Lucas 16 — Comentário Evangélico

Comentário Evangélico de Lucas 16




Lucas 16

Nesse capítulo, Jesus continua com o assunto da riqueza que a parábo­la dos dois filhos trouxe à tona. Os judeus pensavam que a riqueza era um sinal de salvação e do favor de Deus (Mc 10:17-27), mas Jesus en­sinou que ela pode levar à conde­nação. Esse capítulo apresenta três perigos que devemos evitar.

I. O desperdício da riqueza (16:1-12)

Esse administrador, como o filho pródigo (gastador), esbanja os bens de seu senhor, da mesma forma que muitas pessoas fazem hoje. Tudo que possuímos veio do Senhor e deve ser usado para o bem dos outros e a glória de Deus. Um dia, teremos de prestar contas do que fizemos com o que o Senhor compartilhou conosco, pois não somos proprietá­rios de nada, apenas administramos as posses dele.

Jesus elogia o administrador por fazer bom uso da oportunidade que lhe foi dada, não por enganar o seu senhor. As pessoas deste mundo são muito melhores em buscar oportu­nidades e lucrar com elas que os filhos de Deus (Ef 5:15-17). Duran­te nossa breve vida, temos chance de usar nossa riqueza a fim de fazer amigos para Deus, com os quais nos encontraremos no céu.

A fidelidade é fundamental (vv. 10-12). O iníquo Mamom (dinhei­ro, riquezas) é o mínimo, mas as riquezas eternas são “o máximo”. Deus, se usarmos as riquezas dele de acordo com a sua vontade, nos dará riquezas verdadeiras que serão nossas. Jesus não considera que há “um grande abismo” entre o material e o espiritual, já que uma das coisas mais espirituais que podemos fazer é usar as coisas materiais para a glória de Deus na conquista do perdido.

II. O desejo de riqueza (16:13-18)

Os fariseus eram piedosos exterior­mente e cheios de cobiça em seu in­terior (Mt 23:14; Tt 1:11). Eles riram de Jesus e de seus ensinamentos, pois acreditavam que a riqueza era um sinal da bênção de Deus. Eles não eram diferentes dos “pregado­res de sucesso” de hoje que equipa­ram a felicidade e a santidade com a prosperidade. Eles tentavam fazer o impossível: servir a dois senhores — a Deus e ao dinheiro. Não pode haver concessões — ou servimos ao Senhor ou às riquezas

Deus vê o sucesso material, bem como o poder e o prestígio que o acompanham, como abominação (Pv 10:2-3), mas os homens admiram muito essas coisas. Não é pecado ser rico, pois homens devotos como Davi e Abraão eram ricos, nem é pe­cado usufruir a riqueza (1 Tm 6:17), mas é pecado ter a atitude mundana em relação à riqueza e não usá-la para a glória do Senhor.

O problema dos fariseus é que, em vez de “se esforça[r] por entrar” no reino (v. 16), eles seguem a mul­tidão. Eles não estão dispostos a pa­gar o preço de seguir o Senhor. No afã de obedecer à Lei ao pé da letra, eles ignoravam o cerne de sentido, que dizia respeito a nosso íntimo, conforme Jesus ensinou.

III. A adoração da riqueza (16:19-31)

Lucas não diz que essa narrativa é uma parábola. Talvez seja um fato real. O homem rico usava a fortuna apenas para agradar a si mesmo e manter seu estilo de vida extrava­gante. Ele não a usava para cuidar do pobre e do necessitado, nem mesmo do mendigo que pedia es­mola à porta de sua casa. Na ver­dade, Lázaro testemunhou para o rico (vv. 27-28); no entanto, este, em sua falsa segurança, não se ar­rependeu. Para ele, a morte parecia estar muito distante.

Tudo muda com a morte: o rico ficou pobre e atormentado, e o po­bre estava rico e no paraíso! Lembre- se que a diferença entre a situação deles era resultado da fé. O rico não foi para o lugar de punição (Hades) apenas porque era rico, e o pobre não foi para o paraíso só porque era pobre. O pobre era um crente, e o rico, um descrente. A situação deles não apenas se invertera, mas era de­finitiva e imutável.

Que declaração de culpa dos en­tes queridos que pessoas que estão no Hades peçam que alguém testemunhe para eles! As pessoas não podem ser persuadidas a crer em Cristo nem ser forçadas a isso ou atemorizadas para fazer isso (v. 31; 2 Co 5:11; At 18:4). Talvez as pessoas de Deus fossem mais arrojadas em seu testemunho se passassem um segundo no inferno. Na verdade, essa é a solene prestação de contas que os crentes e os descren­tes precisam ter no coração.