1400 a.C., por causa da autoria mosaica, A data tradicional do Êxodo, calculada a partir da referência feita em 1 Reis 6.1, é 480 anos antes de Salomão iniciar a construção de seu Templo, Aqui ainda existe espaço para alguma elasticidade. O texto da LXX traz 440 anos. O Templo de Salomão foi construído por volta de 960 a.C. Os dados em Juízes 11.26 concordam com esses números. Alguns insistem em uma data alternativa, cerca de 1250 a.C., baseando-se em certos dados arqueológicos; mas parece não existir uma razão suficiente mente coerente para se abandonar a data mais adequada ao texto bíblico. Veja Êxodo, O:


§3 Autenticidade 

Com o acirramento do movimento nacionalista na Alemanha, por volta do ano 1800 d.C., foi questionada a autoria mosaica de todo o Pentateuco, Essas opiniões podem ser vistas em qualquer introdução padrão do AT (veja Gleason L. Archer, Survey of OT Introduction, 1974, pp. 66-219). O ponto de vista crítico passou por diferentes divinos de Elohim e Jeová (as consoantes hebraicas desse nome são YHWH). Pensou-se de início que eram dois antigos documentos agrupados pelo próprio Moisés. Entretanto, em pouco tempo a análise se estendeu ao resto do Pentateuco onde aparece o mesmo fenômeno, e então passaram a acreditar que o compilador havia vivido muito tempo depois de Moisés. Assim a autoria mosaica de todo o Pentateuco foi negada.

Depois, observaram que o estilo geral de partes do documento de Elohim era diferente do documento de Jeová, enquanto o estilo de outras era, mais ou menos, igual. Dessa maneira, o documento de Elohim foi dividido em EjO E2.0 livro de Deuteronômio também foi isolado porque continha muitas citações de outra fonte. Havia agora quatro documentos, Elf E,, J e D. Alguns críticos, usando um critério semelhante - de que cada suposta diferença em estilo revelava um autor diferente - dividiram o Pentateuco em muitos fragmentos. Restou para Wellhausen, em 1875, estabelecer padrões de pensamento que perduraram durante muitos anos. Ele argumentava que esses quatro documentos, aos quais dava o nome de J, E, D, P, podiam ser datados comparando suas referências legais e históricas à conhecida história da antiga nação de Israel.

Se um documento fizesse referência apenas a uma legislação posterior, então não haveria dúvida de que também seria de um período posterior. Um problema que surgiu com a teoria de Wellhausen era que naquela época os estudiosos lamentavelmente ignoravam a história da Antiguidade do Oriente Próximo (e conheciam menos ainda a história de Israel) e assim ele precisou muitas vezes reconstruir uma história artificial. Isso foi feito com toda confiança usando a filosofia de Hegel sobre o progresso evolucionário, que era o que havia de mais moderno nos dias de Wellhausen (1875). Portanto, não é de admirar que ao terminar seu trabalho, Wellhausen era capaz de exibir uma bela progressão, no pensamento e na cultura, desde o inculto despertar da história de Israel até sua florescente expressão nos profetas do século VIII.

Essa foi uma nobre demonstração da ideologia vitoriana. Duas coisas se associaram para derrubar o imponente edifício construído por Wellhausen. Primeiro, a filosofia de Hegel sobre o processo evolucionário da história tem em grande parte contribuído para um existencialismo mais pessimista desde a 2“Guerra Mundial. Segundo, desde a Ia Grande Guerra o estudo da arqueologia vem tendo um grande incremento com a descoberta de muitas outras barras de argila, e também com a escavação científica de cidades palestinas. Embora a história da Antiguidade tenha começado com Grécia e Roma, e Heródoto tenha sido chamado de “o pai da história”, atualmente livros do curso colegial vão até o ano 3000 a.C., considerando ali o início da história escrita, porém ainda existe muito material de datas anteriores em uma seqüência estratificada.

