Lucas 17 — Comentário Evangélico

Lucas 17

17:1-6 A palavra “ofensa” significa “motivo de tropeço”. A palavra grega para isso corresponde à nossa “escânda­lo” e, originariamente, refere-se à vara que solta a armadilha, ou laço. Essas coisas acontecem porque há pecado no mundo, mas não pode­mos ser a causa delas. É melhor pres­tarmos atenção à severa advertência do Senhor no versículo 2 antes de fazermos alguém pecar. Jesus, quan­do fala “destes pequeninos”, refere- se aos novos convertidos (como os publicanos e pecadores de 15:1) e às criancinhas (Mt 18:1-7).

Também devemos ter cuidado para não pecar contra nossos irmãos em Cristo, os mais maduros na fé. A igreja é uma família de fé, e ministra­mos uns aos outros ao admitir nossos pecados, ao pedir perdão e ao per­doar (Ef 4:32; Mt 5:43-48 e 18:21 ss). É improvável que um crente cometa sete vezes em um dia o mesmo pe­cado, todavia devemos estar prontos a perdoá-lo quantas vezes forem ne­cessárias. O perdão deve ser um há­bito, não uma batalha.

Esperaríamos que os discípulos pedissem: “Aumenta nosso amor!”. Contudo, o perdão vem da fé na Pala­vra do Senhor e da certeza de que ele fará o melhor para todos os envolvi­dos, se fizermos o que ele quer. De­vemos obedecer à Fblavra do Senhor e crer em Romanos 8:28, por mais doloroso que seja, às vezes, perdoar alguém que pecou contra nós. Nada é impossível se sua fé é como a se­mente viva e em desenvolvimento.

17:7-10 Jesus sabia como equilibrar uma verdade com outra a fim de que seus discípulos não chegassem a ex­tremos. A fé milagrosa, do versícu­lo 6, deve ser balanceada com o fiel “serviço comum” de todos os dias que talvez não seja tão estimulan­te. Ele descreve um servo que ara, cuida do gado e até cozinha! Ele desempenha cada tarefa fielmente a fim de agradar seu senhor. Con­tudo, ainda somos apenas “servos inúteis”, mesmo quando fazemos todo o nosso trabalho. A palavra tra­duzida por “inúteis” significa “sem necessidade”, isto é, ninguém lhe deve nada. Mesmo as recompensas que ganhamos do Senhor são graça pura! Ele não nos “deve” nada, pois fizemos apenas nossa obrigação.

17:11-19 Jesus ainda estava a caminho de Je­rusalém (9:51 ;13:22,33), e sua jornada levou-o até Samaria e Galileia, onde encontrou dez leprosos. Esses banidos viviam e trabalhavam jun­tos, porque foram rejeitados pela sociedade. Eles reconheceram Je­sus, pois, de imediato, suplicaram por misericórdia. Ele ordenou que fossem até o sacerdote (Lv 13—14), e todos foram purificados quando obedeceram à ordem dele.

Apenas um deles ficou agra­decido a ponto de antes ir até Je­sus e agradecer-lhe por sua mise­ricordiosa dádiva de cura. (Veja SI 107:8,1 5,21 e 31). No entanto, o mais espantoso é que esse homem era samaritano! Imagine um samaritano agradecendo a um judeu! Todavia, esse homem recebeu uma dádiva ainda maior por fazer isso: foi salvo de seus pecados: “Levan­ta-te e vai; a tua fé te salvou” (veja 7:50). A bênção de vida eterna dura para sempre, enquanto a cura física, embora seja uma grande bênção, termina com a morte.

17:20-37 Na época de Jesus, os judeus vi­viam com a expectativa da vinda do Messias, da mesma forma que hoje muitas pessoas se entusias­mam com profecias e previsões de eventos futuros. A palavra grega para “observação” significa “ficar à espera, vigiar”. Jesus nos alerta con­tra não gastarmos nosso tempo em especulações a respeito do futuro e em tentativas de prever o que Deus fará. Os judeus aguardavam a vinda de seu Rei, e ele estava lá, no meio deles! Podemos perder as oportuni­dades do presente ao nos concen­trarmos muito no futuro.

Estar pronto para o retorno de Cristo a qualquer momento é o que realmente importa, não mapear o futuro. Isso significa não dar atenção aos sensacionalistas e às pessoas que afirmam conhecer todos os “se­gredos” (v. 23). Jesus compara os últimos dias aos “dias de Noé” (vv. 26-27) e aos “dias de Ló” (vv. 28­33). Os dois viveram em épocas de grandes julgamentos: o dilúvio (Gn 6—8) e a destruição de Sodoma (Gn 19). Noé alertou as pessoas de seu tempo sobre a vinda do dilúvio (2 Pe 2:5), e os anjos avisaram Ló e sua família de que a destruição esta­va a caminho; no entanto, os avisos não surtiram efeito. Apenas Noé e a família (oito pessoas) foram salvos, e apenas Ló e as duas filhas solteiras escaparam de Sodoma.

Como será o mundo pouco antes do julgamento final e da vin­da do Senhor? Ele estará “ocupado como sempre” e pouco preocupado com os avisos enviados por Deus. As pessoas comem, bebem, compa­recem a casamentos, exercem suas atividades, e, assim, o julgamento as pega despreparadas. Nos dias de Noé, havia muita violência (Gn 6:11,13), e nos de Ló, os homens entregaram-se à luxúria antinatural (Gn 19:4-11). Vemos essas duas ca­racterísticas em nossa época.

Os versículos 30-37 não se re­ferem ao arrebatamento da igreja (1 Ts 4:13-18), mas ao retorno de Cristo à terra a fim de estabelecer seu reino de justiça (Ap 19:11 ss; Mt 24:15-20; Mc 13:14-18). Sem dúvi­da, não haverá tempo de pegar al­guma coisa em casa quando, em um piscar de olhos, Cristo vier para sua igreja (1 Co 15:51-52)1 Nos versí­culos 34-36, o verbo “tomado” não significa “levado para o céu”, mas “levado para julgamento”. Os que forem deixados entrarão no reino.

Jesus, no fim desta era, vê a sociedade humana como um cor­po pútrido, um convite aos abutres (v. 37), e isso nos faz lembrar da última batalha antes de Jesus esta­belecer seu reino, conforme relata­da em Apocalipse 19:17-19. Nós, os crentes de sua igreja, devemos obedecer ao versículo 33 e tentar levar uma vida santa por causa do Senhor (Mt 10:39; Jo 12:25). Essa é a única forma de estar preparado para a vinda dele.