Entretanto, o mais notável é que a riqueza da história da Antiguidade está extraordinariamente de acordo com o registro da Bíblia. Por exemplo, foram descobertos restos da população de Somer, que viveu na Baixa Mesopotâmia. A Bíblia lhe dava o nome de terra de Sinar, e a palavra hebraica correspondente é uma boa representação de “Somer” (Gn 10.10; 11.2; 14.1). Foi descoberto o povo hurriano com seus costumes e sua língua. A Bíblia lhes dava o nome de horeus. A antiga cidade de TJruk (Ereque na Bíblia) foi descoberta e lá foram encontradas as mais antigas tábuas escritas (de cerca de 3300 a.C.). Também foram descobertas as explorações do rei Sargâo de Acade (cerca de 2350 a.C.). A cidade de Acade ainda não foi identificada, mas Acade, Ereque e Babel foram mencionadas em Gênesis 10.10.

Antigos reis, povos, cidades, culturas e línguas foram recuperados depois de séculos de esquecimento. Mas a Bíblia tem, o tempo todo, preservado reis, cidades e povos em sua exata seqüência e conexão, e refletido as antigas culturas sob as formas mais naturais. Isso deve ter sido quase um milagre para um escritor que, dispondo de conhecimento limitado, compôs sua obra a partir de uma mistura de fontes. Pelo menos a arqueologia provou a substancial historieidade dos registros bíblicos. E, em nenhum outro lugar, sua obra tem sido mais bem recebida do que no livro de Gênesis que, afinal de contas, está relacionado com a história de um passado longínquo. A luz da arqueologia está refletida em quase todas as partes do livro de Gênesis. Detalhes complementares são fornecidos sobre a discussão do conteúdo desse livro.

A história do Dilúvio, que consta das primeiras partes de Gênesis, foi dividida por Wellhausen em dois documentos, J e P; a primeira fonte escrita data de cerca de 850 a.C., e a segunda por volta de 450 a.C. Dessa época existe a descoberta da história de uma inundação na Babilônia. Sua data é muito anterior ao tempo de Moisés e a relação entre essa história e a Bíblia é duvidosa. Possivelmente, ambas dependiam de antigos registros sobre o próprio Dilúvio. Mas pelo menos o documento J e o documento P, que lhe é posterior, mostram interessantes paralelos com a história original da inundação da Babilônia. Uma conclusão natural seria que a divisão dos documentos é artificial e que as datas de Wellhausen são bastante arbitrárias.

As narrativas dos patriarcas sobre Gênesis têm sido especial mente sustentadas por tábuas provenientes da cidade de Nuzu, e de outros lugares, que revelam os costumes dos colonizadores humanos em terras semíticas (amoritas e aramaicas). Evidentemente, esses costumes eram conhecidos pelos patriarcas por causa de sua residência em Harã e Ur, e é admirável a grande semelhança das práticas patriarcais com as leis de Nuzu. As introduções ao AT podem dar mais detalhes e bastará um exemplo. Em Nuzu, o direito de herança, que incluia uma dupla porção ao herdeiro principal, ia para o filho mais velho. Mas esse direito podia ser vendido e há o caso de uma venda por três carneiros. Ele também podia ser transferido pelo pai e existe o registro de um caso de pronunciamento oral paterno sobre esse assunto (cf. Gn 48.17-20).

Observe que nenhuma dessas práticas ou provisões foi encontrada nas leis ou na história posterior de Israel. A única passagem da legislação mosaica que trata do direito de herança proíbe qualquer mudança em sua ordem natural (Dt 21.15-17). Somente nas famílias patriarcais esse costume pode ser testemunhado. Como poderia um posterior autor israelita, como “J” no ano 850 a.C., ou “P” no ano 450 a.C., fazer uma distinção tão precisa entre o cenário da antiga Mesopotâmia e os costumes dos patriarcas relativos à legislação mosaica existente em Israel?

Muitos exemplos semelhantes levaram os atuais estudiosos do AT a aceitar sua historicidade até.nos detalhes das narrativas dos patriarcas. E muito difícil combinar essa conclusão com a afirmação de Wellhausen de que a data posterior dos supostos documentos foi determinada por meio da comparação das condições de seus cenários. Um estudo crítico mais recente argumenta que o Pentateuco (e outros livros históricos) foram reunidos em uma data posterior a partir de tradições orais que eram fielmente preservadas e transmitidas. Mas as opiniões diferem. Será que essas tradições orais foram todas escritas em conjunto depois do exílio ou eram o cenário de J, E, D e P, os documentos usuais de Wellhausen que foram combinados depois do exílio? Em ambos os casos, essa teoria parece pouco natural. Escrever era um hábito extremamente comum em toda Mesopotâmia e no Egito, muito antes do período patriarcal.

Por que deveríamos pensar que somente Israel, dentre todas as nações, não teria uma literatura escrita? Essa conclusão é particularmente singular se nos lembrarmos de que foi provavelmente na Síria e na Palestina que o alfabeto foi inventado - a ferramenta mais conveniente que se conhece para a expressão escrita! É verdade que antigos documentos da Palestina se perderam quase completamente, exceto os Rolos do Mar Morto, que foram encontrados posteriormenfce. Mas a explicação não é que não tivessem uma literatura.

É que sua literatura pereceu. Se tivessem utilizado sinais cuneiformes e escrito em tábuas de argila, o material teria perdurado. Mas está claro que escreveram em papiros e peles de animais. Esses objetos têm uma boa duração no clima seco do Egito, mas no clima chuvoso da Palestina eles logo desaparecem. Pode até ser verdade que o antigo povo hebreu memorizasse bastante e apreciasse recitar sua literatura épica e religiosa. Mas dizer que não tivessem uma literatura escrita é pura teoria. O suporte arqueológico para as histórias e as leis de Gênesis representa um impressionante argumento a favor do testemunho do AT e do NT de que o livro de Gênesis e o restante do Pentateuco são antigos, autorizados e mosaicos. 

I. História Pré-Abraâmica, Caps. 1-11

A. Criação e Queda, 1—3
B. Caim e seus descendentes, 4
C. Genealogia anterior ao Dilúvio, 5
D. O Dilúvio, 6-9
E. Nações e genealogia posteriores ao Dilúvio, 10—11

II. História de Abraão, Caps. 12-25

A. Chamada e estabelecimento na Palestina, 12-13
B. Batalha com os quatro reis, 14
C. Confirmação da aliança com Abraão, 15-17
D. Sodoma e Gomorra, 18-19
E. Abraão e Abimeleque, 20
F. Nascimento e oferta de Isaque, 21-22
G. Morte de Sara, 23
H. Casamento de Isaque e morte de Abraão, 24-25

III. Isaque e seus Filhos, Caps. 26-36

A. História de Isaque, 26
B. Jacó e o direito ae primogenitura, 27
C. Jacó em Harã, 28-31
D. Jacó novamente na Palestina, 32-35
E. Os deseendentes de Esaú, 36

IV. História de José, Caps. 37-50

A. Juventude e sonhos de José, 37
B. Vergonha de Judá, 38
C. Escravidão de José, 39-40
D. Exaltação de José, 41
E. José e seus irmãos, 42-48
F. Poema profético de Jacó, 49
G. Morte de Jacó e de José, 50



Plano. Muitas vezes tem sido mencionado que o autor do livro de Gênesis escreveu de acordo com um plano unificado. Em quase todos os casos ele conta a história de Israel, partindo do geral para o particular, Primeiro ele fala sobre o mundo todo, ou sobre toda a raça, ou sobre todos os descendentes de um homem; em seguida, concentra-se no específico, em um jardim que ele representa com detalhes, ou no segmento de uma raça importante para a história, ou sobre a linhagem de um homem do qual está falando, essa maneira, o primeiro capítulo trata da criação como um todo. Os capítulos 2 e 3 trazem o retrato de Adão, a origem da história. O capítulo 4 trata da história e da genealogia de Caim, do qual não se ouve falar mais. Entretanto, o capítulo 5 descreve a genealogia de Sete que faz a ligação com Noé, Depois do Dilúvio, a colonização de todo o Oriente Próximo é retratada no capítulo 10; então vem a genealogia que chega a Abraão. Nas histórias dos patriarcas, Ismael é tratado antes de Isaque; os descendentes de Esaú, antes de Jacó. Obviamente, o livro de Gênesis, como o conhecemos, é obra de uma mente privilegiada, de um autor competente que usa habilmente seu material, sob a inspiração do Espírito.


§6 Narrativas da Criação. 

Muitos volumes iá foram escritos sobre o primeiro capítulo de Gênesis. Dois itens têm especial interesse: primeiro, a relação com o conjunto de doutrinas da Babilônia; e, segundo, a relação com a moderna ciência. Em relação aos mitos babilônicos da criação, essa matéria foi discutida exaustivamente por A. Heidel na obra The Babylonian Genesis (1951). A história da Babilônia começa com uma batalha entre os deuses, A segunda geração de deuses se rebela contra a primeira. Marduque sai vitorioso, conquista a deusa Tiamat e divide seu cadáver em metades, fazendo o céu e a terra. Ele cria o homem a partir do sangue do aliado dela, Kingu. Não existe uma nítida relação entre o relato bíblico e as histórias da Babilônia. Quanto às questões científicas, o relato de Gênesis nos dá poucos detalhes. Existe muito de verdade na afirmação de que a Bíblia não é um livro de ciência, mas de religião. Não obstante, esse livro deixa claro que Deus fez os mundos e é o Senhor da natureza, assim como dos espíritos. Portanto, onde a Bíblia se aproxima da ciência, deve-se aceitar que as informações estão corretas, quando interpretadas de forma precisa e fiel. Em Gênesis 1, assim como em outras passagens, a Bíblia declara que Deus criou os mundos a partir do nada. A matéria não é eterna. As atuais teorias da ciência não têm nenhum atrito contra esse ponto de vista. Uma grande reivindicação é que toda matéria teria se originado de uma vasta explosão nuclear acontecida cerca de dez bilhões de anos. A ciência não pode explicar o que poderia ter causado essa explosão. Gênesis diz: “No princípio criou Deus...”.

A aparente antiguidade do universo tem sido um problema. Uma teoria recente diz que Gênesis 1.1 fala da distante criação da matéria; o v. 2 relataria uma catástrofe que teria dominado a criação em uma data bastante recente; e os versos seguintes descreveriam eventos recentes sobre a terra. Outra teoria afirma que os dias criativos de Gênesis não devem ser considerados como dias reais nos quais os eventos aconteceram, mas dias nos quais Deus revelou certos itens a Moisés. Eles foram “dias reveladores”. Essa opinião, juntamente com suas variações, não parece fazer justiça ao significado do texto bíblico. Outra opinião, popularizada por J. Whitcomb e H. Morris em The Genesis Flood (19611. sugere que o universo não seja verdadeiramente velho. Ele parece velho porque Deus o criou “totalmente crescido” com a aparência de algo maduro. Essa opinião apresenta algumas características atraentes, mas também alguns problemas filosóficos. Será que Deus teria criado rochas sedimentares com fósseis já introduzidos nelas? Essa opinião está geralmente associada à idéia de que o Dilúvio provocou a formação de muitos fósseis que, portanto, teriam uma origem recente. Existe a questão: Será que essa opinião pode ser cientificamente sustentada?

Uma quarta opinião, sustentada durante muitos anos, é que os dias de Gênesis não tinham 24 horas, mas eram períodos de maior ou mais longa duração. Eles começaram antes de o sol ter sido estabelecido como marcador do dia, e aparentemente o sétimo dia do repouso de Deus ainda continua. Essa opinião está, em geral, de acordo com o conceito científico atual. Aqueles que o aceitam argumentam que Gênesis 1.14 se refere à remoção de densas nuvens para que o sol e a lua, que já existiam previamente, pudessem se tornar visíveis. O autor está de acordo com essa opinião, mas devemos nos lembrar que estimativas científicas sobre a idade da terra podem estar erradas. Atualmente, muitas estimativas dependem de teorias astronômicas e radioativas cuja origem é recente e nem sempre consistente. Ainda existe algum espaço para ressalvas e estudos complementares sobre essas teorias.

Gênesis 2.4-25 fala sobre a criação separada e específica de nossos primeiros pais. O jardim do Éden estava localizado ao sul da Mesopotâmia, onde estão localizados os quatro rios (a Etiópia, Gn 2.13, é mais provavelmente Cuxe, o território a leste do Tigre). Provavelmente Gênesis 2,5 não esteja se referindo a toda terra, mas somente ao paraíso. que era abastecido com água vinda de fontes subterrâneas (em hebraico 1 ed, ou “névoa’, da palavra acádia edti, que parece significar um fluxo subterrâneo). Nessa seção, não há nenhuma referência a qualquer coisa fora do Éden. Quanto à suposta origem evolucionária de todas as espécies a partir de um bacilo original e também à origem evolucionária do homem, cf. Carl F. H. Henry, "Theology and Evolution” em Evolution and Christian Thought Today, ed. por R. Mister 1959). Veja Criação.


§7 Dados Genealógicos

Quatro principais genealogias são encontradas nos primeiros capítulos: a de Caim (capítulo 4), as genealogias anteriores e posteriores ao Dilúvio (capítulos 5 e 11) e a Tábua das Nações (capítulo 10). O contraste fica mais claro entre os capítulos 10 e 11. A assim chamada “Tábua das Nações não é absolutamente uma genealogia. E apenas um resumo do resultado, na época de Moisés, da colonização do Oriente Próximo depois do Dilúvio. Algumas genealogias estão envolvidas no movimento das tribos e das nações, mas dizem que a ocupação de Canaã, por exemplo (10.15-18), “gerou” povos, não indivíduos. Hete era aparentemente indoeuropeu, o jebuseu era provavelmente hurriano. O amorreu, naturalmente, era semítico, mas é encontrado entre os “filhos” de Cam. Um dos “filhos” de Cam era Mizraim.

Esse era o antigo nome do Egito e esse nome tem uma formação dupla que se refere à união do Alto e Baixo Egito, cerca de 3000 a.C. Uma opinião bastante difundida é a de que existem omissões nas genealogias encontradas nos capítulos 5 e 10. Outras numerosas genealogias mostram lacunas. Assim, 4 gerações foram reconhecidas de Levi a Moisés IÊX 6.16-20), mas os levitas da geração de Moisés e Arão chegavam a 22.000 homens (Nm 3.39). Além disso, se a genealogia em Gênesis 11 estiver completa, Sem e seu filho Arfaxade na verdade sobreviveram a Abraão! Esse não é o quadro que temos a partir da narrativa de Abraão. O reconhecimento desse e de outros pontos convenceu a muitos de que as datas de Ussher para a criação (4004 a.C.) e para o Dilúvio (2350 a.C.) devem ser retrocedidas em um número indeterminado de anos.

A narrativa do Dilúvio, A Bíblia diz claramente que houve uma inundação enviada por Deus, de âmbito universal, para erradicar a humanidade pecadora. Os povos da Mesopotâmia tinham a tradição de uma inundação, assim como muitas outras culturas. A história da Babilônia foi estudada e comparada com a Bíblia por A. Heidel, na obra The Gilgamesh Epic (1949). Seria razoável concluir que as semelhanças encontradas nos dois relatos reflitam o acontecimento verídico. Se faltam provas científicas para o Dilúvio, deve-se considerar que, da mesma maneira, faltam provas contra ele. Foram feitos os cálculos da dimensão da arca, e se concluiu que ela tinha a capacidade necessária para comportar todos os animais (A, M. Rehwiríkel, The Flood, St. Louis. Concórdia Pub. House [1951], pp. 68ss.). Pode ser que o Dilúvio não tenha sido simplesmente um fenômeno como alguns imaginam. Poderia ter sido uma grande inundação causada pela chuva, j*untamente com o movimento da crosta da terra que fez elevar o nível do oceano e uma longa e continuada nevasca nas regiões mais altas e nas latitudes do norte. Parece bastante claro que houve uma grande modificação climática cerca de 10.000 anos atrás. Os extremamente populares mamutes da Sibéria aparentemente viviam em um clima onde haviam flores (encontradas em sua boca) e abundante vegetação. Estes foram imediatamente congelados, alguns ainda de pé, e assim permaneceram desde esse momento,
de forma que sua carne ficou preservada! Veja Dilúvio.

A vida de Abraão, Sem dúvida ele era o único homem temente a Deus de sua época. Com certeza Deus havia falado com muitos indivíduos, tais como Enoque, antes do Dilúvio, e Melquisedeque, depois dele. Mas Deus determinou a Abraão que deveria fazer outra coisa - reunir seu povo em um único lugar e, através de uma intensa revelação de sua Palavra e graça, preparar um grande e coeso grupo de pessoas para o advento de Cristo e a bênção de toda a humanidade. Deve-se notar que a Palestina era uma grande ponte e caravanas de três continentes atravessavam suas fronteiras. Os judeus na Palestina, através de seu Messias, deveríam verdadeiramente ser uma luz para as nações (Is 42.6; 49.6; 51.4).

Deus escolheu Abraão, instruiu-o sobre os sacrifícios, e lhe deu o sinal da aliança: a circuncisão. A circuncisão era praticada no Egito e em outros lugares na idade da puberdade, mas, até onde sabemos, a circuncisão dos meninos hebreus era única na Antiguidade. Ela era o sinal da raça e da graça (Gn 17.14; Dt 30.6; Rm 2.29). Mais tarde, o ela de Abraão se consolidou como nação por intermédio de Moisés. Mas as bases da fé de Israel estavam claras em Abraão. Na verdade, o ritual do sacrifício era tão antigo quanto Adão. Ao acreditar em uma única verdade e em um Deus vivo, Abraão vivia um monoteísmo espiritual e ético. Ele reconhecia o pecado nu mano, esperava a vinda do Redentor e acreditava em uma eterna comunhão com Deus (Gn 22.8,18; Jo 8.56; Hb 11.10). O cenário cultural de Abraão ficou agora grandemente iluminado por descobertas feitas em Ur, Mari, Nuzu, além de outras descobertas. Veja Abraão; Era Patriarcal.

Isaque e Jacó, A vida de Isaque é pouco conhecida, pois foi obscurecida pela de seu famoso pai e de seu filho; entretanto, ele era um homem pacífico que ofereceu a ontra face a Abimeleque (Gn 26.17-31). Isaque também recebeu a promessa messiânica (26.4). Vejo Isaque. Talvez Jacó tenha sido tratado com mais rigor. Ele fez um plano (na realidade foi sua mãe que fez este plano) para receber o direito de primogenitura, Mas devemos nos lembrar de que isto havia sido prometido por Deus ao gêmeo mais novo (25.23) e, aparentemente, Jacó desejava esse direito mais por razões espirituais do que financeiras. Em Betei, Jacó se consagrou ao Senhor (28. 20-22) e, juntamente com suas esposas, atribuiu o nascimento de seus filhos à resposta de Deus às suas orações (Gn 30). Até o aumento do número de ovelhas de Jacó - embora devido em parte à sua dedicação, e em parte à sua superstição sobre a influência pré-natal (talvez observada nos princípios da hereditariedade) - em última análise, sem dúvida veio da providência divina (31.9,42). A oração de Jacó em Peniel estava baseada nas promessas de Deus, assim como na obediência aos mandamentos (32.9-12). Na luta com o anjo, Jacó pediu a bênção de Dens e não qualquer vantagem material (32.25-30). Ao lidar com Esaú ele atribuiu todo o seu progresso a Deus (33.11), Veja Jacó.


§8 José no Egito

A história de José tem sido um tema favorito e de interesse permanente. Sua verdadeira mensagem não é simplesmente a história de indigentes que se tornam ricos, mas como Deus realiza através de sutis detalhes da providências na perfeita vontade. O futuro de José havia sido previsto, embora tenha irritado o resto de sua família com seus sonhos. Quando os jovens abandonam sua casa por causa do trabalho ou da guerra, muitas vezes eles crescem bastante ou sofrem terríveis quedas. José cresceu bastante, quando ninguém (exceto Deus) o estava observando. José viveu para Deus, embora sofresse por causa da sua integridade, Mas na prisão ele ainda acreditava e preservava seu caráter. Por fim, Deus o abençoou e o usou como a poucos outros indivíduos. Aparentemente, José se tornou o grande governador do Egito sob um dos reis asiáticos aos invasores hicsos. O período dos hicsos durou de aprox, 1750 a 1570 a.C., embora muitas dinastias tenham reinado nesse período. Alguns afirmam que a ascendência de José aconteceu antes dos hicsos (o Êxodo em 1440 a.C., 1 Rs 6.1; a escravidão de 430 anos, Ex 12.40; estes fatos posicionam José em tomo de 1870 a.C.).

Essa opinião é discutida por Gleason Archer (ap. cit. pp. 205-208), que segue John Rea (“Time of the Oppression and the Exodus”, BETS, III [19601,58-59). Uma opinião alternativa, sustentada pela LXX, é que o período de 430 anos incluía tanto a residência patriarcal em Canaã (215 anos) como a escravidão no Egito (1655-1440 a.C.). Dessa maneira, o governo de José teria começado durante a dinastia dos hicsos. Os hicsos introduziram as carruagens no Egito (cf. Gn 41.43), e mudaram a posse da terra, de forma que ela passou a ser propriedade da coroa, com exceção das terras dos templos. Mais tarde, a coroa impôs uma taxa de 20 por cento (cf. Gn 47.20-26). Entretanto, os detalhes são obscuros, parcialmente porque pouco se sabe a respeito dos hicsos. Apropria data do Êxodo está sob discussão, embora as evidências bíblicas fornecidas acima pareçam ser bastante claras (cf. 1 Rs 6.1; Jz 11.26).

O excelente caráter de José finalmente se revelou não na prosperidade, mas na adversidade, quando ele cuidadosa e sabiamente testou seus irmãos e, em seguida, os perdoou e se esqueceu dos danos que lhe haviam causado. Assim, pela sua magnanimidade, José estabeleceu as bases para que Israel se expandisse e se tornasse a nação que Deus havia previsto. Nenhum outro homem foi mais consciente da providência suprema e inabalável de Deus. Veja José. O livro de Gênesis termina com uma grande
profecia messiânica de Jacó (Gn 49.10, tratada pelo autor em um apêndice da obra de J. O. Buswell, Systematic Theology of the Christian Religion [1963], II, 544). A emocionante história da morte e sepultamento de Jacó na caverna de Macpela é brevemente relatada, assim como as ordens de José quanto ao traslado de seu próprio corpo; ele queria ser embalsamado e sepultado na terra de Canaã quando Deus cumprisse as promessas que havia feito a Israel.

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